CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, abril 29, 2023

POEMAS DO SÁBADO

 Compartilho a produção de dois poetas amazonenses - Alencar e Silva e Luiz Bacellar - encontrada no Jornal Cultura, circulado em outubro de 1982. 




sexta-feira, abril 28, 2023

ANIVERSÁRIO MATERNO

 Dona Francisca, que a família tratava por Chicuta, festejaria hoje 106 anos, porém, ela faleceu aos 35 anos de idade. Renato, o filho caçula, não esquece a data, e para relembrar a efeméride escreveu o texto aqui compartilhado no Blog do Roberto, o filho mais velho. 

"As pedras-ume, o sabão virgem e as plantas medicinais já haviam sido preparadas; os panos alvejados com cândida estavam sempre prontos para uma emergência. A bacia esmaltada, já usada com sucesso, ali mesmo, tantas vezes e outros utensílios, que faziam parte das ferramentas de trabalho, estavam esterilizados. Mesmo sem conferir no calendário, aguardava-se a mudança de lua; sabiam-se de cor que fase se vivia; aquele paraíso ecológico facilitava a leitura, e era sempre um dos fatores da natureza levado em consideração. A lua tinha seu papel, o papel de abrir as entranhas para gerar uma nova vida, iluminando-a com a luz do mundo.
A parteira tinha razão, no dia 28 de abril de 1917, um sábado, no último dia do Quarto-Crescente daquele mês, véspera da Lua Cheia, chegou Francisca sob o signo da Lua. A maioria das apostas acertou o sexo, era só isso que faltava. A escolha do nome havia sido decidida previamente, uma homenagem a São Francisco Canindé, padroeiro dos nordestinos."
Renato Mendonça

Flores de saudade


segunda-feira, abril 24, 2023

GOVERNO MUNICIPAL ARTHUR NETO

A Revista Especial produzida pela JUCEA (Junta Comercial do Estado do Amazonas) em 1991, para comemorar seu centenário, listou o secretariado do prefeito Arthur Virgílio Neto.

Arthur Virgílio Neto


SECRETARIADO DA PREFEITURA

 

Vice-prefeito

- Felix Valois Coelho Junior

Secretária Particular

- Maria de Fátima Mafra de Andrade

Chefe de Gabinete

- Afonso Tadeu Lourenço Nery

Secretário Especial para Assuntos Institucionais

- Edvar Martins de Mesquita

Chefe do Gabinete Civil

- José Barroso Neto

Chefe do Cerimonial

- Maria Antônia Alexandra Melo

Chefe do Gabinete Militar

- Capitão Louismar de Matos Bonates

Secretário de Comunicação Social

- Jefferson Luís Rodrigues Coronel

Secretária de Ação Comunitária

- Maria Rita Furtado

Secretário de Educação

- Wilson Duarte Alecrim

Secretário de Obras e Saneamento

- Orlando Cabral Holanda

Secretário da Limpeza Pública

- Ailton Luís Soares

Secretário de Mercados e Feiras

- Paulo Henrique Paixão e Silva

Secretário de Administração

- Romeu Pimenta de Medeiros Filho

Secretário de Economia e Finanças

- Gilvan Geraldo de Aquino Seixas

Secretário de Saúde

- Antônio Evandro Melo de Oliveira

Secretário do Meio Ambiente

- Abel Rodrigues Alves,

Secretário de Planejamento

- Mario Bezerra de Araújo

Procurador Geral do Município

- Lino José de Souza Chixaro

Diretor da URBAM

- Júlio Verner de Matos Pereira do Carmo Ribeiro

domingo, abril 23, 2023

GOVERNO MESTRINHO: SECRETARIADO

 Consoante a Revista Especial produzida pela JUCEA (Junta Comercial do Estado do Amazonas) em 1991, quando da comemoração de seu centenário, eis o secretariado do governado Gilberto Mestrinho.


