CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, agosto 27, 2016

MOACIR ANDRADE (3)

Recorte da capa da revista
Em mais uma homenagem pessoal ao artista plástico Moacir Andrade, morto no mês passado, compartilho a publicação abaixo, sacada da extinta revista Informatur Amazônia, periódico mensal editado em Manaus, em 1980. Sua direção pertencia a Lourdes Archer Pinto e o editor-chefe era o respeitado jornalista Arlindo Porto.

Presença permanente de Moacir Andrade nas artes amazonenses


Página da revista
Modesto e simples, para o desespero hoje já resignado de sua mulher Graciema, a ponto de poder ser encontrado no principal mercado da cidade, por exemplo, sentado em um meio fio, trajando tranquilamente uma bermuda desfiada toda manchada de tintas, e lendo um jornal com um velho óculos maior que seu rosto, cavalitado no meio do nariz, Moacir Andrade, o grande pintor amazonense, é assim mesmo por formação e natureza e ninguém poderá mudá-lo jamais.

Diferentemente de outros grandes astros da pintura e das artes plásticas mundiais, que fazem da falsa excentricidade um meio de projeção, a simplicidade de Moacir Andrade, calmamente entrando nos lugares mais refinados de Manaus — e sendo recebido com a deferência que merece — com os pés enfiados em sandálias, é marca pessoal de berço desse caboclo nascido nas barrancas alcantiladas do interior do Amazonas, a quem as Musas da Pintura bafejaram criança ainda para que se tornasse o grande mensageiro das cores amazônicas para o mundo.

Do seu atelier, atafulhado de preciosidades, como telas de Di Cavalcanti, rascunhos de Portinari, esboços de Burle Max, marinhas de Djanira e peças outras que levam abaixo os nomes famosos dos seus autores, todas elas oferecidas ao famoso pintor e entalhador amazonense, este continua a fazer brotar um acervo de trabalhos maravilhosos que representam todo um conjunto harmonioso de primorosas demonstrações de intenso amor pela terra natal.

As telas e os entalhes de Moacir Andrade, refletindo sobretudo o conteúdo autêntico e realístico das coisas e gentes de sua terra natal, se constituem, por isso mesmo, em um documentário sociológico autêntico sobre o qual um dia poderão se debruçar os estudiosos da matéria e gizar através dele toda uma fase da existência dos herdeiros das icamiabas que tanto assustaram Orellana na sua passagem pelo Tapajós.

Quem o vê nessa simplicidade não imagina que já tenha realizado exposições e proferido conferências nas principais cidades do mundo como Tóquio, Estados Unidos (diversas cidades e universidades), Europa (Lisboa, Roma, Paris, Madri etc.). 
Assim Moacyr Andrade não é só um grande pintor do Amazonas, mas do Brasil, com renome internacional. 

Anúncio na revista

quinta-feira, agosto 25, 2016

IDEAL CLUBE - 1958



Capa da Revista
Para comemorar a passagem de ano, o Ideal Clube fez circular, ao final de 1958, sua revista. Trazia na capa, sem que haja indicação do autor, uma charge sobre o Novo e o Velho ano.

Entre outras colaborações e registros de festas, encontra-se o artigo A Felicidade, do lembrado padre Nonato Pinheiro que, como vinha assinalado, pertencia à Academia Amazonense de Letras, datado de novembro de 1958.

O texto segue reproduzido, e igualmente um anúncio do então Banco de Crédito da Amazônia, ainda em atividade.  



A Senhora Cyra Gesta Archer Pinto, dama das mais distintas de nossa sociedade, pediu-me uma página para a revista do IDEAL CLUBE. Deu-me plena liberdade de escolha, com relação ao assunto.

Pensando no esplendor do salão aristocrático do clube da Eduardo Ribeiro, onde as joias refulgem entre os tecidos coloridos e o tinir das taças, fuzilou-me na mente a ideia de escrever duas linhas sobre a felicidade.

É um tema explorado, mas sempre sugestivo, porque é um dos anseios do coração humano. Todos querem ser felizes, e muitos procuram ardentemente a felicidade, na qual fazem consistir toda a beleza da vida.

