CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, junho 01, 2014

FUNDAÇÃO DE MANAUS


Ouvindo orientação do escritor e poeta Rogel Samuel sobre o novo livro de Robério Braga, Manáos... Manaos.. Manaus (Valer, 2013, R$ 35,00 na livraria Saraiva) e para atender a solicitação da Isabelle Valois, publico uma página do mesmo.


O COMEÇO DE MANAUS


Tenho ouvido muitas pessoas pedirem respostas claras a respeito do surgimento do lugar, da razão do nome de Manaus e sua grafia mais antiga, certamente porque os livros e as escolas pouco tratam da história da cidade e, quando tratam, padecem de bibliografia séria a respeito, muito embora já se tenha publicado bastante, especialmente nos últimos anos.


De forma mais simples pode-se afirmar que Manaus nasceu em 1669, quando começou o núcleo urbano em derredor do Forte de São José da Barra do Rio Negro, com a capela oferecida a Jesus, Maria e José, construído de forma simples, na beira do rio Negro, a três léguas acima do encontro das águas que se transformou em cartão-postal, nas cercanias de onde se encontra o antigo prédio do Tesouro do Estado, na região portuária.


Ali se reuniram famílias de posses, paisanas, urequenas, manáos, júris, que foram os primeiros habitantes da região militar a que os carmelitas, pouco depois se uniram com a bênção de Nossa Senhora da Conceição que depois se tomou padroeira. Por aqueles anos era apenas o Lugar da Barra, reunindo um pequeno grupo de portugueses, militares autoridades e poucos índios agrupados pelos missionários.


Na evolução histórica foi se transformando, paulatinamente, em Aldeia de São José da Barra, Lugar da Barra do Rio Negro até chegar a ser chamada de Vila de Manáos. Cidade da Barra do Rio Negro e Cidade de Manáos no largo período de 1669 a 1856, indo e vindo com estes nomes por diversos processos políticos, governos, intervenções, juntas governativas, com ou sem o próprio senado da câmara como era designado o grupo de legisladores locais naqueles anos.


O ouvidor Sampaio que por aqui passou em 1774, considerou que o lugar tinha todos os requisitos para a 'cômoda, útil e estável' fundação da capital, principalmente por ser o centro de três rios principais da capitania: Madeira, Negro e Solimões. Era mais próximo ao Pará, abundante em pesca, com terras qualificadas para a produção e pedras suficientes para obras. Poucos anos depois, em 1786, quando Alexandre Rodrigues Ferreira passou em suas pesquisas, já se dividia em dois bairros, entre os igarapés da tapera dos Maués e da Tapera dos Manáos. Começou a crescer e a ser ordenada como capital da região com Lobo d' Almada que retirou a capital de Barcelos.


Desde 1791 o Lugar da Barra vinha sendo considerado a capital do Rio Negro, mas recebeu o nome de Manáos pela primeira vez em 1832, com o Código Criminal do Império, quando foi elevada à categoria de Vila e cabeça de Comarca, constituindo a sua própria câmara de vereadores, passando a ter juiz e pelourinho, juiz de órgãos e promotor de justiça, sendo criada a Comarca do Alto Amazonas, elementos que davam um novo foro à localidade.


Em 24 de outubro de 1848, pela lei 145, a então Vila de Manáos, como se escrevia e se escreveu durante anos e anos, foi elevada à categoria de cidade, mas foi restabelecido o nome de Cidade da Barra do Rio Negro que só foi modificado para Cidade de Manáos em 1856, permanecendo com esta grafia - Manáos –, oficialmente, até o ano de 1937, quando Álvaro Maia publicou o primeiro decreto governamental grafando de maneira diversa (Manaus), mas o Diário Oficial do Estado só incorporou esta nova forma em 14 de julho de 1939.

A velha forma de escrever o nome da cidade ainda permaneceu sendo usada em vários documentos comerciais entre eles a lista de telefones. Para harmonizar a grafia ainda se passaram alguns anos, certamente porque tem razão o ditado popular de que o hábito do cachimbo torna na boca torta, ou porque foram muitas as formas como era escrita, anos seguidos: Manou. Manau, Manao, Manaó, o que corresponderia, seguindo alguns estudiosos, a Manaha, Maneve, Macnal. Manouh, Manouâ, até chegarem a Manáos, que perdurou por longos anos e foi a maneira mais aceita antes da composição atual.


Eis aí dicas para que se conheça melhor o começo de Manaus, e as idas e vindas do poder e do seu próprio nome.