CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, agosto 31, 2010

Memorial Amazonense XXXI

Agosto, 31


1925 – Nasceu em Póvoa de Varzim (POR), Belmiro Gonçalves Vianez, filho de Abel e Maria Abadia Gonçalves Vianez. Aos 13 anos, desembarcou em Manaus, onde concluiu o ensino médio no Colégio Dom Bosco. Ingressou como office boy na Casa Chico Preto e, em 1971, fundou a loja Belmiro’s, na avenida Sete de Setembro. Esta marca, que ainda se encontra funcionando, teve forte presença na cidade.
Como jornalista, teve participação no rádio e TV da Capital, em especial, nos comentários esportivos bem humorados. Em 1949, participou da fundação do jornal A Critica. Foi casado com Maria Ambrozina de Albuquerque Vianez.
Foi agraciado com o título de Cidadão do Amazonas e com a medalha do Mérito Cidade de Manaus. Morreu em Manaus.

1946João Nogueira da Matta assume como interino a Interventoria Federal do Amazonas. Adiante, passou o governo ao tenente-coronel EB Sizeno Sarmento

2001Osias Rodrigues Monteiro tomou posse na Superintendência da SUFRAMA.

2004 – Morreu em Manaus, Maria Luiza Antony Parente, filha de Aristophano Antony e viúva do ex-senador Raimundo Parente.

2009 –Morreu em Manaus, vítima de acidente de trânsito, o professor Garcytilzo do Lago e Silva. Nascido em Parintins (AM), foi professor da Universidade Federal do Amazonas, por décadas. Seu corpo foi velado no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos (Icbeu), situado na av. Joaquim Nabuco, e sepultado no cemitério São João.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Espaço Cultural III

Lançado há cerca de um mês, com resumo fornecido pela revista Veja, o livro Fordlândia: ascenção e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva, de Greg Frandin, tradução de Nivaldo Montingelli Jr. Rio: Rocco, 2010 (339 p. cerca de R$ 56,00), logo me atraiu.
Prometi emprestar a dois amigos nascidos em Fordlândia (PA): o professor de artes folclóricas José Nogueira e o competente músico Beto Blue Birds.
Ainda estou lendo, mas me surpreendeu a descrição realizada sobre a capital do Amazonas. Leia.

"Manaus é famosa pelo enorme Teatro Amazonas, uma casa de ópera construída com mármore italiano e rodeada de ruas revestidas de borracha para que o ruído das carruagens dos retardatários não atrapalhassem as vozes dos melhores tenores e sopranos da Europa. Terminado em 1896, dizem que sua construção custou mais de dois milhões de dólares. O dinheiro fluía livremente durante o boom e as classes mais altas de Manaus importavam de tudo a qualquer preço. Exploradores americanos descobriram que podiam vender suas roupas usadas de brim cáqui por cinco vezes o preço pago nos Estados Unidos depois que se cansavam de passear pela cidade em seus trajes de selva.

(Ao contrário dos brasileiros, que depois e voltar da selva costumavam tomar banho, barbear-se e comprar novas mudas de roupas o mais rápido possível, os americanos, segundo um observador, tinham o “irritante hábito de andar pelas ruas e se dirigir a seus oficiais superiores! Com seus “chapéus altos, botas de campanha e cartucheiras” (Earl Parker Hanson, Journey to Manaos, Nova York: Reynal and Hitchcock, 1938, p. 292).

Com mais cinemas que o Rio e mais salas de espetáculos que Lisboa, Manaus foi a segunda cidade do Brasil a ser iluminada por eletricidade e os visitantes que chegavam a ela pelo rio à noite durante os últimos anos do século XIX se maravilhavam com seu brilho em meio à escuridão, “pulsando no ritmo febril do mundo”. Mas não era apenas a luz que tornava Manaus e Belém, também eletrificada cedo, modernas. Seus muitos espaços escuros ofereciam locais para prazeres essencialmente urbanos. Roger Casement, cônsul da Grã-Bretanha no Rio, que mais tarde se tornaria famoso por suas atividades anti-imperialistas e antiescravagistas, escreveu em seu diário em 1911 a respeito de passar pelas docas de Manaus, escolhendo jovens homens para fazer sexo anônimo".

Cartão Postal do contemporâneo Teatro Amazonas, sem datação
A minha surpresa "caminha" pelas ruas emborrachadas e nos melhores tenores e sopranos europeus. Isso representa dizer que as "lendas urbanas" sobre o Teatro Amazonas ainda prosperam, mais de um século depois de inaugurado.

domingo, agosto 29, 2010

Academia Amazonense de Letras III

Sede da Academia, 2010
Já tem data marcada - 29 de setembro - para a escolha do substituto do  falecido Narciso Lobo, na Cadeira nº 15, de Graça Aranha.  Dois candidatos disputam a vaga: Almino Afonso e Roberto Mendonça.

Jornal A Notícia. Manaus, 20 maio 1980









O primeiro é um nome conhecido nacionalmente. Ainda jovem deputado federal pelo Amazonas, foi ministro do Trabalho de João Goulart (1962). Mas, veio o Governo Militar e Afonso teve seu mandato cassado, além de buscar asilo em alguns países, antes da anistia.
No retorno do exílio, radicou-se em São Paulo, onde alcançou o mandato de vice-governador. Ainda voltou à Câmara Federal na representação paulista, até sua aposentadoria política.

O segundo é o responsável por este espaço. Por isso, posso afirmar que nasci e fui criado em Manaus e, por princípios, aqui me mantenho. Frequento com assiduidade o silogeu amazonense, onde já mostrei condições em colaborar em diversas atividades da Casa.