Os poetas, sobretudo, exploram esse veio fecundo. Quase todos, porém, são unânimes em ressaltar a ilusão da felicidade, ou pelo menos a sua fugacidade. Quando chega, ou quando se deixa alcançar, nunca é em plenitude. É uma rosa vermelha e atraente, cujo colorido deslumbra, mas sempre se acompanha de espinhos pungentes, como as rosas dos nossos jardins.

E' uma espécie dessas miragens do deserto, terrivelmente sedutoras e falazes. De longe, é o cromo que empolga a vista do viandante; de perto, é a desilusão amarga, mero efeito de ilusão ótica.

Outros perguntam se a felicidade existe, ou se é uma quimera. Um poeta parece que acertou, quando escreveu esta resposta com muita argúcia: "Existe, sim, mas nós não a alcançamos, / Porque está sempre apenas onde a pomos, / E nunca a pomos onde nós estamos..."

Creio que esse inspirado aedo foi sobremodo feliz em estabelecer essa distinção. Nunca estamos satisfeitos com o que somos, ou onde nos encontramos. Sempre sonhamos com outras condições. Nossa imaginação irrequieta sempre procura graus superiores àquele em que nos encontramos.

Nesses graus mora a felicidade, mas se atingimos um grau acima, sentimos logo um vazio inexprimível. É a insatisfação humana, que se nutre de leviandades e sonhos de quimera. Os mestres da vida espiritual, mais sensatos, ensinam que a felicidade é a paz que brota de uma consciência tranquila, pelo dever cumprido.

Anúncio circulado na Revista
O que extrapassa essa órbita, cai no campo das utopias e das quimeras, que não podem constituir o pábulo do espírito. Muitos corações bem formados entendem que a felicidade pode ser encontrada numa criteriosa e salutar modéstia, cerrando-se as portas das ambições descabidas.

Encontrei, a propósito, um trecho cintilante num dos salmos da Bíblia. O salmista dá-nos esta lição preciosa, que é um roteiro iluminado: Non prosequor res grandes aut altiores me ipso (Não aspiro a grandezas, ou a coisas que excedem minha capacidade). E termina lindamente, afirmando que acalmou sua alma (pacavi animam meam), e ficou tranquilo como uma criança no regaço materno...

A felicidade não pode consistir, pelo menos com exclusividade, na cultura, na riqueza, na saúde, no prestígio ou na glória. Repousa antes de tudo na paz da consciência.


Como quer que seja, há sempre o remédio ou o licor capitoso das esperanças, que sempre iluminam a vida. E as que sofrem, também dormem, e têm lindos sonhos de felicidade. 

quarta-feira, agosto 24, 2016

CRÔNICA DE GENESINO BRAGA

O saudoso cronista Genesino Braga, em seus primeiros anos de Manaus, escrevia na revista mensal Victoria- regia, em página intitulada de Era assim...
A colaboração inserida em abril de 1932 vai abaixo transcrita. Nela, descreve uma das formas de fazer política na Província, narrando um causo ocorrido à época das eleições, que envolvia o barão do Solimões, apenas secretário do governo.



ERA ASSIM...
(Crônicas da História Amazonense)

Genesino Braga

Recorte da página da revista Victoria-regia, abril de 1932

AQUELE pleito de 1881, o partidarismo de Alarico José Furtado tocava as raias do escandaloso. Homem de Partido, governava pelo Partido para o Partido. Nas eleições, não admitia candidato que não fosse destacado do seu grêmio. Chegava, mesmo, a considerar uma afronta ao poder o aparecimento de votos, nas urnas, para elementos contrários.


Aproximavam-se as competições eleitorais para a deputação geral. Na esquerda, o Diretório Liberal se desdobrava na propaganda dos seus candidatos, em reuniões sucessivas, deliberando, discutindo, organizando, forte, coeso, disciplinado.



* * *
Na manhã daquele radioso 4 de setembro, após um relance de olhos pelo [jornal] Amazonas, o presidente da Província não conteve a surpresa que lhe causara aquela nota.



-- Mas será possível?!..., soliloquava. Pois, também, o Barão?! Não acreditava. Devia haver naquilo tudo, uma perfídia qualquer.



