CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, maio 28, 2023

MANAUS: CENAS DA DÉCADA DE 1950

 

Lateral do Teatro Amazonas e Av. Eduardo Ribeiro

Praça da igreja (em construção) do bairro de Educandos
com primitivos ônibus na estação

As duas fotos (esq.) mostram a rua Major Gabriel, margeando o igarapé de Manaus.
(à direita), dois prédios demolidos: Secretaria de Saúde e palácio Miranda Correa.

sábado, maio 27, 2023

POESIA DO SÁBADO

 De autoria do saudoso padre Nonato Pinheiro, membro da Academia Amazonense de Letras, que foi colaborador de todos os jornais que circularam em Manaus. Este poema foi compartilhado do Jornal Cultura (março 1983), encarte do Diário Oficial do Estado. Certamente por descuido do revisor, no fecho do poema deve-se "tronco" em lugar de "trono".




quinta-feira, maio 25, 2023

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (27)

 Outro capítulo sobre a história da Guarda Policial, ora Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889). 

 Mudança de comandante

Assume o comando da Guarda, em 13 de agosto de 1876, substituindo ao major Severino Eusébio Cordeiro, o tenente José Leonilio Guedes, também do Exército. Guedes conservou-se somente seis meses no comando, até 19 de fevereiro; talvez por esse motivo, o Arquivo Histórico da instituição não disponibiliza sobre ele registros diversificados.

A mais significativa anotação, a despeito de desabonadora, assinala ter sido Guedes “exonerado do comando desta Guarda Policial, por conveniência do serviço público”. O 2º vice-presidente, Guilherme José Moreira (barão de Juruá), ao transmitir o cargo ao barão de Maracaju, Rufino Eneias Gustavo Galvão (1831-1909), que promoveu esta primeira substituição, assegura que este tenente jamais conseguiria imprimir “a ordem e disciplina” na Guarda, “por falta das precisas habilitações”.

Já anteriormente relatados, são constantes os queixumes de presidentes da Província acerca da atuação de oficiais do Exército, sempre no sentido de comportamento irregular.

Barão do Maracaju
 

Regulamento 33

A presidência, autorizada pela lei 370, de 9 de julho de 1877, “determina que se observe” na Guarda Policial o Regulamento 33, de 24 de agosto. Em resumo, poder-se-ia afirmar que o regulamento da época tratava de todas as questões concernentes à atividade policial. Desde a organização e a destinação da própria Guarda e da inclusão de pessoal; passando pelos vencimentos, assim como do fardamento e armamento; até as regras de serviços e dos castigos e das penas.

Curiosamente, observe o tratamento dos guardas enfermos que “serão tratados na enfermaria militar ou no hospital de caridade”. Considerei curioso este tópico, porquanto o artigo 52 determina o pagamento das despesas hospitalares pelos próprios doentes, descontando-se somente “dos vencimentos dos oficiais a gratificação e meio soldo, e das praças de pré todo o vencimento”. Apenas o que escassear, será suprido pelo Tesouro.

Exponho alguns artigos para nosso evidente deleite ou pequenas notas:

Art. 1º – A força policial organizada em virtude da lei provincial número trezentos e setenta, de 9 de julho de 1877, terá a denominação de Guarda Policial.

Art. 2º – A Guarda Policial é criada para manter a ordem e a segurança pública na Província e auxiliar a Justiça. Só recebe ordens do governo da Província e, também, do Chefe de Polícia e de seus delegados, no que for relativo tão somente à bem da polícia a seu cargo.

Art. 3º – Compor-se-á em seu estado completo de um comandante, que terá a graduação de major; de um capitão; um tenente e dois alferes; e de noventa e quatro praças de pré, sendo um 1º sargento; dois 2os ditos; um furriel; oito cabos de esquadra; dois cornetas (corneteiros) e 80 soldados. (...)

Art. 5º – O tempo do serviço será de três anos, findo os quais terá o praça baixa, se a requerer. (...)

Art. 15 – Os oficiais da Guarda Policial serão da livre escolha e nomeação do presidente da Província, podendo o mesmo demiti-los por irregularidade de conduta ou por incapacidade física. (...)

Art. 51 – Os enfermos da Guarda Policial serão tratados na enfermaria militar, ou no hospital de caridade, conforme for designado pela presidência, ou em suas casas, quando para isso tiverem permissão. (...)