A campanha segue a todo vapor...
  

sábado, agosto 28, 2010

Posse no IGHA

Detalhe do púlpito
Na noite de ontem, o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (Igha) deu posse ao novo sócio efetivo. O professor doutor Luiz Carlos de Matos Bonates, foi empossado na Cadeira nº 1, de Adolfo Ducke, que se encontrava vaga desde a morte de Albertina Albuquerque. 
A solenidade foi conduzida pelo próprio presidente da instituição, Geraldo dos Anjos. E mais a secretária geral, Marita Monteiro, e o orador oficial, Robério Braga.



Robério Braga, orador da solenidade
Em sua fala de boas vindas, Robério Braga relembrou os pais do novo membro do Igha, o saudoso Aldemar e a viúva Herlene Bonates. Reconhecidos atores amadores, que brilharam nos palcos de nossos teatros. 

Geraldo dos Anjos, presidente, e
Luiz "Kaka" Bonates (à dir.)
Prestigiaram o evento, bom número de associados (Armando de Menezes, Moacir Andrade, Alir Diniz, Ednea Mascarenhas,  Abrahim Baze, Humberto Figliuolo, Roberto Mendonça e Bosco Botelho) com predominância dos mais antigos. Presente  ainda familiares do novo sócio e dirigentes do Inpa, onde o Dr. Luiz Carlos Bonates presta serviços, e da Academia Amazonense de Letras.
Baze, Diniz, Figliuolo, Moacir e Armando, a partir da direita
Aldemar Bonates, pai do "Kaka" Bonates,
em Auto da Compadecida,
Teatro Amazonas, 1958






A festividade foi coroada por uma recepção agradável, onde predominou alguns black.
Parabéns ao Dr. Luis Carlos, melhor mesmo é desejar ao Kaká o mesmo sucesso obtido junto aos grupos de capoeira, onde ele é Mestre consagrado.

ASSOCIAÇÃO DOS VELHOS CORONÉIS (AVC) (III)

Coronéis Abelardo, Medeiros, Câmara e o deputado Liberman
(a partir da direita).

A confraria reuniu-se, ontem, para o almoço no restaurante do Emporium Roma, situado na rua Terezina. Bom número de aposentados compareceu - Cavalcanti (promoter), Câmara, Amilcar, Ary Renato, Alfaia, Célio, Medeiros, Santarém, Abelardo, Ewerton, Nogueira, Roberto (autor das fotos) e Claumendes (pela primeira vez).               
Coronel Claumendes ouve atento

A reunião gastronômica teve o deputado Liberman Moreno, como convidado especial. Após a sobremesa, o convidado fez pequena exposição de seu trabalho legislativo e, claro, distribuiu seu número para os eleitores presentes.

sexta-feira, agosto 27, 2010

SÃO RAIMUNDO NONATO

Igreja de São Raimundo Nonato,
Manaus


O povo católico do bairro de São Raimundo prepara-se para comemorar seu padroeiro. Como de praxe, ocorre o arraial festivo, que vem atraindo um respeitável público.
Nesta quinta-feira 26, o vigário organizou uma noite bem especial, diria até que cultural. Para isso, convidou o prof. José Nogueira para organizar uma apresentação folclórica bem original.


José Nogueira, bem conhecido da comunidade, por ser morador do bairro, treinou um grupo folclórico para contar a história de São Raimundo Nonato.
Em tres atos, o grupo desenvolveu o tema intitulado - Da Catalunha a beira-mar de São Raimundo.
Ao final, o vigário relembrou o prêmio concedido ao professor Nogueira, que postei neste espaço.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Deu em A NOTÍCIA III

Montagem sobre fotos do jornal
A Notícia. Manaus, agosto 1980
Os registros são de agosto de 1980, portanto, há 30 anos. Os jovens, e outros nem tanto, pontuavam em acontecimentos na política e nos tribunais.
Acima, à esq. O encontro de dois gigantes já falecidos: o poderoso superintendente da Suframa, doutor Ruy Alberto Costa Lins, e o ex-governador Gilberto Mestrinho, ensaiando o retorno ao Palácio Rio Negro, que, de fato aconteceu em 1983.
À dir. o advogado Domingos Chalub nos primeiros passos pelos tribunais. Hoje, depois de presidir o Tribunal de Justiça, exerce a vice-presidância.
Abaixo, à esq. Alberto Simonetti, outro advogado de sucesso, parceiro de Chalub em escritório montado na rua Isabel, no Centro. Dr. Simonetti presidiu a OAB/AM, em duas oportunidades. Candidatou-se, mas não conseguiu o cargo de desembargador. Morto há dois anos.
Abaixo, à dir. Josué Filho, então deputado estadual pelo PSD. Disputou a eleição para governador, em 1982, sendo derrotado por Gilberto Mestrinho, do MDB. Deixou a Assembleia Legislativa, depois de tê-la presidido. Hoje, tem o encargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Memorial Amazonense XXX

• Colônia Oliveira Machado

Tomou posse na presidência do Amazonas, em 10 de fevereiro de 1889, Joaquim de Oliveira Machado (1842-1920), nascido em Barra do Pirai (RJ) e morto em Niterói (RJ). Era bacharel pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (SP).
Encontrou o governo amazonense sitiado por dificuldades financeiras. Mas, atendendo aos apelos locais, resolveu enfrentar a crise. Foi, todavia, curto seu período de governo, estendendo-se por 140 dias, precisamente até 1º de julho. Mais grave era a crise enfrentada pelo governo imperial, gerada pela avalanche republicana que assomava representativas camadas sociais.


