CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, dezembro 27, 2018

O PADRE vs O SOLDADO (final)



Resumo do final da pendenga religiosa-militar, promovida pelo padre Luís de França e o soldado EB Jasen Nascimento, quando trocaram sopapos em via pública, por motivo, digamos, familiar. O funesto episódio aconteceu em agosto de 1933, alvoroçando a Igreja católica de Manaus.

Ainda não me foi possível consultar nos arquivos do Judiciário o processo-crime contra o soldado Jasen, acusado pelo reverendo Luís de França. Apenas tive contato com as alegações de defesa, elaboradas pelo Dr. Henrique Rubim, portanto, suscetível de parcialidade. Na segunda parte, sob o mesmo título, repetindo o texto do causídico, escrevi que o pugilato originou-se quando o militar encarou o sacerdote para tomar-lhe satisfações sobre “o audacioso procedimento deste com respeito a uma das irmãs do mesmo denunciado.”

Na defesa do acusado, Dr. Rubim lembrou “o fervor místico dos carolas e das devotas pelos incitamentos afoitos de um padre estrangeiro, o assaz célebre e nunca por demais celebrado cônego [José Maria] Lemercier”. A sentença seguinte ainda pertence àquele advogado: Lemercier teve “o nobre intuito de glorificar o padreco que provocara o enxovalho da reputação de uma virgem amazonense.”

A fim de justificar a atitude do soldado, seu defensor escreveu, sob o título – A Moral do Fato:Quem quer que seja que, tendo uma filha ou uma irmã, a visse atingida pela difamação pública, originária do procedimento desleal, desonesto e criminoso de
Henrique Rubim
alguém que, abroquelado pela intangibilidade de uma investidura sagrada, (...) não deixaria de, versando o assunto, empregar a mesma veemência, homem de honra ou vilão, castelão ou servo de gleba, cidadão ou camponês, poderoso ou humilde, ricaço ou pobretão, magistrado ou beleguim, nobre ou plebeu, fidalgo ou burguês, cavaleiro ou peão”. E rematou — “como não fugiria, por certo, valente ou poltrão, fosse qual fosse o grau ou a categoria a que pertencesse na hierarquia social, ao impulso varonil que levou o denunciado a pedir explicações de conduta àquele que, segundo a voz pública, tentava assaltar a castidade de uma de suas irmãs”.

Recolhi tão-somente duas ligeiras anotações sobre o padre Luís França, ambas coletadas na Cronologia Eclesiástica da Amazônia, de autoria de Dom Alberto Ramos, 1º arcebispo do Amazonas. A primeira: Luís França Thomé de Souza era amazonense e foi ordenado sacerdote na capital da Paraíba, em 8 de dezembro de 1928, acredito que tivesse 25 anos, pois inexiste informação sobre a data de seu nascimento. O incidente com o militar sucedeu cinco anos depois.

A segunda nota: em 23 de agosto de 1934, faleceu na Bahia o referido sacerdote. Assim, sem qualquer outro comentário. Donde se pode concluir que o vigário transferiu-se para aquele Estado ao tempo do julgamento do processo, naquele vergonhoso processo eclesiástico de esconder o lixo sob o tapete. Procedimento que, em nossos dias, vem sendo motivo de condenação na Justiça dos homens.

Encerrando: confesso não dispor do veredito judicial.

quarta-feira, dezembro 26, 2018

PADRES DO PIME

ENCONTRADAS NA 
IGREJA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ
NO BAIRRO DE ADRIANÓPOLIS, DUAS PLACAS REGISTRAM OS NOMES DOS MISSIONÁRIOS DO PONTIFÍCIO INSTITUTO PARA AS MISSÕES ESTRANGEIRAS (PIME) FALECIDOS NO AMAZONAS.