SECRETARIADO DO GOVERNO

Vice-governador

- Francisco Garcia Rodrigues

Secretário de Estado

- David Ruas Neto

Secretário Particular

- Luís Ribeiro da Costa

Secretária para Assuntos Especiais da Ação Social

- Maria Emília Martins Mestrinho de Medeiros Raposo

Secretário de Segurança Pública

- Coronel PM Antonio Guedes Brandão

Secretário de Saúde

- Arnaldo Russo

Secretário de Transportes Urbanos

- Elpídio Gomes da Silva

Secretário de Ações Comunitárias

- Sebastião da Silva Reis

Chefe da Casa Militar

- Coronel PM Francisco Orleilson Guimarães

Secretária de Planejamento e Administração Municipal

- Fatima Gusmão Afonso

Secretário de Justiça

- Mauro Luiz Campbell Marques

Secretária de Administração

- Dolores Garcia Rodrigues

Secretário de Educação, Cultura e Desporto

- Origenes Martins

Secretário da Produção Rural e Abastecimento

- João Thomé de Medeiros Raposo

Secretário de Economia e Finanças

- Sérgio Augusto Pinto Cardoso

Diretor do Departamento Estadual de Trânsito

- Coronel PM Fausto Seffair Ventura

Comandante da Polícia Militar

- Coronel PM Amílcar da Silva Ferreira

Secretário do Meio-Ambiente, Ciência e Energia

- José Belchior dos Santos Bastos

Diretor da Empresa Amazonense de Turismo

- Silvio Barros

Procurador Geral do Estado

- Vicente de Mendonça Junior

Procurador Geral de Justiça

- Carlos Alberto Bandeira de Araújo

sexta-feira, abril 21, 2023

REVISTA UBE-AM: 40 ANOS (2)

 Mais uma página desta extinta revista vai compartilhada. Nada a acrescentar, se não que efetuei alguns reparos devido a precária revisão e a deficiente impressão.

Euclides da Cunha em Manaus

 

 

Geraldo de Macedo Pinheiro, jurista, ensaísta, pesquisador e historiador, pertence à União Brasileira de Escritores do Amazonas, ao Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Suas publicações, apesar de esparsas, já ultrapassaram as fronteiras do Brasil. Tem várias obras para encaminhar à editora. Em seu trabalho reflete a sobriedade, a verdade e o rigor histórico.



 

Manaus para Euclides não passava de "uma cidade de dez anos sobre uma tapera de dois séculos". Realmente quando ele chegou à capital do Amazonas, viu-a transformada "na metrópole da maior navegação fluvial da América do Sul". Vinha presidindo uma comissão de limites, por indicação do Barão do Rio Branco, nomeado a 9 de agosto de 1904.

O Peru discutia as suas fronteiras com a Bolívia, e o Brasil, embora alheio à contenda, mostrava-se vigilante. Em menos de um mês, fora assinado um acordo estabelecendo um "modus vivendi” nos rios do alto Juruá e alto Purus. Euclides chefiaria a missão de reconhecimento deste último rio. (...) E de lá anuncia a Luís Cruls a sua próxima partida para Manaus.

Foram seus companheiros de viagem: os engenheiros Arnaldo Pimenta da Cunha, seu primo, e Silva Lima; o tenente Ângelo Mendes; o dr. Tomaz Catunda; os alferes Fernando Lemos e Antônio Cavalcante e mais Egas Florence e R. Nunes. O navio aporta em Manaus no penúltimo dia do ano de 1904.

Antes de pisar a capital amazonense, ainda a bordo, escreve a seu pai, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, temeroso de perder a mala postal. Fala nas atenções recebidas em Belém do senador Lemos – o Eduardo Ribeiro paraense – e dos rapazes de talento e sobre o êxito alcançado pelo seu livro – "Os Sertões". E acrescenta: "Nada lhe diria sobre o Amazonas".

Não há notícia de ter recebido em Manaus qualquer recepção festiva. Compreende-se... Utilizamos a expressão de Alberto Rangel: "As roupas de Euclides desconheciam os recortes da tesoura de Pool..."

Pensa demorar-se apenas pouco mais de um mês, devido a desarranjos nas lanchas da missão peruana. Sua estada, porém, foi dilatada por três (sic) longos anos.