Machado, o penúltimo presidente, recebeu dos manauenses singela homenagem. Uma localidade à margem do Rio Negro e próxima da capital, ocupada por imigrantes nordestinos, como hoje acontece, acolheu seu nome. Em nossos dias, constitui o bairro da Colônia Oliveira Machado, integrante da Zona Sul em que se encontra mapeada a cidade de Manaus no início da segunda década do século XXI.


• Barão do Solimões

Em 1.º de julho, assume a presidência Manuel Francisco Machado, barão do Solimões, nascido no Pará. Apenas dois dias depois, desembarca em Manaus o conde d’Eu, esposo da Princesa Isabel, regente do Brasil.


O primeiro genro imperial visita diversas repartições na Capital e, rodeado de parlamentares regionais, viaja em inspeção até o forte de Tabatinga, no rio Solimões, marco da tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru.


O governo do barão do Solimões teve curtíssima duração, pois o entregou a 21 de novembro. Nesse dia, foi substituído por junta governativa organizada pelos devotos da Proclamação da República. Coube-lhe, ao menos, o feito singular de cerrar as cortinas do governo imperial no Amazonas.


Outra coincidência, de cunho regionalista: coube a um paraense (Tenreiro Aranha) inaugurar a Província no Amazonas e, a outro, descerrar a mesma.

• Na Província, o último comandante do Corpo

Em 12 de setembro, assumiu o comando do Corpo Policial, José Pereira da Rocha Filgueira, major (acredito que do Exército, apesar de não ter apurado qualquer dado sobre este oficial), comissionado no posto superior. A pesquisa ocorreu tanto no Arquivo Histórico do Exército, em duas ocasiões, quanto em arquivos da corporação, hoje recolhidos ao Palacete Provincial, tão pouco no acervo do Arquivo Público do Amazonas.


Este comando, no entanto, perpassou a fase de transição do Império, pois segue comando o Corpo, enquanto a Junta governava. Será substituído em janeiro, por determinação do governador Ximeno de Villeroy.


Qualquer que seja sua corporação de origem foi o comandante que efetuou na Polícia Militar a passagem entre o Império e a República.


Rematado o período provincial, desejo estabelecer uma ligeira análise. Até que o tempo foi curtíssimo, apenas 13 anos, se, e somente se, tomar por base a reinstalação da Guarda Policial (1876). São contados 10 comandantes titulares, mais cinco interinos. Apesar desse número, no comando da Guarda Policial, depois Corpo Policial, não há um só amazonense.
Dos comandantes, são conhecidas as naturalidades de três paraenses, um baiano, um cearense e de dois fluminenses ou da capital do Império. É perfeitamente compreensível tanta dependência. Não havia qualquer possibilidade de mudança, diante dos regulamentos vigentes e da insuficiência de oficiais em geral.

terça-feira, agosto 24, 2010

Manáos versus Manaus V

Rua Lobo d´Almada, 1905

A rua Lobo d´Almada poderia hoje ser rua Adolpho Lisboa.
Em 1905, essa via era denominada de travessa da Matriz, porque se estendia até o flanco esquerdo do templo católico. Lisboa, prefeito de Manaus, efetuou a reparação da travessa, aterrando alguns pequenos cursos de água que impossibilitavam o nivelamento.

Realizada a restauração, o Jornal do Commercio, que apoiava incondicionalmente ao Prefeito Lisboa, dirigiu uma campanha visando substituir aquela denominação por rua Adolpho Lisboa.

A identificação por Lobo d´Almada assegura que não prosperou a iniciativa do jornal.
Rua Lobo d´Almada, hoje

segunda-feira, agosto 23, 2010

MANÁOS versus MANAUS (IV)

O registro mostra a expansão da rua Paraiba, em direção ao conjunto do Parque Dez. A prefeitura de Manaus, já em 1970, vencera o imenso declive que impedia a continuação desta artéria. Como se vê, pouco existia em construção.

Rua Paraiba, 1970

Depois chegaram os condomínios e o pedaço ganhou destaque, alcunhado de "Baixo Paraiba". Vieram outros residenciais e, por fim, o Shopping Manaura. Ah, sim, a rua mudou de nome.

Inauguração da expansão da rua Paraiba, 1972

Na foto, em 1972, o prefeito Paulo Nery cercado de militares. Aparecem o coronel Jorge Teixeira que, mais adiante, seria Prefeito de Manaus; o major Nicanor Silva, comandante dos Bombeiros; e (em primeiro plano) o capitão Osorio Fonseca, então comandante da Companhia de Trânsito da PM. Destaque mesmo para o carro oficial (a "lancha") do prefeito.

Rua Paraiba, hoje, próximo ao cruzamento
com a rua Belo Horizonte

sábado, agosto 21, 2010

Prefeitura de Manaus

Durou muito pouco - somente o mandato de Serafim Corrêa - para que um "dístico" espetaculoso (nem sempre bem entendido) viesse marcar as ações da Prefeitura de Manaus: VOCÊ MERECE UMA CIDADE MELHOR.
Para recordar: Serafim optou pela marca do Brasão municipal, que apesar da neutralidade, ainda houve quem sentisse um ranço português no símbolo. Para reforçar a ideia, o ex-governador Eduardo Braga optou pela Bandeira do Amazonas, esquecida, enganosa, para alguns. Na verdade, nenhum pouco conhecida, salvo a partir da inauguração do Parque Jefferson Peres, onde ela tremula, claro, ao vento artificial produzido pela indústria.

Agora, vem a Prefeitura de Manaus prometendo a cidade que nos merecemos. Então tá. Vou aqui mostrar uns detalhes que podem ser facilmente consertados.
Até breve, Manaus.
Avenida Eduardo Ribeiro

Avenida Getúlio Vargas

Avenida Sete de Setembro

Cemitério São João Batista

sexta-feira, agosto 20, 2010

Espaço Cultural II

                              

O escritor Milton Hatoum estará presente no Centro de Artes da Universidade do Amazonas (CAUA),  na próxima semana, no evento em sua homenagem.

