CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, fevereiro 28, 2018

NACIONAL vs SÃO RAIMUNDO

Pelé no Vivaldão,
A Notícia, 7 abril 1970
No início de abril de 1970, apresentou-se a seleção brasileira de futebol no Vivaldão (ainda em construção), com Pelé no time. Finalizando o mês, jogaram o Nacional (o mais querido) contra o São Raimundo (Tufão da Colina). 

Os recortes compartilhei do extinto jornal A Notícia.

Time do Nacional FC (acima) e do São Raimundo, em
A Notícia, 29 abril 1970



OS LIMA DO ANVERES (3)


Certidão de Casamento de
Vicente e Adelaide Lima
Presumo que Vicente Lima (meu avô) tenha viajado em companhia da família no vapor Cabral, que aportou em Manaus no início de abril de 1889. Esse transporte foi providência do governo imperial, buscando desafogar os retirantes nordestinos abatidos pela longa estiagem daquela década. Nessa leva, desembarcaram aqui 841 imigrantes, recolhidos em Santana do Acaraú e Camocim, cidades cearenses. Se essa hipótese se confirmar, Vicente teria 16 anos de idade.

Vale lembrar que essa leva de retirantes foi enviada ao governo do Amazonas, que se encontrava atribulado para instalar duas colônias na área, no Cambixe (Treze de Maio) e no lago do Janauacá (Santa Maria), para a exploração da agricultura. Portanto, é concebível, e há comprovação, que larga ajuda foi disponibilizada pelo governo. 
Outras incertezas em sua biografia dizem respeito ao grau de instrução e o primeiro casamento. Do quanto relembram os mais velhos e expõem os ralos documentos existentes, é que sabia ler e escrever, como atesta o escrivão do Cartório.
O primeiro enlace ocorreu com Maria de tal, que já possuía duas filhas (ainda não identificadas), com a qual Vicente teve as filhas Maximina e Joaquina (que se tornou esposa de Vicente Eloy). Com a morte de Maria, veio o casamento do viúvo com Adelaide Vieira, de cujo consórcio provém a linhagem Pereira Lima ou, mais singelo, os Lima do Anveres.

Outro recorte da Certidão de Casamento de Vicente e Adelaide Lima
Essa novela com seus efeitos sucedeu na primeira década do século XX, pois, em 22 de novembro de 1911, Vicente Pereira e Adelaide Vieira (de 25 anos, solteira, filha de Miguel Vieira da Cunha e Maria Francisca Mendes), decidiram “casar-se um com o outro”, conforme termo da certidão passada no Careiro, então distrito de Manaus. Na certidão expedida consta que o casal já possuía a filha recém-nascida Raimunda (1911). Com o tempo, nasceram Sebastião (1913); Maria (1914); Manuel (1915); Francisca (1917) e José Galdino (1923). Consta um nascituro (Alcides) e um adotivo, Fernando (1922), certificado com o sobrenome da família.

No Lago do Anveres, o casal residia na sítio Fortaleza, adquirido ao Estado, cujo processo demarcatório consta em Diário Oficial de 1915.

domingo, fevereiro 25, 2018

AMAZON-LAR - POUPANÇA

O Jornal, 16 abril 1970

Inaugurada em 1970, conheci a Amazon-Lar algum tempo depois já instalada na esquina da rua Marechal Deodoro com rua Teodoreto Souto, no térreo do Edifício Brasil. Quem pode esclarecer melhor o andamento desta empresa é o amigo Jorge Leite, que por longo período nela prestou serviços.
O texto aqui postado foi retirado de O Jornal (edição 16 abril 1970).
Todavia a solenidade foi destaque em todos os periódicos da cidade, dos quais reproduzo duas publicações.


COM A PRESENÇA DE DIRIGENTES DO BNH
A AMAZON-LAR INAUGUROU NOVA SEDE

COM a presença, nesta capital, dos dirigentes do Banco Nacional de Habitação, Srs. Jose Eduardo de Oliveira Penna, diretor da Carteira de Agentes Financeiros; Francisco Moreira, superintendente dos Agentes Financeiros; e coronel Pericles Augusto Machado Neves, superintendente do Fundo de Promoção e Poupança Nacional de Habitação, a Amazon Lar, Associação de Poupança e Empréstimo, desta capital, inaugurou a sua nova sede, situada na rua Guilherme Moreira, 290 (em frente à Associação Comercial do Amazonas).
Na ocasião, discursaram, fixando a importância do ato, tanto para o Estado como para a comunidade, os Srs. Luís Maximino de Miranda Correa, administrador geral da Amazon-Lar, e José Eduardo de Oliveira Penna que, sob palmas, descerrou a fita inauguratória das novas e modernas instalações da entidade.
A foto é do ato, quando falava o diretor José Eduardo Penna.