TRÊS REGISTROS DESPERTARAM MINHA ATENÇÃO: 

1. Padre Alberto Barzaghi (1940-96), que foi o primeiro Capelão católico da Polícia Militar do Amazonas, tendo musicado a canção do 3º BPM, sediado em Tefé (AM), e
2. Padre Carlos Colombo (1915-2015), que, por escassos quatro meses, não festejou seu centenário natalício.
3. Enfim, conheci aos dois bispos relacionados: Dom Arcangelo Cerqua e Dom José Maritano.
 




terça-feira, dezembro 25, 2018

DIA DE NATAL

MEUS CUMPRIMENTOS AOS FAMILIARES E AOS AMIGOS E A QUANTOS AINDA CREEM NO IDOSO DE BARBA BRANCA



Escrevi este texto para uma Exposição de Selos Natalinos, me parece em dias.



segunda-feira, dezembro 24, 2018

CARTÃO POSTAL (4)

IGREJAS DE MANAUS, COM DESTAQUE PARA A 
CATEDRAL DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Catedral de N. S. da Conceição, sob ângulos distintos 

1. Igreja de São Sebastião;
2. Pintura idealizada da primitiva matriz de Manaus;
3. Igreja de Nossa Senhora de Fátima

domingo, dezembro 23, 2018

É NATAL... (4)

SEGUINDO COM A EXPOSIÇÃO DE SELOS 
NATALINOS




sábado, dezembro 22, 2018

PRAÇA RIBEIRO JUNIOR

Ribeiro Junior
Aproxima-se o centenário de um movimento militar, ocorrido em Manaus, em 23 de julho de 1924, que afastou do Poder o governador Cesar do Rego Monteiro (1921-24),  acusado de nepotismo e outros nefastos artifícios administrativos. Um dos chefes da rebelião - tenente EB Ribeiro Junior - assumiu o governo, que durou apenas um mês, porém, produziu resultados surpreendentes para o Estado. 
Seu nome ficou consagrado na história amazonense, tendo seus admiradores, enquanto vivos, lembrado nas letras e nos festejos seu nome.
Arlindo Augusto dos Santos Porto, um desses, ainda em condições de lembrar esse movimento, batalhou para que uma praça e um monumento fossem erigidos em memória deste soldado. E foram, conforme o compartilhamento abaixo. Todavia, a Praça Ribeiro Junior durou até o governo municipal de outro oficial, coronel EB Jorge Teixeira de Oliveira (1975-79), quando inovação urbanística na área central a suprimiu do mapa.

O texto do matutino A Gazeta (1º julho 1955) oferece detalhe da iniciativa do jornalista Arlindo Porto em prol da instalação da homenagem a Ribeiro Junior. 

Recorte do mencionado jornal


Um apelo vitorioso do nosso companheiro Arlindo Porto — O prefeito Walter Rayol sancionou a lei respectiva, no dia 25 último — A 23 próximo, aniversário da Revolução Redentora, a nova praça será inaugurada  

Chega ao seu término um encomiástico movimento há tempos iniciado pelo nosso companheiro Arlindo Porto, no sentido da cidade prestar uma homenagem, bem merecida, aliás, ao legendário comandante da revolução de 1924, que redimiu o Estado do Amazonas do guante oligárquico que se havia abatido sobre o seu povo, esfomeando-o, perseguindo-o, torturando-o, uma homenagem ao tenente Alfredo Augusto Ribeiro Junior.
O movimento encetado por aquele confrade, grande admirador da memória do revolucionário que instituiu o imortal “Tributo da Redenção”, ecoou perfeitamente no espírito de um outro “ribeirista”, o prefeito Walter Rayol, e este imediatamente atendeu as ponderações do nosso companheiro de trabalho, feitas em sucessivas crônicas, enviando mensagem ao Conselho da cidade.

Na manhã de hoje, a nossa reportagem apurou que no dia 25 último, depois de aprovada pela Câmara Municipal, foi sancionada pelo governador da cidade. A lei que dá à praça situada por trás do quartel da Polícia Militar do Estado, até então, um trecho da rua Floriano Peixoto, o nome de “Governador Ribeiro Junior”.

Soubemos mais que o confrade Arlindo Porto já esteve em entendimentos com o prefeito Walter Rayol, acertando este que a inauguração da placa da nova praça, será feita no próximo dia 23, aniversário da Revolução Redentora de 1924, em uma solenidade a ser realizada naquele local.

