CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, novembro 30, 2017

PARÓQUIA DE EDUCANDOS (I)

Matriz de N. S. Perpétuo Socorro, c1947
Educandos, até então designado de Constantinópolis, tornou-se o primeiro bairro a ser constituído em paróquia, sob a proteção de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Visto que a ocupação católica da cidade partiu do Centro, onde surgiram as primeiras paróquias: Matriz, Remédios e São Sebastião.

Dom João da Mata, bispo do Amazonas entre 1941-47, foi o artífice deste predicado, entre tantas obras bem sucedidas de seu governo. A Casa da Criança é uma dessas que ainda segue aproveitada. Para estabelecer a paróquia educandense, o bispo aproveitou a ordenação do padre Antônio Plácido de Souza, em 1941.

Padre Antônio marcou o bairro de Educandos, pela sua capacidade de mestre de obras e produção de longo sermão nas missas dominicais. Capaz de respeitáveis empreendimentos, construiu a igreja que, obviamente modificada, ainda serve à comunidade. 

Dessa maneira, manteve-se à frente do paroquiato até sua morte em 1966, portanto, por exatos 25 anos. Em reconhecimento ao seu lavor, a cidade de Manaus marcou seu nome na ponte que liga o bairro ao Centro.

Um pouco mais dos primeiros passos da paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro retirei do Suplemento intitulado As festas jubilares, encartado em A Reação, extinto jornal católico, (1946).  

PARÓQUIA DE EDUCANDOS
Capa do Suplemento

Até 1941, o bairro operário de Educandos teve a sua vida religiosa ligada a da Paróquia dos Remédios, de que era Curato. Estendia-se, então, até ali, a jurisdição daquela Paróquia, atravessando o Igarapé do Educandos para do outro lado atingir a população operosa daquele extenso bairro.

A 16 de dezembro de 1941, no 1º ano de seu governo, D. João da Matta Andrade e Amaral, Bispo Diocesano, decretava a criação da Paróquia de N. S. do Perpétuo Socorro. Passava o antigo curato a constituir uma das paróquias da sede episcopal, tendo à sua frente, por provisão de 24 de dezembro do mesmo ano, como garantia de seu desenvolvimento, o Pe. Antônio Plácido de Sousa, sacerdote amazonense que, oriundo de família operária, se integraria ao meio para melhor desempenhar a sua tarefa de guia de almas. Fora feliz a escolha, ou antes, melhor e mais acertada não poderia ter sido.

Quem conheceu a pequena capelinha em ruínas e, mais tarde, viu surgir, no mesmo local, no alto, a ser divisada da cidade, a ampla e elegante matriz de N. S. do Perpétuo Socorro, com suas duas torres, toda em madeira, não pode deixar de erguer o seu voto de louvor a quem impulsionou essa transformação.

Hoje já está em andamento a construção da Matriz definitiva. A casa paroquial espaçosa, alta, descortinando lindo panorama da cidade de Manaus, já está concluída. Os braços da cruz e a capela-mor estão sendo agora erguidos.

Ali, os operários têm um exemplo no operário-chefe da turma: o Pe. Plácido, o vigário. O seu esforço é admirável. Auxiliado pela população traz, da “beira do rio”, as pedras que se empregam na construção. Fabrica ele próprio tijolos, trepa nos andaimes e, como um pedreiro qualquer, se dedica ao trabalho de dotar o bairro de Educandos de uma igreja ampla e moderna, que poderia figurar em qualquer capital. A despesa com a construção sobe a Cr$ 280.320,00.

OBRA SOCIAL - "CASA DO POBRE"
Na Semana da Pátria de 1943 foi aberta a “Casa do Pobre”, em Educandos. Ali funcionam, desde este tempo, sob a competente direção da Srta. Rosa Castelo Branco de Alencar, aulas regulares de Corte e Costura, Bordado a mão e à máquina e flores. Meninas e moças ali aprendem trabalhos manuais que constituirão um dote, tornando-as jovens prendadas. Isso muito pode contribuir para a economia de seu lar, sendo-lhes, futuramente, fonte de renda.

