CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, setembro 29, 2019

POESIA NO DOMINGO



Escolhi o saudoso poeta Jonas da Silva (1880-1947) para, com seu poema publicado na revista Redempção (edição março-abril 1925), ilustrar este domingo. O nome deste artista já se encontra em dicionários, antologias, na Wikipédia, em alguns posts neste blog, por isso, nada devo acrescentar.




sábado, setembro 28, 2019

CANUDOS & POLÍCIA MILITAR


Julguei que tivesse esgotado a bibliografia sobre este episódio nacional junto ao acervo local, quando publiquei Cândido Mariano & Canudos (Ufam, 1997). Lembrando que o fiz, para registrar a participação da Polícia Militar do Amazonas naquela campanha fratricida.

No entanto, ao revisitar as crônicas e outros artigos do jornalista Ramayana de Chevalier, publicados no jornal A Gazeta, em 1961, deparei com a página abaixo postada. Chevalier evoca um personagem da PM paulista, todavia, no texto encontra-se sua opinião sobre o movimento de Antônio Conselheiro. Ponto.

A Gazeta, Manaus, 21 junho 1961

MORREU o derradeiro testemunho. Há três dias, num leito do Hospital da Força Pública do Estado de São Paulo, fechou os olhos para o drama do momento, o coronel Agostinho Pereira da Fonseca. Parece um acontecimento simples, sem qualquer significação. Preciso é voltar as páginas da História, mergulhar nos segredos do agreste, para enfrentar o último depoimento do fantástico e desolado drama das caatingas.

Certo dia, um navio ronceiro despejou num porto de São Paulo, um jovem português. Tinha cinco anos de idade, aventuroso, imantado pela terra, ardente e desejando, do fundo d’alma fazer “os brasis”. Aos quinze, ingressou decidido na tropa da Força Pública bandeirante. O rasto de João Ramalho ainda cantava no chão do planalto. Um ano depois, esse filho do país irmão era alferes quartelmar do Batalhão Tobias de Aguiar. Por essa época a nação atravessava um grave período. Corria pelo espinhaço da Pátria um frémito incontido. Com a derrubada do trono e o indeciso nascimento da República, surgiram pelos sertões os gritos isolados, contra as injustiças e o abandono. Rebentara na Bahia a revolução dos jagunços, que os jornais franceses chamavam de “revolta dos oprimidos”.
Antônio Conselheiro, como a sombra da vingança, erguida nos frontões de Canudos, contemplava o Brasil. Uma úlcera recôndita queria destruir a unidade do país. Já não eram os oradores, já não faziam parte dela os abolicionistas vociferantes e os poetas antiescravagistas. Em armas, clavinotes à cinta e punhais à mão, os sertanejos seguiam, como fascinados pela sua magia espiritual, a grande figura de Maciel. Um arrepio sacudiu a nação. O Brasil inteiro vibrou com essa arrancada sinistra. São Paulo sentiu, na carne, a ameaça de fraccionamento. Poderia ser outra luta de secessão, essa mesma que ameaçou a integridade norte-americana, derivada do escravagismo negro. Canudos era a “Tróia cabocla”. Ninguém poderia compreender uma revolta, partida do íntimo do país, espevitando a atenção da Europa, convidando observadores estrangeiros, tentando contra a velha unidade nacional, nascida do sangue dos que lutaram contra Van Sckopp, contra Madeira, contra Daclerc e Nicolau Durand de Villegaignon.
A barricada moral da Pátria se opunha à intentona mestiça de Canudos. Era preciso consolidar os alicerces da República! Era necessário manter as normas do começo da vida democrática, para a consolidação de um país que alvorecia para o mundo. Foi assim que São Paulo entendeu o alarma partido de Canudos. Quando se decretou a mobilização de toda a tropa fardada, do Primeiro até ao Quinto Exército, as Polícias Militares compareceram à chamada. Do Amazonas ao Rio Grande do Sul, as Forças Públicas cumpriram o seu dever: ensanguentaram de sangue as suas bandeiras, nos massacres do agreste, defendendo a unidade do Brasil. De São Paulo, num dia brumoso, desceu a serra, para bordo do Itaituba, rumo à Bahia, o Batalhão Tobias de Aguiar, da Polícia Militar de Piratininga. Iam cantando, como quem vai para a morte. Levavam nas gargantas o apelo do país, e na alma os restos da aventura bandeirante.
Dentre essas vozes, subia ao céu a do alferes Agostinho Pereira da Fonseca. Com dezessete anos de idade, livre, coração feliz, lá se foi ele para os duros revezes. Na imensa frente da caatinga, os lacedemônios pardos estabeleceram o seu desfiladeiro das Portas Quentes. Ali estavam os centauros de Macambira, os espingardeiros de Antônio Beatinho, os bárbaros de Violante e de Brasílio Contreiras. Por ali, muito antes do cerco de Paris em 1914, pelas tropas de Luddendorff, corria a ordem mágica e decisiva: “Ninguém passará!” As lazarinas azeitadas, as escopetas brilhantes, as carabinas em ponto de tiro e duas mil almas levantadas para Deus, ao redor de Conselheiro, cantando o Hino à Liberdade! Nos tabuleiros rústicos, desenrolava-se uma tragédia helênica. O Tobias de Aguiar entrou em fogo em primeiro lugar. Em Queimadas fora o seu batismo. Assistiu a morte de Camisão, ao trucidamento de Moreira Cesar, ao desastre do Cambaio. Reduziu-se a poucos homens. Quando conseguiu cercar a cidade macilenta e devastada, com o seu casario de palha agachado no chão, os destroços do Tobias de Aguiar, da Força Pública de São Paulo, acompanharam o Quinto Exército do general Artur Oscar.
Dentro dele, no âmago da luta, estava o alferes Agostinho Pereira da Fonseca. Defrontava, com os seus cinco mil companheiros, às ordens de um brilhante general, os defensores de Canudos: um velho, uma criança, uma mulher municiadora, e dois jagunços, de olhos acesos como brasas. Na última arrancada, baionetas em riste, descendo a escarpa como feras, depois de um preparo de dois dias e duas noites de artilharia, ainda assim correu o sangue dos invasores da “Troia sertaneja”. “Na terra do Conseiêro ninguém fala grosso”, gritavam os últimos remanescentes da mais trágica de todas as aventuras nacionais! E entre o pipocar da metralha, aos olhos de Deus, aquelas crianças ficaram homens para morrer e aquela mulher se inscreveu na galeria das Nightingale, das Rosa da Fonseca, das encouraçadas do Pedrão! Havia lágrimas, sim, havia lágrimas paradas nas órbitas do cadáver de Antônio Conselheiro, o gigante condutor de homens, um dos maiores esquizofrênicos da história do mundo!
Numa câmara da rua Jorge Miranda, armada em velas, sob todas as honras militares, foi assistido o corpo do coronel Agostinho Pereira da Fonseca. Dali, seguiu, sob o frio e a chuva, para o cemitério da Quarta Parada, o último abencerragem de Canudos. E o último herói dessa aventura monstruosa, como se isso nos ligasse cada vez à gente descobridora, era um português. Encerrou-se a lista. As quinas e o cruzeiro estão abraçados. 