Art. 97 – Os castigos disciplinares abaixo mencionados não poderão exceder os seguintes limites:

A detenção até dez dias, a prisão até vinte.

O dobro da guarda de uma até dez vezes, nunca, porém, seguidas de mais de 2 dias consecutivos, de maneira que a praça tenha de 2 em 2 dias 1 de folga. A baixa temporária de oito a 60 dias.

A primeira e mais regular observação é a de que o presidente da Província, na Guarda, tudo provia. A ele cabia todas as decisões; facílimo, diante daquele diminuto efetivo. Para facilitar, as regras eram as da Força Terrestre adaptadas mal a mal ao pessoal da Força Estadual, seja o tempo de serviço e a forma de reengajamento; sejam as punições dobradas, assim como a exclusão de praças e demissão de oficiais.

quarta-feira, maio 24, 2023

SOFIA SM - 13 ANOS

 


domingo, maio 21, 2023

DUAS ESPÉCIES AMAZÔNICAS

 Boto-cor-de-rosa (inia geoffrensis) e  Peixe-boi-da-amazônia (trichechus inunguis), em fotos do mestre Gunter Engel.

Boto (acima) e Peixe-boi (abaixo)



quinta-feira, maio 18, 2023

MANUEL MENDONÇA & MENDOZA (1916-2014)

Escrito quando se completou cinco anos da morte de nosso genitor (2019), somente hoje – data de sua morte – o texto intitulado “Ocaso” vem a público, escrito pelo filho Renato Mendonça. Que segue cuidadoso com as efemérides da família. 

OCASO

(18/05/2019) 

Renato Mendonça

Há exatos cinco anos passados, aproximei-me para atender ao telefone fixo que tocava insistentemente, havia uma expectativa no ar, algo estranho que durante os dois dias anteriores criou em mim uma certa angústia, evoluiu como um pesadelo indesejável. Passava um tempinho depois da onze, minutos apenas, sentei-me no sofá, intuindo que receberia uma notícia nada favorável, mas não imaginei o ocaso. Meu pai estava internado havia dois dias no Hospital Artur Ribeiro de Saboya, em São Paulo, e no último diagnóstico, um fatídico tumor no intestino.

Fiquei inerte ouvindo a notícia, rejeitando o fato de não poder fazer nada, incomodado com a minha impotência naqueles dois dias de internação. Dialoguei calado com o Luisinho do outro lado da linha, naqueles poucos segundos de conversação, apenas meu choro contido aparecia em resposta.

A notícia veio como um punhal atravessando o peito, apesar do meu “eu” estar em estado de alerta; apesar de minha intuição ter se manifestado previamente, tentando me preparar para a desdita. Porém, por mais que conversemos com Deus, nunca estamos realmente preparados para essa dor dilacerante no coração; essa dor retida na nossa consciência, e transmitida aos poucos, com o passar dos anos, como uma amargura infindável. Que volta a flutuar em nossa mente quando se tenta resgatar essas datas infaustas.

No dia 16/05/2014, eu havia anotado numa folha do meu caderninho de lembretes, como se fosse um pleito ao Senhor: “Deus o proteja e o salve desse infortúnio.” No dia seguinte, meditando sobre a vida de meu pai, reli o texto e completei, antecipando um gesto de conformação com a mala suerte: “Mas, seja feita a Vossa vontade”, determinado a aceitar os desígnios divinos, e relembrando as palavras de Jesus Cristo no Horto das Oliveiras.

Ao assimilar toda a notícia, tentei, mas não consegui falar nada. Passei o telefone a alguém que estava ao meu lado. Ainda sentado no sofá, coloquei as duas mãos sobre a parte de trás da cabeça e puxei pra baixo, para aproximá-la das pernas, em decúbito dorsal. Queria talvez enterrá-la no chão, feito a avestruz.

O pensamento viajou no tempo, busquei lá no fundo da memória, a idade mais remota, achei-me na boleia do caminhão, ao seu lado, saboreando biscoitos que ele fazia representação. Achei-me mais tarde, vendo-o fazer alguns trabalhos de carpintaria, no Seminário São José, onde eu e um irmão estudávamos. Era um lenitivo para mitigar a saudade, a carência afetiva, que já invadia minha alma. Depois, outros inúmeros momentos, a sua luta para prover a numerosa família de meios de subsistência. O meu amor espiritual por ele trazia todas suas boas ações, e me antecipava a falta que ele iria fazer, como uma referência, como um ícone familiar. Depois que todas essas lembranças rodaram como slides, resumi, em choro convulsivo, a sua trajetória: “findou-se o pequeno grande homem, ele não existe mais...”.