Dias - 23 (segunda) e 24 (terça)

quinta-feira, agosto 19, 2010

Espaço Cultural

Cultura diferenciada

Benayas Inácio Pereira



Após o Cooper dominical, esparramei-me no meu desconfortabilíssimo sofá para relaxar os músculos e pôr minhas cãibras em dia. Para não perder o vício liguei a TV e, fiquei fuçando programas nos canais fechados uma vez que os canais abertos são para mim, inassistíveis, pois além de eu não ser evangélico, não compro bugigangas que são oferecidas em 24 pagamentos sem acréscimos, e fujo velozmente de programas de auditório.


Foi assim que passando pela TV italiana (RAI) deparei-me com um programa inusitado. Todo ele passado ao vivo e de dentro de um teatro. A peça apresentada era “Ali Babá e os quarenta ladrões”. A despeito de grande orquestra, de um maestro maravilhoso e um apresentador fora de série, até aí, nada demais. A grande novidade para mim, é que os atores e o público eram todos formados por crianças entre sete e 12, 13 anos no máximo. Os atores – todos caracterizados – tinham em média 13 anos. Pela minha visão, na plateia deveria ter umas 800 crianças entusiasmadas que aplaudiam e sorriam ininterruptamente. Mais um dado interessante: Os pais não acompanhavam os filhos, o que sugere que eles deveriam estar em algum outro local aguardando o desfecho do programa. Na apoteose, os atores pegaram várias crianças na plateia e dançaram com elas numa alegria singular. Terminada a execução da peça, milhares de balões foram despejados da galeria em cima da molecada assistente. Após tudo terminado passei a fazer um exercício de imaginação. Meditei o que estaria se passando nos teatros do Brasil naquele momento. A conclusão chegou num átimo. Estavam todos fechados!


É comum ouvir-se dizer que o brasileiro não gosta de ler, não aprecia música clássica e detesta a arte como um todo. Analisando friamente o assunto fica evidente que os únicos culpados deste desleixo cultural praticado no nosso País, são os próprios governantes. Eu pergunto: – Será que as crianças italianas são diferentes das nossas? As crianças são idênticas. Os nossos dirigentes e que possuem mentalidade desigual! Preocupados com as eleições que se aproximam os mandatários da nação não devem ter assistido a este programa, mas se apenas um deles tivesse visto, quem sabe ele pudesse copiá-lo, imitá-lo ou mesmo criar alguma coisa parecida?


Acho que um evento deste tipo, não fica tão mais caro do que um “cachezinho” dado para muitos “artistas” oriundos lá do Sul trazendo aparelhos sofisticados pesando toneladas e que, outra coisa não faz além de ferir nossos tímpanos com seus altíssimos decibéis enchendo-os de uma “breguice” sem conta e ritmo de péssimo gosto. A exceção fica para o Festival de Óperas, isto é, muito pouco para matar a sede de quem gosta do que é bom.


E quanto à cultura para as crianças? Para quê? O povo? Como diria o ex-presidente Getúlio Vargas: – O povo? Ora, o povo!


Jovens da Zona Leste no palco do Chamine, Manaus - Natal 2002

quarta-feira, agosto 18, 2010

Américo Antony (1895-1970)

Jornal do Commercio, 19 agosto 1970

Nesse dia, há 40 anos, desaparecia de nosso meio o Poeta das Flores. Américo Antony morreu em Manaus em aposentos do hospital Beneficente Portuguesa. Todos sabem, ele escreveu demais, Sonetos para todos os momentos que, lamentavelmente, repousam nas páginas arquivadas de nossos jornais, alguns desaparecidos.
Por isso, poucos conhecem a obra do representante do Simbolismo no Amazonas, atestado passado peloo saudoso padre-poeta L. Ruas, em crônica que se reproduz, despedindo-se do amigo-irmão.
Antony alcançou a Academia Amazonense de Letras em 1959, saudado pelo padre Nonato Pinheiro, para ocupar a Cadeira 28.
Ao falecer, havia publicado apenas um livro: Os Sonetos das flores, de 1968, que a Editora Valer reeditou em 1998.





Registro o evento, colando notícias da ocasião, quando respeitados admiradores escreveram uma página de saudade e louvor publicada no Jornal do Commercio, local, em 23 de agosto de 1970.