sexta-feira, setembro 27, 2019

CORAL JOÃO GOMES JUNIOR (4)

Nivaldo Santiago

Coincidência ou não, porém, menos de dois anos depois do movimento intitulado Clube da Madrugada (22 nov. 1954), desembarca em Manaus o maestro Nivaldo Santiago. 

Logo toma a batuta e empenha-se em criar um coral, ou seja, em movimentar a arte musical. Obtém o apoio da Igreja católica, que lhe cede uma sua dependência para os ensaios. Entre os mais de oitenta participantes do coral, são muitos os nomes lembrados na cidade, porque ligados à Igreja e integrantes da alta sociedade.

Na festa de São José de 1956, Santiago inaugurou o Coral João Gomes Junior, que ainda funciona, em homenagem ao maestro paulista, seu professor. Em nossos dias, além do maestro, residindo em Minas Gerais, apenas uma fundadora sobrevive para contar a história: Dagmar Feitosa.

Os primeiros ensaios ocorreram na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, após o que passou a operar no endereço citado na convocação, cuja publicação compartilho de O Jornal, 8 de abril de 1956. 
 
Recorte de O Jornal, 8 abril 1956


Do maestro Nivaldo de Oliveira Santiago, entusiasta e dedicado batalhador em prol do aprimoramento e formação de talentos musicais em nossa terra, recebemos a lista que abaixo publicamos, com o pedido de que todos que nela estiverem consignados, compareçam aos ensaios a serem realizados no instituto "Santa Cecilia", à rua Visconde de Mauá, 339, para que, destarte, possa ser concretizado o maravilhoso concerto, com o qual pretende brindar a sociedade manauara.

Os referidos ensaios obedecerão ao horário seguinte: barítonos e baixos – terças-feiras, às 17h15; tenores – terças-feiras, às 20h; sopranos – quintas-feiras, às 17h15; contraltos – sextas-feiras, às 17h15.

