CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, abril 28, 2019

MORTE DE ÁLVARO MAIA: 50 ANOS


 No próximo sábado, 4 de maio, completa-se o cinquentenário da morte de – Álvaro Botelho Maia, o Tuxaua, que foi interventor federal, governador do Amazonas e senador da República. 
Quiçá estes títulos não lhe caíam muito bem, pois não conseguiu efetivar uma compatível administração do Estado. Bem verdade que a decadência do comércio da borracha inviabilizou seu empenho. Ademais, o Amazonas “morava e mora” muito longe do poder, no dizer do caboclo.

No entanto, a elegância do bacharel humaitaense se refletia na prosa e no verso, que lhe eram parceria trivial, não obstante ter publicado seus livros tardiamente. E, por lembrar suas publicações, a Editora Valer vai lançar nova edição de Beiradão.

Todavia, lembro-me dele caminhando em direção à sua residência, na então praça de São Sebastião, saindo da Caixa Econômica Federal, onde era superintendente. Depois, o encontrei nos alfarrábios do arquivo da Polícia Militar do Estado. Nesta, Álvaro recém graduado em Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, em 1917, fora nomeado Auditor de Guerra, comissionado no posto de capitão, onde permaneceu por dois anos.
O antigo capitão, contudo, não perdoou a envelhecida corporação, quando, em novembro de 1930, decretou extinguindo a Força Policial do Estado. 

Na revista mensal Redempção, edição de julho de 1926, recolhi a página que ilustra a postagem, com o poema inédito de Álvaro Maia, intitulado “A Buzina”. 

A BUZINA

Clarim das selvas, em teu canto
rola o rumor das outras eras,
— anseios mortos num quebranto,
clamores de índios e de feras...

Quantos idílios não despertas
no lago escuro das lembranças,
 — rudes paixões das Descobertas,
revoos de frechas contra lanças...

Com essas canções de citaredo,
cobres a tarde de perfumes:
as folhas bolem no arvoredo
e ardem no bosque os vagalumes...

Falas... e trazes nos zunidos
as redolências das florestas,
e enches os olhos e os ouvidos
de trechos verdes e de festas...

Rias ao vento... Mas, um dia,
caíste n’água e, agreste avena,
vinhas sem luz, vinhas tão fria,
vinhas tão só de causar pena...

O seringueiro, que remava,
semeando espumas pelo rio,
o seringueiro, que passava,
erguendo os remos, te acudiu...

Hoje, em seu lábio, agradecida,
agitas no ar sonoras asas,
e, pela voz, levas a vida
aos entes bons, que estão nas casas...

Levas o som de cornamusa,
quando o luar jorra e o rio é branco,
à que o namora, alva e confusa,
das ingazeiras do barranco...

A noiva ideal quase desmaia,
quando percebe as tuas notas,
lembrando beijos sobre a praia
e gritos longos de gaivotas...

Bambu perdido nos relentos,
Narciso imoto à beira d'água,
bebeste a rir todos os ventos,
toda a verdura estuando em mágoa...

Agora tens, nesses descantes,
em que a saudade vive acesa,
a dor das matas soluçantes,
as grandes forças da tristeza...

Clarim das selvas, em teu canto
rola o rumor das outras eras,
— anseios mortos num quebranto,
clamores de índios e de feras... 

Nota: Efetuei uma reedição da postagem, no dia imediato, reparando o título do livro a ser lançado e acrescendo a cópia do poema em ortografia atualizada.




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