CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, dezembro 31, 2010

Feliz Ano Novo

Hoje, não podia ser diferente, saúdo o Ano Novo. Mas, antes agradeço o ano que passa. Motivos não me faltam, em especial por este espaço. E pelas tantas bênçãos recebidas, de sorte que me cabe mesmo é levantar as mãos para o Altíssimo.

Agradeço especialmente aos que consultaram o “catador de papéis”, que comentaram e que, acima de tudo, incentivaram a minha produção. Prometo para o 2011 dobrar o trabalho. Ah, sim, e melhorar a publicação.

Trouxe para esta passagem de ano duas publicações jornalísticas. A primeira veiculada em A Gazeta, no último dia de 1950. Nela, seu proprietário, o saudoso jornalista Aristophano Antony comenta para os leitores a passagem do Tempo e do Destino, "que regem nossan passadas sobre o mundo".

Editorial de A Gazeta. Manaus, 31 dez. 1950



A outra é um trabalho plástico de Moacir andrede, já então conceituado artista das cores. Lamento que à época O Jornal não dispussesse do hoje corriqueiro recurso das cores. O tema é a Paz, saudando o dia universal da confraternização.
O Jornal. Manaus, 1º jan. 1960
O terceiro registro é de ordem familiar, junto nesta foto duas gerações: o avô Manoel e a neta Sofia. São mais de noventa anos a separar esses dois olhares. Que este registro represente bem o momento que vivemos hoje, a passagem do tempo.

Manoel e Sofia Mendonça, dez. 2010
Esclareço que avô e neta estão ótimos, assim será o 2011para todo visitante!

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Academia Amazonense de Letras IV


José Braga, presidente (de pé), Almir Diniz
e Rosa Mendonça

O silogeu amazonense encerrou ontem as atividades do Ano Acadêmico Joaquim Nabuco. A festa foi revestida de muito significado, especialmente pela presença cerrada de convidados que, não só preencheram as cadeiras da platéia, como, curioso, ocuparam as poltronas azuis reservadas aos imortais.



Afinal, poucos acadêmicos compareceram. Dirigiam a mesa: José Braga, presidente; Almir Diniz, secretário-geral; Marcus Barros, diretor de edições; Max Carphentier, que lançava novo livro. Os demais: Armando de Menezes; Arlindo Porto; Rosa Mendonça; Carmen Novoa; Abrahim Baze; Euler Ribeiro; Cláudio Chaves; Elson Farias e Luiz Bacellar.
A abertura coube ao presidente Braga, que aproveitou para descrever as atividades do ano. Listou os livros e revista da Academia em lançamento; relacionou as pessoas homenageadas e os premiados no concurso de poesia.
O salão de honra da Casa de Adriano Jorge estava repleto 
Marcus Barros , a seguir, resenhou os livros lançados: Catedral dos Sacramentos, de Max Carphentier, e Terezinha Morango: cinderela amazônica, de Demosthenes Carminé. A Revista da Academia circulava em dois números. E encerrou, afirmando com entusiasmo: “É justo que a Academia Amazonense de Letras, com tamanha produção literária, a disponibilize aos seus leitores, contribuindo e facilitando o diálogo com a sociedade que a estimula e engrandece.” Os livros e as revistas foram distribuídos de cortesia aos presentes.

Max Carphentier autografa seu livro - Catedral dos sacramentos
Os vencedores do concurso "Manaus e Poesia", pela ordem: Priscila Maisel, com Maloca; Francisco Pantoja Evangelista, com Rua Formosa; e João Candido Rodrigues, autor de Uma canção, Manaus. Os poemas integram a Revista nº 29, da academia.
A Academia também premiou o trabalho de dois colaboradores. Romulo Nascimento, designer de extrema sensibilidade artística, e Sergio Luiz Pereira, “garimpeiro dos nossos textos, revisor incansável, seguro no domínio da gramática. E mais, purificador de nossos textos, de ruídos causados pelos nossos descuidos ou nossas desatenções”, assegurou o presidente José Braga.

O homenageado Sergio Pereira, posando com a Sofia Mendonça

terça-feira, dezembro 28, 2010

PM AMAZONAS: POLÍCIA FEMININA (II)

Como assinalado, coronel Raizer, comandante da PMAM, muito se preocupou com o contingente feminino, e com a escolha dos comandantes. Nessa relação, a data indica o início do comando, e o então capitão Wilson Martins (atual chefe da Casa Militar) fechou a Companhia em 17 maio 1989, quando o efetivo feminino foi incorporado aos demais policiais.
1º tenente Claumendes Cardoso de Souza               10 abr.1980
1º tenente João Ewerton do Amaral Sobrinho         4 set.1981
2º tenente fem Antônia Arlene Silva Oliveira          14 abr.1982
2º tenente fem Sandra Regina Bulcão Bringel          23 mar.1983
1 º tenente Gilbraz da Silva Bessa                           27 dez.1984
1º tenente fem Antonia Arlene Silva Oliveira           21 out.1985
1º tenente Gilbraz da Silva Bessa                            27 maio1986
1º tenente Marcos Antônio Rodrigues Ferreira         18 jul.1986
1º tenente fem Sandra Regina Bulcão Bringel          21 mar.1988 
capitão Wilson Martins de Araújo                            20 jan.1989
Em dezembro de 1980, o curso teve encerramento, classificando Antonia Arlene Silva Oliveira e Sandra Regina Bulcão Bringel nos dois primeiros lugares, entre as 32 formandas. Em lembrança a PM paulista, esteve presente à solenidade a coronel Janete Ribeiro Fiuza, comandante das policias femininas de São Paulo.