Acrescento, porém, que o oficial fardado (de óculos) era o tenente-coronel PM Alcimar Guimarães Pinheiro, subchefe da Casa Militar do Governo.

Na parte da tarde, 0s dirigentes do BNH, fazendo-se acompanhar do major José Ribamar Nunes Moreira, presidente da C0hab-AM, visitaram o Governador Danilo Areosa, no Palácio Rio Negro, quando trataram de assuntos relacionados com o programa habitacional que a atual administração vem desenvolvendo, de acordo com a política traçada pelo Governo Federal, através do BNH.

Jornal do Commercio, mesma data, mostra o momento da
benção efetuada pelo arcebispo de Manaus, dom João de
Souza Lima
Jornal A Crítica (mesma data), no descerramento
da fita simbólica

sábado, fevereiro 24, 2018

OS LIMA DO ANVERES (2)



Vicente Pereira Lima, nascido em 1873 (ainda é tudo quanto se conhece de seu natalício) na então província do Ceará, desembarcou em Manaus antes de completar 20 anos, certamente acompanhando a os pais, pois há registro da família (irmãs) na região do Careiro.
 
Filho de Vicente Pereira
Quanto à idade, há registro de sua participação na Colônia Oliveira Machado (hoje bairro), ao final do regime provincial, criada em 1889. Além dessa concentração de imigrantes na capital, o presidente da Província criou outras duas colônias: a Treze de Maio, no Cambixe, fundada em 9 de maio de 1899, e a de Santa Maria, no Janauacá. A iniciativa do governo objetivava incrementar a agricultura na região.

Vicente, por motivo que ainda se busca, conseguiu se estabelecer no lago do Anvers (depois Anveres). Localiza-se este próximo de Manaus, ultrapassado o Encontro das Águas, quando o rio Amazonas começa a se delinear, e uma inflexão do barco à esquerda leva o viajante ao Anveres e outros inúmeros lagos. Lagos de todo porte, que se conectam através de outros acidentes geográficos – furos, igapós ou paranás, próprios da Amazônia.

A procedência desse topônimo cabe ao cidadão Joaquim José Anveres, morador deste lago, ao menos em 1834, quando a Câmara de Manaus o nomeou inspetor de quarteirão da localidade.



quinta-feira, fevereiro 22, 2018

CORONEL CÉLIO NOGUEIRA (1947-2018)


A associação dos velhos coronéis (AVC) perdeu mais um de seus membros. A indesejada alcançou ao coronel reformado Célio Nogueira da Silva (nascido em 4 de setembro de 1947).

Coronel Célio Nogueira (primeiro à esq.), 26 janeiro
O coração do velho coronel deu sinal de fraqueza e, por poucos dias, conseguiu manter uma luta desigual contra a enfermidade. Apesar dos cuidados aplicados, sucumbiu, para a tristeza de seus familiares e dos colegas mais diletos. Com destaque, aqueles que se reúnem na última sexta-feira de cada mês.

Célio ingressou na Polícia Militar do Amazonas em outubro de 1972, depois de concluir o NPOR/67, e enfrentar a batalha do emprego. Dedicou-se com afinco ao Trânsito de Manaus, em decorrência, conhecia com profundidade o Código Nacional de Trânsito. Esteve neste mister, incluindo sua atuação no Detran, como examinador, por variados períodos.

Era exigente, disciplinado, convém repetir o chavão militar – era caxias. Não dava desconto, cumpria o estabelecido na legislação. Quem o conheceu na lide ou trabalho ao seu lado sabe desse atributo do coronel Célio.
Há exato um mês, a AVC almoçou no Bosque. Célio estava presente, cumprimentou a todos, fez troça com os amigos. Abraçou a todos como de hábito. Tornou-se a derradeira despedida.

A foto que ilustra o post pode ser a última de nosso saudoso colega. Eu a realizei no almoço, pensando num trabalho próximo, que, creio, devo me apressar pois a convocação da eternidade é desconcertante.