Fiquei num deserto de ideias, para saber o que eu faria dali em diante, a situação exigia providencias. Tinha um monte de providências a tomar, no mundo real, porém eu não tinha como fazer naquele momento, o meu espírito queria juntar-se ao dele para sentir sua presença. Chorei, chorei muito. Lamentei tudo, e na reflexão do meu momento, completei o texto do meu caderninho – uma mania de registrar datas e dados, para a posteridade: “e eu poderia ter me empenhado mais... ter rezado mais... ter conversado com Deus.”

E, naquela angústia, Deus me falou:” realiza o último desejo de seu pai, honra a sua vontade. Já elevarás sua alma ao céu.”

 Assim, me recobrei, enxuguei as lágrimas e me entreguei à missão, a missão da vida, enfrentando a morte. No necrotério do hospital em São Paulo, a missão mais dolorosa, reconhecer seu corpo inerte, sem vida, frio como a madrugada daquela noite, esperando o embalsamamento, preparando-o para a última viagem para Manaus.

Deus o tenha em lugar dos justos e dos homens de fé.

terça-feira, maio 16, 2023

MUSEU TIRADENTES: UM TELEX

 Já no crepúsculo do meu serviço ativo na Polícia Militar do Amazonas, cuidava do Museu Tiradentes. Em dezembro de 1992, fui entrevistado pela jornalista Leila Leong para o jornal A Crítica. Que publicou a matéria, trazendo apreciável efeito para o esforço que eu dedicava a esse ponto de cultura da cidade.

Atual Palacete Provincial, antigo Quartel da Polícia

Dias depois, em 26 de dezembro, encaminhei àquele matutino um Telex, agradecendo o trabalho jornalístico. Trinta anos depois compartilho neste espaço aquele documento para sublinhar o avanço tecnológico de então possibilitado pelo Telex.

Depois de agradecer em nome da corporação, registrei que a publicação promoveu “o renascer das cinzas, dos fantasmas, dos zumbis que guardam a porta principal do quartel, como sentinela fiel e consciente de sua responsabilidade, com o olhar confiante no futuro de nossa cidade”.

Aproveitei para assinalar que fora contemplado com inúmeras manifestações de apoio e de estímulo, oportunidade em que desejei “sucesso à jornalista, no Ano Novo, com votos de progresso continuado e duradouro”.

Lá no rodapé, quase ilegível, alcancei o nome de uma policial feminina – Idenilde (onde andará ela?), a responsável pela digitação.

O Museu continua funcionando no mesmo local, agora sob a denominação de Palacete Provincial. Venha conhecê-lo e as outras atrações culturais.

Cópia do Telex mencionado


domingo, maio 14, 2023

DIA DAS MÃES (2)

A MAR, A MÃE 

Renato Mendonça

 (irmão e incentivador desta página)

Quando se busca adjetivar as mães, encontram-se tantas qualidades que parece impossível caber apenas numa palavrinha, num monossílabo. E todas são adequadas, todas lhe cabem perfeitamente.


Quis compará-las ao mar.  Num primeiro momento, soou-me inadequado. O mar é um termo masculino na língua portuguesa, mas convenhamos, em espanhol e em outras línguas latinas — como por exemplo, em francês e no catalão —, especialmente quando usado em situações poéticas, la mar es femenino!

Assim, pude tranquilamente fazer minha analogia sem criar um conflito de gênero e achar uma forma adequada para sintetizar o papel das mães na nossa geração. Desde a fecundação, quando sabemos que um óvulo nela contido já estava moldado pelo Criador para gerar uma nova vida, até a idade adulta quando abandonamos o lar materno e alçamos um voo para formar nova família. Mesmo assim, não abdicamos de ter em nosso íntimo a proteção materna, feito um incenso que nunca se acaba.

A mãe tem seu papel relevante em todas as etapas de nossa vida. No nascimento, em parto normal, é ela quem fornece a seiva do amor, concebida pela primeira colonização bacteriana que recebemos dos microrganismos vaginais, para herdarmos um primitivo sistema imunológico. E com o gesto de amamentação é liberada espontaneamente a ocitocina, um hormônio necessário para diminuir a angústia provocada pelo parto e potencializar a relação social materna.