Realmente, sob o título “Candidaturas”, a “Seção Política” daquele matutino publicava, nesse dia, uma circular de propaganda eleitoral do Partido Liberal. E, dentre as assinaturas, se destacava insultuoso, ostensivo, afrontoso, desaforado, tomando proporções gigantescas em meio aos demais, o nome venerando e respeitável de Manoel Francisco Machado, o velho barão do Solimões, seu secretário de Estado.



* * *
No dia 12 do mesmo mês, Manoel Francisco recebia um ofício em que Alarico Furtado lhe recomendava declarasse se era verdade que, como membro de um Diretório de Partido, havia assinado circulares solicitando votos para candidatos à deputação geral nas próximas eleições.



O barão-secretário passou dois dias remoendo a resposta. Deu-a, afinal, a 14, afirmando que, desde 1879, era membro do Diretório Liberal nesta capital e que, como tal, havia assinado, em fins de abril e princípios de maio últimos, uma circular dirigida às comissões do Partido nas paróquias da Província; mas que essa circular não tivera por fim solicitar votos e sim, unicamente, consultar as referidas comissões acerca dos candidatos à deputação geral.



Essa informação não satisfez as exigências de Alarico. Novo ofício expediu no dia seguinte. Queria que Manoel Francisco informasse se havia assinado ou não a circular publicada no Amazonas. A resposta foi seca, decisiva, enérgica: -- Não assinara a circular e, se o houvesse feito, teria declarado, já, no ofício anterior.



* * *
Alarico José Furtado era um homem que vivia vibrando dentro do seu próprio temperamento esquisito. Dele podia-se dizer: “Engole um boi; mas se engasga com um mosquito”.



Ao receber a resposta do barão, cerrou os punhos com energia, sustentou no vácuo um murro quente e rijo para depois fazê-lo vibrar, violento e arrogante, sobre a mesa de trabalho.
-- Desaforado!



No dia seguinte novo ofício ao secretário. Determinava que, à vista de um aviso de 6 de agosto, do Ministério dos Negócios da Fazenda, abandonasse o lugar de membro do diretório. Só isto.



Manoel Francisco, perspicaz e arguto, compreendeu a delicadeza da situação e as intenções do ofício. Conhecia o meio e os homens. Não se perturbou. Acendeu um charuto com a serenidade e a convicção do homem que conhece a si próprio e, ao fim de algumas largas baforadas, tinha pronta a resposta ao presidente. Conhecia o aviso citado e, não obstante, não abandonara espontaneamente a posição política de membro do Diretório Liberal, por que o aviso aludido não se referia senão aos chefes de repartições de Fazenda que fizessem parte de Comissões Diretoras de Eleições e não de partidos, e, ainda mais, porque, sendo o fim do aviso de meio à execução do programa do governo relativamente às próximas eleições, acerca das quais tinha formado o mais nobre, mais justo e patriótico propósito de deixar à Nação a mais completa liberdade de escolher os seus representantes, lhe parecia que o aviso não podia referir-se aos diretores de partidos sem que fosse contraditório consigo mesmo; pois que -- obrigar o cidadão a abandonar a posição que ocupava perante o seu Partido somente por ser chefe de repartição, nada mais traduzia do que uma pressão exercida sobre a sua liberdade política, uma restrição imposta à sua esfera de ação; e isto ninguém provaria nunca, a seu ver, que não fosse uma intervenção, senão de um, de outro modo, isto é, direta ou indiretamente.



Assim compreendia o aviso que, versando sobre matéria odiosa, devia ser entendido restritamente. S. Exa., porém, pensava de maneira muito diversa e, como não era político somente com o governo, que, como o atual -- principalmente em relação às ideias que em política representava -- devia a sua existência à política liberal e, ainda mais, porque o sacrifício da posição perante o seu partido importava o das suas crenças políticas, tinha a honra de declarar a S. Exa. que continuaria fiel ao seu partido.