O maestro pede o comparecimento dos:
Sopranos: Carmela Faraco, Cleomar Feitosa, Cibele Maria Oliveira, Dagmar Feitosa, Helena Amorim, ldalina M. Ferreira, lranir da Silva, Ivete Magalhães, Léa Norões, Lisete de Castro Lima, Maria dos Anjos Gonçalves, Maria de Nazaré Avelino, Maria de Nazaré Teixeira, Maria do Perpétuo Socorro, Myriam Moreira, Nilce Arnaud Ferreira, Olga Faraco, Maria Leda Vieiralves, Rosa Magali Carvalho, Tereza Maia, Tereza Santos, Terezinha de Jesus Soares, Neusa Ferreira, llza Garcia, Maria José Pereira, Zuleika Ferreira, Maria Lucia C. Lima, Joana de Carvalho, Maria Jerusalém e Nair Albuquerque Auzier. (30)
Contraltos: Amália de A. Guimarães, Davina Amanajás, Elvira Borges, Erminda Cantanhede, Eunice Carneiro, Georgina Brito, Léa Nery, Maria Augusta Xavier, Maria Auxiliadora Rodrigues, Maria José de Araújo Silva, Maria de Nazaré dos Santos, Maria Olivia Vieiralves, Leonilia Normando, Conceição C. de Oliveira, Maria José Ferreira, Marineia Barboza, Terezinha Alencar, Marlene Aguiar, Themis B. de Araújo, Aurélia Auzier, Marilia Auzier, Maria da Conceição Tavares. (21)
Tenores: Almir Silva, Carlos Fonseca, Djalma Henriques, Esmeraldo Bessa, George Tetenge, Hélio Barboza, Humberto Couto, Luiz Santos, Nelson Kizem, Rostand Bonfim, Wockman dos Reis. (11)
Barítonos e Baixos: Alberto Rebello, Carlos Augusto Carneiro, Djalma Melo, Fernando Leão, Geraldo Xavier, João S. Pinheiro, Joaquim dos Santos, Jorge de Medeiros, José Leorne Frota, Manuel Polari, Miguel Duarte, Nelson Franco de Sá, Norceu Santiago de Oliveira, Paulo Augusto da Silva, Roberto de A. Vale, Pedro Amorim, Ronald Botelho, Teodoro B. Assunção, Milton Kizem, João Brandão e Ary Pereira. (21)

quinta-feira, setembro 26, 2019

HÁ 40 ANOS



Na foto, o flagrante em que o presidente da Federação das Indústrias do Amazonas, industrial João de Mendonça Furtado, entregava o documento reivindicatório da classe empresarial amazonense ao Ministro Mário Andreazza, na sede da Suframa, no dia 03 de maio de 1979.
Da esquerda para a direita: parcialmente, o Dr. Eurípedes Ferreira Lins, Presidente da Federação Amazonense da Agricultura; industrial João de Mendonça Furtado, presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam); Dr. José Soares; Ministro Mário Andreazza e Dr. Rui Lins, Superintendente da Suframa.

quarta-feira, setembro 25, 2019

DR. LUIZ MONTENEGRO


O saudoso médico Djalma Batista, de reconhecidos méritos, escreveu o artigo abaixo, compartilhado do Jornal do Commercio (edição de 28 abril 1974), no qual indicou o nome do médico Luiz Montenegro como patrono do Hospital de Doenças Tropicais, em fase de instalação. Não obteve pleno sucesso. Em nossos dias, esta instituição, após evoluir sensivelmente, traz a designação de Fundação de Medicina Tropical "Doutor Heitor Vieira Dourado", instalada à avenida Pedro Teixeira, s/n – no bairro Dom Pedro. Contudo, o Auditório deste estabelecimento tem o nome proposto por Djalma Batista.
Indicativo da UBS

Do indicado resta seu laboratório de exames clínicos, hoje funcionando a avenida Getúlio Vargas, 658 - Centro. E, ainda mais recente, a prefeitura de Manaus prestou-lhe singela homenagem, ao nomear o posto de saúde comunitário de Ubs Dr. Luiz Montenegro (S-09), situada no elegante bairro de Nossa Senhora das Graças, à avenida Rio Jutaí, 37.
  