Nem é preciso esmiuçar o papel fundamental durante as fases seguintes. Os primeiros passos de uma criança simbolizados pela mão da mãe segurando a do filho nos mostra o futuro; a fase escolar da alfabetização nos apresenta, junto com ela, a melhor escolha; a seguir vem a adolescência e seus dilemas sociais, e lá está ela a nos proteger da enxurrada de alçapões da vida. E quando chega a fase adulta, nos orienta, caminha conosco e nos ensina a voar.

É a Mãe Natureza que congrega tudo isso. Criou todos os espécimes da Terra com o dom da maternidade e da sobrevivência; e os racionais, também com habilidade para catalisar dores e emoções. Por tudo isso, são as fiéis depositárias dos nossos segredos ou de nossas confissões íntimas.

Felizes os que têm a graça de conviver com sua mãe por muitos anos harmonicamente; felizes os que podem no dia de hoje abraçá-la e beijá-la fervorosamente. Felizes os que podem agradecer-lhes, pessoalmente, a luz da vida. Se puderem, façam isso, não se furtem de retribuir todo carinho e afeto recebido ao longo dos anos.

Sem dúvida o ser humano mais importante em nossa vida...

 

Feliz Dia das Mães! 


DIA DAS MÃES (1)

 Minhas flores (ainda que virtuais) para as Mães que tive o prazer de desfrutar. Cabendo a minha Mãe, dona Francisca Pereira Lima a primazia, pois foi a única a não receber uma festa, que ainda não existia quando ela faleceu.

Sem olvidar a DONA Doroteia, mãedrasta



sábado, maio 13, 2023

POEMA PARA O SÁBADO

 Reavido do extinto Jornal Cultura, produzido pela Fundação Cultural do Amazonas e impresso na Imprensa Oficial, aqui vai uma obra poética do saudoso Afrânio de Castro, artista das letras e dos pinceis, morto tragicamente. E tragicamente esquecido por nosotros!

Recorte do Jornal Cultura n. 8, jan. fev. mar. 1974


quinta-feira, maio 11, 2023

PEREIRA DA SILVA (1890-1973)

 Quando da morte do autor de Poemas Amazônicos, o Jornal Cultura, órgão da Fundação Cultural do Amazonas, na edição nº 6, de setembro de 1973, publicou o seguinte obituário:

Pereira da Silva


FRANCISCO PEREIRA DA SILVA

Às 17 horas do dia 11 de setembro deste ano de 1973, com um toque de silêncio executado por um cabo da Polícia Militar, no cemitério de São João Batista, baixou à sepultura o corpo de Francisco Pereira da Silva, autor do projeto de criação da Zona Franca de Manaus.

Cerca de mil pessoas, num longo cortejo de carros, entre elas o vice-governador Deoclides de Carvalho Leal, o prefeito Frank Lima, deputados, vereadores, amigos, populares acompanharam o féretro daquele que, por quatro legislaturas, representou o Amazonas na Câmara Federal. O corpo de Francisco Pereira da Silva foi velado na Assembleia Legislativa do Estado, saindo dali o cortejo para o cemitério de São João Batista.

Nascido no Rio Grande do Norte, em 1890, Francisco Pereira da Silva veio para o Amazonas quando contava apenas 17 anos de Idade. Aqui estudou, formando-se em Direito, ao mesmo tempo em que desenvolvia atividades de jornalista, escritor e poeta, tendo exercido vários cargos de relevância na vida pública, inclusive como, na qualidade de deputado federal, representante do Brasil no congresso da FAO, em Roma.

Pereira da Silva, como era mais conhecido, participou da revolução de 1930, tendo sido, no Amazonas, um dos líderes do movimento vitorioso, passando a integrar, após a queda do antigo regime, a Junta Governativa, ao lado dos saudosos coronel [Pedro Henrique] Cordeiro Junior e Dr. [José Alves de] Souza Brasil, figurando, também, em 1945, na qualidade de representante do Amazonas à Câmara Federai, como um dos constituintes da república, depois da queda do Estado Novo.

Em toda a sua trajetória como representante do Amazonas na Câmara Baixa do País, sempre perfilou ao lado daqueles cuja bandeira sempre foi o zelo maior pelos supremos interesses do Estado, sendo inclusive, de sua autoria, o projeto que deu origem à Zona Franca de Manaus, que, não obstante sua luta, somente dez anos depois viria a ser regulamentada já no governo do saudoso presidente Castelo Branco.