* * *

Seis dias após a remessa desta carta, que revelava a envergadura inquebrantável e a nobreza e altivez de caráter de um político de escol, o velho barão do Solimões, secretário do Estado, entrava no gozo de três meses de licença e embarcava para o Rio de Janeiro por entre grandiosas manifestações de seus correligionários.

terça-feira, agosto 23, 2016

EUCLIDES DA CUNHA EM MANAUS

Detalhee da capa da revista
Nesses dias recebi o mais novo livro de Oleone Coelho Fontes Sergipe na guerra de Canudos (Salvador: Ponto & Vírgula, 2016, 278p.), assunto que exige sempre a citação de Euclides da Cunha. E foi com o autor de Os sertões na mente que me deparei com o texto que abaixo reproduzo com os devidos acertos ortográficos.

Trata-se de um escrito publicado na Revista Victoria Regia, editada em Manaus em abril de 1932, portanto, saído ainda quando predominava a tese de Euclides sobre Canudos e raro era aquele que se atrevia a comentar a obra.

Nada recolhi sobre o articulista amazonense – Jayme Sisnando; mas, se isso pode influir, acrescento que o aludido periódico era dirigido por Francisco Benfica e Mario Ypiranga Monteiro, que deixou a marca de ilustre historiador.   



EUCLIDES E A AMAZÔNIA

Dentre os escritores nacionais que se ocuparam com a Amazônia, sua topografia, estrutura, rios, habitantes, costumes etc., Euclides da Cunha é um dos que aparecem em primeiro plano, já pela verdade e colorido das descrições, que nos apresenta da “Hileia” maravilhosa, já pela beleza do estilo impecável, onde a sua erudição ostenta-se demonstrando os seus variados conhecimentos, já finalmente pelo seu prodigioso poder de observação, que o torna um conhecedor profundo de todos os assuntos de que trata.

É certo que Euclides escrevendo sobre a Amazônia não nos dá um livro tão vasto e minucioso como Os sertões, a obra magnífica em que expõe os aspectos heroicos da campanha de Canudos, mas as poucas páginas que lhe dedica em À margem da história e no prefácio do Inferno verde, são suficientes para dar-nos uma ideia em conjunto destas regiões vastíssimas e imponentes do equador, as quais ele chama mui sabiamente “a última página do Genesis”.
Ao nosso ver, Euclides é dos autores brasileiros o que mais se aproxima da realidade na descritiva do grande vale equinocial, porque não se deixa empolgar por aqueles arrebatamentos que assaltaram a Frederico Hartt e tantos outros que hão estudado as coisas amazônicas.
O próprio Moraes, que, ao nos oferecer Na planície amazônica, parece ter tomado a priori a resolução louvável de defender a gleba equatorial de quantas mentiralhas de que tem sido vítima por parte de pessoas inescrupulosas, deixa-se dominar pelo lirismo, e aqui e acolá, nota-se na sua obra a preocupação constante de exaltar a gleba nativa.

Chega mesmo, reportando-se a Alberto Rangel, a dizer que este “não enxerga através da paisagem amazônica, enxerga através dos círculos da Divina Comédia”.Inegável é que Alberto Rangel é exagerado e cheio de ideias pessimistas ao falar da “gleba tumultuária”. Mas, não haverá algo de realidade nos seus contos? Poderemos negar o fenômeno das “terras caídas”, a insalubridade de certas zonas, a injustiça dos potentados no “hinterland”, e a possibilidade de se desenrolarem certos dramas e tragédias no recesso das florestas verdoengas, como deixa entrever o escritor patrício? Julgamos que não. Aliás todas as partes do globo terráqueo têm os seus defeitos característicos. Estes não são “privilégio” da Amazônia.
Referindo-se a Euclides, Moraes acha que o mesmo não tem razão, quando diz que o Amazonas na sua dinâmica formidável, carreando detritos, minerais, areias etc., vai pelas águas marinhas a dentro, e distribuídos estes materiais pelo rio pelágico que se prolonga pelo Gulf-stream, vão se acumular em lugares longínquos na formação de novos territórios.
Acha Moraes que Euclides apenas endossou uma ficção de Elisée Reclus. No entanto, não acreditamos que o espírito perquiridor, arguto e analisador de Euclides subscrevesse qualquer patetice deste jaez sem nenhum fundamento. Certamente alguma coisa de positivo deve haver no caso, e Herbert Smith, segundo o mesmo Euclides, observou o fenômeno nas enormes massas barrentas, que se vêm em pleno mar, antes de aportar ao Brasil.