Isola-se no bairro hoje conhecido por Adrianópolis, numa casinhola, que "sobranceava o mar de frendes e o algodoal de névoas" (Rangel). Na cidade somente procura um ponto – os Correios – onde deposita carta e mais cartas a parentes, intelectuais e amigos. Entre as primeiras missivas do ano novo de 1905, duas são endereçadas a Afonso Arinos e a José Veríssimo. A este reclama o calor de 30° à sombra – dizendo o seguinte: "quem resiste a tal clima tem nos músculos da elástica firmeza das fibras dos buritis e nas artérias o sangue frio das sucuruiubas". E adianta: "Levo – nesta Meca tumultuária dos seringueiros – vida perturbada e fatigante".

E escreve sonetos. Em março envia longa carta a Machado de Assis, avisando-lhe que havia remetido os votos vagos ocorridos na Academia de Letras: Souza para as vagas ocorridas na Academia de Letras: Souza Bandeira para a de Martins Júnior e para a vaga de José do Patrocínio dois nomes, e do poeta Vicente de Carvalho e o do escritor Heráclito Graça. E confessa o seu mal-estar: "não posso contar as preocupações que me lavram o espírito".

Coelho Neto, outro grande amigo e confrade da Academia, distinguido com várias epistolas. Quando Euclides veio a falecer foi o primeiro a se lembrar da sua passagem em Manaus, exibindo a um dos jornais do Rio de Janeiro a preciosa correspondência declarando, em sua entrevista: "São trechos de uma grande existência de poucos anos".

Dirige-se também a Alberto Rangel, desta vez para participar a sua ida para o Acre, com a frota de duas lanchas, um batelão e seis canoas, ancorada no igarapé de São Raimundo. Não se esquece do Rio Negro: "Nunca imaginei que este rio morto, escondesse, traiçoeiramente, ondas tão desabridas".

Vale dizer que a expressão "rio morto", dada ao Negro, é bem antiga em nossa bibliografia, figurando no livro de viagem do casal Agassiz e repontando na carta de Euclides por lhe ser familiar a literatura estrangeira sobre o Amazonas. A 5 de abril parte para as nascentes do Purus. Chega a 15 de maio em Boca do Acre e a 25 na foz do Chandless. A 3 de junho no Curanja, rio fronteiriço, verifica-se o episódio do seu simbólico protesto contra a ausência da bandeira brasileira. Tremendamente nervoso, deveria ter sentido, nessa viagem, os mais fortes choques. E alucinações visuais e auditivas, tal era a solidão.

Depois de trinta anos, recorda um dos seus companheiros – Euclides, após as observações astronômicas, "ouvia e via, à noite"... um vulto de mulher, nada amorosa, porém muito sublime, a chamá-lo. Apresentava-se vestida elegantemente tendo na cabeça uma espécie de barrete, a semelhança da figura com que simbolizamos a República, a dizer-lhe sempre: Olhe!

As impressões e apontamentos da sua viagem podem ser lidos nos livros "A margem da história" e “Contrastes e confrontos", sendo que os resultados técnicos dos seus estudos estão enfeixados no Relatório apresentado ao Itamarati e na sua obra "Perú versus Bolívia”.

Em 23 de Outubro regressa a Manaus, onde, dias depois, publica um relato da expedição para o público amazonense nas páginas do Jornal do Commércio, documento que vem a ser mais tarde estampado em vários órgãos cariocas. Em dezembro, finalmente, encerra a sua missão oficial no Amazonas. Lavrada a ata de encerramento dos trabalhos, deixa a nossa cidade. A Amazônia continuou, porém, a preocupar-lhe o espírito.

Querem a sua volta. Oferecem-lhe os cargos de prefeito do Acre e de inspetor da Madeira-Mamoré. Rejeita a ambos, pois estava empenhado em escrever outro livro-vingança, do porte de "Os Sertões", sua obra imortal. Quando se aproxima tragicamente a morte, Euclides se ocupava em dar aulas de Lógica e em rever as provas tipográficas de seu livro póstumo – "A margem da História”, editado em Portugal, onde se encontram as mais belas e expressivas páginas escritas sobre o Amazonas.

quinta-feira, abril 20, 2023

REVISTA UBE/AM: 40 ANOS

Não necessito acrescentar mais que isso: compartilhei o texto abaixo da extinta Revista UBE/AM, que circulou em maio de 1983, portanto, há 40 anos. 



