CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, julho 31, 2019

MAÇONS EM ITACOATIARA



Compartilhado do Jornal do Commercio, 18 de julho de 1969




O flagrante acima é da delegação da III Assembleia de Maçons do Brasil, percorrendo as principais ruas de Itacoatiara, durante a visita que realizaram àquela cidade. Na capital itacoatiarense receberam várias homenagens de autoridades e povo em geral.


Nota própria:
O encontro maçônico aconteceu em Manaus, ha 50 anos. Acredito que o deslocamento a Itacoatiara deve ter sido realizado por navio da Enasa, um dos navios da "frota branca". Por quê? Porque a rodovia que liga Manaus àquela cidade ainda estava em construção, apesar de permitir o deslocamento. Seria um castigo e desconforto para os engravatados maçons enfrentarem a poeira.

Conheci a rodovia Torquato Tapajós em setembro de 1967, quando da inauguração da Usina de Energia Elétrica. Desembarquei na Velha Serpa coberto de poeira. O retorno aconteceu em navio da Enasa. Por isso acreditar que o deslocamento da embaixada ocorreu por meio fluvial.

INAUGURAÇÃO DE EDIFÍCIO: 50 ANOS


Manaus ganha moderna (sic) edifício

Jornal do Commercio, 14 agosto 1969

Foi inaugurado ontem o moderno edifício da firma Benchimol & Irmãos localizado na esquina da rua Marcílio Dias com a Praça Roosevelt, sendo as suas linhas modernas, todo revestido de pastilhas. Na parte térrea funcionará mais uma loja Bemol, para a venda de eletrodomésticos, e nos seus 5 andares confortáveis apartamentos e salas para escritório.
É mais uma contribuição do grupo comercial comandado pelos irmãos Samuel e Saul Benchimol, para o embelezamento da nossa cidade.

NOTA:
A inauguração do edifício ocorreu em 13 de agosto de 1969, e este continua no mesmo endereço, apenas a Praça Roosevelt desapareceu, ao ser incorporada à Praça Heliodoro Balbi (ou da Polícia), com a reforma que o prefeito Jorge Teixeira (1975-79) produziu no Centro Histórico.

Até então, ano de 1969, a rua Marcílio Dias era transitável, basta se observar na foto a disposição dos carros. Teixeira instituiu as ruas para pedestres exclusivamente, assim reduzindo ou fazendo desaparecer a circulação de veículos em favor dos transeuntes.
Este prédio, que completa 50 anos de funcionamento, foi inaugurado com uma loja Bemol, seu proprietário. A loja foi transferida e hoje, de terceiros, serve para o comércio de quinquilharia importada.

terça-feira, julho 30, 2019

BANESPA EM MANAUS: 50 ANOS

Onde se lê BANASPA, leia-se BANESPA (Banco do Estado de São Paulo), instalado na rua Guilherme Moreira, há 50 anos. A edificação ainda permanece na mesma artéria, apenas que hoje o referido pertence ao Banco Santander. Foi no tempo em que havia um número expressivo de Bancos, com agências por todo o Centro. Então, veio a absorção dos menores e, assim, em nossos dias meia dúzia de siglas dominam a Cidade. O poderoso banco do governo de São Paulo, como o nosso lembrado BEA, foi incorporado. A reportagem foi compartilhada do Jornal do Commercio (2 agosto 1969).


Os flagrantes acima são da inauguração do Banco do Estado de São Paulo, cuja agência está localizada à rua Guilherme Moreira; em cima, o moderno prédio, com jardim suspenso, vendo-se as pessoas que chegavam, para a solenidade; embaixo, a primeira dama do Estado, senhora Violeta Mattos Areosa, quando cortava a fita simbólica, sob as vistas dos governadores Abreu Sodré (SP) e Danilo Areosa (AM), e do dr. Lélio de Toledo Pizza, presidente do estabelecimento. 

segunda-feira, julho 29, 2019

BLUE BIRDS BAND: 52 ANOS


O grupo que foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Amazonas em 2018 fará um concerto gratuito para comemorar a data de aniversário.