Provavelmente, como quer Moraes, o delta do Amazonas esteja se formando pela sedimentação ali em Marajó, mas bem possível se nos afigura que Euclides tenha as suas razões, e que parte das terras que o Riomar transporta em sua faina incessante, vá parar nas costas norte-americanas, na Geórgia e nas Carolinas, que vão se dilatando inexplicavelmente com o correr do tempo.

Euclides, que não é desses que escrevem apenas baseados em informações, mas que trata dos fatos que observou in loco, percorreu a planície, e estudou-a carinhosamente, sem dar largas à fantasia, enlevado pela sua grandeza e esplendor.

Ocupou-se ele de seus problemas capitais, tratando da desobstrução dos rios, do clima, da luta ingente dos seringueiros, que vivem completamente abandonados pelos governos, pois “enquanto o italiano se desloca de Genova à mais remota fazenda de S. Paulo paternalmente assistido pelos nossos poderes públicos, o cearense executa à sua custa e de todo em todo desamparado uma viagem mais difícil, em que os adiantamentos feitos pelos contratadores insaciáveis, inchados de parcelas fantásticas e de preços inauditos, os transforma as mais das vezes em .devedor para sempre insolvente”. (À margem da história, p. 69.)

A muitos problemas Euclides sugere meios práticos de resolvê-los, de modo que o seu livro À margem da história satisfaz amplamente o preceito de Horácio, deleitando e instruindo ao mesmo tempo, e tornando o burilador inesquecível de Os sertões notável como um grande conhecedor das coisas da Amazônia.

JAYME SISNANDO

segunda-feira, agosto 22, 2016

MANAUS - SÃO PAULO

Detalhe da capa do informativo
Em meado de 1955, no primeiro ano do governo Plínio Coelho, a companhia aérea Real-Aerovias, depois denominada de Varig, iniciou a ligação entre nossa capital e a de São Paulo, com uma escala, em Campo Grande, hoje capital do estado de Tocantins.
A Associação Comercial do Amazonas, em seu Boletim nº 169, de agosto, dirigido pelo vice-presidente Jacob Sabbá e secretariado por Cosme Ferreira Filho, registrou o evento que abaixo vai transcrito.

O CONSÓRCIO REAL-AEROVIAS LIGA SÃO PAULO AO AMAZONAS, INAUGURADA A LINHA SÃO PAULO - MANAUS

No dia 10 de julho último, o Consórcio "Real-Aerovias" [adiante Varig] inaugurou nova linha de navegação aérea, ligando, desta vez, São Paulo a Manaus, com escala por Campo Grande, no Estado de Mato Grosso [hoje do Sul]. O cometimento daquela poderosa organização, que veio de muito beneficiar esta região, colocando nossa cidade mais próxima da capital bandeirante, deu motivo a expansões de júbilo por parte do nosso comércio e da população manauense, concretizadas nas manifestações que a firma desta praça, Oliveira, Barbosa & Cia. Ltda., agente daquela empresa, recebeu por parte da imprensa e das mais altas autoridades do Estado.

A aeronave que serviu à inauguração da linha São Paulo-Manaus era do tipo DC-4, tinha o prefixo PP-AXO e pousou no aeroporto internacional de Ponta Pelada às 15:30 horas daquele dia, conduzindo diretores e convidados da companhia, em número de 52 pessoas.

O auspicioso acontecimento foi seguido da inauguração dos escritórios de Oliveira, Barbosa & Cia. Ltda., situados na rua Guilherme Moreira, 352, desta cidade, ato a que compareceram o Sr. governador Plínio Coelho, dom Alberto Gaudêncio Ramos, arcebispo de Manaus, desembargador Rocha Carvalho, presidente do Tribunal de Justiça, Dr. Edson Stanislau Afonso, presidente da Assembleia Legislativa, prefeito Walter Rayol, além de muitas outras autoridades civis e militares e grande número de elementos do comércio, da indústria, da sociedade.