EXPOENTES LITERÁRIOS DO PASSADO


Padre Nonato Pinheiro, orador emérito de raro fulgor, cronista exímio, epistológrafo de inexcedível valor, é gramático e estilista como poucos no Amazonas. Membro da Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, do Clube da Madrugada e da União Brasileira de Escritores do Amazonas.

Padre Nonato é um dos mais ilustres pesquisadores da História da Igreja no Amazonas.

 

 

As comemorações do centenário de nascimento do escritor Péricles Moraes despertaram-me a evocação do grandes figuras literárias do passado, oradores, prosadoras e poetas de opulentos cabedais de cultura e requintada sensibilidade artística, homens egrégios, que tiveram, como os Varões Insignes do Livro do Eclesiástico, o instinto e a preocupação da beleza: "pulchritudinis studium habentes"!.

Péricles Moraes integrou essa plêiade gloriosa de caravaneiros da arte e magos do pensamento, que depositavam com rara elegância no altar da beleza o incenso, o ouro e a mirra de suas produções literárias e erupções oratórias. Dominando de pleno a língua e a literatura da França imortal, a Hélade dos novos tempos, encontraram nessa castália inesgotável os brilhos siderais e as tintas multicoloridas para as iluminuras de suas páginas mitológicas. Fascinavam-no os grandes mestres do estilo, que faziam do esplendor e da policromia uma constante obsessiva, entre os quais, Chateaubriand, Flaubert, Anatole France, Victor Hugo, Paul de Saint-Victor, Saint-Beuve, Remy de Gourmont, Bourget, Mauclair, Mirabeau e outros. As estantes de sua biblioteca não davam abrigo a escritores medíocres, que considerava "escrivinhadores de água chilra"...

Adriano Jorge, Agnello Bitencourt, Álvaro Maia e
Ribeiro da Cunha (a partir da esq.)

Adriano Jorge foi outro cimo daquela orografia mental. Caneta de ouro, cravejada de brilhantes, que escreveu páginas de rara beleza, mas talento tão dispersivo, a ponto de nunca se ter preocupado em publicar um livro. Entretanto, suas frequentes produções literárias nos jornais e revistas da terra dariam matéria para numerosos volumes. Além de suas teses de concursos, profundas e lapidares, deu à estampa duas primorosas alocuções: uma conferência sobre a luz e o discurso com que saudou o Núncio Apostólico Dom Bento Aloisi Masella no memorável 1° Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus, em 1942. Dom Milton Pereira e eu, então seminaristas, ouvimos essa maravilhosa oração, que provocou na assistência alvoroçados aplausos. Fui empossado na Academia de Letras na presidência de Péricles Moraes (1950), mas não perdia as memoráveis sessões dos dois últimos anos da presidência de Adriano Jorge (1974-1948). Empolgava a assistência com o fulgor de sua oratória estonteante, como se arrebatasse do céu, para o recinto da Academia, a grandeza sideral da via láctea! ...

Benjamim Lima e José Francisco de Araújo Lima foram os irmãos Goncourt de nossa Academia. Benjamim foi o seu primeiro presidente e brilhou como teatrólogo. José Francisco, além de homem de letras de rútila cepa, foi cientista de proclamados méritos.

Leopoldo Peres brilhou com luz própria. Tive a alegria e o privilégio de receber suas luzes quando seu aluno de Literatura no Colégio Dom Bosco. Relevo que foi esse príncipe da inteligência que me espevitou a chama do amor às letras. Prosador cintilante e orador de eloquência magnificente.

Álvaro Maia foi um dos mais refulgentes brasões literários de nossa terra: professor, orador, prosador, poeta e político. Uma das inteligências mais fulgurantes do Amazonas, que deixou, seguindo orientação de Horácio, para a maturidade da vida a publicação de suas melhores obras.

João Leda era filólogo. Exímio cultor da vernaculidade, lia os clássicos da língua portuguesa com diurna e noturna mão, sobretudo Camilo e Rui Barbosa.