Em informações prestadas à reportagem, aquele jornalista anunciou a sua firme intenção de dar início a um movimento de subscrição popular, para a aquisição de recursos com que, em nome do seu povo, a cidade de Manaus homenageará Ribeiro Junior, fazendo erguer no centro da praça que agora tomou o seu nome, em um pedestal que ali já existe, o seu busto, em bronze, para perpetuação desse gesto com que a coletividade da capital amazonense renderá seu tributo de admiração ao valoroso campeão das liberdades públicas e da moralidade administrativa.


PROJETO RONDON

Capa da publicação, acervo
do Arquivo Público
O Governo Militar (1964-85) estabeleceu uma operação com universitários, visando que estes, conduzidos pelo interior do país, pudessem conhecer a realidade e, ao mesmo tempo, prestar algum auxílio advindos dos conhecimentos adquiridos. Subordinada ao Ministério do Interior, a operação piloto ocorreu em julho de 1967, contando com estudantes e professores da Universidade do Estado da Guanabara (em nossos dias, Universidade do Estado do Rio de Janeiro), da Federal Fluminense e Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.

O "projeto" de fato funcionou, guardou apenas a nomenclatura, e cresceu substancialmente, porém, com o encerramento do Governo Militar, acabou por ser encerrado. No entanto, em 2005, o governo reacendeu esse trabalho, com a expectativa de que possa “integrar” o País.

A nota abaixo foi retirada do Almanaque Municipal Brasileiro, referente ao Estado do Amazonas, editado em 1970.

 PROJETO RONDON

O Projeto Rondon é um movimento surgido no meio universitário brasileiro, tendo por lema “Integrar Para Não Entregar”. Tendo como patrono Cândido Mariano da Silva Rondon, já está institucionalizado através do decreto n° 62.927, de junho de 1968, sob a forma de um Grupo de Trabalho, integrado por todos os Ministérios e debaixo da responsabilidade direta do Ministério do Interior.

É um movimento diferente de seus congêneres, não sendo inspirado ou copiado de outros, constituindo-se em uma atividade bastante complexa, dinâmica e com grande riqueza de potencialidade. Essas características justificam o processo com que vem sendo estruturado, de maneira progressiva e experimental, de acordo com as características peculiares ao nosso país, com a realidade e a magnitude de seus graves e complexos problemas socioeconômicos, e, particularmente, respondendo aos anseios, à maneira de ser, pensar e agir de nossa própria juventude.

Nada nele é imposto. Tudo é reflexo e resposta aos impulsos emitidos. Daí a grande dificuldade dessa estruturação não deformá-lo, burocratizando-o ou fazendo-o afastar-se da espontaneidade com que foi criado e de sua identidade com o pensamento dos jovens. É um programa de educação, ou melhor, de complementação prática da formação universitária.
Seu objetivo é a integração do jovem e da própria Instituição Universitária à realidade brasileira, de forma a que participem mais diretamente da problemática do Desenvolvimento da Integração Nacional e da Valorização do Homem. Sua forma de atuação é a do aprendizado indireto, através da prestação de serviços. Seu princípio básico, o do voluntariado.

O PROJETO RONDON não visa resultados imediatos e nem se propõe a resolver problemas de qualquer natureza, quando muito, presta apenas sua colaboração. O que pretende realmente é a formação de uma mentalidade nacional, através da motivação e do aperfeiçoamento prático e objetivo daqueles que serão, logicamente, os líderes de amanhã e de onde sairão, em todos os campos de atividade, os responsáveis pelos estágios, fortalecer a condução de nossos destinos. Procura-se, através desses estágios fortalecer nos jovens a consciência da responsabilidade social que adquiriram ao se incluírem dentre os que tiveram o privilégio do ensino superior. 

quinta-feira, dezembro 20, 2018

CLUBE DA MADRUGADA (5)


Nota para a história do Clube da Madrugada recolhida no jornal A Gazeta, de 20 de agosto de 1955, portanto, antes do primeiro aniversário deste Movimento, como bem o define o acadêmico Zemaria Pinto.