Nessa ocasião, o Dr. Emídio Vaz d'Oliveira, vice-presidente da ACA e componente da firma que representa, em Manaus, o consórcio Real-Aerovias, proferiu eloquente discurso, através do qual salientou a importância da iniciativa, para o povo e para as classes produtoras, pois mais uma trilha se abria para a navegação aérea no Amazonas, proporcionando maiores facilidades no campo da economia e transportes regionais, além de promover a ligação direta do grande Estado sulino com o setentrião brasileiro.

E citou o comandante Lineu Gomes, presidente da operosa empresa aeroviária, como o pioneiro da grandiosa ideia, concretizada naquele festivo momento.

A ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO AMAZONAS, a cujo quadro pertencem os diretores de Oliveira, Barbosa & Cia. Ltda., rejubilou-se com o fato, fazendo lançar na ata dos trabalhos de sua Diretoria um voto de congratulações, proposto pelo vice-presidente, Sr. Antonio Montenegro, que exaltou a iniciativa daquela empresa de navegação aérea, representada, nesta capital, pela citada firma. A moção foi aprovada por unanimidade.

Essa homenagem foi comunicada ao comandante Lineu Gomes, através do ofício abaixo reproduzido.

Of. Nº 173/55
Manaus, 22 de julho de 1 955.
Ilmo. Sr. Comandante LINEU GOMES
Presidente do "Consórcio Real-Aerovias" São Paulo. 
Ilmo. Sr.
Levamos ao conhecimento de V. Sa. que foi objeto de registro na ata da reunião de nossa Diretoria, realizada no dia 19 do corrente, como acontecimento de marcante significado, para a economia do Estado, o efetivo estabelecimento da linha de navegação aérea, direta entre Manaus e São Paulo, corajosa iniciativa dessa grande empresa aeroviária. 
Na mesma oportunidade, ao ser colocado em destaque o mérito do referido empreendimento, que vem enriquecer o Amazonas de novos e eficientes meios de transporte entre nossa capital e a metrópole bandeirante, assinalou a Diretoria o auspicioso fato de haver sido a agência local do Consórcio Real-Aerovias confiada à firma Oliveira, Barbosa & Cia., pertencente ao quadro de associados deste Instituto, onde seus dirigentes desfrutam do mais alto conceito comercial e pessoal. 
Comunicando-lhe, prazerosamente, o acertado gesto de nossa Diretoria, servimo-nos, também, do ensejo para augurar-lhe o maior êxito em seu novo setor de atividade transportadora. 
Cordiais Saudações 
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO AMAZONAS
Jacob Sabbá, Presidente, em exercício
Milton Diniz, Vice-Presidente da Secretaria


CORPOS DIRETIVOS 1955- 1956
ASSEMBLEIA GERAL

Presidente - Com. Agesilau Joaquim Gonçalves de Araújo
1º Secretário - Sr. José Rodrigues de Oliveira Jr.
2° Secretário - Sr. David Tadros

CONSELHO FISCAL                                      SUPLENTES

Sr. Auton Furtado                                Sr. Armando Mesquita
Sr. Benjamin Pantoja Alves                Sr. Mário Pinheiro
Sr. Francisco do Areal Souto              Sr. Oscar Parente

DIRETORIA

Presidente - Dr. Jayme Bitencourt de Araújo
1° Vice-Presidente e Vice-Presidente da Assistência à Agricultura - Sr. Ermindo Fernandes Barbosa
2° Vice-Presidente e Vice-Presidente da Publicidade e Assistência Social - Sr. Jacob Sabbá
Vice-Presidente da Secretaria - Sr. Milton Diniz
Vice-Presidente da Tesouraria e Contabilidade - Sr. Antônio Oscar Montenegro
Vice-Presidente do Patrimônio e Biblioteca - Dr. Emídio Vaz d'Oliveira  
Vice-Presidente da Propaganda e Museu Comercial - Sr. José Negreiros Ferreira
Vice-Presidente do Intercâmbio Comercial e Estatística - Sr. Mansour Francis Chehuan
Vice-Presidente do Arquivo e Cadastro - Sr. Waldemar Pinheiro de Souza