São as alunas em nº de 80. As aulas, inteiramente grátis e o material, as mais das vezes, fornecido pela diretoria da Sala de Costura. (segue)

quarta-feira, novembro 29, 2017

"RENDEZ-VOUS", DANCINGS E CABARÉS EM MANAUS


Transcrevo mais esse tópico para que sirva à recordação ou à pesquisa sobre as “casas de tolerância”, uma entre tantas designações contempladas, de Manaus. O flasbach serve tanto para os ingressos, quanto para os que curtem a “terceiridade”. De outro modo, atendo ao professor Aguinaldo Figueiredo que se esmera em concluir uma tarefa acadêmica sobre o deleitoso tema.

Recorte do matutino O Jornal

A condição de idoso autoriza-me a revelar minha estreia nesta matéria. Aconteceu no Shangri-la, que funcionou em bela casa situada na hoje avenida Constantino Nery, onde se encontra o residencial Bafururu, do Exército. Ponto de referência? Aos fundos do shopping Millenium.

Todavia, aqui vai uma ressalva, professor. Ao ingressar na PMAM, em 1966, a Força tinha como missão, entre outras, patrulhar os “puteiros”. Que trabalho estafante! Ronda vai e vem, estabelecemos (a turma de oficiais patrulheiros) no Piscina, do saudoso amigo conhecido por Pinguim, a “central de operações”. Ponto de referência? Não sei mais, recordo apenas que à beira de um igarapé, com belo espaço para o “namoro”, e bons quartos para o acasalamento.  

A postagem foi sacada do matutino O Jornal (circulado em 13 fevereiro 1959), ano final do governo Plínio Coelho, às vésperas do Carnaval.

LACRADOS (NOVAMENTE) OS "RENDEZ-VOUS", 
DANCINGS E CABARÉS, PELA POLÍCIA

O Dr. Domingos de Queiroz mandou cumprir a determinação do Cônego Walter Nogueira, secretário em exercício, do Interior e Justiça — Concessões especiais à "Boite Odeon”

Atendendo à determinação do senhor Secretário do Interior e Justiça, em exercício, cônego Walter Nogueira, o Dr. Domingos de Queiroz, Chefe de Polícia, expediu ordens, ontem, à Delegacia de Ordem Política e Social, para o imediato fechamento de todos os "rendez-vous", cabarés e dancings, existentes em nossa capital.

MAIS DE 10 CASAS FECHADAS
O comissário Reginaldo Xavier, no mesmo instante, designou uma caravana de policiais, sob a chefia do Sr. Mariolino Miranda, a fim de proceder a interdição sumária dessas casas de lenocínio ou antros de depravação.
Foram atingidos pela medida os "rendez-vous" conhecidos por “Rosemary” (rua Saldanha Marinho), “Pensão Royal” (rua Joaquim Sarmento), “Dedé” e “Eliza” (rua Frei José dos Inocentes), “Barbadiana” (Cachoeirinha) e outro cujo nome é desconhecido, “Angelo’s”, “Bar da Floresta” e “Veronica” (no bairro de Flores) e, finalmente, a “Boite Odeon”, no centro da cidade. Ao dancing “Shangri-la”, nos Bilhares, foi regulamentado apenas a realização de shows artísticos, no palco.

CONCESSÕES ESPECIAIS
É provável que a Chefia de Polícia, atendendo a diversas razões admissíveis e de ordem comercial, permita o funcionamento da "Boate Odeon", durante o dia, até às 18 horas, sem a frequência de mulheres.

ESTUDARÁ O CASO DA “FORTALEZA”
Em virtude da "Boite Fortaleza", localizada em Educandos, estar amparada por um Mandado de Segurança, o Dr. Domingos de Queiroz reexaminará a sentença, a fim de verificar se pode, legalmente, envolver aquela espelunca, na ordem de fechamento.