Registro da formatura da Polícia Feminina
A Crítica. Manaus, 14 dez. 1980
Coronel Sandra Bulcão
No ano seguinte, a PMAM enviou a São Paulo as duas primeiras para enfrentar um curso de habilitação ao oficialato. Novamente a sargento Arlene Oliveira conquistou a primazia de ser a primeira, tornando-se a primeira mulher a alcançar na PMAM a patente de oficial (2º tenente). Ela, todavia, não permaneceu na corporação, quando a deixou, foi secundada pela tenente Sandra Bulcão que, no corrente ano alcançou a última patente hierárquica, sendo a primeira coronel na corporação.

O primeiro núcleo das policiais constituía o Pelotão P Fem, até que, em 1986, com mais efetivo alcançou o nível de Companhia, constituindo um quadro separado.
Três anos depois, no entanto, o comando da PMAM, entendendo que as mulheres deveriam possuir os mesmos direitos e obrigações do efetivo masculino, decidiu incorporá-las ao mesmo quadro. Desaparecia assim a autonomia e, de certa maneira, a essência da Polícia Feminina que, apesar dos entraves, prossegue no contexto geral da PMAM. 

PM AMAZONAS: POLÍCIA FEMININA (1)

A Crítica. Manaus, 28 jan. 1980
Em Manaus, há trinta anos foi criada na Polícia Militar do Estado a Polícia Feminina (P Fem), rompendo a predominância masculina de mais de 140 anos.

Em fevereiro de 1980, a P Fem tomou existência legal com o engajamento das primeiras mulheres no serviço policial militar. Foram incluídas trinta jovens, as quais, ao final do curso específico de sargento, seriam promovidas.
Com essa decisão, a Polícia Militar do Amazonas incorporou o privilégio de ser a terceira instituição no Brasil a congregar as mulheres em seu efetivo.

Dois pequenos detalhes para a reminiscência desta instituição. Um, que as policiais foram antecedidas por funcionárias civis. Em 1976, a Polícia Militar fez a experiência de contratar as primeiras civis. Em número bem reduzido, mas é certo que esse batom impôs algumas modificações no quartel. Ainda hoje existem civis na administração da PM amazonense.
Outro detalhe: a criação da Polícia Feminina se deve em grande parte a dona Amine Lindoso, esposa do governador José Lindoso (1979-1982). Ao final do primeiro ano, em viagem a São Paulo, o casal foi recebido conforme o protocolo. Mas, dona Amine foi contemplada com policiais femininas para a devida segurança e conforto.

De retorno a Manaus, a primeira dama insistiu com o marido na criação de idêntica corporação no Amazonas. Era comandante da PM amazonense o coronel Ribeiro Raizer, evangélico convicto.
O curso específico funcionou no quartel da então Polícia Rodoviária, instalado no entroncamento da rua Recife com a avenida Constantino Nery, onde hoje funciona uma dependência do Corpo de Bombeiros. O comandante geral, por sua convicção religiosa e pelo cuidado na admissão das primeiras mulheres, cuidou pessoalmente da formação das policiais. Para isso, escolheu a dedo os comandantes.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Memorial Amazonense XLII

Dezembro, 27

1851 – Desembarca, em Manaus, viajando no vapor Guapiaçu da então Marinha de Guerra, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, que chegava para inaugurar a Província do Amazonas. A instalação ocorreu no primeiro dia de 1852.
1894 – Foi criado, por disposição do decreto n.º 83, sancionado pelo governador Eduardo Ribeiro, o município de Manacapuru, localizado no rio Solimões. A padroeira é Nossa Senhora de Nazaré, festejada em 29 de outubro.

1909 – Nasceu em Manaus, João Nogueira da Matta, tendo concluido o curso médio estudando no Colégio Dom Bosco e Ginásio Amazonense Pedro II e o superior, na Faculdade de Direito do Amazonas.
Ingressou nos quadros do Partido Social Democrático, de Álvaro Maia, tendo sido  Interventor Federal, interino.
Colaborador de jornais e revistas locais, deixou publicado cerca de duas dezenas de livros. A maioria sobre a história do Amazonas e alguns de seus trabalhos parlamentares.
Pertenceu a Academia Amazonense de Letras, onde ingressou em dezembro de 1959. Faleceu em agosto de 1991.
1911 – Foi criado o município de Carauari, localizado no rio Juruá, por disposição do Decreto n.º 683, sancionado pelo governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt.

1915 – Nasceu em Manaus, Paulo Pinto Nery, filho de Abilio e Deolinda Pinto Nery, casado com Maria Souza Marinho, irmã de Jauary Marinho, seu colega de graduação na Faculdade de Direito do Amazonas, da turma de 1939. Pertencia a segunda geração da família Nery, cujo astro maior foi Silverio Nery, governador e senador pelo Estado.
Paulo Nery pertenceu ao Partido Social Democrático (PSD), pelo qual exerceu os mandatos de vereador e deputado estadual e federal. Em duas oportunidades (1958 e 1962) candidatou-se ao governo do Estado, mas, em ambas foi derrotado.

Nery, candidato a governador.
Jornal do Commercio. Manaus, 30 set. 1958 

Propaganda eleitoral. O Jornal.
Manaus, 6 out. 1962
Ao tempo do Governo Militar de 1964 foi nomeado Chefe de Polícia do Estado e, adiante, Prefeito de Manaus, exercendo a função por seis anos (1966-1972). Apesar das derrotas sofridas, teve o mérito de encerrar sua carreira política como governador (1982-83), ao substituir o titular José Bernardino Lindoso (1979-1982), quando este renunciou ao mandato para disputar uma vaga ao senado.