DIRETORES
Dr. Dioclécio Corrêa                            Sr. Isaac Benaion Sabbá
Sr. Danilo Duarte de Matos Areosa     Sr. Joaquim Soares Bento
Sr. Edgar Gama e Silva                       Sr. José Ribeiro Soares
Sr. Elias Ferreira da Silva                    Sr. Pancrácio Ferreira Nobre
Sr. Felipe Isper Abrahim                     Sr. Pedro Manoel de Oliveira Negreiros
Sr. Isaac Benzecri                                Sr. Robert Daou

SUPLENTES
Sr. Antônio M. Henriques                   Sr. José Veiga
Sr. Francisco F. Barbosa                     Sr. Lauro Honório
Sr. Joaquim Araújo                             Dr. Mário Guerreiro
Sr. Jacob P. Levy Benoliel                  Dr. Samuel Benchimol
Sr. José Maria Chixaro Jr.                   Dr. Sebastião Souza

Sr. José Rafael Siqueira                      Sr. Sosthenes Magalhães

domingo, agosto 21, 2016

OBRAS DO GOVERNO PLÍNIO COELHO (1957)






sábado, agosto 20, 2016

MOACIR COUTO DE ANDRADE (1927-2016)



Mês passado, aos 89 anos, morreu o artista plástico Moacir Andrade, membro de várias organizações culturais, entre as quais, o IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do amazonas) e da Academia Amazonense de Letras. Afora, entidades similares fundadas pelo falecido.

Sabedor de minha condição na Polícia Militar do Amazonas (PMAM), qualquer conversa com o saudoso mestre sempre descambava para a recordação dele em determinado tema. Dizia-me ter sido preterido naquela corporação. Explico. Repetiu-me que deveria ser “coronel” da PMAM, por uma razão simples: que fora instrutor de oficiais daquele corpo militar. A recorrência nesse lance acabou me inquietando.
Inveterado catador de papeis envelhecidos, com destaque para os da história da milícia estadual, não podia deixar esse episódio inexplorado. Ou, sem explicação. Assim, fui à cata com intuito de esclarecer, quem sabe, somente a mim.

Nada encontrei nos arquivos policiais, ou nos boletins diários próprios da corporação militar, porém, reconheço que me faltou vasculhar os ofícios circulados entre secretarias do Estado. Diante desse impasse, busquei os mais velhos, os mais “antigos” no linguajar militar. Assim, uma adequada dica surgiu em conversa com um colega de minha geração.

Relembrando os primeiros anos do Governo Militar, coronel Amilcar Ferreira me disse que Moacir Andrade, então bacharel em Administração, funcionário da Escola Técnica, fora colocado à disposição do quartel da Praça da Polícia. Tal qual ocorre em nossos dias com funcionários públicos. 

Meu interlocutor acresceu: quando o coronel do Exército Paulo Figueiredo assumiu o comando em 1971, estranhando aquele arranjo, quis conhecer o beneficiado. Para isso, determinou ao oficial de operações que programasse uma palestra do bacharel Moacir Andrade para os oficiais. De fato, a “instrução” aconteceu, tendo aquele mestre narrado seus feitos e contado os causos mais extravagantes de que sempre foi detentor.

Eis, pois, a instrução que Moacir prestou aos oficias da PM amazonense. Mediante esse arranjo, essa instrução aos oficiais – a qual eu faltei, é que o Maninho (como carinhosamente tratava e era tratado pelos amigos) reclamava a patente maior do corpo policial, ou seja, a de coronel Moacir Andrade.

De outro modo, eu reclamava a ele o descuido que teve com a “sua” corporação. Afinal, legou sua brilhante marca em madeira nos quarteis do Comando Militar da Amazônia, da Marinha, na Escola Técnica Federal e Colégio Militar de Manaus.
Às vésperas da nona década de vida, Moacir Andrade me deixou saudoso de seu atelier, ou escritório ou reserva, que deixei de explorá-lo com mais assiduidade. Não vou me perdoar.

Sei que muito se há de contar, de escrever sobre este personagem grandiloquente de nossa cidade de Manaus, cujo empoderamento da arte o levou a muitos cantos do planeta.


Com a minha continência, a minha despedida.