Compartilhado do site D24am, de hoje.
Com o concerto ‘Bossa Sempre Nova’, a Blue Birds Band comemora seus 52 anos de existência, com um show no Teatro Amazonas, nesta segunda-feira (29), a partir das 20h. O show contará com participações especiais do cantor Felício, o Coral da Assembleia Legislativa e o cantor Cileno.
Para prestigiar o evento, os interessados devem levar um quilo de feijão, arroz ou leite, que serão doados ao Instituto Filippo Smaldone e a Associação de Portadores de Necessidades Especiais.
O repertório do concerto contará com grandes nomes da Bossa Nova, como João Gilberto, que homenageado no final do show, além de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Nara Leão e Roberto Menescal. Grandes sucessos como ‘Chega de Saudade’, ‘Dindi’ e ‘Barquinho’ estarão no repertório.
Compartilhado do Jornal do Commercio, 20 agosto 1969
Os pássaros que cantam mesmo
Jornal do Commercio, 20 agosto 1969
Identificado nos círculos jovens de Manaus como o conjunto dos pássaros “que cantam mesmo”, o The Blue Birds é visto no clichê em um momento de sua apresentação, sábado último, na série classificatória da III Lira de Prata, que o Cheik Clube vem promovendo com êxito.
Aquela noite, seu concorrente foi o conjunto Os Embaixadores, que, como ele, também se classificou. Agora, o aplaudido grupo musical, cujo bom gosto e arte são proclamados pelos maiores experts amazonenses em música, vai defrontar-se com o “Show.6”, continuando, assim, sua caminhada para conquistar mais uma vez a Lira posta em disputa pelo Cheik.

domingo, julho 28, 2019

EFEMÉRIDES MANAUARAS



Dois acontecimentos cinquentenários: a morte de Auton Furtado (89 anos) que, em Manaus, foi morador do Castelinho da Vila, na rua São Luís – Adrianópolis, por algumas décadas. No interior, foi “coronel de barranco” nos rios Purus e Juruá. Entre tantos filhos, João Mendonça Furtado foi prefeito de Manaus, e Auton Furtado Junior, presidente do Ideal Clube, nos tempos áureos desta agremiação.

Compartilho do Jornal do Commercio (13 de julho de 1969) o texto seguinte:


Faleceu às 10,45 horas, de ontem, com 89 anos de idade, o Coronel [Guarda Nacional] Auton Furtado, figura respeitada e querida na cidade, seringalista dos mais conceituados de Manaus.
Filho do Nordeste, veio moço para o Amazonas, e enfrentando todas as dificuldades do interior, trabalhou arduamente durante muitos anos, conseguindo formar sólido patrimônio financeiro. Seu nome era uma bandeira de honradez e dignidade em todo os rios Purus e Juruá. Atravessou diversas fases da história do Amazonas. Desde o apogeu da borracha, à debacle econômica, e às duas guerras mundiais, atravessando como uma figura legendária, essas épocas da vida do Estado.Seu desaparecimento causou grande consternação em toda a cidade. O sr. Auton Furtado deixa os seguintes filhos [18]: Joanita Mendonça Furtado (Irmã de caridade); Maria Machado e Silva; João Mendonça  Furtado; Nazaré Mendonça Furtado (Irmã de caridade); Cecilia Furtado Alvares; Ester Furtado Goulart; Maria Luiza Furtado Nobre; Maria José Furtado Rosas; Mundita Furtado Albuquerque; José Mendonça Furtado; Tereza Furtado Borba; Lucy Furtado Henrique; Dilce Furtado Gomes; Dulcila Furtado Constantino; Elza Furtado Abrahim; Auton Furtado Júnior; Carlos Augusto Furtado e Sônia Furtado Monteiro.Após a celebração de Missa de Corpo Presente, na capela do Patronato Santa Terezinha, foi realizado o seu sepultamento às 18 horas, no cemitério de São João Batista.

* * *
O outro acontecimento cinquentenário assinala a visita de alunos da Escola Normal de Parintins (AM) ao governador do Estado, no Palácio Rio Negro. Na foto, retirada do Jornal do Commercio (29 agosto 1969), destaquei o governador interino, deputado Rafael Faraco, nascido em Maués (AM), e o ajudante de ordens, então capitão Odacy Okada, nascido em Parintins.
Okada (à esq..) e Faraco, ao lado, no Palácio Rio Negro
Com ambos tive certa aproximação: menos com Faraco, na Faculdade de Direito do Amazonas, ainda na “Jaqueira”, entre 1969-71. Bem mais com o Okada, com quem me liguei desde o ingresso no NPOR, aos 18 anos. Depois, por longos anos no quartel da Praça da Polícia e adjacências, até que a aposentadoria (reserva) nos alcançasse nos anos 1990. Ainda nos vemos, esporadicamente, no encontro mensal da AVC (Associação dos Velhos Coronéis). 