Nery, prefeito de Manaus. Resumo biográfico.
Jornal do Commercio. Manaus, 26 jul. 1962
Nery foi professor doutor pela Faculdade de Direito. Pertenceu a Academia Amazonense de Letras, onde ocupou a Cadeira 5, cujo patrono é Araújo Filho.
Morreu em Manaus, a 15 de novembro de 1995.

domingo, dezembro 26, 2010

Dezembro de ontem

Dezembro de 1960


Dia 10 – A Faculdade de Direito do Amazonas diplomou mais uma turma de bacharéis. Eram poucos os concludentes, apenas nove, apenas uma mulher. O jornalista Almir Diniz merceu dos colegas de imprensa uma saudação especial (foto).
Lembro pela amizade, Almir Diniz de Carvalho, Evandro das Neves Carreira e João dos Santos Pereira Braga. Outra saudosa lembrança, Olavo Ribeiro de Faria (pai do finado coronel Ilmar Faria). Nada mais nada menos que 50 anos, ou o cinquentenário da turma professor Jauary Marinho.

O Jornal. Manaus, 10 dez. 1960
Dia 25 – O editorial de O Jornal, escrito pelo padre Nonato Pinheiro, merece ser reproduzido. O sacerdote-escritor e poeta escreveu-o com o dom que o Menino nascido nessa data lhe concedeu.
O Jornal. Manaus, 25 dez. 1960
Dia 29 – A classe jornalística reunida em almoço festivo, realizado na Varanda Tropical do Hotel Amazonas, saudou o Homenageado do Ano, o saudoso jornalista Herculano Castro e Costa. Na ocasião, foi escolhida a Miss Imprensa-1960, a jovem Rosemary Abrahim de Lima. A saudação ao "velho jornalista" coube ao Almir Diniz, outro destacado colega.
O Jornal. Manaus, 29 dez. 1960

Dezembro de 1980

Dia 1º - No Vivaldão, o Nacional Futebol Clube conquistou o campeonato amazonense. Com esse título, o Naça (como é mais conhecido) alcançou o tetracampeonato. Foi campeão de 1976 a 1980. Confesso que desconheço os demais campeonatos, veja em Bau Velho (http://www.bauvelho.com.br/).
A Crítica. Manaus, 1º dez. 1980

sábado, dezembro 25, 2010

Dia de Natal

Pe. Nonato Pinheiro,
A Crítica, 1958
Os textos dessa homenagem ao Dia de Natal pertencem ao saudoso padre Nonato Pinheiro, e foram extraídos a crônica de uma revista muito regional e o poema do matutino O Jornal.

A revista era a Manaus Magazine, que guarda algumas peculiaridades, extinguiu-se com a morte de sua produtora, jornalista Denise Cabral. A MM era, aos olhos da produção modernizada, um trabalho artesanal. Denise escrevia a mão os trabalhos jornalísticos. Sua ajudante transcrevia para a máquina e daí a impressão.
De publicação mensal, a revista recolhia contribuição de artistas e intelectuais. Comentava as festas e os acontecimentos da cidade, mais a sociedade com disposição financeira, produzindo um periódico muito conhecido de publicações com a mesma linha. Essas, hoje, em distribuição nacional, são tantas e inumeráveis. A coleção da revista Manaus Magazine foi adquirida pela Secretaria Estadual de Cultura.

Padre Nonato Pinheiro (1922 -1994), intelectual de destacado saber e escritor em tempo integral, membro da Academia de Letras do Amazonas, foi um dos colaboradores. Ao menos nos primeiros números, convidado a escrever a crônica sobre o Natal. A que transcrevo, foi publicada na edição de dezembro de 1958. Quanto ao poema, este circulou em dezembro de 1963.

A mensagem do Natal

O Natal traz à humanidade, todos os anos, uma mensagem venturosa de luz, de amor e de paz. Estrela dos Magos, que há quase dois mil anos refulgiu sobre o humilde presépio do Salvador, em borbotões de intensa claridade, parece que uma vez por ano, na quadra natalina retornar à terra com o mesmo faiscante esplendor, para repetir aos homens, na eloquência do seu clarão, que só Jesus é o Salvador, que só Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, que só Ele é a Luz que ilumina todo homem que vem a este mundo, na frase cintilante do evangelista São João.
Sem o fulgor daquele célebre astro, os Magos não teriam encontrado o caminho de Belém. Também a humanidade, mormente nesta encruzilhada tremenda de caminhos do século XX, em que já se sondam novos caminhos para as viagens interplanetárias, e em que a energia nuclear é uma ameaça constante, geradora de pesadelos sinistros, necessita de brilho de um astro, para não perder o roteiro dos seus excelsos destinos.

O Natal, com a sua sublime poesia e a sua divina claridade, como se fosse a radiação de uma Estrela Magnífica, desperta os homens do letargo da sua indiferença, e do crime das suas negações e apostasias, recapitulando-lhes as verdades eternas que transbordam do Evangelho, o mais alto código de santidade que já se escreveu sobre a terra, cujas palavras brotaram da fonte inestancável daqueles lábios divinos, que um dia se descerraram para a proclamação desta verdade inatingível: “Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não anda nas trevas”.
Manaus Magazine, dez. 1958


NATAL de 1958! Neste Natal já iremos sentir uma grande ausência: a ausência de Pio XII, que todos os anos nos trazia uma mensagem radiosa, que arrebatava os corações para o alto. Em dezenove anos já nos acostumáramos aos acordes e aos acentos daquela palavra augusta, toda feita de beleza e claridade, que nos fazia sentir a quase apalpar o mistério profundo do Natal de Jesus.
Neste ano, outra figura, vestida de branco, habita a colina do Vaticano: o Papa João XXIII, o qual também nos transmitirá sua palavra de salvação e de vida, de luz e de sabedoria, insistindo na mesma necessidade da justiça como condição para usufruirmos os benéficos supremos da Paz, que os anjos anunciam na noite fulgurante e santa do nascimento de Jesus: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra aos homens de boa vontade”! (...)