No governo do presidente Juscelino Kubitschek, quando se cogitava da mudança da capital federal, um projeto de Francisco Pereira da Silva, dando o nome de Brasília à nova capital política do País, mereceu a aprovação unânime de seus pares, e, subindo à sanção presidencial, foi imediatamente, passando assim, o nome do representante do Amazonas, a figurar entre os destacados no Congresso Nacional.

No Congresso Nacional, Pereira da Silva foi também presidente do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, tendo, ainda, participado de várias comissões técnicas da Casa, onde a tônica maior de seu comportamento representava sempre a defesa inalienável dos supremos interesses do Amazonas.

 

quarta-feira, maio 10, 2023

NONATO PINHEIRO & FERREIRA DE CASTRO

 O texto do falecido padre Nonato Pinheiro foi compartilhado do Jornal Cultura (edição de outubro 1982), publicação da Fundação Cultural do Amazonas.

Recorte da citada publicação

Tomei conhecimento de que os Amigos de Ferreira de Castro, à frente o escritor e artista Moacyr Andrade, presidente do Instituto Brasileiro de Antropologia da Amazônia, vão erigir, sob os altos auspícios do Consulado de Portugal, um monumento a Ferreira de Castro, o celebrado autor de A SELVA, romance que o inseriu definitivamente no elenco dos intérpretes da Amazônia.

Acolhi com muita simpatia a iniciativa. Embora escritor português, o romance de Ferreira de Castro é amazônico, por essência e por excelência, já que a trama ficcionista se teceu por inteiro no seringal PARAÍSO, aquele "rasgão da floresta, aberto, como um átrio, à beira do rio", como lembraria o romancista na pequena história sentimental de A Selva.

O romance foi escrito em sete meses, de 9 de abril a 29 de novembro de 1929, tendo sido publicado em maio de 1930. Segundo depoimento do próprio ator, a obra foi acolhida em Portugal, o que não ocorreu no Brasil, onde se notou a famigerada "conjuração do silêncio", conhecida e maquiavélica trama dos que se inquietam com o brilho alheio, que incomoda os espíritos mesquinhos... Como o que é bom de difunde, a cortina foi rompida e A SELVA teve seu merecido realce nos círculos literários brasileiros. Foi reconhecido o valor do romance e proclamaram-se as excelências do prosador lusitano, sobretudo como admirável paisagista.

Examinem-se estes dois cromos fascinantes:

"E era aí que a luz dava um ar da sua graça, branqueando e tornando luzidio o pescoço de algumas árvores mais altas e restituindo, pela transparência, às asas de milhares de borboletas as suas verdadeiras cores de arco-íris fantástico". (p. 110 da 23a edição (a definitiva).

"A selva era, agora, um jogo fantástico e espetaculoso de sombras e claridades. O sol, onde encontrava furo, derramava-se em cataratas e vinha por ali abaixo, em linhas irregulares, vestindo de prata os troncos, galhos e folhas e dando transparência aos rincões obscuros. Na própria terra, ao longe, vislumbravam-se, por esta e aquela fresta, grandes toalhas de luz, sobre as quais se banqueteavam essas policromas”. (p. 129).

Busto de Ferreira de
Castro, em Manaus

Meu primeiro contato com o romance de Ferreira de Castro foi de emoção e deslumbramento. Manifestei meus sentimentos no artigo A Epifania da Selva, inserto no extinto vespertino A GAZETA. Na minha total insciência, meu saudoso amigo Figueiredo da Cruz, vice-cônsul de Portugal, enviou-lhe o recorte. Éramos quase vizinhos. Certo dia, a grande surpresa: "Honro-me em entregar-lhe esta carta de Ferreira de Castro". E ao notar meu espanto, logo acrescentou: "Enviei-lhe seu artigo e cá está a resposta". Foi o início de um intercâmbio epistolar que perdurou até ao tramonto (deixe-me usar o italianismo!) de sua fecunda existência.

Se Ferreira de Castro não possuiu a torrente verbal de Aquilino Ribeiro, o festejado autor de "Lápides Partidas" e "O Arcanjo Negro", guapo prosador e profundo conhecedor do idioma, nem as excelências estilísticas de Miguel Torga, brilha como paisagista e produtor de páginas comovedoras e empolgantes, assomando como verdadeiro precursor de neorrealismo português, entre cujos princípios alcançaram notável realce Alves Redol e Fernando Namora.