Recorte do Jornal do Commercio, de 28 abril 1974
Proponho ao Governo do Estado que o Hospital de Doenças Tropicais e Infecciosas, recentemente inaugurado em Manaus, em convênio com a Universidade do Amazonas, passe a se denominar Hospital Luiz Montenegro.
Morto há apenas 3 anos, Luiz Monteiro, nascido no Amazonas, em 1918, professor de Microbiologia da Faculdade de Medicina, patologista clínico da Secretaria de Saúde e dono de laboratório clínico em Manaus, não dava ideia do que sabia e do que valia.
Acompanhei-lhe a vida discreta do homem de estudo e de trabalho desde a adolescência, quando nos encontramos no início do curso ginasial, começando uma amizade que nunca se acabou, nem teve nenhum colapso.
Depois dos grandes médicos da primeira parte deste século no Amazonas – Alfredo da Mata, Thomas, Araújo Lima, Figueiredo Rodrigues, Adriano Jorge, Jorge de Moraes, Hermenegildo de Campos, Ribeiro da Cunha – que nem todos alcançamos, mas de alguns fomos alunos e contemporâneos, depois deles foi Luiz Montenegro quem deixou nome e renome, assegurados em trabalhos que poucos conhecem. Fora ele, muito poucos cuidaram da medicina-ciência.
Nunca fez clínica nem muito menos cirurgia. Era apenas o homem de laboratório, trabalhador, esclarecido e sereno. Para isto se preparou durante o aprendizado médico, realizado no Rio, e depois no outrora famoso “curso de aplicação” do Instituto Osvaldo Cruz, em Manguinhos.
Vivemos lado a lado, sucessivamente, no laboratório, no Dispensário Cardoso Fontes, no Sanatório Adriano Jorge, no Instituto dos Comerciários, no INPA [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia] e na Faculdade de Medicina, além de labutarmos na mesma especialidade. Posso prestar, a seu respeito, um testemunho de 42 anos de convívio constante.
Acompanhei-lhe, muito de perto os passos e as realizações, especialmente no INPA. E me admiro com as pesquisas que empreendeu, sempre com discrição e humildade, e que o credenciaram no mundo científico. Escreveu 25 artigos originais sobre hematologia, bacteriologia, soro-antropologia, genética e assuntos médico-sociais, artigos publicados em revistas do Rio e S. Paulo, da França, da Espanha, da Inglaterra e dos Estados Unidos, sempre despertando interesse entre os entendidos, porque comunicavam uma informação precisa da Amazônia.
Os trabalhos científicos de Luiz Montenegro eram redigidos em linguagem simples e direta, contendo os objetivos de cada um, as pesquisas realizadas e as conclusões a que chegava, tudo apoiado em escolhida bibliografia.
Revejo, neste instante, Grupos sanguíneos del sistema ABO y factor D (Rho) em Manaus, publicado na revista Sangre, da Espanha (n. 5, de 1960). Fez 1822 determinações do sistema ABO, encontrando 61% do grupo O; 29,42% de A; 8,56% de B e O; 96% de AB. Classificou o fator Rh em 1800 pessoas, sendo positivo em 92,6%. Comparando os seus resultados com os de 5 cidades brasileiras, duas de grande influência de imigrantes brancos (São Paulo e Porto Alegre) e duas onde houve maior contribuição negra (Salvador e Duque de Caxias).
Montenegro, que pôs em confronto também as mesmas pesquisas em habitantes de Codajás, cidade da margem do Solimões, documentou como hematologista a contribuição decisiva do índio na nossa população, com o aumento dos pacientes do grupo O e diminuição dos grupos A e AB, a que mais pertencem os brancos.
Paralelamente examinou 672 amostras de sangue colhidas no interior, verificando que o índice siclênico, que é apanágio do negro, já se encontra presente em 4,9% de caboclos e nordestinos e seus descendentes (O Hospital, Rio, 55 (2) 273, 1959). É importante destacar que os portadores da anomalia siclêmica são sabidamente resistentes à malária. Em 100 índios puros, da tribo Maués, não encontrou nenhum caso de siclemia (Revista Clínica de São Paulo, 34 (4): 85.1958).
Os três trabalhos apontados são apenas uma amostra das cousas sérias tratadas por Luiz Montenegro. Michel Jamra (?), de São Paulo, em estudo de 1970, levantou os parâmetros hematológicos do Brasil e os dados citados em 1º lugar foram exatamente os de Montenegro no Amazonas, publicados sem nenhum alarde, em revista médico-cientifica.
Eu sei o que é ganhar a vida e tentar fazer ciência, nas condições em que Luiz Montenegro trabalhou, premido por horários e compromissos inadiáveis.
Adriano Jorge já está homenageado em um bairro manauense e é o patrono do sanatório de tuberculosos; Araújo Lima e Alfredo da Mata têm seus nomes no Ambulatório e no instituto Central da Faculdade de Medicina. Thomas num asilo, Hermenegildo de Campos e Ribeiro da Cunha, em grupos escolares, Jorge de Moraes já foi nome de rua. Todos com muito merecimento.
É de toda justiça, portanto, consagrar a vida e a obra de Luiz Montenegro num hospital de ensino, ele que terminou a vida ensinando os novos médicos do Amazonas, sobretudo cem o exemplo de sua modéstia, de seu espírito humanitário e de seu saber.

segunda-feira, setembro 23, 2019

ATLÉTICO RIO NEGRO CLUBE - CERTIDÃO


CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO RIO NEGRO CLUBE, publicada na revista Rionegrino, edição nº 24, de novembro de 1939


Na tarde de 13 de novembro de 1913, ocorreu a fundação do Atlético Rio Negro Clube, à rua Henrique Martins, 149, residência do senhor Manoel do Nascimento. No local, reuniram-se os associados Edgard Lobão, Raimundo Vieira, Schinda Uchôa, Manoel Nascimento, França Marinho, Leopoldo Neves, Basílio Falcão, Paulo Nascimento, João Falcão, Ascendino Bastos e Afonso Nogueira, sob a presidência provisória do primeiro.