Américo Antony visto por Aureo Mello
Jornal do Commercio. Manaus, 23 agosto 1970


CEM ANOS DEPOIS*
L. Ruas

No dia 24 de julho de 1870, nascia na mineiríssima cidade de Ouro Preto Afonso Henriques da Costa Guimarães que ficou, posteriormente, conhecido pelo seu nome literário Alphonsus de Guimaraens. Nome que se identificou ao lado de Cruz e Souza, negro, catarinense, filho de pai escravo e mãe alforriada, com o movimento literário que passou para a história da nossa literatura com o nome de Simbolismo. 
Como acorreu com quase todos os simbolistas, Alphonsus de Guimaraens ficou, também por muito tempo quase completamente desconhecido e, ainda hoje é possível que muito bom (literato) não conheça a obra do “solitário de Mariana”. De fato, o Simbolismo foi o que se pode chamar uma “escola maldita”. Desde o seu aparecimento, e que cronologicamente ocorreu em 1893 com a publicação de Broqueis, foi sempre recebida pela “crítica” (ah! os críticos...) com desagrado, ironia e violentos ataques. Basta lembrar os de José Veríssimo que chamava ao Simbolismo de “fato de imitação internacional e, em muitos casos, desinteligente”. Parnasianismo, Naturalismo, Bilac, Machado de Assis eram as escolas e os nomes (entre outros) do momento. Eram a moda. Na verdade, por essa razão e por outras razões, o Simbolismo não colou e teve, como escola, uma existência relativamente efêmera. Depois da morte de Cruz e Souza, pode-se dizer que a escola simbolista como tal desapareceu. Isto em 1898, quando o “Dante negro” como o apelidou Alphonsus de Guimarães, morreu em Sítio, Minas Gerais, vítima de tuberculose.
Já dissemos acima que a “crítica especializada” nunca simpatizou muito com o Simbolismo. Depois do esfacelamento dos núcleos sulistas do Simbolismo os grandes poetas da escola ficaram olvidados, completamente esquecidos. Até ao início da segunda década deste século, quando ocorreu a grande revolução literária que foi o Movimento modernista, em 1922, imperou, na poesia, o parnasianismo e o helenismo de um Coelho Neto. O impacto do Modernismo concorreu ainda mais para o esquecimento daquela escola e foi necessário esperar até 1952, quando Andrade Muricy publicou o seu Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, para que se fizesse ou se começasse a fazer justiça aos grandes escritores e, principalmente, aos poetas simbolistas. (...)

Já os simbolistas utilizavam todas essas inovações e, talvez, por isso não caiu nas graças dos então donos da literatura brasileira cujos “deuses” eram, sem dúvida, os parnasianos. Fernando Góes, ao lado de Alceu Amoroso Lima, Otto Maria Carpeaux e outros, afirma categoricamente: “Não restam mais dúvidas que o melhor da nossa poesia modernista tem suas origens nos poetas simbolistas. Suas ousadias e experiências foram bastante fecundas, e aí estão para atestar o quanto os modernistas de 22, e mesmo os de agora, lhes devem. De resto, um dos chefes da revolução de 1922 – Oswald de Andrade, reconheceu isso quando declarou, certa vez, que “a linha ascendente da moderna poesia brasileira deriva do Simbolismo”.

Mas não foi só no sentido de profundidade, não foi só em verticalidade que se verificou a influência do simbolismo. Também no plano horizontal, no plano de extensão esta influência é notória. Na verdade, o Simbolismo não ficou circunscrito como crêem alguns às brumosas regiões do Sul do País. É verdade que Curitiba foi o grande núcleo do Simbolismo. Mas, pouco a pouco, ele foi se estendendo para outras regiões. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Bahia, Ceará (a Padaria Espiritual), Piauí (Da Costa e Silva, Jonas da Silva), Maranhão (Maranhão Sobrinho), Pará (onde se fundou o Apostolado Cruz e Souza).

E no Amazonas? Chegou até aqui a influência do Simbolismo?

No dia 18 de agosto de 1970, justamente cem anos do nascimento daquele que foi um dos grandes poetas do Simbolismo e um dos grandes poetas brasileiros, Alphonsus de Guimaraens, morria na Beneficente Portuguesa de Manaus, um dos grandes poetas amazonenses, e sem dúvida, o maior poeta simbolista do Amazonas, Américo Antony.

Não me convém entrar, nesta simples crônica, e em comentários sobre a poesia e a presença de Américo Antony. Poeta, simbolista, irmão a quem muito todos nós devemos e a quem sempre estive ligado muito espiritualmente. Soube que estava hospitalizado através do meu e nosso amigo Geraldo Pinheiro e pelo mesmo soube do seu estoicismo espiritual diante da doença e da morte.

Américo Antony é a prova inconteste que o Simbolismo continua influenciando nas nossas letras.

Esta crônica de cem anos é minha homenagem ao poeta de Os Sonetos das Flores, que já deve ter-se encontrado com Alphonsus nas sidéreas lavescências das místicas regiões etéreas...
* O Jornal. Manaus, 23 agosto 1970





terça-feira, agosto 17, 2010

MAJOR SALVIO BELOTA

Passaram-se 20 anos, desde a madrugada de 17 de agosto de 1990, quando o major Sálvio “morreu, fazendo o que mais gostava: salvar vidas”.

A Crítica. Manaus, 18 agosto 1990


No desastre que vitimou fatalmente o major Sálvio de Souza Belota (38a), o Corpo de Bombeiros sofreu, com certeza, a mais expressiva baixa de sua história. Sálvio exercia o subcomando do Corpo, e era usual avisar ao comando quando um sinistro, pela sua complexidade, exigia reforço na operação. Quem relembra o desastre é o subtenente Nirceu Coelho da Cruz:
Quando comandava uma operação no combate ao incêndio que destruiu a Importadora Jenny, localizada na esquina das ruas Henrique Martins com a Lobo D’Almada, o major Sálvio Souza Belota, subcomandante do Corpo de Bombeiros, morreu ao ser atingido por uma parede em chamas, ontem de madrugada. (A Crítica, 18 ago. 1990)
Estava de serviço de adjunto ao oficial de dia e, somente por isso, permanecera no Quartel, quando o comboio se deslocou até a Importadora Jenny. Assim que a situação se agravou, fui acionado para, como de praxe, avisar ao comando. Então, telefonei para a residência do major Sálvio que, de pronto, se dirigiu ao local. Aconteceu o desastre, porém, somente tomei conhecimento pelo pessoal do serviço de rádio. E, como na guarnição de serviço se encontrava o tenente Sávio, houve aquela confusão sobre a identificação do morto. Esclarecida a identidade, lamentei sob todos os aspectos que o major Sálvio Belota tenha partido.
Os jornais de Manaus descreveram a tragédia por dias seguidos com letras destacadas e a cores. Ampla foi a comoção, tanto na caserna quanto entre os inúmeros amigos, visto a amizade desfrutada pelo falecido oficial. Seu corpo foi velado no quartel do Corpo de Bombeiros e, conduzido na Auto Escada magirus, foi sepultado no cemitério São João Batista.