“Lux fulgebit hodie super nos! Uma luz brilhará hoje sobre nós – reza a Igreja no intróito da segunda missa de Natal, celebrada ao romper da aurora. Todo o Natal se impregna do clarão dessa luz divina, que nos ilumina e nos arranca das trevas das iniquidades terrenas, elevando os nossos corações para as alturas da vida crista e sobrenatural, lembrando-nos que há uma vida celeste onde a felicidade não se acaba, e onde ouviremos as vozes harmoniosas daqueles mesmos anjos que na venturosa noite do nascimento de Jesus cantaram o mais belo cântico que já se ouviu sobre a terra: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade!”.

O Jornal. Manaus, 22 dez. 1963

sexta-feira, dezembro 24, 2010

NATAL 2010

Américo Antony
Para seguir lembrando o Natal de ontem, reproduzo o poema de Américo Antony (1895-1970), filho do Dr. J. Carlos Antony, que segue homenageado em rua do bairro da Cachoeirinha. O poeta pertenceu a Academia Amazonense de Letras.

O poema foi escrito para o Natal de 1956.

Natal

A Dor fez uma via inundada de sangue...
A Renúncia construiu um caminho de Luz...
Dor, que sangrou de um Deus crucificado e exangue,
Renúncia, que irradiou dos braços de uma cruz.
Os crimes mais revéis, guardou-os Ele, o Deus Homem
Como urna de cristal recebendo um monturo,
Para tê-los, depois, das penas que os consomem,
Transmudados no céu do Seu ideal mais puro!

Quem recebe tormento e só dá redenção,
Quem ferimentos sofre, e abre-os como sorrisos,
É Esse que a luz da estrela acende ao coração,
É Esse que a infernos faz reflorescer paraísos!

Caminhantes guiou pelas sendas desertas,
E ergueu, entre espinhais, os passos da Paixão,
E fez, da escravidão, almas soltas, libertas
Voar à excelsa paz da glorificação!
O Jornal, 25 dez.1956

Conduzia-as ao céu quando em terra choravam!
Fazia-as reviver a Deus, quando morriam
De dor, sob a ilusão dos gozos que as manchavam
À ignomínia fatal, quando à expiação desciam.

Esse Condão de Luz que os tempos ilumina,
Atrás do qual a humanidade ainda revive,
É a estrela, que, guiando os três Reis Magos, divina
Ainda no coração de cada Angústia vive!

Ainda abre essa esperança aos seres sofredores
Como, de um fundo abismo, - a boca – é um céu aberto!
Como é, ao peregrino, a estrela num deserto,
E a campa secular, - se engrinalda de flores

E a Luz da Redenção fulgiu sobre um presepe
Com a humildade do Amor criando o Mais Divino
Em desertos, em mar, em selva, em campo, e estepe,
E em tristes ribeirões ao pulso cristalino!

Ele fulgiu do Eterno, e hoje fulge! – é o Natal
Que a lágrima refaz da Eternidade em Luz!...
Vinde ajoelhar comigo ante a Luz Imortal
Que flue com a Redenção, dos olhos de Jesus!
Montagem sobre imagens natalinas do Largo São Sebastião

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Natal

A data natalina sempre exigiu um esforço e tanto a tantos. Para celebrá-la neste espaço fui à cata desses esforços. Os jornais de Manaus estão repletos dessas manifestações, seja de autores conhecidos ou consagrados, seja de “ilustres desconhecidos”.

Reproduzo hoje o poema Natal, de Fernando Cruz (não possuo informação sobre o autor), escrito como se vê em peça figurativa (uma árvore de Natal), segundo me ensinou o poeta Zemaria Pinto.
A publicação ocorreu no dia de Natal de 1958, no matutino O Jornal, ano felicíssimo para o Brasil, por vários e doces motivos.




Natal
Ó meu Menino-Jesus!
O mundo ainda hoje, passado tanto tempo
depois daquela noite de encantamento
do Teu primeiro Natal,
ainda se sente embalado pela meiguice suave dos cânticos dos anjos,
anunciando com as pompas celestes o
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”,
nos céus de Belém.
“Agnus Dei qui tollis peccata mundi exaudi nos, Domini”
– Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo!
Que a paz maravilhosa a que a humanidade se deixa acalentar
no Natal que ora assiste, seja perece,
pejada dos belos frutos do amor,
esse elo que nos identifica como filhos do
Senhor Deus.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Os cinemas de Manaus VI

Cine Pop (1977-1979)



Ed Lincon (*)
Três anos depois do fechamento do Popular, circula na cidade o rumor de que o velho “poeira” reabriria as portas. Esse ruído teve o patrocínio da coluna Bazar, assinada por Flaviano Limongi, em A Crítica (1º jun. 1976): “Dizem, dizem, dizem, melhorado, evidentemente, o Cine Popular, poderá voltar a funcionar... dizem, dizem, eu não sei...”
Limongi sabia o que informava. O prédio do Popular foi arrendado por Luiz Moraes (proprietário da Cinemazon, situada à rua Dr. Almino, nº 48, distribuidora e locadora de filmes em 16mm), que o reforma em sua totalidade, para reabri-lo com o sugestivo título de Cine Pop.