Endereço do local de fundação
A providência inicial foi escolher a primeira diretoria; apurada a votação, ficou assim constituída: presidente, Edgard Lobão, com oito votos; vice-presidente, Raimundo Vieira, com quatro votos; secretário, Schinda Uchoa, com seis votos; tesoureiro, Manoel Nascimento, com cinco votos; e capitão-geral, França Marinho, com cinco votos.

Veio a seguir a escolha do nome, cuja indicação – Atlético Rio Negro Clube, obteve dez votos. E a do distintivo do clube, que consistia em calção preto e camisa branca com escudo. No entanto, até a definição do escudo houve muita discussão. Após o consenso, o proprietário da residência mandou servir o vinho do Porto (que tornou tradicional, servido em cada aniversario). Nascimento, então, agradece a todos muito sensibilizado, por ver realizada “sua ideia de fundar o clube de futebol, e pedia para brindar o progresso harmonioso do Atlético Rio Negro Clube. E seguiram brindes e mais brindes.

Recorte da publicação do Rionegrino citado
O centenário clube, no entanto, vai de mal a pior. Desapareceu o setor social e o clube de futebol luta na segunda divisão estadual.

domingo, setembro 22, 2019

AVIAQUÁRIO DE MANAUS


PARQUE INFANTIL INAUGURADO


Jornal do Commércio, 24 dezembro 1963
Nas fotos, em cima, um aspecto do ato inauguratório do Parque Infantil Dom João de Souza Lima, no antigo Aviaquario Municipal. O arcebispo metropolitano quando falava enaltecendo a obra do prefeito Josué Claudio de Souza, que também aparece no clichê [à direita]. Em baixo, a garotada de Manaus banhando-se na piscina do Parque Infantil inaugurado.


Nota: O espaço semicircular existente entre as escadarias da Matriz de Nossa |Senhora da Conceição, hoje desocupado, já serviu para alguns empreendimentos do governo municipal. Recordo-me do aviaquário, de fato havia uns exemplares de nossa fauna nas gaiolas e peixes nos aquários.
Em seguida, veio o parque infantil com piscina, que acredito teve pouca duração, como foi o governo de Josué Claudio na Prefeitura. Em seguida, a igreja assumiu a administração e foi paulatinamente desativando as atrações. Enfim, ao tempo do padre Luiz Souza, servia como setor de depósito e secretária. Como lembrei, em nossos dias aguarda a próxima atração.
Ainda sobre a foto, junto ao arcebispo, à esquerda, o jornalista João Bosco Ramos de Lima que, ingressando na política, faleceu ocupando uma vaga do Senado Federal. E atrás, de perfil, o cônego Walter Nogueira.

PMAM E SUA LEGIÃO ESTRANGEIRA



Desde os primórdios de sua existência, a Força Estadual esteve às voltas com a carência de efetivo. 

Quartel da Praça da Polícia
As razões são múltiplas: a densidade populacional; o salário defasado; as exigências do serviço militar, em particular, os “castigos”; o nenhum interesse pelo serviço militar e outros. Desse conjunto de mazelas resultava um número extraordinário de desertores. Esses percalços atingiam sobremodo aos praças, aos soldados, posto que os oficiais eram escolhidos e nomeados pela amizade ou por outra “indicação”. 
Para amenizar esses estorvos, os governantes se valeram de vários expedientes. Para assegurar o reengajamento do praça, era-lhe concedido um lote de terras e equipamentos de cultivo; era permitido a inclusão de analfabetos, nada extraordinário, pois essa era a condição da maioria da população brasileira; também era autorizada a inclusão de estrangeiros, com óbvio algumas exigências a mais; e, para atrair os desertores, eram-lhes concedido o indulto.

No período da belle époque, no início do século passado, a corporação amazonense teve um efetivo extraordinário, em relação a sua população. Possuindo dois batalhões de infantaria e de outros serviços, corpo de bombeiros e duas bandas de música, a PM deveria ter o efetivo de cerca de oitocentos homens.
Para ilustrar esta postagem, vou expor as fichas de dois soldados estrangeiros: um francês e outro italiano, ambos incorporados em 1905, quando era comandante do Regimento Militar (designação da PM à época) o coronel Adolpho Lisboa.
 