Além de A SELVA, outras obras apreciáveis nos deixou o laureado escritor, entre as quais: Os Emigrantes, A Tempestade, Eternidade e A Lã e a Neve. Foi um dos escritores portugueses mais traduzidos, ingressando com altivez no Panteão da Literatura Universal!

Divulgação (internet)

No banquete que a intelectualidade brasileira lhe ofereceu no Rio de Janeiro, comemorativo do Jubileu de A SELVA o Amazonas esteve presente. Frutas regionais ornaram a mesa festiva, enviadas de Manaus por Ildefonso Pinheiro.

Desejou, antes que se lhe apagassem as pupilas, rever o PARAISO, em cujo cenário viveu os dramas dilacerantes da selva misteriosa e implacável, como a classificou no pórtico de seu grande livro. Proibiram-no os médicos: o fatigado coração não resistiria ao maremoto das emoções em tumulto...

Sugiro que o pedestal do monumento assuma a forma de um livro, reproduzindo o frontispício da primeira edição de A Selva, lembrando aos contemporâneos e aos pósteros a importância da floresta amazônica como castália de escritores e artistas!

domingo, maio 07, 2023

MANAUS: MERCADO E FEIRAS

 

Mercado central Adolpho Lisboa

Feira em três ruas da cidade

sábado, maio 06, 2023

POEMA DO SÁBADO

 De autoria do poeta Luiz Bacellar, que dispensa apresentação, circulado no Jornal Cultura, órgão da Superintendência Cultural do Amazonas, em outubro de 1982.



terça-feira, maio 02, 2023

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (26)

Mais um capítulo sobre a história da Guarda Policial, ora Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

Usual Relatório

Em 26 de maio de 1877, assume a presidência da província do Amazonas o bacharel Agesilau Pereira da Silva, nascido em Valença (PI), em 6 de junho de 1846, e bacharelado pela Faculdade de Direito do Recife, aos 20 anos. Após transferir o encargo amazonense (14 fev. 1878), retorna à província natal. Por motivos profissionais, contudo, duas décadas depois desembarca em definitivo em Manaus, onde faleceu a 26 de janeiro de 1913.

Seu antecessor, Domingos Jacy Monteiro, apresenta-lhe usual Relatório, onde, dissertando sobre o título – Polícia –, assegura que por deficiência de pessoal a presidência se obriga “a nomear oficiais que comandam destacamentos para os cargos de delegado e subdelegado, não obstante ser isso contrário às recomendações do governo”. Até bem pouco tempo, o mapa de delegados de polícia no interior do Estado, de competência da Secretaria de Segurança, permanecia com os policiais militares, portanto, a situação reclamada por Monteiro permanecia como dantes.

Também neste documento, o presidente diz das primeiras providências para a inauguração da Guarda Policial. Menciona a sanção da lei 339, de 26 de abril de 1876; relembra a outorga do regulamento e, nele, o efetivo previsto: um comandante e um auxiliar; três inferiores (hoje, sargentos); seis cabos de esquadra (atualmente, cabo); dois cornetas (corneteiros); e 60 soldados.

Jacy Monteiro, bacharel em ciências jurídicas e sociais, revela-se ótimo cultor das letras, destacando-se pelo estilo satírico, mofador com que descrevia inclusive os assuntos pertinentes ao governo.

Vejamos dois tópicos:

Ao traçar ponderações sobre a Guarda Policial, e depois de esclarecer a nomeação de um oficial honorário do Exército para auxiliar o comando na instrução dos guardas, descreve que no primeiro instante houve certo progresso, mas, “depois o ajudante começou a não ajudar, o instrutor a não instruir, e parte dos soldados a entregar-se à embriaguez e até a aplicar-se à ratonice”.

Ainda sobre a Guarda, outro pormenor. Em 11 de maio, ela possuía dois oficiais e 27 praças. No decurso do mês, a corporação começou a prestar alguns serviços. “E desde então, infelizmente, ainda não prestou senão alguns pequenos serviços”. Os primeiros guardas engajados, diz o presidente, constituíam-se de “indivíduos mais ou menos idôneos”. Depois escassearam estes, sendo dispensados os de “má conduta e pouco préstimo”; dessa sorte, não era possível completar o efetivo de 73 homens.