Na parte externa, somente uma modificação: em uma das entradas que abria para a rua Silva Ramos houve ampliação e nela foi colocada uma porta metálica, do tipo “enrolar”.
Repetindo o esforço do Popular, o Pop também oferecia ingressos a preços módicos, para concorrer com os demais cinemas da cidade. E, apesar de não ter melhorado o conforto, ainda conservava as cadeiras que pertenceram ao Odeon. Novamente é o Limongi, em A Crítica (4.jan.1977), quem fornece subsídios sobre a inauguração e melhoramentos implementados na “nova” sala de cinema: “Na noite do dia 6, Manaus vai ganhar mais um cineminha. O careca Moraes, bamba no assunto, reformou o antigo “Cinema Popular”, colocou umas trezentas poltronas, tela panorâmica, som ótico, projeção 100% de nitidez, ventilação Fresh-Air System, botou o nome de “Cine Pop” e vai abrir as portas com o filme brasileiro Simbad, o marujo trapalhão, com Renato Aragão e Dedé Santana, em duas sessões [às 19 e 21 horas]. Muito bem!”

No dia da inauguração, a 6 de janeiro de 1977, o ajuntamento de pessoas para a estréia foi tão vultoso, que redundou em portas quebradas e algumas cadeiras danificadas. Nada que ofuscasse a festa de reabertura. Resolvidos esses problemas, já em fevereiro foram exibidas com grande sucesso de público as seguintes fitas: A fúria do dragão, estrelado pelo astro das artes marciais Bruce Lee (1940-1973); Júlia e seus homens, com a atriz holandesa Sylvia Crystel; Sexy e marginal e, ainda, Regina e o dragão de ouro. E, em 16 de fevereiro, outro sucesso de Renato Aragão & Cia., Os Trapalhões na ilha do tesouro.

Este cinema funcionava todos os dias com três sessões: vespertinas (14h e 16h) e a noturna (20h) e, aos domingos, havia a sessão das 21h. Em março, na programação do Pop constavam os seguintes filmes: dia 17, Presas brancas, a partir das 16h; dia 18, em sessão dupla: O destino do Poseidon e O pistoleiro não muito mortal, (14h e 16h); dia 23, Os mais atrevidos dos transplantes; dia 25, Carambola; e, dia 26, a pedidos, no horário das 18h20 e 22h, novamente O destino do Poseidon.

Ainda em 1977, na esteira da vitória do Cine Pop surgiram: o Studio Center, construído pela empresa Bernardino no terceiro andar do edifício Manaus Shopping Center (20 de abril). E o Cinema-2 (inaugurado em 23 de julho), pertencente à empresa Cinemas do Amazonas Ltda., de Jesus W. Leong e Orsine Oliveira (a partir de 1981, a razão social desta empresa é alterada para J. W. Leong Ltda.).

Mas, quem volta ao noticiário é o "cineminha" de Luiz Moraes. A coluna “Sim & Não”, de A Crítica (30 jul.1977), traz uma nota lamentando o mau-comportamento de alguns frequentadores: “Os proprietários do Cine Pop, anteontem, chamaram a polícia para coibir os abusos de alguns baderneiros que estavam promovendo quebra-quebra e perturbando os demais espectadores. Várias chamadas telefônicas foram feitas, mas nenhum policial apareceu. A ordem foi mantida à custo, pelos próprios responsáveis pelo “Cine Pop”.

Ainda em 1977, a 2 de novembro, foi instalada nova tela, vinda de São Paulo, e implantado melhoramento no sistema de som. No dia 8, estreou A Profecia, com Gregory Peck e elenco. A despeito desse esforço, repetidas vezes eram exibidas fitas que haviam saído de programação recentemente dos outros cinemas da cidade. Como aconteceu com King Kong, lançado com sucesso no cine Ipiranga, em setembro e, em dezembro, no Pop.
Outro, Contatos imediatos do 3º grau, que lançado em julho de 1978 no cine Veneza, esteve no Pop em dezembro seguinte. Também as pornochanchadas tinham lugar garantido nesta sala: Deu a louca nas mulheres, O cortiço, Mulher objeto, Procura-se moças de fino trato etc.

Quando completou dois anos de funcionamento, o Cine Pop passou a exibir dois filmes em cada sessão. Em 11 de fevereiro constava da programação: Robin Hood, o trapalhão da floresta, com Renato Aragão e Dedé Santana, e O sanguinário, com Oliver Reed. Em junho, Luiz Moraes decide passar filmes do gênero “kung fu” e épicos como Maciste na corte do czar, Os doze gladiadores, entre outros.

A carreira do Cine Pop, todavia, não teria longa duração. Em 26 de outubro de 1979, exibe na última sessão a película O vento e o leão. Assim, as atividades do “velho poeira” foram encerradas definitivamente.

Há alguns anos, em conversa telefônica com Luiz Moraes, este me explicou que o fechamento do cinema ocorreu devido o proprietário do prédio. Sucessor do fundador, Dr. Alberto Carreira da Silva (falecido nos anos 1980, em idade bem avançada), decidiu não mais alugá-lo, mas vendê-lo pela quantia de dois milhões de cruzeiros. Como Luiz Moraes não dispunha do valor total, o negócio não se concretizou.
Não fosse a intransigência do dono do prédio, Moraes garantiu, certamente o Cine Pop ainda estivesse funcionando. Desenganado com o final da atividade cinematográfica, Luiz desfez-se do material guardado em casa (fotos, pôsteres de filmes etc.).