Ficha individual de Eugene Allein, do Arquivo Histórico da PMAM
Eugene Allein, filho de Glauce Allein, nascido em 1873, portanto com 32 anos, na França. Sinais externos: branco, de cabelos e olhos castanhos, pedreiro de ofício e solteiro. Incluído em 1º de dezembro de 1905, no efetivo deste batalhão e desta companhia, como voluntário por três anos. Depois de ser aprovado em inspeção de saúde. Tomou o número 50. Em 1906, em 8 de janeiro, doente, baixou ao hospital (?) onde permaneceu até dia 27. No mês seguinte, de novo esteve baixado ao hospital, sem que se registre a causa. Em três de março, foi excluído, também não há registro do fundamento. Presumo que tenha sido o estado de saúde deste estrangeiro.

Ficha individual de Miguel Pebernardi, do Arquivo Histórico da PMAM
Miguel Pebernardi, filho de Miguel João Pebernardi, sem data de nascimento, nascido na Itália, de cor branca, olhos e cabelos castanhos, de profissão marceneiro e solteiro. Reincluído no Regimento em 8 de agosto de 1905, “por ter se apresentado voluntariamente da deserção em que se achava”. Desertor, graças ao indulto geral concedido em julho anterior, ficou em liberdade. Foi destinado a 3ª Companhia, onde tomou o nº 23. Já em setembro, a 13, baixou ao hospital onde permaneceu até dia 21. Em outubro, novamente enfermo teve dispensa médica... 
Interessava a situação de desertor, atraído pelo medida do governo.

sábado, setembro 21, 2019

ATLÉTICO RIO NEGRO CLUBE - 1954


Reconfortante recordação do Rio Negro Clube, quando ele disputava o campeonato amador do Estado em condições superiores. Em nossos dias, tenta voltar à primeira divisão estadual.

A foto revela do presidente Manuel Bastos Lira, outros dirigentes e vários atletas veteranos, encerrando com a princesa, filha do presidente, Inês Maria Lira, adiante Inês Benzecry.

sexta-feira, setembro 20, 2019

ÚLTIMO CATALINA



Jornal do Commercio, 19 outubro 1969
O último

A foto acima é do último Catalina da frota comercial brasileira ainda operando na Amazônia. O PP-PEB é visto quando regressava ontem de Canutama trazendo os sobreviventes do desastre ocorrido com seu irmão gêmeo no Juruá (sic). Ficará agora sozinho, com a missão de atender  aos nossos irmãos que residem nas cidades do interior amazônico, desprovidas de aeroportos...



Em outubro de 1969 aconteceu um acidente com o avião Catalina PP-PCW, operado pela SA Cruzeiro do Sul, em frente à cidade de Canutama (AM), no rio Purus. Entre os quatro mortos, estava o deputado estadual Danilo de Aguiar Correa, que cumpria o sexto mandato e era médico da Polícia Militar do Estado.

A história desse modelo de avião ainda entusiasma a muitos, em particular aos moradores da região amazônica, onde, sem aeroportos, restavam-lhes a presença dos Catalinas. Com a exuberante rede hidrográfica da região era possível atender a todas as cidades.

O hidroavião Catalina desenvolveu-se no percurso da Segunda Guerra, em particular na Amazônia, para sustentar o conflito. Encerrado este, os aviões seguiram operando agora pela Panair do Brasil, até 1965, quando o Governo Militar fechou esta empresa de aviação, provocando relativo isolamento de cidades da Amazônia. A concessão então passou à Cruzeiro do Sul, até o desaparecimento do último Catalina (foto) e a fusão desta com a Varig. 

Desconheço o destino do derradeiro Catalina, que voou no Amazonas.

Nota: desculpem os canutamenses, já efetuei a correção do nome do rio que abriga a cidade de Canutama, no texto que escrevi. Acima, em vermelho vai a cópia da produção jornalística. 

quarta-feira, setembro 18, 2019

EE TIRADENTES - MANAUS



EE Tiradentes, em Petrópolis (sem data), quando sob a direção da PMAM
Este estabelecimento de ensino surgiu do empenho da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) em construir uma escola para atendimento do seu pessoal. A ideia partiu do comandante, coronel Paulo Figueiredo (1971-73), autêntico “mestre de obras”, que aproveitando a construção do Centro de Suprimentos e Manutenção, na ilharga deste colégio, impulsionou o projeto Tiradentes.