Heliodoro Balbi brilhou como orador. Suas produções literárias foram escassas, mas de raro brilho, entre as quais um primoroso soneto.

Jonas da Silva ficou glorificado na literatura nacional. Poeta de soberanos voos e joalheiro de maravilhosos sonetos, entre os quais "Coração" e "Santa Teresa".

Ribeiro da Cunha, médico e homem de letras, foi um grande humanista, mas de modéstia quase doentia. Jamais esquecerei uma observação de Péricles Moraes: "Padre Nonato: o Ribeiro da Cunha era tão extraordinário, que se revestia de profunda modéstia, dando-nos a impressão de nos pedir desculpas de ser grande"....

Waldemar Pedrosa faiscou com labaredas impressionantes. Cultura polimorfa e caráter sem jaça. Jurista, advogado e professor supereminente, conhecia profundamente a língua francesa e era um príncipe na arte da conversação. Fui eu o orador na sessão de saudade que a Academia fez realizar no 30° dia de seu decesso, quando afirmei: "Não só da vida, mas da própria morte fez uma obra de arte".

Agnello Bittencourt não pode ser esquecido na pulcritude de seu caráter e na grandeza de sua cultura. Pesquisador beneditino e pedagogo notável, encontrou na transmissão de seus opulentos conhecimentos um dos encantos da vida.

É limitado o espaço de que disponho, e infelizmente, fico privado de escrever sobre Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro, Huáscar de Figueiredo, Vivaldo Lima, Félix Valois Coelho, Ramayana de Chevalier, André Araújo, Mitrídates Corrêa, Anísio Jobim, Aristóphano Antony, Djalma Batista e outros, que deixaram de seu contubérnio com as letras vestígios inapagáveis!.

quarta-feira, abril 19, 2023

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (26)

Mais um capítulo sobre a história da Guarda Policial, ora Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

Hotel Cassina, quando em funcionamento

Primeiros aquartelamentos da Guarda Policial

A Guarda Policial aloja-se, a partir de abril de 1877, em prédio situado “à praça de Pedro II canto da rua do Governador Vitório”. A edificação desapareceu para a construção que consagrou aquela esquina, o Hotel Cassina. Inaugurado no final do século XIX, este estabelecimento hospedou seleta freguesia chegada de vários cantos do mundo, arrivistas que buscavam a capital da borracha sonhando com o Eldorado.

No entanto, devido ao declínio da goma, o elegante edifício converteu-se no Cabaré Chinelo, em alusão ao meretrício de baixo padrão que o frequentava. Em razão de sua constante degradação, levou décadas abandonado e desfigurado, até que em gestão municipal recente foi restaurado, assumindo nova destinação.

Para a recém-instalada Guarda Policial, tratava-se do segundo quartel. O primeiro, ocupado na ocasião de sua refundação (1876), era tão-somente uma residência situada “na subida da praça da Imperatriz para a de Tenreiro Aranha, e com entrada para o lado de uma e outra praça” (a praça da Imperatriz corresponde em nossos dias “ao local ao lado esquerdo da igreja Matriz”, ao terminal central de ônibus).

O imóvel havia sido arrendado pelo prazo de cinco anos, a partir de 1º de maio de 1876. A precariedade das acomodações e a ameaça de ruína, todavia, reveladas em decorrência da chuvarada caída no final daquele ano, obrigaram o governo, após inspeção técnica (realizada pelos engenheiros Leovigildo Coelho, Feliciano Antônio Benjamin e Antônio Dias dos Santos), a transferir os guardas.

segunda-feira, abril 17, 2023

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (24)

Mais um capítulo sobre a história da Guarda Policial, hoje Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

Posse do Major Gabriel

Exonerado, o presidente Passos Miranda aproveita a Exposição de praxe na passagem deste encargo em 27 de maio de 1876, ao 2º vice-presidente, major (Guarda Nacional) Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães, e registra a organização da Guarda Policial. Sem qualquer novidade. Unicamente ratifica que a elaborou em decorrência da lei 339, de 26 de abril anterior; deu-lhe regulamento e nomeou os primeiros comandantes. Major Gabriel logo passa o governo provincial ao 1º vice, Nuno Cardoso.