"FOI UMA MEDIDA DE ORDEM SOCIAL"

O fechamento de "rendez-vous", dancings e cabarés, na cidade, faz parte do meu programa, na Polícia. Mais tarde seria levado a efeito — declarou à nossa reportagem o Dr. Domingos de Queiroz. Mas, ontem, o senhor secretário do Interior e Justiça expediu a ordem, sendo cumprida. “Foi uma medida de ordem social”, encerrou o chefe do DESP (sic).

segunda-feira, novembro 27, 2017

MANAUS: "POINTS" SAUDOSOS


Hotel Cassina, estágio atual
Estas lembranças pertencem ao saudoso jornalista e empresário Belmiro Vianez, expressas em sua página, circulada em A Critica (edição de 16 maio 1999).
Há dias, circulou na rede um trabalho acadêmico sobre os locais de encontro na cidade, mais conhecidos por "zona", entre outras alcunhas. Talvez esta postagem possa, tomando o testemunho de um frequentador, emprestar uma linha mais ao esforço daquele pesquisador.

➤ Coluna do Belmiro


Saudades e Boêmia

DO HOTEL CASSINA E DO BAR DE FLORES

Hoje, o Hotel Cassina exibe os andrajos de um tempo em que imperou como uma das referências da boêmia e o Bar de Flores lembra a velha eletrola se "esgoelando", com as mesas apinhadas de cervejas "estupidamente" geladas.

E tome samba do bom e do melhor, por onde rodam os soirés de Paris, trazidos da Europa pelas polacas que com duas "maçãs no rosto" parecendo nanquim ao natural, e tome polcas, e tome maxixes, e tome boleros, e tome tangos embalando as frescas madrugadas.

O dia raiando em estilhaços de vida, os odores exalando a Royal Briar, a L'Origam e a Epreuve du Coty.

Tudo acabou, o tempo levou!

O Promessa e o Madeiras do Oriente da “Mirurgia”, marcas das melhores fragrâncias da época num tempo que se esvaiu... mas que ainda se ouve a Volta do Boêmio - com o Nelson Gonçalves de todas "as zonas", a lua lá fora espelhada no leito do Rio.

E o vento sussurrando imemoriais confidências dos Boêmios no melhor tempo das nossas serenatas da nossa juventude. Ah! tempo de paz! onde o crime e a irracionalidade não existiam e muito menos a praga da Aids. Acabou tudo!

Polacas com duas maçãs no rosto como se fossem nanquim, fazendo sala "no amor livre", das casas livres de todas as latitudes da liberdade plena.

Ah! tempos de paz! Da nossa juventude ainda sem a ameaça terrível da Aids, tempo festejado com a amizade dos verdadeiros amigos, onde o crime e a brutalidade não existiam. E muito menos a Aids. 
Acabou tudo até mesmo o épico "Café do Pina", dele restando saudades e sombras, pedaços de lua e estrofes imortais como as do nosso saudoso Farias de Carvalho, o poeta insubstituível sempre lembrado na dor e no pranto que a todos nos deixou o Clube da Madrugada, que não acaba nunca ...imortalizou-se

domingo, novembro 26, 2017

PMAM: ANTIGO QUARTEL

Atualmente Palacete Provincial





São Jorge, antigo protetor

segunda-feira, novembro 20, 2017

PRAÇA DA MATRIZ: VEXAME


Compartilho o texto do graduando em História Fábio Pedrosa, pela oportunidade da festa.
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Floriano Peixoto
 
SOBRE A REINAUGURAÇÃO DA PRAÇA DA MATRIZ: OU COMO DETALHES QUASE PASSARAM DESPERCEBIDOS

Depois de 3 ou 4 anos de reformas, a Praça da Matriz, no Centro Histórico de Manaus, foi reinaugurada, com direito a festa com presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas. Tudo muito bonito, uma nova página na trajetória da preservação do Patrimônio Histórico da cidade.
No entanto, um detalhe chamou a atenção do pesquisador Ed Lincon, que entrou em contato comigo.
Vejam esse busto, identificado como sendo de Manuel Luís Osório (1808-1879), o General Osório, político e militar do Império, combatente nos conflitos da Guerra Cisplatina, Revolução Farroupilha, Guerra do Prata e Guerra do Paraguai.
O erro se encontra na figura do homenageado: o busto, na verdade, é o do Marechal Floriano Peixoto (1839-1895), militar e político, vice-presidente de Marechal Deodoro e posteriormente Presidente entre 1891 e 1894.
Essa peça ficava na avenida Floriano Peixoto, sendo retirada do local em 1975 e instalada em uma das laterais da Praça da Matriz.
Parece um detalhe simples, mas necessita ser reparado, pois além de prejudicar a percepção histórica dos que transitam diariamente no local, evidencia como os "especialistas" realizaram um serviço duvidoso. 