A residência do desembargador André Vidal de Araújo (*) voltou a acolher, ontem, os inteligentes moços que constituem o Clube da Madrugada que, na ocasião, prestaram significativa homenagem ao poeta, escritor e jornalista caboclo Ramayana de Chevalier, presentemente nesta capital.

Precisamente às 20h30, o poeta Jorge Tufic abriu os trabalhos, cedendo a palavra ao acadêmico de Direito Miguel Barrela, que, interpretando o pensamento do Clube da Madrugada, exaltou as qualidades do escritor e poeta Ramayana de Chevalier, para no final salientar que o Clube da Madrugada sentia-se feliz ao recepcionar o ilustre convidado, bem como conceder-lhe o título de Sócio Emérito.

Facultada a palavra, tomou-a o desembargador André Araújo cuja oração eloquente foi um retrospecto do porquê da fundação do Clube da Madrugada. Frisou o ilustre sociólogo amazonense as maravilhosas peças intelectuais que os moços da referida entidade têm produzido e que, em futuro não muito distante, estarão sendo glorificadas pelas mais luminares personalidades do nosso mundo literário.

Em seguida, falou o homenageado, Ramayana de Chevalier, para salientar o seu vivo contentamento ao ser recebido pelo Clube da Madrugada. Chevalier frisou, na sua oração eloquente, que a Amazônia gigante dentro de mais alguns anos estará recebendo de todas as partes o braço amigo, a inteligência fulgurante das nações do Universo. Louvou o movimento revolucionário do Clube da Madrugada e agradeceu, comovidamente, o título de Sócio Emérito que lhe era concedido.

Passados os trabalhos à 2a. parte, Luiz Bacellar leu poesias de sua autoria e de Jorge Tufic, as quais mereceram acalorados aplausos. A pedido, Ramayana leu artigos de sua autoria sobre os mistérios da Amazônia, que também mereceram aplausos.

Encerrando a festiva solenidade, o poeta Jorge Tufic agradeceu a presença de todos e ratificou os propósitos do Clube da Madrugada, em trabalhar pela expansão das obras literárias do Estado.

(*) A residência do desembargador André Araújo estava situada à rua Tapajós, em frente ao Luso Sporting Clube; ainda pertencente à família, é ocupada por seu filho João Bosco Araújo.

quarta-feira, dezembro 19, 2018

INCÊNDIO EM EDUCANDOS (2)



Rescaldo da área

O episódio acontecido em Educandos, nesta semana (17/12), segue recolhendo, além de imensos donativos, juízos. Um deles, foi tornado público pelo coronel da reserva Antonio Dias dos Santos, ex-comandante do Corpo de Bombeiros do Amazonas, portanto, com ampla experiência no combate a incêndios.

Abaixo, em vermelho para lembrar a corporação, o compartilhamento:


Tragédia de Educandos

Cenário: incêndio em amontoado de casas/barracos de madeira construídos sem o menor planejamento, que desenham um sem fim de estreitíssimos becos (sem e com saídas). Os moradores desesperados tentando salvar seus pertences (colchões, máquinas de lavar roupas, botijas de gás etc.), tornam os becos intransitáveis. Os gases aquecidos sobem e encontram os ventos mais frios, reoxigenando o incêndio e provocando fortes correntes que alastram o fogo vertiginosamente.
Os Bombeiros podem até chegar em tempo razoável porém, não têm como evoluir no labirinto de becos entulhados e evitar a rápida propagação do fogo. Em meio à gritaria que dificulta a comunicação, as mangueiras, quando se consegue alguma evolução, são reduzidas a poucos metros pelo ziguezague que fazem nas curvas dos becos e nas pernas das palafitas, perdendo preciosa pressão.
A situação se complica tanto para moradores quanto para os Bombeiros que trafegam, quase sempre, em sentido contrário daqueles.
A saída é, em tempo de paz, urbanizar essas áreas, construir habitações com planejamento, deslocar o excedente populacional dessas áreas para outras apropriadas, tornando as áreas habitadas da cidade mais favoráveis à atuação dos órgãos prestadores de serviços de socorro.

