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terça-feira, abril 30, 2019

ÁLVARO MAIA – 50 ANOS DE MORTE (2)

Do Jornal do Commercio, edição de 6 de maio de 1969 (foto), recolhi os detalhes da comovente despedida ao ex-governador Álvaro Maia.


O velório de um líder

Na entrada principal do Palácio Rio Negro, próximo à sala onde funcionou o Gabinete do ilustre morto à época em que foi Governador e Interventor, o esquife de Álvaro Maia permaneceu até as 16 horas. Do Governador do Estado ao mais humilde, todos foram levar seu adeus ao estadista amazonense, cujas mãos eram beijadas por mulheres e crianças. Cenas de choro eram frequentes, entrecortadas por soluços.
Perante o esquife, o Sr. Rodolfo Vale, em prantos, falou sobre a personalidade do falecido. Da sede governamental, com grande acompanhamento, assistido por milhares de pessoas ao longo do trajeto, foi levado ao cemitério de São João Batista.  Na 5ª página, o Jornal do Comércio lembra quem foi o velho “Tuchaua”.

Jornal do Commercio, 6 maio 1963 - 5ª página

A CIDADE foi tomada de surpresa e comovida, na manhã de domingo, com a notícia da morte de Álvaro Maia, um nome que, pelo espaço de quarenta anos, serviu de bandeira e inspiração a várias gerações de amazonenses, que encontraram na sua personalidade de elite, na fulgurância da sua inteligência, na rigidez do seu caráter, no seu talento invulgar, a concretização das suas aspirações idealistas, da sua inquietação patriótica.

DESDE o lançamento da sua brilhantíssima Canção de Fé e Esperança, peça antológica da mais requintada beleza, Álvaro Maia foi o estandarte da juventude glebária, como ele mesmo gostaria de dizer, e, de tal forma o seu nome se firmou no conceito dos seus concidadãos, que se consagrou um líder incontestável, um condutor político do seu Estado por dezenas de anos, sempre ocupando os mais destacados cargos públicos.
FIRMOU com raízes profundas o seu conceito de homem excepcionalmente inspirado, de cultura elevada ao mais alto nível, de poeta e sonhador. Ninguém como ele cantou tão bem o nome do Amazonas, tanto em prosa como em verso, como o autor daquela famosa Canção de Fé e Esperança e dos inúmeros trabalhos de divulgação literário, social e antropológica.
Álvaro Maia cantou as belezas dos beiradões do Madeira, das selvas, dos rios, dos lagos e dos paranás. Era o poeta por excelência, cuja musa serena inspirou o seu canto na hinterlândia imensa, nos seus mistérios mais fascinantes. E, ainda, soube mais do que qualquer outro, com o seu lirismo inigualável, semear o bem, irradiando-o de sua própria alma. Jamais utilizou a sua inteligência e o seu talento para favorecer o mal, para ferir alguém, nem mesmo os seus mais aguerridos adversários políticos. Não soube o que foi ofender ou magoar. Semeou flores por toda parte, espargiu virtudes, amou ao próximo.
NÃO FOI por outro motivo que mereceu sempre uma auréola de admiração e respeito dos seus concidadãos, do povo a que serviu com dedicação e com amor, até mesmo na adversidade.
POR TUDO isto, sua morte ecoou como um lúgubre e plangente dobre de sino, cujas ondas sonoras e melancólicas se prolongaram por toda a planície, pelos mesmos beiradões, rios e florestas que ele cantara quando em vida.E foi ainda por tudo isto, pelas suas excelsas virtudes de cidadão e homem de Estado, que o povo sentiu a sua partida definitiva para os mistérios ignotos da morte.
NÃO FOI por outro motivo que a cidade se comoveu, que sentiu e chorou o seu desaparecimento, naquela tristonha madrugada do primeiro domingo de maio, o mês das flores, que, dir-se-ia, ele mesmo escolheu para partir.
E FOI ainda por tudo isto que todos nós, neste jornal, que teve em Álvaro Maia um dos seus mais brilhantes redatores e colaboradores, sentimos profundamente a sua morte. Foi também mais um companheiro que morreu.

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