Última lembrança do Cine Pop. A Crítica. Manaus, 24 ago. 1980
Após o fechamento deste “cineminha”, o prédio foi transformado em depósito de cargas (criminosamente incendiado em 23 de agosto de 1980). Permaneceu fechado durante anos, até ser restaurado e nele instalada uma drogaria. Adiante, funcionou no local uma boate de categoria duvidosa. Atualmente, abriga uma loja de tintas.
Hoje, somente os moradores mais antigos sabem que ali, naquele velho prédio construído em 1909, funcionou um cinema, o inesquecível Popular. Sou feliz porque, na minha infância, tive o privilégio de frequentá-lo ainda que raras vezes.

* Ed Lincon tem pronto um livro sobre Os cinemas de Manaus.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Os cinemas de Manaus V

Cine Popular (1920); (1926-1972)
Ed Lincon


Álvaro do Rego Barros, em 1º de janeiro de 1920, inaugurou na avenida Joaquim Nabuco, nº 157, “uma casa de diversões para a exploração de um magnífico cinema, cuja sessão de experiência foi realizada ontem”. Segundo Selda Vale, chamava-se cinema Popular. E, provavelmente, a “sessão de experiência” não deve ter dado certo, vez que, após essa data, não se encontra referências jornalísticas a respeito.

Seis anos depois, a empresa J. Fontenelle & Cia. adquire o prédio construído em 1909, na rua Silva Ramos, nº 190 (atual 1054), onde estivera instalada a loja A Brasileira. Ali instala uma sala de exibição cinematográfica, com o nome de Popular.
Constituiu-se no primeiro espaço da Sétima Arte fora do centro da cidade. O Popular, segundo a coluna Teatros e Cinemas, do Diário Oficial (14 nov. 1926), foi pré-inaugurado no dia anterior, às 20h30, quando tocou à porta a banda de música da Força Policial.

No avant-premiére, foi exibido O prêmio da vitória. Presentes, além do proprietário Jonas Fontenelle (1880-1947), Ephigenio Salles, governador do Estado (que cortou a fita de inauguração); M. Xavier Paess Barreto, juiz federal; deputado Aprígio de Menezes (que, em 1928, abriria seu próprio cinema no bairro de Aparecida, o Ideal Cine-Teatro); Joaquim Tanajura (médico, depois Prefeito de Manaus); Washington de Almeida; Dr. Alfredo da Matta; Maximino de Miranda Corrêa; vereador Julio Verne e o Dr. Elviro Dantas, todos acompanhados de suas famílias.

A inauguração para o público ocorreu em 14 de novembro, com a reprise de O prêmio da vitória (em oito partes), da Paramount, estrelado por Claire Windson (1892-1972) e Frank Keenen (1858-1929), astros da cena muda. A sessão de abertura ocorreu às 20h30, ao preço de 1$100 (mil e cem réis).
O cine Popular exibia sessão todas as noites e, justificando a denominação, oferecia ingressos mais baratos. Não possuía cadeiras, todavia, mas sim extensos bancos de madeira assemelhados aos de igreja. Ainda assim, o Jornal do Commércio (17 nov. 1926) apregoava que o Popular havia sido “instalado magnificamente, apresentando conforto aos espectadores. Comporta mais ou menos quinhentas pessoas e ostenta boa iluminação”.

Talvez devido à euforia da inauguração, o articulista tenha exagerado sobre a capacidade da nova casa. O Popular não era assim tão grande, não possuía palco para apresentação e a fachada não apresentava qualquer visual de cinema. Isso sem falar do desconforto que oferecia.
Ao contrário do que se possa imaginar, a tela de projeção diferia da dos demais cinemas. Era composta de sacos vazios de trigo, unidos lado a lado por costura, um tipo de tecido muito resistente e que, em alguns casos, servia para confeccionar vestuário pela camada menos favorecida da população.

Em 1931, o Popular passou a exibir filmes do chamado “gênero livre” (equivalente nos dias atuais aos filmes eróticos). Acontecia em sessões exclusivas para homens. Películas, como Mulheres viciosas, Vício e perversidade, Mulheres faladas, Caixinha de costura etc., eram exibidas disfarçadas pelo titulo de “científicos ou artísticos”, tendo sido algumas delas produzidas no Brasil.

O cine Popular, também conhecido por “Quebra-orgulho”, “Cine Poeira”, “Poli-Pulgas”, “Odeon do bairro”, entre outros epítetos, fez bastante sucesso junto aos moradores do Alto Nazaré, Boulevard Amazonas e adjacências. Mesmo sem levar em conta as pequenas dimensões deste cinema, era frequentado assiduamente nas décadas de 1930 e 1940.

Neste período, em sua tela, seriados americanos começaram a ganhar destaque: O Homem-Morcego, da Columbia; O Falcão da Floresta; O Terror dos Mares; O Aranha Negra; Tambores de Fu-Manchu; Adaga de Salomão e O Misterioso Dr. Satã, entre outros. Também não se pode esquecer as séries de faroeste estreladas por Gene Autry (1907-1998), Tom Mix (1880-1940), Roy Rogers (1911-1998), Wild Bill Elliott (1915-1965), Charles Starret (1903-1986), Hopalong Cassidy (William Boyd) e o mais famoso de todos os cowboys, Allan Rocky Lane, cujo fã-clube era admirável, notadamente entre as mulheres.