Nosso Corpo de Bombeiros não tem a estrutura ideal para uma cidade com as proporções de Manaus, no entanto, esse cenário não é o indicado para medir a capacidade operacional da instituição.

Que Deus dê forças às pessoas prejudicadas para que sejam resilientes; a paz de espírito e sentimento do dever cumprido aos guerreiros do fogo e direcionamento às ações do Estado e do Município no sentido de repensarem e hierarquizarem as prioridades.

Visão do local no momento do incêndio


INCÊNDIO EM EDUCANDOS (1)



Antes era Constantinópolis, agora Educandos, o bairro cercado pelo rio Negro e por igarapés. Essa proximidade complica a urbanização e facilita a construção de barracos de madeira e de outros materiais de fácil combustão, no espaço. Isso facilita a propagação do fogo, tornando um incêndio no local de grandes proporções.

Rescaldo, compartilhado do Portal do Marcos Santos


Foi o que aconteceu anteontem 17, no início da noite, quando o fogaréu tomou conta daquele território. Chamado os Bombeiros, estes tiveram as dificuldades dobradas seja pela ausência de hidrantes no bairro, seja pelos becos e sub becos estreitos impedindo a circulação das viaturas de salvamento ou de socorro de urgência. Restou, pois, aos ameaçados pelas chamas retirar algum móvel e entrega-lo à confiança de um vizinho.

Estava escrevendo este texto quando o Jornal Nacional (JN) registrou esta calamidade, ao vê-lo a emoção me apequenou. Tomou conta de mim. A cena final (um cidadão desolado, com o enfeite natalino chamuscado nas mãos, sem dizer palavras) foi mortífera.

Afinal, eu nasci na rua Inácio Guimarães. A irmã que ainda mora no final do beco São José (hoje rua Mar de Java) desesperou-se, convocou-me, fui ao local. No entanto, somente consegui chegar junto a ela quando as forças de salvamento já haviam controlado o incêndio. Para nossa felicidade, estava ela sã e salva. Curiosidade: na semana anterior, estive na casa dela, quando fiz a foto que ilustra esta postagem, ocasião em que conversamos sobre uma possível tragédia. Vê-se na foto que as residências desaparecidas estão suspensas por arranjos de madeira tão singelos, desengonçados, a desafiar imensos perigos. Sá podiam desaparecer, e com extrema facilidade.
Beco do beco
São José

Não há como culpar os homens do fogo pelo número de desabrigados. O fundamento encontra-se no embaraço em operar naquele entrançado de vielas, de casas sobre casas, de residências coletivas, de veículos estacionados, enfim, na desordem urbanística que vige naquele trecho, e em outros tantos de Manaus. O último desastre semelhante aconteceu no Bariri, aquele amontoado de casebres à beira de um igarapé, na entrada do bairro de São Jorge.

O quadro do JN me relembrou o livro que escrevi sobre os Bombeiros do Amazonas (2013). Voltei a este para rememorar um incêndio idêntico que aconteceu no mesmo bairro há mais de 70 anos, mais precisamente em setembro de 1945. Nele escrevi: de fato, 1945 se destacou pela violência dos incêndios. A cidade ainda não se recuperara do desastre da Biblioteca Pública, quando, em setembro, as paupérrimas edificações situadas nas ruas Panair (agora coronel Paes Barreto) e Coronel Gonzaga, no bairro de Constantinópolis, hoje de Educandos, foram pulverizadas. O relato pertence ao matutino dos Archer Pinto, com "chamada" bem esclarecedora da adversidade: O pavoroso incêndio de Constantinópolis.

Recorte de O Jornal, 30 setembro 1945

“Quadro dantesco, de dor e desespero, presenciou a nossa reportagem, durante o dia de ontem, no largo trecho do bairro de Constantinópolis, assolado às últimas horas da manhã, por terrível incêndio, que se iniciou no longo arruado de casas de palha, na estrada, passando-se, depois, num salto espetacular de morte e destruição, para a rua Vista Alegre, perpendicular ao seu ponto de origem, onde se verificou, igualmente, uma destruição monstruosa de moradias de pobres trabalhadores, sendo atingidos também pequenas casas de negócios ali estabelecidas.”