Saída do cortejo fúnebre da sede do Comando Geral, em Petrópolis

terça-feira, fevereiro 20, 2018

CIDADE DAS PALHAS

Parte do jornal citado
A postagem foi sacada da edição dominical de A Crítica (14 abril 1970). Tratava-se de uma reportagem especial sobre os tormentos daquela população, que se apropriava, “invadia” mais um espaço de Manaus, conhecida por Cidade das Palhas.
Um pouco mais de condimento permitia vender mais jornais. Assim foi feito, basta se ler a chamada da matéria. Era miséria sobre miséria.
Em nossos dias, as palhas deram lugar ao bairro da Compensa.

CIDADE DAS PALHAS 

A última luz de lamparina se apaga. O tamborilar dos surdos silenciam encerrando mais um ensaio da “Tribo dos Maués”, à entrada da cidade. Os ladrões se reúnem nas esquinas negras e esquematizam assaltos. Tudo está escuro, é a Cidade das Palhas que dorme. Com esta, milhares de crianças inocentes, entregues à própria sorte. Dona Raimunda Sales, uma anciã que conseguiu viver 72 anos de miséria, reza e pede a Deus para que o dia clareie logo. Já é quase madrugada e começam a chegar as primeiras carroças trazendo o peixe para as feirinhas! É só jaraqui. O São Jorge Esporte Clube acabou a boate à luz de Aladim e as meretrizes se recolhem às estâncias. Começa um novo dia, o povo sai em fileiras para as paradas de ônibus e pontos de venda do pescado. É um disse-me-disse, gargalhadas de ébrios que passaram a noite em claro e o mirrado trocado do pobre entrando nos bolsos gordos dos tubarões. É assim a Cidade das Palhas, no bairro da Compensa, cheia de problemas e, como sempre, uma história para contar.
 Texto: IRANDY FERREIRA Fotos: PINDUCA

Página com a reportagem

segunda-feira, fevereiro 19, 2018

CLUBE DOS OFICIAIS


Com o intuito de colaborar com a história desta agremiação policial militar, transcrevo esta publicação do extinto O Jornal, edição de 21 de abril de 1970. Vale lembrar que este clube ainda que fundado há 16 anos, ainda não possuía sede de qualquer forma. Reunia-se como se vê nesta postagem na sede de 
terceiros.

Coronel Caetano Felix
A ausência de um endereço bloqueava sua atuação. Nada produzia, salvo uma homenagem e outra, daí talvez o número de oficiais reformados em sua direção. Afinal, o número de oficias era insignificante: 47 na ativa e, pouco mais de 100, na inatividade.
O presidente que assumia havia sido comandante da PMAM entre 1954-55, portanto, um dos fundadores do Clube. Tem mais, a Loja maçônica Caetano Felix do Nascimento venera seu nome.


Recorte do citado periódico
O Clube dos Oficiais da Polícia Militar do Estado do Amazonas vai festejar hoje a data do Patrono dos Polícias Militares, alferes José Joaquim da Silva Xavier, Tiradentes, com sessão solene que será realizada na sede da ASPA [Associação dos Servidores Públicos do Amazonas], às 20 horas, quando serão empossados os membros de sua Diretoria e Conselho Deliberativo.

Os novos dirigentes do Clube que serão empossados hoje, são os seguintes:

DIRETORIA

Presidente — Coronel PM RR Caetano Felix do Nascimento;
1° Vice-Presidente — Coronel PM RR José Silva;
2° Vice-Presidente — Major PM Helcio Rodrigues Motta;
1° Secretário – Capitão PM Osório Fonseca Neto;
2° Secretário — Capitão PM Manoel Roberto Lima Mendonça
Tesoureiro — 2° Tenente PM Ref Olavo José de Araújo;
Adjunto Tesoureiro — 2° Tenente PM Jarbas Rocha da Costa,
Orador Oficial — Tenente-Coronel PM RR Djalma Vieira Passos.



CONSELHO DELIBERATIVO

Coronel PM Ref Antonio Hosannah da Silva Filho;
Major PM Hilário Motta Ardaya;
Capitão PM RR Francisco Assis de Magalhães;
Capitão PM Humberto Henrique Soares e
Tenente PM Antonio Ferreira Lima.