A Crítica. Manaus, 18 agosto 1990

O Estado do Amazonas e a Prefeitura de Manaus dispensaram ao falecido major Salvio merecidas homenagens. A Prefeitura dotou uma escola com seu nome e, recentemente, o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas deu a uma medalha o nome do companheiro morto no cumprimento do dever.

segunda-feira, agosto 16, 2010

JORGE TUFIC - 80 ANOS (II)

Agradecendo a manifestação aqui expressa, JT enviou-me o texto publicado no jornal O Estado, de Fortaleza (CE), que reproduzo.
JORGE TUFIC, OITENTANOS*

João Soares Neto, escritor

Exato nesta sexta-feira, 13, a cidade de Sena Madureira, lá no longínquo Estado do Acre, símbolo da tenacidade de cearenses, sulamericanos e de fenícios que por lá aportaram, nascia há oitenta anos, um menino chamado de Jorge Tufic, aquele que seria o maior poeta da região norte, um rio pleno de sonetos, a jusante e à montante que se fez pororoca, turbilhão e deu com os pés molhados nas águas rionegrinas/manauaras para ali estudar, fincar raízes e, em seguida, receber louros como “O Poeta do Ano”, em 1976, com o veredito do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas.
E como “estas rosas que alteram nosso dia/ e abrem na tarde a súplica dos dedos/ que se libertam, pássaros, no barro/ E tocam, com sua forma torturada, a flor do azul contida e descontida/ neste adágio de pedra e de luar”. E o luar da Academia Amazonense de Letras fez-se clarão para festejar o ingresso de Jorge Tufic em seus quadros. Honrado e glorificado que já era como poeta, jornalista e representante da União Brasileira de Escritores na Amazônia, a região que lhe inoculou o jambo da sua tez e o coração de menino inquieto quando via que “um tear e uma aranha/ ponteiam o meu destino/ quando o tear se esgota,/ a aranha pega o fio/ e sobe”.
E Tufic ascendeu e mereceu ter seus poemas festejados na antologia “A Nova Poesia Brasileira”, coordenada pelo piauiense Alberto da Costa e Silva, da Academia Brasileira de Letras. Enciumado, Walmir Ayala, veio de seus pagos gaúchos, em 1965, para apenas mudar o título da antologia e entronizar Jorge Tufic no panteão da “Novíssima Poesia Brasileira”. O poeta, hoje acreano-amazonense-cearense se declara “habitante da noite, volta e meia/ danço e cavalgo estranhas partituras/ onde a poesia? Látego e correia/ a suíte é rosa, música e nervuras/ A lua imensa bebe, nas alturas/ todo o clarão que sobe dos teus dedos/ o mar se expande em conchas e lacunas/ solos e flautas contam seus segredos”.
Pelos desígnios insondáveis dos deuses das águas, Jorge Tufic apaixonou-se pela Praia de Iracema e aqui fundeou suas estrofes. Foi lá que o conheci há décadas. Nós, os da terra, desconfiados, pedimos que alguém sem jaça, com raça, talento e graça o avalizasse. E eis que o poeta Francisco Carvalho, do seu exílio familiar na Francisco Lorda, atestou, deu fé e tornou público que ele era “Mestre incontestável do soneto, essa teia mágica que ainda intriga os pretendentes de Penépole, Tufic passa incólume pelas ‘perpétuas grades’ (Augusto dos Anjos) dessa autêntica jaula medieval, com certeza uma das mais polêmicas de todas as modalidades de poemas já concebidos pela fantasia”.
Com esse aval crítico-poético de Carvalho as comportas das reservas dos letrados locais foram abertas, título de cidadania recebeu e, hoje, todos nós, menores que ele, o reverenciamos com a alegria dita por Madame de Staël em De l’Allemagne, “La poésie est le language naturel de tous les cultes”. Jorge Tufic, és culto, és poeta.


* Crônica publicada no jornal O ESTADO. Fortaleza, 13/8/2010

domingo, agosto 15, 2010

PMAM: POLÍCIA RODOVIÁRIA

Jornal do Commercio. Manaus, 15 agosto 1970


Há 40 anos, com o Governo Militar (1964-1985) em plena marcha de ocupação do País, nenhuma dificuldade teve a Policia Militar do Estado para ocupar “manu militari” a Guarda Rodoviária (GR), que pertencia ao Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas (Deram).

De fato, a GR estava subordinada à Divisão de Trânsito do Deram, afinal o Estado administrava somente uma rodovia, ou seja, a estrada que liga Manaus a Itacoatiara. Seu comandante era João Verçosa (conhecido por Jonga, irmão do desembargador Mário Verçosa e cunhado do ex-governador Gilberto Mestrinho) e a GR estava aquartelada no entroncamento da rua Recife e avenida Constantino Nery com a estrada dos Franceses, o que constituía autêntica “babel” para a circulação de veículos, somente solucionada com a construção do complexo viário de Flores. No local, opera hoje uma fração dos Bombeiros.

A GR possuía dois pontos de fiscalização, postados em “residências” do Deram: na primeira balsa no rio Urubu, hoje coberto por ponte, e na cidade de Itacoatiara.

Nada oficializou a motivação do apresamento da GR, mas, conta uma lenda urbana que o “desrespeito” de um guarda rodoviário ao comandante da Polícia Militar, coronel Maury Silva (1967-1971), amigo de frequentar com a esposa a residência do casal governador Danilo e Violeta Areosa, causou o infortúnio.
Certo mesmo é que, em 14 de agosto de 1970, o tenente-coronel Pedro Lustosa (foto), recém vindo de um curso nos Estados Unidos, foi designado para o comando da Guarda Rodoviária.