Uma das casas de negócios, a Casa Suburbana, de Luís e Helena Carvalho, sofreu o desastre. A família se recuperou, transferindo depois o estabelecimento para a avenida Leopoldo Peres. Outro detalhe: as dependências da Fábrica Labor, de I.B. Sabbá, foram postas à disposição dos desabrigados. No atual desastre, o supermercado Atacadão, sucedâneo no terreno da Labor, igualmente colaborou. (leia a 2ª parte)

segunda-feira, dezembro 17, 2018

CARTÃO POSTAL (3)

NOVO GRUPO DE CARTÃO POSTAL DE MINHA COLEÇÃO,
AQUI UMA AMOSTRA DE IGREJAS DO PARANÁ (BRA)

(Títulos a partir de cima e da esquerda)

1. Catedral Nossa Senhora da Glória | 
Maringá - PR
2. Igreja Nossa Senhora do Rocio | Paranaguá - PR
3. Igreja Matriz de Cristo Rei | Campo do Tenente - PR
4. Igreja Imaculado Coração de Maria | Quedas do Iguaçu - PR
5. Basílica Nossa Senhora da Luz dos Pinhais | Curitiba - PR
6. Igreja Nossa Senhora Medianeira | Curitiba - PR


1. Igreja de São Benedito | Paranaguá - PR
2. Igreja de São João Batista | Bela Vista do Paraíso - PR
3. Igreja Nossa Senhora da Luz | Irati - PR
4. Basílica de Nossa Senhora da Luz | Curitiba - PR

domingo, dezembro 16, 2018

É NATAL... (3)

MAIS UMA ETAPA DA EXPOSIÇÃO DE SELOS NATALINOS




PRESÉPIO DE BRANCO SILVA


Aproveitando a proximidade do Natal, quando ainda se cultua a representação do nascimento de Jesus, vou relembrar o autor do mais expressivo presépio construído em Manaus, infelizmente desaparecido. Trata-se do Presépio Maravilha, de autoria do saudoso mestre das artes plásticas - Branco Silva.

Branco Silva
Mais conhecido pelo seu presépio do que pelas suas telas, Branco Silva (comumente alcunhado de Branco “e” Silva) na vida real chamava-se Leovigildo Ferreira da Silva. Amazonense, nascido no Seringal São João, nas barrancas do rio Purus na entrada do rio Tapauá, em 1892, era filho de um rico comerciante português que fez fortuna na época como exportador de borracha.

Para esta relembrança transcrevo uma página que me ofertou seu filho, Vinicius Ruas, sacada de seus alfarrábios, cujo texto recorda uma proeza de seu genitor. Informo que não há identificação do órgão, nem data. Porém, esta publicação e relativos anúncios foram impressos no Rio de Janeiro, por ocasião do 36º Congresso Eucarístico Internacional (julho 1955), ocasião em que Branco Silva teve seu presépio exposto.
  
Recorte da publicação

 RACHEL de Queiroz, a fulgurante estrela da constelação literária do Brasil, esse espírito brilhante que todos aplaudimos e admiramos, teve ocasião, numa de suas crônicas de jornal, de dizer de sua estranheza por não ter o Brasil um presépio de Natal à altura de suas tradições católicas, que se coadunasse com o espirito essencialmente cristão de nosso povo.
É natural que mesmo um grande conhecimento de nossa terra e de nossa gente, aliados à cultura da notável cearense haja cometido tão grande equívoco. Não fosse o Brasil “esse gigante pela própria natureza”, essa enorme extensão de terra!
Se citamos Rachel e a crônica é apenas para mostrar aos leitores como, mesmo uma cultura privilegiada tal a da autora de “O Quinze”, pode cometer um equívoco desse jaez. Por aí também se verifica como é grande o desconhecimento das coisas do país!
Fotos da página