EDUCANDOS E A POLÍTICA

As campanhas políticas oferecem cada sonho ao eleitor, como o daquele candidato a prefeito que prometeu transformar Manaus em Veneza, aproveitando os igarapés do Centro Histórico. Ficou na plancheta.
No entanto, o Governo Militar também fez das suas promessas mirabolantes. Reproduzo uma destas, compartilhada do extinto jornal A Notícia, de 8 de abril de 1970. 

Recorte do citado periódico

Uma avenida de 12 pistas, e em que deverá ser transformada a margem do igarapé de Educandos, ligando a foz desse igarapé à avenida do Contorno, segundo o plano em estudo e que deverá ser executado através de um convênio do qual farão parte o Departamento Nacional de Obras e Saneamento [DNOS], Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia [Sudam], Superintendência da Zona Franca de Manaus [Suframa], bem como o Governo do Estado e a Prefeitura de Manaus.

ORDEM PARA PLANEJAR
Ao que apuramos em fonte merecedora de todo o crédito,  
cientificado do plano de saneamento dos igarapés que recortam a cidade de Manaus, particularmente da construção daquela avenida, o ministro Costa Cavalcante, do Interior, manifestou-se plenamente de acordo, tendo recomendado, inclusive, fosse feita a minuta daquele convênio, que poderá ser assinado em sua presença, quando de sua viagem a Manaus, no próximo mês de junho.

LOCALIZAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES
Trabalhos iniciais já foram efetuados, constando do levantamento fotográfico das margens dos igarapés de Manaus, da Segunda ponte, da Ponte de Ferro e de Educandos, sendo focalizados no mapa aerofotogramétrico todas construções concluídas ou em construção, localizadas nas margens dos referidos igarapés, que serão transformadas em avenidas.
Tal trabalho, além de se destinar a orientar os trabalhos de saneamento a serem executados, visa, também à avaliação das mesmas construções para efeito de indenização e demolição, ao que não terão direito aqueles que fizerem qualquer obra após aquele levantamento aerofotografico e que, consequentemente, não constar do mapa respectivo.

domingo, fevereiro 18, 2018

OS LIMA DO ANVERES (1)



Vicente e Adelaide Lima
Os Lima constitui a descendência que o saudoso cearense Vicente Pereira Lima implantou a partir do lago do Anveres. Ainda não foi possível sinalizar o local de nascimento deste bravo nordestino. Estamos em busca. Sabe-se somente que proveio do Ceará, ao final do século XIX, quando as secas impertinentes obrigaram a tantos a buscar a capital da borracha.

Numa dessas levas, o jovem Vicente desembarcou em Manaus, ao final do período provincial, quando o governo criou a Colônia Oliveira Machado, ainda existente com a denominação de bairro. Outra iniciativa governamental foi estabelecer a colônia 13 de Maio nas terras hoje pertencentes ao município do Careiro da Várzea.

Melhor dizendo, encaminhou os migrantes para os lagos que circundam o mais conhecido: lago do Rei, em frente a Manaus. Então, na margem do lago do Anvers (hoje Anveres), Vicente se estabeleceu e adquiriu vasta propriedade, que ele denominou, certamente para lembrar-se da origem, de Fortaleza.
Seus netos, entre os quais me incluo, realizam um levantamento dos descendentes, que hoje se espalham por vários Estados e Distrito Federal do país e no exterior. Para marcar essa passagem, está sendo planejada uma Revista, programada para outubro.

As fotos mostram alguns dos descendentes.

Família de Fernando e Maria Lima, em festa

Raimunda, a primogenita

Valeria Mendonça, neta de Francisca Lima

Sebastião (Tião), filho de José Lima

sexta-feira, fevereiro 16, 2018

JORGE TUFIC (1)


A morte de Jorge Tufic prossegue, é compreensível, ressoando. Desse modo, fui em busca de compreender sua importância para a literatura regional, quando se resume sua participação apenas como o autor da letra do Hino do
Jorge Tufic, 2011
Amazonas. Longe disso, sei.
Para chegar mais longe, recorri ao saudoso poeta Alencar e Silva, que produziu uma consistente apreciação sobre o autor de Varanda de Pássaros (1956), e inúmeras obras em prosa e verso. 
Vale recordar, antes de transcrever Alencar, que a Universidade ressurge em Manaus, no meado dos 1960. Que as agremiações estudantis agregavam os jovens poetas e prosadores, cuja atividade desagua, grosso modo, no Clube da Madrugada, estreado em 1954. E mais, que alguns clubistas (Alencar e Tufic, entre esses) ali embarcaram com o afã de romper esses grilhões.