Fábio Augusto de C. Pedrosa, com colaboração do pesquisador Ed Lincon  

quarta-feira, novembro 15, 2017

DIÁRIO OFICIAL: ANIVERSÁRIO

A data de hoje é lembrada pela Proclamação da República, aliás o fundamento do feriado nacional. Em nosso Estado, há uma efeméride importante que ensejava, em épocas passadas, edição especial.
Trata-se do Diário Oficial do Estado (DOE), fundado em 1893, durante o governo de Eduardo Ribeiro. Foi inaugurado, e funcionou por longo período, na avenida Sete de Setembro, no endereço depois cedido ao Banco do Estado do Amazonas e que, hoje, abriga uma agência do Bradesco.
Ao deixar a avenida Sete, o DO foi instalado em imóvel na rua Leonardo Malcher. Todavia, a necessidade de progresso levou o Governo a expandir suas instalações para a rua Dr. Machado. Com essa ampliação, o endereço passou para esta artéria, onde se mantém.

Apenas para relembrar parte de seu corpo diretivo em 1956, no governo de Plínio Coelho,  reproduzo trecho do periódico (15 novembro):

Diretor: Jornalista Irisaldo de Albuquerque Godot;
Secretário: Dr. Vivaldo Barros Frota (falecido governador do Estado)
Administrador das oficinas: Jamacy Sena Bentes de Souza (genitor do escritor Marcio Souza, também chefe da oficina do jornal O Trabalhista);
Secretaria: Edenir Nogueira Cajuhy e outras;
Contadoria: Joaquim Tiago dos Santos Neto;
Tesouraria: Beatriz Brasil da Costa;
Almoxarifado:Antonio Mavignier de Lima e outros;
Biblioteca: Luziel Ramos de Araújo e Marina de Lima e Silva;
Expedição e Comunicação: Luiz Felipe Cordeiro de Verçosa (falecido Procurador do Estado); 
Revisão: Cleomenes Rodrigues do Nascimento e mais oito;


   


segunda-feira, novembro 13, 2017

ADRIANÓPOLIS: 1956

Castelinho, logomarca do bairro
Para a história deste bairro, reproduzo uma reportagem circulada em A Crítica (2 agosto 1956). Salientava esta a deficiência de transporte e de infraestrutura das poucas ruas. Para melhor entendimento, esclareço que Manaus estava sob a gerência do prefeito Gilberto Mestrinho e o Estado, do governador Plínio Coelho (1955-59).

É sabido que a administração destes governantes começava a revitalizar o Estado, em especial a Capital. Por isso, entendo que o artigo jornalístico traz muito pouco a acrescentar à vida da primitiva Vila Municipal.


EM DIA da semana passada a reportagem da A Crítica fez uma visita ao bairro de Adrianópolis, com o objetivo de auscultar as necessidades de seus moradores, que hoje somam milhares, pertencentes às mais diferentes classes sociais. Para começo de conversa devemos dizer de nossa luta e a extrema paciência que tivemos de pôr em uso, a fim de que tomássemos um coletivo que nos transportasse àquele futuroso e hoje desenvolvido bairro. Bairro que tem o nome de um cidadão dos mais dignos de nossa terra, esse que se chamou Adriano Jorge, médico ilustre e tradicional, jamais esquecido pelos manauenses que amam sua terra. No “Tabuleiro da Baiana”, tivemos que esperar uma eternidade pela chegada do único ônibus que, pela manhã, fazia aquela linha e pessoas que ali estavam com o mesmo objetivo, começaram a dar-nos os primeiros informes que necessitávamos para esta pequena reportagem.