No início dos anos 1940, inexistiam linhas de ônibus. Aqueles que desejassem aproveitar os módicos preços do cinema do Alto Nazaré, poderiam apanhar bondes da Manáos Tramways, cujas linhas: Entroncamento, Alto Nazaré, Bilhares, Flores e Vila Municipal trafegavam pela rua Silva Ramos, com parada em frente ao “velho poeira”.

Uma explicação aqui se faz necessária: entre as décadas de 1940 e 1960, os filmes ali exibidos procediam do eixo Rio/São Paulo, depois de dois ou três anos. Como se tratava de filmes bastantes “surrados”, costumavam arrebentar ou “queimar” (como se denominava na época) inúmeras vezes durante a projeção. O conserto demorava, as luzes eram acesas... e paciência.
Nem sempre tal acontecia. Os frequentadores se aborreciam e, aos gritos de ladrão, ladrão, esperavam a sessão recomeçar. Então, para solucionar o problema, Arlindo, o projecionista do Popular, fazia antecipadamente revisões e emendas, esperando que o pior não acontecesse.

Em incontáveis oportunidades, ele era auxiliado pelo garoto Aluízio Ferreira (meu pai, ainda vivo para confirmar a versão), que morava ali próximo no Boulevard Amazonas e, por sua amizade com todos os funcionários, possuía livre acesso.


O poeira do Alto Nazaré foi o grande beneficiado com a reforma do Odeon. Foi contemplado com as cadeiras pertencentes ao mesmo, substituindo os desconfortáveis bancos de madeira Também foram realizados reparos no prédio, que incluíram pintura interna e externa, consertos do telhado, para exclusão de goteiras, instalação de novos projetores, entre outros melhoramentos.
A reabertura do Popular aconteceu a 9 de fevereiro. A proprietária consegue êxito retumbante ao exibir, bem antes de outros cinemas, a fita A canção da Índia, com Sabu (1924-1963), Gail Russel e outros. Ainda nesse mesmo dia, o “velho poeira” apresenta No tempo das diligências, com John Wayne no papel principal, e os dois primeiros episódios de O homem de ferro.

Em agosto de 1959, “o velho poeira” encosta as portas para mais uma reforma. Parecia não voltar, pois demorou exatamente três anos para ser concluída. Enquanto esteve fechado, o Popular passou por manutenção em seu salão de projeção, onde foi instalada a nova tela destinada a exibição em cinemascope, além de dois novos projetores.
Reaberto em 30 de dezembro de 1962, a direção do Popular alegou que a demora se deveu a problemas com energia elétrica, resolvidos pela Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM), atual Manaus Energia. A re-inauguração foi efetivada com grande pompa e expectativa. Em todas as sessões foi exibida a película O gladiador invencível.

Em setembro de 1963, a empresa Fontenelle, administrada pelo Dr. Alberto Carreira da Silva (1907-1982), herdeiro de Jonas Fontenelle, abandona o mercado exibidor de Manaus após arrendar todas suas salas (Odeon, Éden, Polytheama e Popular) para o grupo Severiano Ribeiro, pertencente a Luiz Severiano Ribeiro Júnior.


Cine Popular, ao tempo de seu fechamento, 1972. O prédio ainda existe, abrigando
comércio variado
 Seis anos depois de relativo sucesso, o cine Popular apresenta sinais de desgaste em sua estrutura, ainda mais agravado pela inauguração da TV em Manaus. Em setembro de 1969. A aceitação desta motivou e acentuou o afastamento de grande parte de seus frequentadores.
Para completar a desventura, o prefeito de Manaus, Paulo Pinto Nery (1915-1995), proclamou uma devassa nos cinemas sem condições de funcionamento. O recém-inaugurado diário A Notícia (3 maio 1969), fundado pelo comendador Felix Fink, ainda em sua terceira edição, socorre os cinemas: FECHAR OS CINEMAS, ESSA É BOA! “Nós nada temos a ver com isso, mas em nossa modesta concepção a idéia de fechar os cinemas é simplesmente ridícula.”

Em novembro de 1970, a São Luiz (nome de fantasia do grupo Severiano Ribeiro), escala os cines Odeon e Polytheama como lançadores de novos filmes. No Éden e no Popular, de outra maneira, a empresa resolve modificar o horário das sessões. Somente no domingo seriam apresentados dois filmes distintos, um na vesperal e outro à noite. Além do desconforto, a sujeira e outros inconvenientes constituíam problemas destacados nas casas de exibição de Manaus, como acentua o matutino da empresa Archer Pinto (O Jornal, 5 dez. 1970): “Realmente, a sujeira, o calor, e o mau cheiro reinantes em nossos cinemas causa revolta e humilha a nossa cidade.Somos uma terra em crescimento. Tudo melhorou ou está melhorando. Menos os cinemas que ficam piores, na medida que os dias passam. Uma vergonha.”

No final de 1971, a Prefeitura e o Instituto Nacional do Cinema (INC) passaram a controlar e fiscalizar severamente as atividades das casas de diversões. Para isso, foi nomeada uma “comissão de saúde” que, em conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento Comunitário (Sedeco) e o INC, por seu representante local, Alfredo Jackson Cabral (substituído, em 1º jun. 1972, por Afonso Lopes) realizou vistorias nas salas de projeção cinematográfica, encaminhando relatório completo ao Prefeito Paulo Nery. Esta autoridade concedeu o prazo de 30 dias, para que os responsáveis executassem os reparos adequados ao padrão de conforto exigido pela comuna. Ao contrário, não poderiam continuar funcionando.