Quatro meses depois, em 31 de dezembro, o governo regularizou a nova unidade policial, criando o Batalhão de Policiamento Especial (BPE), ainda sob o comando do tenente-coronel Lustosa. Apenas em fevereiro de 1971, ocorreu a nomeação deste oficial para o comando que, no entanto, ele logo transferiu ao capitão Ruy Carvalho, a fim de assumir a Casa Militar do governador João Walter de Andrade (1971-75).
Em abril de 1971, o tenente-coronel Helcio Motta assumiu o Batalhão e nele permaneceu até novembro, quando o passou ao major Osório Fonseca Neto. Em abril, agora de 1972, o BPE foi bipartido, dando origem as Companhias de Trânsito (sob as ordens do major Osório) e Rodoviária (comandada pelo major Humberto Soares).

Quartel da Companhia de Polícia Rodoviária, c1977


Finalmente, em dezembro de 1972, o Governo, ao promover a reestruturação da Polícia Militar, consolidou a extinção do BPE.

sábado, agosto 14, 2010

Deu no Jornal do Commercio IV

São três memoráveis cidadãos, competentes no fazer, cada qual no seu pedaço. Encontrei-os num dia aziago - 13 de agosto de 1971, desconhecendo se era sexta-feira, tal como ocorreu ontem, quando brindamos aos oitentanos do poeta Jorge Tufic.
Localizei a trindade nas páginas amareladas do Jornal do Commercio, em uma das tantas pesquisas que realizo, também não sei bem pra quê.

Em ordem alfabetica: Aldísio Filgueiras, jornalista e poeta e imortal. Se não for nessa linha, me perdõe, pois sei que o "poetinha" saca muito mais, parceria de teatro e outros Dessana, dessana.
A foto de jornal é uma droga, mas, um detalhe sobressai. O registro de uma fã diante da exuberante figura, realizado a Bic no salão de leitura da biblioteca: Aldísio, meu amor.

Aldísio Filgueiras

Outro é Joaquim Marinho, do cinema, da filatelia, do rádio. Tem mais outras atividades, mas hoje a idade e o peso vêm lhe tomando o tempo e restringindo até "aquela" busca incessante.
Que bonito, Marinho de óculos, com vasta cabeleira e pouca calva, e um ar de que "tudo está no seu lugar".

Joaquim Marinho

O terceiro é o Serafim Corrêa (foto), da política e da política. Quando da foto, dedicava-se à Receita e a escola. Apesar da pose de pensador, há um instrumento em sua frente destoando: uma faca. Há como ver, ou estou enganado?  O detalhe estimulou a publicidade.

Dr. Roberio Braga

Registro o aniversário de Roberio Braga, secretário de Estado da Cultura, na data de hoje. Aprendi no contato mútuo e proveitoso do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, que ele não gosta de lembrar a idade. Por isso, talvez, o Dicionário da Academia Amazonense de Letras, onde ele ocupa uma Cadeira, não disponibilize o detalhe. Não importa.

Desejo apenas registrar a efeméride, publicando uma foto dele retirada de jornal da cidade. Na ocasião do "retrato", Roberio concluía, proclama a matéria jornalística, com brilhantismo o curso médio – o clássico, realizado no Instituto de Educação do Amazonas.

Roberio Braga, ao concluir o ensino médio no IEA


Desde então, já prometia a liderança e a notoriedade que desfruta, por seu talento em todos os empreendimentos, inclusive o de servir em sete governos, alguns bem distintos. Espero vê-lo em breve mudar este número bastante cabalístico. A chance já está à porta.




sexta-feira, agosto 13, 2010

JORGE TUFIC - 80 ANOS

O poeta Jorge Tufic comemora 80 anos, nesta sexta-feira, 13 de agosto. A festa principal terá lugar em Fortaleza (CE), onde o poeta reside, décadas depois que nasceu em Sena Madureira (AC) e outro tanto que conquistou o Amazonas. Quando falo dessa conquista, lembro que lhe pertence a letra do Hino do Amazonas e, no corrente ano, recebeu o título de Cidadão do Amazonas. Basta. Mas, tem mais.
Jornalista para sempre, porém, com mais afinco nos primeiros tempos de Manaus, servindo à empresa Archer Pinto, nos extintos periódicos O Jornal e Diário da Tarde.

JTufic (à esq.) entrevista para O Jornal. Manaus, 1952

Um passo adiante, e aconteceu a fundação do Clube da Madrugada, em 1954. JT não estava na primeira madrugada, chegou pouquinho depois, para assumir a presidência e incrementar o papel do CM. Coordenou com outros "madrugadenses" uma página literária em O Jornal. 

O Jornal. Manaus, 8 maio 1956
Então trouxe ao público suas publicações, seus poemas e prosas. Como ocorreu com Fatutação do ócio, lançado sob o "mulateiro",  "sede" do Madrugada, e apresentado por seu compadre, o falecido padre L. Ruas.

Competente no que escreve, segue reconhecido pelos parceiros (coluna de Arthur Engracio, foto) e leitores. Ainda em nossos dias.
Passou a direção do CM para outros companheiros, mas seguiu fiel ao espírito livre das madrugadas. Para celebrar os 30 anos da agremiação, Tufic publicou um livro contando as ousadias de alguns jovens e outros nem tanto.