UM INFERNO QUE PODERIA SER UM PARAÍSO

Depois de quase uma hora do espera, enfim veio chegando o velho carro de transporte coletivo com a placa “Adrianópolis”. A custo de muito esforço e algumas pisadelas e empurrões (pois pessoas mal-educadas e nervosas há em toda parte, muito especialmente nos pontos de espera de ônibus) conseguimos — o repórter de A Crítica, e nossos amigos ocasionais — tomar assento no velho ônibus, o qual saiu, resfolegando, pela avenida 7, rumo àquele distante bairro. O carro, não é necessário dizer, ia completamente lotado. Gente de todas as cores, de todos os tamanhos, com os mais diversos pensamentos, mas todos com uma só vontade na mente — chegar logo ao ponto do seu destino. Esse também era o pensamento do nosso repórter, pois o tempo urgia para outros trabalhos na redação.
Fomos, então, mesmo durante a viagem, tomando conhecimento das necessidades urgentes de Adrianópolis. Dentre elas, pudemos verificar que as mais prementes são, exatamente, o transporte e... a buraqueira existente nas suas ruas e praças, conforme mais tarde iriamos verificar. “Adrianópolis, meu caro repórter, dizia-nos um morador que conosco viajava, é um bairro que podia ser um céu, pois considero-o um dos mais bem localizados e, portanto, o bairro de maior futuro de nossa terra”. Infelizmente tal não acontece, e isso por diversos motivos: não temos um mercado, uma farmácia, a água é pouca e então quando se fala em transportes a coisa é de estarrecer e da gente ficar mudo e vermelho de raiva. Isso significa que, em vez de morar no céu, moramos no inferno.

RUAS BONITAS, COM RESIDÊNCIAS SUNTUOSAS
Verificamos que as queixas dos nossos amigos eram mais que verdadeiras, tinham sua perfeita razão de ser. Vimos isso logo que ali chegámos. Adrianópolis é, de fato, um bairro que faz honra à memória do Dr. Adriano Jorge. Casas residenciais luxuosas e ultramodernas, destacando- se as que ali mandaram construir o capitalista João Braga, Drs. Heraldo Corrêa, Waldir Vieiralves, João de Paula Gonçalves etc., além de ostentar belíssimos prédios de colégios famosos como o Instituto Montessoriano Álvaro Maia, o colégio dos padres capuchinhos de Milão, e o novíssimo Colégio Ida Nelson, dos missionários protestantes — Adrianópolis, em seu conjunto, apresenta um aspecto, realmente, que faz inveja ao próprio centro.


O traçado das ruas é bem feito, denotando o bom gosto de quem o fez, devendo ser ressaltada, neste particular, a obra de Deodoro Freire, um dos pioneiros adrianopolinos. Observa-se contudo, que o desleixo dos poderes competentes é a única nota destoante.
Esses poderes competentes são, evidentemente, a Prefeitura, a Inspetoria do Tráfego e talvez Departamento de Estrada de Rodagens, pois tudo ali é buraco, é capim solto e grande pelo meio das ruas e praças; é lama e, acima de tudo isso, o mais absoluto desprezo pelos interesses das classes menos favorecidas, no que toca nó problema do transporte. (...)

OS POBRES VÊM À CIDADE A PÉ

Uma grande parte dos moradores de Adrianópolis, a gente pobre, operários, comerciários etc., ás vezes que são obrigados a descer para a cidade andando nos seus próprios calcanhares.
A viagem é longa, como todos sabem, mas essas pessoas são obrigadas a assim procederem porque os ônibus que fazem aquela linha primam pela ausência nas horas mais necessárias ao trabalho da daquela gente, que são as horas da manhã, cedinho, e ao cair da tarde (ou da noite), quando todos regressam aos seus lares, após um dia de canseiras na luta pelo pão de cada dia. Um autêntico martírio, senhores que comandam a vida da nossa cidade, senhor Prefeito, Sr. Inspetor do Tráfego, Sr. Governador.
Por que não se toma uma providência em benefício daquela boa gente de Adrianópolis? Por que? Será que só tencionam fazer tal coisa quando se aproximarem as eleições? O povo de lá é que se pergunta isso, pois o povo, devemos dizer, está escabriado, não acredita em mais nada, tais e tantas foram as promessas que ouviu dos atuais detentores do poder — tudo meras palavras que o vento levou, e nada feito até hoje, as coisas piorando sempre, na falta de transporte, na limpeza, na ausência de um mercado, de uma farmácia o outras coisas essenciais a uma coletividade que se preza.
________