Jorge Tufic viveu essa desconcertante estação da vida manauara, em todos os aspectos. Seu amigo Alencar e Silva resumiu esse estágio no capítulo intitulado “As Tendas do Caminho”, constante de seu Quadros da Moderna Poesia Amazonense. Manaus: Valer, 2011.   
Jorge Tufic trouxe, efetivamente, para o meio cultural em que foi transplantado uma contribuição genuína de semente caída em terra fértil. Essa lhe foi, por certo, a circunstância decisiva. Não houvesse uma espécie de determinismo cósmico que, somado ao estado de ebulição e inquietação da juventude, move as gerações contra as estratificações e a ordem estabelecida, fazendo-as avançar sempre mais - é certo que esse estado de coisas se prolongaria e, no caso, o poeta ficaria a ver navios... Mas, não.

No primeiro a passar ele embarcou. Como bom fenício. Como bom marinheiro. Como descobridor de novas terras.
Foi assim também que, movido pela sede de desconhecido, ele empreendeu as suas primeiras viagens de adulto — eis que, quando infante, já viajara pelo Acre e rios da região e experimentara, de algum modo, o pânico e os dissabores de um naufrágio em que a família perdera tudo.
Foi em 1951 e 1953 que se realizaram aquelas viagens — ou caravanas, como as denomináramos — em que demandamos os brasis sulinos, no afã de superar as angustiosas contingências locais, que a ausência de universidade superlativara, encurralando a juventude entre a debandada e a aceitação pacífica de status quo.”

O poema abaixo, inserido no mesmo capítulo, ilustra a análise de Alencar sobre Tufic.

POSSÍVEL SONETO À DALVA

Dalva, o seu nome. O resto, uma cidade
e nela o meu orgulho. Uma janela
e Dalva no ar de sonho que flutuava
sobre tudo; um vapor, uma agonia!

Deu-se então, como às vezes acontece,
o inevitável: mágoa? Alumbramento?
Foram ver-me no quarto. E que tristeza
havia que eu não via em meu semblante?

(Que balões de mil cores pela noite
pintados pela febre!) O doutor veio
e disse: muito doente. Atrás do vidro

a imagem redourada de uma lua
— igual a um forno — e nele o fogo brando
como Dalva em meu peito, a consumia.

(De Varanda de Pássaros – 1956)

“E aqui se fecha o círculo iniciado a partir daquelas tendas que o poeta vem erguendo pelos caminhos. E onde, enfileiradas ou suspensas no ar, esplendem as preciosidades trazidas do reino”, remata Alencar e Silva.

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

JORGE TUFIC (1930-2018)



Jorge Tufic
Morreu hoje, em São Paulo, o poeta Jorge Tufic. Ainda ontem, à noite, em visita ao poeta Almir Diniz conversamos sobre o autor do Hino do Amazonas (Amazonas de bravos que doam, / sem orgulho nem falsa nobreza, / aos que sonham, teu canto de lenda / aos que lutam, mais vida e riqueza.) e senti nas palavras do Diniz a preocupação com o silêncio de Tufic, sem sabermos que o mesmo se encontrava na UTI. A madrugada de Cinzas compartilhou a pesarosa notícia. 
Então, não sei por que motivo, lembrei-me da Marcha da quarta-feira de Cinzas, doutro poeta, de Vinicius de Moraes.

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Praça da Polícia
Talvez, nada a ver com a aflição que possa atingir a cidade. Ou, oxalá seja verdadeira a dor que vai nos agoniar.

Abençoado fui, pois tive múltiplas oportunidades para confraternizar, para conversar, para tomar o Chá com o poeta nascido em Sena Madureira (AC). Guardei alguns brindes, um turbilhão de palavras e tantas considerações. Aprendi o quanto quis sobre o Clube da Madrugada, do qual ele foi presidente e um dos maiores sustentáculos, exímio condutor.
A propósito, o velho “mulateiro” na Praça da Polícia, sob o qual madrugou este Clube, parece escoltar a expiação do velho presidente. Diria que já se encontra na UTI, resiste apenas com uns poucos ramos, mostrando a desintegração (foto). Não sei se conto a ele do desaparecimento de Jorge Tufic.

Um dia, em minha residência no Igarapé de Manaus, para comemorar o aniversário de outro poeta, o falecido Sergio Luiz Pereira, o Chá do Armando se reuniu. Jorge Tufic prestigiou a festança, ocasião em que fotografei este momento prazeroso.