De todos os cinemas vistoriados pela Prefeitura e pelo INC, o Popular se apresentava em piores condições, especialmente em seu interior. Ali, havia cadeiras soltas, piso de madeira completamente deteriorado e, pior, estava infestado de ratos e morcegos. Diante do quadro, a empresa São Luiz optou pelo encerramento das atividades nesta sala.

Data do fechamento: 28 de junho do mesmo ano, quase 46 anos de funcionamento.

Ed Lincon, autor do texto

Encerradas as atividades do Popular, o arrendatário em Nota ainda apregoava para breve a reabertura, após rigorosa reforma que acabou nunca acontecendo. No ano seguinte, Manaus viu desaparecer quase todos seus cinemas. Odeon, Vitória, Palace, Eden, Polytheama e Avenida encerraram as atividades, restando Guarany e Ipiranga que passariam por reformas parciais.

Mas o Popular ainda ressurgiria... como cine POP (1977-1979).



segunda-feira, dezembro 20, 2010

Economistas do ano

Não sei de fato o dia, sei apenas que o jornal de 20 de dezembro publicou. Muito comum a época, quando os valores ainda permitiam uma publicação, o matutino dos Archer Pinto encheu uma página com os novos Economistas de 1970. São passados quarenta anos.

Recolhi daquela página apenas quatro nomes e fotos. Perdão pelo descuido, mas a dica está completa.

Montagem do quadro de formandos. Jornal do Commercio, Manaus, 20 dez. 1970
Inicio por um que não seguiu a carreira: Moacir Couto de Andrade, o nosso conhecido artista plástico e homem de letras. Ainda recentemente, em conversa, ele fez questão de lembrar a conclusão deste curso superior. Também sua mais recente biógrafa, ressaltou o recebimento do diploma.
Hoje, Moacir Andrade pertence a alguns institutos históricos, e com destaque a Academia de Letras amazonense. Segue lutando pela saúde e distribuindo cores em quadros de alcance internacional.


Serafim Corrêa, 2010
Serafim Corrêa é outro nome contemplado. Homem afeito a luta profissional, exerceu suas atividades na Receita Federal. Depois, engajado na política, elegeu-se vereador e prefeito de Manaus. Segue oferecendo seus conhecimentos pela internet.


O terceiro é o Isper Abrahim, atual secretário de Fazenda do Estado. Economista dos quadros da Prefeitura de Manaus, onde exerceu diversas funções de realce, até ser levado para a Fazenda estadual


Enfim, Edmilson Melo de Oliveira, irmão de Aluisio meu colega no Seminário São José. Aliás, pertencentes a uma família católica lá de São Raimundo, tivemos o prazer de conviver por alguns anos. Exerceu a função de fiscal da Secretaria da Fazenda.

domingo, dezembro 19, 2010

VIOLETA BRANCA: A POETISA DO AMAZONAS


Violeta Branca, 1939
Ainda que tardia, aqui segue a minha contribuição ao trabalho da acadêmica Carmen Novoa em Violeta Branca: o poetismo de vanguarda, cujo lançamento ocorreu ontem na Academia Amazonense de Letras.

Compreendo o empenho da respeitada imortal na divulgação da obra vanguardista, da vida marcante de Violeta Branca. Também eu tento manter acesa a chama da lembrança de outro poeta, engolido pelo esquecimento. Cuido de padre Luiz Ruas ou mais semplesmente, de L. Ruas.
Sei quanto, apesar de minha dedicação quase diária, e na condição de “catador de papéis”, é difícil completar o trabalho. Imagino quanto ficou de fora sobre a poeta, quando sei que a autora teve apenas dois meses para editar seu livro.

A Tarde. Manaus, 19 fev. 1939

Espero, pois, que os papéis expostos colaborem na divulgação da arte da “poetisa do Amazonas” Violeta Branca.
A Tarde. Manaus, 19 fev. 1939







O texto e os recortes foram publicados no vespertino A Tarde, de Aristophano Antony. Implementavam a edição de 19 de fevereiro de 1939, quando o periódico comemorava o segundo ano de circulação.
A legenda da foto da homenageada sinaliza para outro mistério. Os poemas expostos fariam parte de outro livro – A festa da vida, que nunca veio a lume. Assim, temos a indicação de um quarto livro de poesia. O terceiro - Concerto a quatro mãos, Novoa tratou em seu livro.

Este último recorte recolhi de O Jornal, na coluna Velhos Tempos, de André Jobim. O poema de Violeta Branca circulara na revista Cabocla, em julho de 1936.

O Jornal. Manaus, 2 dez. 1962
EXTASE
Percorri os caminhos essenciais da alegria e do amor.
Pequei na embriaguez emotiva
dos sons, das cores
dos contatos e dos sabores,
na amarga delícia de fugir de meu próprio espírito,

para viver
a vida unânime dos sentidos.

Percorri os caminhos abertos às emoções humanas
na ânsia total

de desvendar o sortilégio da alma,
a aflição da carne,
o transcendentalismo do pensamento.

Percorri todos os caminhos,
rolei em abismos transfigurados,
pairei em surtos infinitos,
vivi ascensões vertiginosas
e descidas rápidas de estrela cadente,
quando, como uma alvorada luminosa,
que se abre
numa imitação rubra de rosas matinais,
eu percorria
os caminhos essenciais
da beleza e de esplendor,
vibrando, extasiada, na glória suprema de ser

a escrava pagã
da alegria e do amor.