Aí fica, portanto, o apelo que fazemos em nome dos moradores do bairro de Adrianópolis, esse futuroso e encantador (???) recanto de nossa cidade, preferido pelos homens abastados para construírem suas moradias suntuosas — mas que muitas vezes também os desanimam porque a lama, o mato e os buracos os impedem de ali chegar, dirigindo seus carros de transporte pessoal.
Quanto aos transportes coletivos, a miséria é aquilo que contamos: um único ônibus, velho e pachorrento, para uma população inteira; sendo que este mesmo “um” ameaça para, tal o estado das ruas e praças que têm de atravessar, quebrando-lhe as molas, furando-lhe os pneus.

Providências, senhores, é o que pede o povo de Adrianópolis

domingo, novembro 12, 2017

PMAM: TREINAMENTOS

Como se tratam de jovens policiais militares, não disponho de legendas
Se alguém puder contribuir com a identificação, aguardo contato



sábado, novembro 11, 2017

POESIA DE JORNAIS (VI)



Recorte de O Jornal, 20 agosto 1961



SONETO

(Aos afagos que me faz, a recordação de um amor impossível)

José Maria Seixas


Como um pássaro abatido
Sem destino e sem calor
Vivo amparado, ferido
Nas asas da minha dor.

Porém em sonhos, um dia
Veio alguém com terna paixão
Tirar o sofrer que eu sentia,
Afagar meu coração.

Mas, ao alvorecer, o que via:
A vida triste e sem cor...
E agora em melancolia

Nas asas da minha dor
Mais que antes, hoje em dia
Sofro as penas do meu amor.




Jornal do Commercio, Manaus, 25 fevereiro 1955


A PROSTITUTA

Aldévio Praia



A casa de meus pais est’va abandonada.
A morte, nela, implantara seus horrores.
... Saí. Noites sem fim adormeci na estrada
A padecer (sim) as mais profundas dores.

Um dia, res’lvendo seguir por outra estrada,
Vi cair, sobre meus seios, um buque de flores.
Então, minha vida de fome povoada
Transformou-se: taças, música, amores...

Ébria caí. Sonhei. Vi um corpo ensanguentado.
         Clamei aos céus. Dois braços pra mim se abriram
      E uma voz: “Fiz-te, sou a natureza astuta”.
 E depois de urna horrenda gargalhada:
"Eu, a sociedade, — as fl'res que te cairam".
Acordei. Fugi. Mas já eu era Prostituta.



sexta-feira, novembro 10, 2017

PUBLICIDADE (VI)

Revista INFORMATUR, 1980




quarta-feira, novembro 08, 2017

RETORNO DE CANUDOS: 120 ANOS

Capa do livro em 2ª edição
Em 5 de outubro passado, o fim das hostilidades em Canudos, aquele pedaço de terra à margem do rio Vaza-Barris, na Bahia, completou doze décadas. Para melhor compreender: naquele chão o beato Antônio Conselheiro tentou implantar seu “império” do Belo Monte. 

E, para soterrar este modesto devaneio, plantado nos ínvios sertões baianos, todavia foram necessárias quatro expedições militares. 
Enfim, nesse episódio, conhecido na história pátria por Guerra ou Campanha de Canudos (1896-97), morreram, estima-se, 25 mil brasileiros.


Na Quarta Expedição, engajou-se o 1º Batalhão do Regimento Militar do Estado do Amazonas, sob o comando do tenente-coronel Cândido Mariano (oficial do Exército). Constituiu a última tropa a ingressar no campo de lutas. Ao regressar, desembarcou em Manaus a 8 de novembro. Esta data por decreto governamental se tornou festiva, reservada a premiar policiais militares e civis com a medalha que leva o nome deste comandante.