Todavia, quem inaugurou a escola foi seu sucessor, coronel Coutinho de Castro (1973-75). No ensejo, foi posto à disposição da Secretaria de Educação o 1º tenente PM Raimundo Gutemberg Soares, para a direção do Tiradentes. Nesta função, Gutemberg passou dois anos, até março de 1976. Sua saída, e com o desinteresse da PM, a Seduc assumiu por inteiro a administração. 

1º diretor
Assim surgiu o Colégio Tiradentes, no início como uma dependência do Colégio Marcio Nery. Evoluiu, e hoje é uma Escola Estadual, situado no entroncamento das ruas Ferreira de Araújo com a Codajás, no topo do bairro de Petrópolis. Lembrando que a Força Estadual à época já havia inaugurado os quarteis do Corpo de Bombeiros e o da própria PMAM, na rua Benjamin Constant.  

Isto posto, afirmo não ter encontrado a efetiva data de inauguração da Escola, sabendo que aconteceu na abertura do ano escolar de 1974. 

Que a foto de seus primeiros dias, aqui postada, venha ilustrar seu álbum.

Nota: editado em 20/09, com correções e inclusão da foto do primeiro diretor, que encerrou sua atuação na PMAM sendo comandante-geral (foto).

segunda-feira, setembro 16, 2019

CORONEL MAURY SILVA - COMANDANTE PMAM



A Polícia Militar do Amazonas foi comandada – entre 1968-1971 – pelo tenente-coronel EB José Maury de Araújo e Silva, nascido em Passos (MG).

Maury assumiu depois de um descompasso no comando, quando o antecessor indicado pelo Exército, capitão Hernany Guimaraes Teixeira, deixou o comando de maneira abrupta, ao final de 1967.

O governador Danilo Areosa (1967-71) tomou a solução doméstica, nomeando ao tenente-coronel PM Omar Gomes da Silveira para exercer o comando (interino). Foi este oficial quem passou o comando ao coronel Maury.

Em pouco tempo, sempre ao lado do chefe do Poder Executivo, o comandante firmou amizade com a família do Areosa. E na imprensa, conquistou o apreço da diretora de O Jornal, e da coluna social Betina. Desse modo, esteve sempre nos noticiários jornalísticos, dos quais catei estes exemplares para ilustrar a postagem.
Em novembro, festejando o aniversário da esposa; maio, de
retorno do Rio, onde fora para o enterro de familiar.

Em agosto - na inauguração de terminal da CEM; e, em
outubro, palestrando para a direção da IGPM

domingo, setembro 15, 2019

QUARTEL DO 27 BC



O 27, como era mais conhecido, apagou-se de nossos registros há quase 50 anos, quando foi transferido para o bairro de São Jorge, e onde sofreu uma metamorfose que de tempos em tempos acomete as Forças Armadas. Tornou-se o 1º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva), que já acrescentou nova modalidade a sua estrutura operacional.
Hoje, Colégio Militar de Manaus. Foto da FGV

O quartel da foto (sem que eu saiba a data) é, de certo, o mais antigo da cidade. Da época provincial, acolheu o 27 BC no início do século passado. Observando-se a foto, pode-se inferir de que sofreu ampliação em todas os quadrantes. Ocupa o quarteirão formado pela rua 10 de Julho, aos fundos, e, nas laterais, pela rua Luís Antony e avenida Epaminondas, tendo à frente o “estádio” General Osório.

Foi ocupando este aquartelamento que o 27 BC se tornou legendário. Em Manaus, concentrava o maior efetivo da Força Terrestre e, por sua localização privilegiada, atendia com prontidão alguma apertura de segurança pública. Deste aquartelamento saiu, em julho de 1924, o contingente que avançou sobre o quartel da Praça da Polícia e, depois de o dominar, escorraçou o governador do Estado. A partir desse feito, durou cerca de um mês a Rebelião de Ribeiro Junior (tenente do 27 BC).

Em nossos dias, ali funciona o Colégio Militar de Manaus.