Quando chegamos ao Amazonas a fim de fazer a cobertura jornalística de uma excursão empreendida por estudantes cariocas e paulistas às misteriosas regiões amazônicas, tivemos nossa atenção despertada para uma das partes do programa de visitas que aludia a um certo “Presépio Maravilha”. Mesmo ao penetrarmos no recinto onde se encontra localizado o presépio, tínhamos a impressão de que iriamos encontrar uma dessas miniaturas a que se acostumaram os cariocas. O que se nos deparou, porém, foi algo diferente de tudo o que já viramos. Diante de nós estava numa sala enorme, um presépio enorme sem similar no mundo inteiro.
Todas as personagens, trabalhadas por mãos de mestre, trajavam riquíssimas roupas e eram de tamanho normal. Apresentavam o máximo de naturalidade possível. Os pastores, o arabiano, os Reis Magos e Nossa Senhora, debruçada sobre o Menino Jesus eram alguma coisa de comover um frade de pedra. A um canto, uma pequena cascata jorrava água que, tal qual como um conto de fadas, se transformava em rubis e esmeraldas. Os carneiros, o galo, os camelos, o rei negro e o branco, um enorme elefante, duas pombas, o jumento, todos de tamanho normal, fazem do presépio Maravilha a mais perfeita reconstituição do nascimento de Cristo.
Enquanto a água corre pela pequena cascata e se transforma em rubis e esmeraldas, o elefante levanta a tromba e saúda Cristo, o galo canta, as pombas arrulham e os carneiros fazem ouvir seus balidos. Uma música natalina belíssima toca em surdina, trazendo ao ambiente um misto de respeito e comoção inevitáveis.
Ao fundo, um quadro representando a morte de Cristo, com os relâmpagos fazendo ato de presença, compunham um dos mais belos quadros a que já tivemos a sorte de assistir. Ali estava numa das mais brilhantes facetas do engenho humano, toda a magnificência, toda a beleza do sublime nascimento do Salvador da Humanidade. 
Quando chega o Natal, o presépio Maravilha abriga em seu seio milhares de pessoas que ali vão para sentir as emoções indizíveis que tal trabalho provoca. 
Depois daqueles momentos de observação atônica, pedimos a Branco Silva, o autor daquela obra de arte, que nos dissesse os motivos que o inspiraram a compor o presépio. Figura simples, Branco Silva nos disse que, quando pensou em compor o presépio, desejou apenas preencher uma lacuna já que, anteriormente, não havia no país uma composição do nascimento de Cristo que pudesse fazer as delícias de adultos e de crianças.
Não é a primeira vez que um visitante eventual do presépio se maravilha com o que vê. Pascoal Carlos Magno, em sua recente estada no Amazonas, teve ocasião de visitar o ateliê de Branco Silva, e, como nós, extasiar-se com o que viu. Os príncipes de Orléans e Bragança também lá estiveram e sua surpresa e comoção não foram menores que as nossas. Prometeram, mesmo, enviar a Branco Silva uma crônica em que dariam suas impressões porque, naquele momento, não tinham palavras com que dissessem o que lhes ia n’alma.O general Mendes de Moraes, quando Prefeito do Distrito Federal dirigiu a Branco Silva um convite para que trouxesse o presépio ao Rio de Janeiro, pondo à disposição do autor o Teatro João Caetano. Além desse honroso convite, Branco Silva teve um outro de pessoa ligada ao governo português que desejava, a todo transe, transferir o presépio para Lisboa. Mesmo do Vaticano chegou uma tentadora proposta para exibição na terra do Papa.
Além do presépio, Branco Silva tem dois outros trabalhos notáveis — um, Lendas e Fatos da Amazônia, outro, A ceia de Cristo, ambos norteados pelo mesmos propósitos do que hoje focalizamos, com a mesma movimentação, com a mesma arte. 
Anúncio circulado
Branco Silva, porém não se limita apenas à fazer trabalhos de escultura como são o presépio, a ceia e lendas e fatos da Amazônia. No seu ateliê se encontram lindos quadros, baseados em fatos da região, pintados com o coração de um amazonense que ama sua terra, sua gente e seus costumes.
Pena é que a ceia e lendas e fatos estejam atualmente desmontados, por falta de espaço. Quando se abrem as portas de todas as instituições para a chamada “arte moderna”, esse amontoado de sandices que os próprios autores não entendem, é de lamentar-se que um pintor como Branco Silva, tendo em sua bagagem verdadeiras obras de arte, esteja lá no longínquo Amazonas, sem oportunidade, sem possibilidade de mostrar sua capacidade criadora, de que o presépio é uma pálida amostra.