Duas conversas realizadas nesses dias com membros da corporação, inquietaram-me. Ambas realizadas com oficiais: um oficial superior e um subalterno. Dois temas perpassaram as conversas, duvidar da presença da tropa da PM na luta e o desagrado com a extrema força militar empregada contra aqueles sertanejos. Ou seja, a Polícia Militar do Amazonas integrou uma forma desagregadora, punitiva, portanto, sem mérito a relembrar.

Desse entendimento, quem sabe, resulte o esquecimento do comando da PMAM em programar a festividade militar. A propósito, empenhei-me em lançar a 2ª edição de meu livro Cândido Mariano & Canudos, nessa data. Não consegui realizar a de maneira impressa, optei pela forma virtual.

De volta a conversa com os colegas. Disse-lhes basicamente que, para compreender aquele episódio fratricida, é necessário ter conhecimentos da época. Em outras palavras, não se deve avaliar aquele acontecimento com a visão hodierna.

E disse mais. O extermínio de Canudos não cabe exclusivamente as forças militares a responsabilidade. Estão bem identificados outros responsáveis pela evolução daquela campanha, inclusive a igreja católica. São políticos, imprensa, judiciário e o isolamento de Canudos. Menos o Conselheiro.


Desse modo, a PM do Amazonas não deve se omitir, inferiorizar-se porque no devido tempo, teve condições e ímpeto em socorrer o Governo Federal, apoiar a Força Terrestre. A data festiva não se destina a vangloriar-se do feito, porém recordar o sacrifício de tantos policiais que se empenharam na solução da Guerra do fim do mundo, no definição de Vargas Llosa. De tantos policiais que se empenham no dia-a-dia da segurança da cidade e de seus habitantes. 

terça-feira, novembro 07, 2017

PMAM: QUASE VIRA HILTON HOTEL

Zuavos e o Quartel da PMAM
Ainda quando circulava em A Notícia, a Coluna de Gil (saudoso colunista social) deu publicidade a uma investida hoteleira sobre o Quartel da Praça da Polícia. O lobby empresarial prosperou, tanto que, consoante a lei 1206/76, o Governo do Estado foi autorizado pelo Poder Legislativo a alienar o mencionado imóvel.

Na época, parte do reboco frontal do prédio – próximo do Pina – desabou. Esse pequeno acidente ensejou ao comandante-geral, coronel Mário Ossuosky, a providenciar aparatosa interdição do espaço e de argumentar junto ao governador Henoch Reis (1975-79) pela alienação do quartel.

Em dezembro de 1976, o governo recebeu autorização para vender o prédio, comigo presente e servindo neste quartel. No entanto, a sociedade encetou larga oposição, pilotada pelo presidente do IGHA, Roberio Braga. Resultado: a Polícia Militar seguiu ocupando o quartel por mais 25 anos; ocasião em que entregou o imóvel à Secretaria de Cultura, coincidência, então sob a regência de Roberio Braga.  
  
 
Recorte de A Notícia, 16 outubro 1975,
mostra erroneamente o Ginásio Pedro II,
na mesma praça
 * O grupo que comanda a cadeia de hotéis Hilton em todo o mundo, anda interessadíssimo em edificar similar nestas paragens. As transas tiveram início no governo João Walter [1971-75] e depois paralisadas por motivos vários. Está esse grupo erigindo em Belém do Pará um hotel dessa cadeia e por aqui é pretensão adquirir o antigo prédio que se situa a Polícia Militar – Quartel General – localizado à praça Heliodoro Balbi.

Como o prédio em questão, antiquíssimo e não tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado, anda meio ocioso e não oferecer as comodidades exigidas para o pleno funcionamento dessa corporação, proporciona a chance de dotar esta Manô contrastante de um hotel de categoria internacional com todo o know-how alcançado no ramo da hotelaria, seria algo devidamente sólido, sem dúvida.

Tem a palavra o Governo do Amazonas, já que o citado imóvel pertence ao Estado.