sábado, setembro 14, 2019

LIVROS USADOS


As fotos aqui compartilhadas mostram forte presença da população em uma feira, que oferecia livros usados. Às vésperas do cinquentenário, a leitura do texto do Jornal do Commercio (2 agosto 1970) oferece inúmeras facetas que diferenciam aquela feira das iniciativas de atuais “sebeiros”, concentrados na Praça da Polícia.
Veja-se parte da Livraria Escolar (à esq) e as barracas para exposição
Tenho acompanhado o esforço do Celestino Neto (Lé) para vender livros usados. É uma dureza. Arrisco dizer com convicção que o problema maior é o desaparecimento de leitores de livros, pois hoje a leitura está concentrada nos tablets e assemelhados. Como essa publicação é realizada em tópicos, daí pouco se lê, prefere-se o áudio. No entanto, a produção de livros é substanciosa.
De retorno à rua Henrique Martins: acolá, os jovens de ontem faziam a festa, literalmente. Conseguiam as bandas, cita-se a Blue Birds, ainda animando a galera, e as jovens bem-dotadas para enfeitar a artéria. Tem mais. Aquela artéria era afamada, alcunhada de Canto do Fuxico, pois reunia respeitável grupo de manauaras: comerciários, estudantes, juristas, militares. As livrarias ali situadas era outro agente de atração.
O centro da cidade de Manaus, diverso de nossos dias, era local de moradia, de repartições públicas e de colégios famosos e do comércio. Com esses ingredientes, aquele mercado em torno de “livros usados” marcou o local e a cidade.
Não tenho informações se esse trabalho dos jovens teve continuidade.

Recorte do texto exposto no Jornal do Commercio (2 agosto 1970)

A
Feira do Livro Usado, inaugurada ontem na Rua Henrique Martins, está se tornando sucesso absoluto. E como eu digo, depois do Supermercado de Arte, tudo é possível em matéria de comunicação de massa. A febre de cultura anda tomando conta da cidade.
Os livros são vendidos ao som de “travelling band baby I love, you, divino maravilhoso” e outras mais. Enquanto você compra o livro usado, que varia no preço entre Cr$ 0,20 e 1,00 dos novíssimos, tem garotas boas ao seu lado se rebolando ao som do Blue Birds. É a comunicação total, comunicação em massa.
As presenças marcantes lá são as da turma de Teatro da Fundação, destacando-se o Moacir, o Chacrinha amazonense, que estava vestido com uma fardão, semelhante àquele usado pelos Beatles no Sargeant pepper's ou àquele usado pelos membros da Academia Brasileira de Letras para o chá das cinco, mas, segundo ele garante, a fantasia é de burguês.
Ainda importante é a obra da artista uruguaia Isabel Rodriguez, quadros impressionantes e primitivos são vendidos na calçada. Até o [Joaquim] Marinho, lá do Depro, ficou entusiasmado com a ideia dos jovens, que teve pleno apoio da Fundação Cultural e da Secretaria de Educação e Cultura. E mais entusiasmados estão os próprios vendedores e compradores com toda aquela badalação.
Estudantes de todos os colégios estavam lá comprando os livros usados que, aliás, estavam bem usados mesmo, mas pelo preço, tudo serve. A barraca do Colégio Brasileiro vendeu tudo, tudo mesmo. Eles pretendem renovar o estoque, para recomeçarem na próxima semana.
A Feira se estenderá por toda essa semana que se inicia e espera a sua presença. É uma boa oportunidade de encontrar um livro que você esteve sempre procurando. Tem uns livros lá bem dignos de Museu Histórico, vai ver que é o livro que você esteve procurando há uns cinco anos. É bom arriscar.
A Feira funcionará todos os dias, no expediente normal, começa cedo e fecha às onze com o comércio. E todo dia tem um conjunto tocando no meio da rua, sempre tem mulheres bonitas, e nunca vai faltar aquela animação, que só estudante sabe trazer às promoções públicas.

MANAUS: TRANSPORTE COLETIVO


Modernos Ônibus FNM Servindo a população de Manaus

A Viação Bons Amigos, da cidade de Manaus acrescentou à sua frota de ônibus mais 6 unidades FNM T-9 [Fábrica Nacional de Motores].
A preferência pelos veículos FNM se deu em razão das suas reconhecidas qualidades de resistência e durabilidade, além do baixo custo operacional que apresentam.
Publicação do Jornal do Commercio, 18 agosto 1970
Os novos ônibus contam com potente motor de 182 CV e desenvolvem velocidades até 90 km/h. Dispõem de sistema de direção assistido por eficiente servo-direção hidráulica que proporciona manobras fáceis e com maior segurança.
Além das unidades recém-adquiridas novas, outras da mesma marca serão encomendadas a fim de modernizar e melhorar cada vez mais a frota da Viação Bons Amigos. Está, pois, de parabéns a população de Manaus que passará a desfrutar de maior segurança e conforto nas suas viagens.

Notas pessoais:
O texto desta nota jornalística compartilhada do Jornal do Commercio (18 agosto 1970) parece ter sido realizado pela empresa FNM. São quase 50 anos. A foto, pelos detalhes das cercanias, foi feita na sede do fabricante. Por fim, não sei informar que fim levou a empresa Viação Bons Amigos, que bairros atendia ou se foi absorvida pelas atuais.
Alguém se lembra desses ônibus? De todo modo, espero que a postagem sirva a um desbravador que pense em escrever sobre o transporte coletivo de Manaus. Fica a minha contribuição.