sexta-feira, dezembro 14, 2018

40º ANIVERSÁRIO DA LOJA



A Loja Caetano Felix do Nascimento comemorou anteontem (12/12) quarenta anos de fundação. A sessão comemorativa seguida de jantar, reunindo seus integrantes e familiares, acrescido de convidados, ocorreu no restaurante Coco Bambu, localizado no Shopping Ponta Negra.
Placa de reconhecimento

Estive presente por uma razão inusitada: ao ser nomeado representante da família do saudoso patrono da Loja. Em verdade, pertencemos, sim, a mesma família corporativa, ou seja, à Polícia Militar do Amazonas, no posto de coronel. Desse modo, estou de posse da placa de homenagem a Caetano Felix do Nascimento – in memoriam – pelos “relevantes trabalhos em prol do crescimento dessa Augusta Oficina”. Fiz um compromisso com os dirigentes desta, de que em breve vou repassar a merecida Placa aos descendentes do titular.

Caetano Felix nasceu na capital do Piauí, há exatos 100 anos, posto que seu natalício aconteceu em 20 de novembro, quando a riqueza da belle époque manauara atraía brasileiros e estrangeiros. Manaus era a capital da borracha.

Essa atração atingiu a Caetano muito cedo, pois, aos 18 anos ingressava como Soldado na Força Policial do Amazonas. Em 1936, quando esta entidade de segurança pública era reativada, depois de amargar cinco anos posta em disponibilidade, por força da ditadura de Vargas. Obviamente, retornava ao serviço público com mais energia e disposição ao trabalho.

Euclides e Roberto

Não há registro sobre o grau de instrução de Caetano, porém deveria ter sido convincente, pois no ano seguinte alcança o 1º lugar no curso de Cabo. Seis anos depois de sua inclusão atingiu o oficialato, mediante concurso. Era, então, 2° tenente. E foi crescendo na hierarquia, é claro que arrostando os tempos penosos do Amazonas, que definhava devido a perda do monopólio da borracha.

Na metade do século passado, com o Estado em derrocada, não obstante o apoio financeiro quando da Segunda Guerra, Caetano alcança o último posto na ativa, era tenente-coronel. Nas condições citadas, em 20 de agosto de 1954 (dias antes do suicídio de Getúlio Vargas), o governador Álvaro Maia o designou para exercer o comando da PM amazonense. O agora comandante possuía apenas 36 anos de idade. Em dezembro do mesmo ano, foi transferido para a reserva (aposentado), conforme regras ocasionais, mas continuou no comando até a posse do novo governador (Plínio Coelho), em 31 de janeiro de 1955.

Dez anos depois, eu ingressei na Polícia Militar do Estado. Esporadicamente encontrava o coronel reformado Caetano Felix, até que, em abril de 1970, ele assumiu a presidência do Clube dos Oficiais (hoje associação), grêmio criado pouco antes da posse dele no comando da Força. Integrei essa diretoria como 2º secretário. Nada mais sei.
Mesa diretiva

Tão somente sei que seu nome encima a ARLS 2028 Caetano Felix, governada pelo jovem Venerável George Rodolfo D. de Oliveira, auxiliado, entre outros, pelo Ruivaldo Moura, meu camarada na briosa corporação da Praça da Polícia, e por Euclides Alves (foto), que me proporcionou essa fulgurante reunião que, registro, renovou meu entusiasmo pela corporação maçônica.  

Desejo à Caetano Felix, ad multos annos!