** Depois é uma oportunidade para não se deixar fugir, lembrando que o grupo caixa-alta português que esteve mantendo approachs por aqui, desejando fazer surgir um complexo turístico sensacional, devido ao impasse gerado provocado por outro grupo empresarial privado, trocou estas paragens pelo litoral cearense, fazendo brotar no Nordeste um ponto de lazer pra ninguém botar defeito.
 Quem perdeu muito mais foi esta city, sem contar esses business-men que poderiam nestas alturas estar deitando e rolando: por exemplo o grupo Hotel Amazonas. Pois é. 

segunda-feira, novembro 06, 2017

PMAM vs PODER JUDICIÁRIO

Este post me fez relembrar um fato escabroso. Dele participei indiretamente, assegurando que os dois principais personagens estão vivos, já ingressados nos “oitentanos”: coronel EB Mario Perelló Ossuosky e desembargador Paulo dos Anjos Feitosa.
Então major da PMAM, dirigia o CPC (Comando de Policiamento da Capital), quando este órgão enfrentou forte onda de assaltos e outros crimes conexos, atribuídos a uma quadrilha alcunhada de “mulatos”.



Para combater a delinquência, a PMAM, sob o comando do coronel EB Mario Ossuosky (1975-80), estabeleceu diversos procedimentos. Um deles constituía em vistoriar todos os veículos suspeitos.
Certa noite, uma patrulha abordou o desembargador Paulo Feitosa que, devido sua cor amorenada, foi considerado suspeito. Um soldado, entretanto, não atendeu a explicação do magistrado, apesar deste ter se identificado.

O desdobramento do incidente ocupou os deputados estaduais; e a manifestação segue abaixo, conforme publicado no extinto periódico A Notícia (22 outubro 1975).

COMANDANTE DA PM QUER FECHAR O TRIBUNAL
E ENTREGAR AS CHAVES AO CMA

A revelação “estourou” em plenário através do presidente da Casa, deputado José Dutra: um soldado da PM ofendeu e humilhou o desembargador Paulo Feitosa, no trânsito. O presidente do Tribunal, desembargador Luiz Cabral, foi ao comandante da Polícia Militar, coronel Mario Ossuosky, e ouviu dele esta declaração: “O soldado tem razão. Vou fechar o Tribunal de Justiça e entregar as chaves ao Comando Militar da Amazônia”.


Soldado da PMAM molesta e desrespeita desembargador


O fato foi denunciado na Assembleia pelo deputado Farias de Carvalho, e todo o Poder manifestou-se solidário ao membro do Tribunal de Justiça, molestado grosseiramente por um soldado da PM, num flagrante abuso de autoridade. Segundo o parlamentar emedebista, o desembargador Paulo dos Anjos Feitosa passeava em seu carro, acompanhado de sua família. Um soldado da Polícia Militar o abordara, exigindo os documentos do veículo. O magistrado atendeu ao pedido, entregando-lhe a documentação para, em seguida, identificar-se.


A petulância do policial foi mais além ao exigir que o desembargador saltasse do carro para a abrir o capô, a fim de que o militar realizasse uma investigação. Como membro do Tribunal de Justiça, o desembargador deveria ser respeitado como autoridade. O policial, porém, não quis saber com quem estava falando; a determinação era o magistrado sair do carro.

“Não seria num desembargador que o soldado fosse encontrar o marginal que estava procurando” – afirmou o deputado Farias de Carvalho, protestando contra o comportamento do comandante da Polícia Militar, que, ao receber os protestos do Presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Luiz Cabral, disse que o seu soldado estava acobertado de razões.

Desembargadores
Luiz Cabral (acima) e
Paulo Feitosa
Ao abordar o fato na Assembleia Legislativa, o deputado emedebista foi aparteado pela maioria dos parlamentares da ARENA e MDB que hipotecaram solidariedade ao desembargador agredido, enquanto repudiavam o comportamento do soldado e do próprio comandante da PM.

Dizendo não estar dando qualquer demonstração de machismo, Farias de Carvalho salientou que, se um fato daquele lhe acontecesse, só duas coisas poderiam acontecer: ou o soldado o respeitava como deputado, ou no dia seguinte a Assembleia abriria suas portas para velar o seu cadáver. (...)

Enquanto isso, o presidente do Tribunal de Justiça, em expediente dirigido ao governador Henoch Reis, fez ver que nenhum desembargador ou juiz daquela Corte abrirá o capô de seus carros para investigações, depois de se identificarem.