As razões dessa desdita estão assim resumidas: em consequência do pouco tempo de organização, do diminuto número de praças, que os obriga a estarem quase constantemente em serviço, e de outras circunstâncias, falta-lhe a disciplina necessária. Para completar o quadro, entendi que era conveniente esperar por alistamentos voluntários e não recorrer a outros meios. Algumas recomendações se têm feito para promover a apresentação de indivíduos capazes de bem servirem; mas sem resultado apreciável.

No segundo tópico, a pena chistosa do presidente retrata uma visita realizada pelo próprio à Enfermaria Militar de competência do Exército: “Depois das duas horas da tarde, ainda não havia na enfermaria um só dos medicamentos receitados nesse dia; encontrei em uma boceta um pouco de ceroto simples, batizado com o nome de sebo de carneiro”. E a descrição da revista prossegue com a ênfase peculiar do dirigente, descrição que, diante do desprezo com os doentes, afigura-se atualizada.

Em 1877, a Guarda Policial completava seu primeiro ano, e seguia deficiente ao extremo, conforme se traceja. O presidente provincial, depois de iniciativas malsucedidas para obter alguma utilidade desta força, entende que ela carecia de novo regulamento. A fim de ultimar essa providência e outras que lhe pareciam convenientes, a 1º de maio, nomeia “uma comissão de pessoas competentes”. São três estas autoridades: brigadeiro Pedro Maria Xavier de Castro, comandante das Armas; juiz de Direito Francisco de Paula dos Guimarães Peixoto, Chefe de Polícia interino; e o major engenheiro Joaquim Leovigildo de Souza Coelho, encarregado das obras militares e provinciais. A comissão funcionou, tanto que gerou a reforma a seguir exposta.

segunda-feira, maio 01, 2023

MISSÃO SALESIANA: RIO NEGRO

 Recortei do compêndio Nas Fronteiras do Brasil: missões salesianas do Amazonas, elaborado pelos padres salesianos  nos primeiros anos de 1950, a página sobre transportes, para demonstrar as dificuldades daquela região enfrentadas pelos  religiosos - padres e freiras. Obviamente, o Alto Rio Negro hoje oferece melhores condições de trabalho e de vida. 

Acervo do Arquivo Público do
Amazonas

TRANSPORTES

É este o problema dos problemas no Rio Negro. A navegação fluvial é morosa e precária. A navegação aérea é sumamente cara para os minguados recursos daquele povo. Estradas de rodagem não há. As intempéries, as inundações periódicas tornam difícil o escoamento dos produtos da região e mais difícil ainda a importação do indispensável ao funcionamento de tantas atividades, e até mesmo dos gêneros alimentícios que a terra não dá. Daí a lentidão com que tantas coisas são feitas, sobretudo as construções de prédios, igrejas e oficinas.

Ora, regiões estratégicas como essa, nas fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, precisariam de vias de comunicação mais fáceis e mais rápidas.

As Missões têm feito o que têm podido, dentro das suas apoucadas forças e dos recursos que o Governo Federal lhes faculta.

Assim é que, contornando temíveis cachoeiras, que dificultam as comunicações fluviais, as Missões já construíram a estrada de rodagem de Ipanerá a Urubucuara, e estão ultimando presentemente a rodovia de Papuri ao Tiquié, de 90 quilômetros de extensão, realizando notável obra de penetração nas matas da zona lindeira do Brasil com a República da Colômbia, sob os auspícios e o amparo do Governo Federal.

Página do referido livro

Agora, que o automóvel de passeio e o caminhão se introduziram em larga escala no Brasil, seria de vasto alcance a construção de outras estradas, que facilitassem a importação e exportação, entrada e saída dessa região vastíssima, que há tanto tempo está pedindo que a conheçam e explorem. Não fossem as Missões...

A propósito, lê-se na Gazeta de Manaus (27.01.1950) artigo do deputado estadual do Amazonas, Arthur Virgílio Filho, do qual nos há de ser permitido respigar esta passagem, que diz bem do esforço civilizador, colonizador e formador dos missionários Salesianos:

"O que ainda salva o Rio Negro resulta da atividade fecunda e humanitária das Missões Salesianas. Tanto em Barcelos como em Uaupés esses abnegados filhos de São João Bosco, padres e freiras, de acordo com as suas possibilidades que não são muito amplas, erguem hospitais e escolas, educam as crianças, tratam dos enfermos, empreendem, enfim, a sacrossanta missão do voto de fé que proferiram. Não fossem as Missões e não sei o que seria das populações do Rio Negro..."