A rua Major Gabriel, cujos quarteirões iniciais margeiam o igarapé de Manaus, ligando o Centro, a partir da avenida Sete de Setembro, ao cemitério São João Batista, ainda mantém a homenagem a este olvidado governante.

Extinção de Incêndios, hoje Corpo de Bombeiros

Em 11 de julho de 1876, ocorreu a regulamentação do serviço de combate a incêndios, baixada pela Portaria 268–1ª Seção com as Instruções para extinção de incêndios. Esta primitiva legislação teve a sanção do 1º vice-presidente provincial, Nuno Cardoso.

Ainda que embrionário, o serviço contava (art. 1º) com um instrumento típico das igrejas católicas – o sino! Recurso que foi substituído pela sirene de fábricas e indústrias, e utilizado na cidade até a metade do século passado. Aos nossos olhos, quanta prosperidade desde então. O instrumental sonoro da igreja dos Remédios e da Matriz acasala-se com a rudimentar técnica e o incipiente equipamento para originar o próspero Corpo de Bombeiros Militar de nosso século. O primeiro dirigente, na condição de diretor das Obras Públicas (art. 3º), foi Joaquim Leovigildo de Souza Coelho, então major de engenheiros, conforme Bombeiros do Amazonas (2013).

Reproduzo os mencionados artigos:

Art. 1º - Logo que haja incêndio, as igrejas darão sinal do bairro em que ele se manifeste do seguinte modo:

Uma badalada para o bairro de S. Vicente;

Duas ditas para o do Espírito Santo;

Três ditas para o da Campina;

Quatro ditas para o dos Remédios; Cinco ditas para o de Nazaré.

E tocarão logo depois vinte badaladas compassadas e seguidas. (...)

Art. 3º - Todo o serviço de extinção do incêndio ficará exclusivamente a cargo do diretor das Obras Públicas ou de quem suas vezes fizer.

 

É adequado esclarecer que, embora não ocorresse a criação de uma corporação, especialmente militar, ou sequer uma instituição com finalidade própria de combater o fogo, ocorreu, sim, a normatização, o disciplinamento de atividades inerentes. Algumas já observadas, ainda que mal executadas. Como exemplo, a regularização da atividade dos aguadeiros (vendedores de água), então o elemento mais conveniente no combate ao fogo, cuja atividade o Código de Posturas municipal já disciplinava desde 1874.

domingo, abril 16, 2023

AMAZONAS: SEUS PEIXES

 

Pirarucu, Tambaqui e Aruanã

Pacu (acima), Matrinxã e Tucunaré (meio) e Jaraqui 

Cará, Jundiá e Bodó

sábado, abril 15, 2023

CLUBE DOS OFICIAIS PMAM & CBM: 70 ANOS

No dia 9 último, o Clube dos Oficiais PM e BM amazonenses, hoje Associação, completou 70 anos. Intentei por dias escrever antecipadamente sobre a efeméride, porém, uma coisa e outra me impediram, mas foi de bom proveito. Ontem, o coronel reformado Alfaia me telefonou para perguntar quem foi Jonas Paes Barreto, o homenageado pela agremiação com nome em medalha.

Sem conhecer este detalhe, disse-lhe que Paes Barreto foi coronel da PM e, como tal, participou da fundação do Clube, sendo eleito o primeiro presidente. A primeira diretoria era composta, além deste oficial, por José Silva, Antonio Hosanah, Djalma Passos (orador), Olavo José de Araújo, Mirtilo Frick de Lira, Edmundo Monteiro, entre outros. Acrescentei que sabia pouco, muito pouco sobre este saudoso coronel, somente conhecia, que ironia, a sepultura da família dele. Sua ficha funcional – queira Deus - possa se encontrar nos escaninhos em que foi transformado o arquivo da corporação.

Minha identidade do Clube dos Oficiais 

Já escrevi e publiquei neste espaço sobre o Clube, por isso, sei quantos presidentes e outros membros da associação contribuíram para o atual estágio. Alguns nomes precisam ser relacionados: a primeira geração fundou o Clube; a segunda, implantou a sede associativa, sob a supervisão dos coronéis Ossuosky, Medeiros, Orleilson, Okada, vou encerrar a relação para não cometer algum pecado de esquecimento. A terceira geração vem ampliando a sede e mantendo o bom funcionamento, algumas vezes arranhado pela disputa pela presidência.

