No próximo sábado,
4 de maio, completa-se o cinquentenário da morte de – Álvaro Botelho Maia, o Tuxaua,
que foi interventor federal, governador do Amazonas e senador da República.
Quiçá
estes títulos não lhe caíam muito bem, pois não conseguiu efetivar uma compatível
administração do Estado. Bem verdade que a decadência do comércio da borracha inviabilizou
seu empenho. Ademais, o Amazonas “morava e mora” muito longe do poder, no dizer
do caboclo.
No entanto, a elegância
do bacharel humaitaense se refletia na prosa e no verso, que lhe eram parceria trivial,
não obstante ter publicado seus livros tardiamente. E, por lembrar suas publicações,
a Editora Valer vai lançar nova edição de Beiradão.
Todavia, lembro-me
dele caminhando em direção à sua residência, na então praça de São Sebastião, saindo
da Caixa Econômica Federal, onde era superintendente. Depois, o encontrei nos alfarrábios
do arquivo da Polícia Militar do Estado. Nesta, Álvaro recém graduado em
Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, em 1917, fora nomeado
Auditor de Guerra, comissionado no posto de capitão, onde permaneceu por dois
anos.
O antigo capitão,
contudo, não perdoou a envelhecida corporação, quando, em novembro de 1930, decretou
extinguindo a Força Policial do Estado.
Na revista mensal
Redempção, edição de julho de 1926,
recolhi a página que ilustra a postagem, com o poema inédito de Álvaro Maia,
intitulado “A Buzina”.
A BUZINA
Clarim
das selvas, em teu canto
rola
o rumor das outras eras,
—
anseios mortos num quebranto,
clamores
de índios e de feras...
Quantos
idílios não despertas
no
lago escuro das lembranças,
— rudes paixões das Descobertas,
revoos
de frechas contra lanças...
Com
essas canções de citaredo,
cobres
a tarde de perfumes:
as
folhas bolem no arvoredo
e
ardem no bosque os vagalumes...
Falas...
e trazes nos zunidos
as
redolências das florestas,
e
enches os olhos e os ouvidos
de
trechos verdes e de festas...
Rias
ao vento... Mas, um dia,
caíste
n’água e, agreste avena,
vinhas
sem luz, vinhas tão fria,
vinhas
tão só de causar pena...
O
seringueiro, que remava,
semeando
espumas pelo rio,
o
seringueiro, que passava,
erguendo
os remos, te acudiu...
Hoje,
em seu lábio, agradecida,
agitas
no ar sonoras asas,
e,
pela voz, levas a vida
aos
entes bons, que estão nas casas...
Levas
o som de cornamusa,
quando
o luar jorra e o rio é branco,
à
que o namora, alva e confusa,
das
ingazeiras do barranco...
A
noiva ideal quase desmaia,
quando
percebe as tuas notas,
lembrando
beijos sobre a praia
e
gritos longos de gaivotas...
Bambu
perdido nos relentos,
Narciso
imoto à beira d'água,
bebeste
a rir todos os ventos,
toda
a verdura estuando em mágoa...
Agora
tens, nesses descantes,
em
que a saudade vive acesa,
a
dor das matas soluçantes,
as
grandes forças da tristeza...
Clarim
das selvas, em teu canto
rola
o rumor das outras eras,
—
anseios mortos num quebranto,
clamores
de índios e de feras...
Nota: Efetuei uma reedição da postagem, no dia imediato, reparando o título do livro a ser lançado e acrescendo a cópia do poema em ortografia atualizada.
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