Veio a Manaus para as comemorações do jubileu de ouro do Madrugada (2004). E, na Academia Amazonense de Letras, onde ingressou em 1968, sendo hoje o segundo membro mais antigo, proferiu as palavras que estão aqui reproduzidas. Para melhor aproveitamento da leitura, nada como uisque e gelo no copo.
Por esse 80 e por mais outros, tim-tim, tim-tim, para você, nobre poeta J. Tufic!!!!! Em Manaus, hoje, o Chá do Armando será sorvido em sua homenagem.
Podemos dizer, inicialmente, que o Clube da Madrugada tem sido uma “vítima” de todos os alertas que pregou. Em outras palavras, a cultura de mirante prefere fazer uma tese para o Santo Daime, divulgar a sonoridade de um fato ocorrido em Paris, ou repetir o desabafo da “leseira baré” que se retrata e se confirma na leitura de seu próprio fracasso, a entender, com a mesma dose da emoção com que fora escrita, aquela frase “histórica” do velho mulateiro: “Pois foi. Jovens se reuniram sob a fronde desta árvore; e aconteceu. Quando madrugada, o clube surgiu. Era novembro, 22, 1954. E fez-se.”



36 anos depois, não será a obra de cada um, portanto, que irá servir de parâmetro para uma avaliação do Clube da Madrugada. Nada, aliás, ficou documentado de ringues dialéticos, onde tudo era levado ao banco dos réus. Em nenhum momento de nossa História a atualidade foi vista com tamanho espírito de modernidade. Ao sucatear os valores do passado, o movimento em que logo se transformou não visava, com isso, uma categoria de tempo, mas como esse tempo tinha sido desbaratado sem tomar consciência do espaço que ocupava. Assim, no item Literatura do Manifesto, “o CM inspira-se nos elementos formadores de nosso ambiente” etc. E daí segue. A dedicação exclusiva e o sentimento gregário, aliado à nossa diversidade vocacional, desdobrou-se, todavia, numa busca recíproca de intercâmbio e disciplina. Surge então a Revista Madrugada e surgem os departamentos. É incrível imaginar, deste modo, o público que se formava para assistir a esses debates, dentre os quais a homenagem póstuma (sempre criticada e tumultuada, no bom sentido) aos gênios porventura falecidos: Einstein, por exemplo, mereceu de Afrânio Castro o panegírico intitulado O Universo Físico e Humano de Albert Einstein, título hoje anunciado como de obra inédita do escritor Isaías Golgher, de Minas Gerais.


Por estes fragmentos de memória, custa-nos entender como fomos apressados na elaboração de nosso livro “Clube da Madrugada: 30 Anos!” Sabemos hoje que um livro assim deve ser obra de muitos, tantas são as facetas que brilham no escuro das dificuldades enfrentadas, e dos obstáculos vencidos. Os grandes eventos, como o Festival de Cinema e a Feira de Artes Plásticas da Ponta Negra, entre outros, marcaram, sem dúvida, a predominância de uma dessas atividades e da importância que deram ao movimento, como expressão de vanguarda. Confessamos, porém, que nem mesmo com a ajuda de todos os meios de comunicação e documentação, que então nos faltavam, nos seria possível resumir os estilhaços, as pedras e os diamantes desse abrasante big-bang. O fazer, após o saber das coisas, parecia o bastante para que todos aqueles pioneiros, já esquecidos do caminho de casa, se entregassem ao prazer da convivência intelectual e, juntos, levantassem muros contra a preguiça, o medo, a superficialidade e o senso comum, provincial e viscoso, que em tudo infiltrava e apodrecia! Que motivação podiam ter estes rebentos da solidão equatorial, diante de um mundo vencido pela guerra e completamente insensível diante de um poema ou de uma paisagem?


Simbolicamente apenas, a sede do Clube da Madrugada é no pé daquele "mulateiro" que se ergue na Praça Heliodoro Balbi, em frente ao Quartel da Polícia Militar. A liberdade de reunir, mas sem liberdade de decidir, a menos que sobre coisas de somenos, tem sido um dos segredos de sua longevidade. Assim, o CM pode estar reunido, ao mesmo tempo, em diversos lugares. Isto já aconteceu com muita freqüência. Com o mínimo de três clubistas, ou madrugadenses, como fomos denominados pelo Guimarães Rosa, o Clube está reunido. Um dia, na Lapa (RJ), o Antísthenes Pinto reuniu o Clube da Madrugada para receber o poeta Nauro Machado e o romancista José Louzeiro. Isto, embora sendo uma decisão importante, pode acontecer fora da sede. Lembramos, aqui, um fato histórico: em certo final de noite, no Bar Avenida (onde hoje funciona o Bradesco, na Eduardo Ribeiro), o Clube parecia estar reunido apenas no salão do restaurante, enquanto que no reservado, uma outra reunião do Clube tratava da destituição da Diretoria, cujos membros compunham a mesa do restaurante. Percebendo a conspiração, o presidente do Clube pediu ao proprietário do estabelecimento para cerrar as portas do reservado, que dava para uma outra rua. O resultado foi que todos os “conspiradores” foram obrigados a sair pelo restaurante. E ali, tomando assento à mesa da Diretoria, amanheceram festejando a página de Domingo... (a página de domingo, no O Jornal, da empresa Archer Pinto, era mantida pelo CM e divulgava o trabalho de seus membros).


Quiséramos nós que o Clube da Madrugada, que no fundo é convivência e criatividade pudesse manter-se aberta para os jovens durante certo período de sua existência, quando os jovens que o descobriram na atmosfera que se renova a cada dia, pudessem lembrar que a gente passa, mas o Clube fica. Hoje, felizmente, ele volta a receber esses jovens que precisam conhecer a sua história. Mas torna-se difícil conta-la para eles, agora que o cenário é bem outro, e as palavras, também.