A minha carteira de sócio (sócio nº 16) foi assinada pelo presidente Romeu Medeiros, e data de 1977. Todavia, não mais sou associado, sou um mero observador. 

E para mais detalhes, veja os links abaixo:

https://catadordepapeis.blogspot.com/2011/03/clube-dos-oficiais-da-policia-e_08.html

https://catadordepapeis.blogspot.com/2011/03/clube-dos-oficiais-da-policia-e_08.html


quinta-feira, abril 13, 2023

DESASTRES AMAZÔNICOS

 Ano passado, nesta data, a Marinha do Brasil resgatou seis pessoas em uma ilha no arquipélago do Marajó, na qual ficaram insuladas por 17 dias, apesar de todas possuírem aparelho celular. Aproveitei o fato para ilustrar o epílogo que escrevi para meu livro sobre o Desastre do PP-PDE (em formatação), ocorrido há sessenta anos. Relatei dois casos, porém, relembro este pela data.

Eis o texto:

Após revelar tantas ferocidades, ao findar esta retrospectiva desejo relembrar que a indigência de Manaus de antanho contribuiu enormemente para expandir os efeitos do desastre do PP-PDE. Seja pela ineficiência de comunicação com a aeronave a partir de um simulacro de aeroporto; seja quanto à recuperação dos mortos, pois poucos foram os corpos que puderam ser sepultados, e nenhum pode ser visto pelos familiares, tal a degradação geral. Famílias e famílias receberam apenas aquele caixão como um símbolo, pois nada havia no seu interior que pudesse ser apreciado, reverenciado.

Por-do-sol amazônico

Igualmente pode-se argumentar que esse abalo aconteceu na Amazônia de ontem, há sessenta anos, devido sua dimensão em todos os sentidos. No entanto, dois casos recentíssimos ocorreram para provar como seguimos desassistidos. O padre-cronista L. Ruas lá atrás, quando do Constellation, já sentenciava:

É isto que nos causa pasmo. Manaus, plantada no coração da estupidez desta selva amazônica, imensa e impenetrável, centro geográfico de uma enorme região permanentemente cortada por aviões que a cruzam de norte a sul, de leste a oeste, continua, no entanto, completamente desprovida de todo equipamento de salvamento para eventualidades como esta que, embora, não desejemos jamais tornem a acontecer, sabemos, porém, que podem acontecer.”

 


Agora ao acontecimento referido em 2022:

Em 24 de março, o barco regional “Bom Jesus” deixou Santarém (PA) com destino ao município de Chaves (PA) na ilha do Marajó, com apenas a tripulação de 6 pessoas (5 homens). Resolvido o que tinha que resolver, o barco navegou para a localidade de Nazaré, ainda no arquipélago marajoara. No dia 28, o “Bom Jesus” sofreu um incêndio, restando aos tripulantes se refugiar em uma ilha. Com pouca comida, sem água potável, mas todos com seu celular que em nada auxiliou, pois no local não há sinal de telefonia. E, pior, a ilha encontra-se fora da rota de navegação.

Diante desse quadro, restou aos náufragos se alimentar como plausível, recolher a água da chuva para uso, enviar sinais de fumaça e esperar... O tempo foi passando e nada de socorro, porém. Decidiram, então, recorrer ao medieval pedido de SOS marítimo, que consistia em colocar o pedido em uma garrafa e soltá-la ao mar. Nossos cabocos anexaram um adjutório, amarraram a garrafa em uma boia individual colorida.

O resultado foi positivo: um pescador encontrou o arranjo e informou à Marinha; esta, no dia 13 de abril, resgatou os confinados, que haviam passado 17 dias na ilha das Flechas.

Ainda que não seja a ilha das Flechas, parte
do Marajó

domingo, abril 09, 2023

MANAUS: ÁGUAS CHEGANDO

 As chuvas torrenciais não dão trégua, daí a subida dos rios


Porto do Cacau Pirera, março 2023