Jorge Tufic e as minhas (Beatris e Sofia), 2011

terça-feira, fevereiro 13, 2018

GRANJA DA PMAM


Havia prometido não mais me envolver com esta estrovenga, devido meu desengano ano passado. Falei com deus e o mundo sobre a dita-cuja e não consegui um adepto sequer na minha cruzada: de relembrar o cinquentenário de inauguração desta obra de Severiano Porto.

Festa de inauguração, nov. 1967
Mês passado recebi um e-mail do Rio de Janeiro, solicitando informações sobre a Granja, diante da minha postagem no blog. Veio então, outra grata notícia. Por indicação de meu amigo Rômulo Nascimento cheguei ao doutorando Marcos Cereto, professor de arquitetura na Ufam, que se dedica à obra de Severiano Mário Porto.

Levei-o a visitar o quartel do comando superior da PMAM, no bairro de Petrópolis. Foi deleitosa a visita, pois, além das informações colhidas e das fotos realizadas, conversamos com o condutor daquele obra, realizada há 50 anos. Trata-se do coronel Romeu Medeiros que, quando tenente recém incluído na corporação, dirigiu com entusiasmo a construção do edifício, no então longínquo km 95 da estrada Manaus-Itacoatiara.

Na sexta-feira 9, o professor Humberto Barata juntou-se a nós e fomos à Granja da PMAM. Bem, o serviço de avicultura há muitos anos foi encerrado, o local ainda serviu para algumas iniciativas da corporação, mas há algum tempo está sem destinação fixa.
O intento dos mestres era fotografar e observar os detalhes do prédio (todo em madeira) para estudos subsequentes. As fotos do professor Barata (em cores) mostram seu estado falimentar. As fotos em P&B são da inauguração (novembro 1967), presente o governador Danilo Areosa.

Visão geral a partir da entrada do terreno

Frente e fundos (abaixo)




segunda-feira, fevereiro 12, 2018

EDUCANDOS: FITEJUL

Recorte do periódico citado
O bairro de Educandos e adjacência - eu me lembro muitíssimo bem - possuíam um original sistema marcador de horas. Um relógio excêntrico. Constituído pelo toque de cada fábrica existente no bairro. A serraria dos Pereira, a Fitejul (a grande empregadora, que funcionava 24 horas) e o cinema Vitória, com sua música tradicional.

Um dia, registro abaixo, a Fitejul pegou fogo. O bairro perdeu por um lapso de tempo o aviso sonoro emitido pela industria de IB Sabbá, conclamando os operários e que tocava de quatro em quatro horas. 

A Fitejul sucedeu à Usina Labor, que industrializava borracha, que encerrada, o prédio permaneceu bastante tempo fechado, até se transformar em Supermercados DB, até ser, em nossos dias, transferido para o Atacadão

A postagem foi compartilhada de A Crítica, 15 maio 1965.



20 MILHÕES NO FOGO 
A agilidade e a pronta intervenção do corpo de Bombeiros Municipais evitaram ontem, pela manhã, a total destruição do prédio da Fitejul S.A., empresa do Grupo Sabbá, localizado na avenida Leopoldo Neves [correto é Leopoldo Peres], em Educandos. Um incêndio irrompeu e destruiu o escritório e o almoxarifado daquela fábrica de fiação e tecelagem de juta, cujos prejuízos vão acima de 20 milhões de cruzeiros, sem adicionar-se o que poderá vir futuramente, com a perda de documentos relacionados com inúmeras transações.O motivo determinante do incêndio ainda não foi elucidado tecnicamente, embora existam algumas versões ainda imprecisas que poderão conduzir o inquérito policial a encontrar as razões do acidente. 
Os detalhes amplos da tragédia já foram ontem relatados pela imprensa vespertina e pelas emissoras, salientando-se, porém, este: as labaredas atiradas pelo vento que soprava forte na ocasião ameaçavam inúmeras palhoças adjacentes, mas tudo foi evitado, graças à rapidez dos bombeiros da Prefeitura e os socorros do Destacamento da FAB.
A Delegacia especializada ontem mesmo, iniciou sindicâncias para concluir o inquérito instaurado.
A foto é um flagrante do trabalho dos “soldados do fogo” da PMM no salvamento do prédio sinistrado.