Parintins no Palácio

Os 55 estudantes parintinenses que ora visitam a capital amazonense, acompanhados de professores da Escola Normal daquele município, estiveram ontem no Palácio Rio Negro, onde foram recebidos pelo deputado Rafael Faraco, presidente da Assembleia Legislativa que se encontra à frente do Poder Executivo em razão da viagem que o governador Danilo Areosa está empreendendo. Conversou demoradamente com os jovens, que na oportunidade se manifestaram entusiasmados com o que têm visto em Manaus.

sábado, julho 27, 2019

CRIME QUE ABALOU A REPÚBLICA DO PINA (4)



 Além desses três personagens: Sebastião Lustosa Brasil, vulgo “padre”, o morto; Mudinho, ainda que mudo, falou, e o poeta Paula e Souza que, sem dúvida, poetizou. Restava inserir em cena o personagem primordial: Luís Carlos, o matador do “padre”.

Luís Carlos, Jornal do Commercio,
22 maio 1969


Em verdade, o Café do Pina nada tinha com o crime, apenas emprestei a denominação pelo inusitado dos personagens já descritos.  Ainda que suscintamente, vamos aos fatos. Em 9 de maio de 1969, o corpo do Sebastião Brasil, conhecido por “padre”, foi encontrado em um varadouro do km 10 da rodovia (hoje) Torquato Tapajós, já em decomposição. Trazia um projetil de revólver 22 no crânio. Daí o epiteto jornalístico: Crime do Varadouro.

Jornal do Commercio, 22 maio 1969
Vira e mexe, a Polícia aventou algumas hipóteses para a morte: 1) envolvimento em guerrilha (o país passava pelo regime militar); 2) envolvido no assalto à agência de aviação Cruzeiro do Sul; 3) desforra da família da noiva (defloramento); 4) atormentado por problemas, preferiu o suicídio.

Ao final do mês, o comissário Salum Omar, encarregado inquérito, solicitou a prisão do acusado da morte: Luís Carlos de Souza Leão (primo do morto), de 22 anos, residente na rua Saldanha Marinho, 789 – Centro. O juiz competente acolheu o pedido, e mandou recolher o acusado à Penitenciária do Estado, então na avenida Sete de Setembro.

Pouco adiante, conforme relatado no post (2), o Mudinho “falou” que o “padre” comeu um cachorro-quente em sua banca, dias após sua morte. Com essa revelação, o advogado de Luís Carlos, dr. Olavo Faria, solicitou a soltura do acusado e a exumação do cadáver. E conseguiu.
Enquanto em liberdade, Luís Carlos acabou por se envolver com drogas no bairro de Educandos e, em consequência, foi reencaminhado ao presídio. A exumação cadavérica foi realizada pela manhã, no início de novembro, sob a direção do médico-perito Antonio Hosanah, e com a presença inclusive do próprio juiz, dr. Asclepiades Eudóxio. Enfim, para desconforto do indiciado, o corpo do “padre” estava na cova. 

Recorte de O Jornal, 20 novembro 1969

Ainda não cheguei ao final dessa tragédia, vou continuar catando papeis. Somente sei que o meu colega Brasil, como o tratávamos, pagou um custo elevado pela vida. Vida tão pouco vivida.  

CRIME QUE ABALOU A REPÚBLICA DO PINA (3)



Um crime já cinquentenário mal explicado e três personagens: Sebastião Lustosa Brasil, vulgo “padre”, o morto; Mudinho, ainda que mudo, falou, e o poeta Paula e Souza que, sem dúvida, poetizou.  Ainda não consegui a identificação deste trovador, por isso, retiro o que afirmei sobre sua participação no Clube da Madrugada. No post seguinte, falo do assassino.


A “República do Pina” foi uma homenagem ao proprietário do Pavilhão São Jorge, apelidado de Café do Pina, instalado na lateral do quartel da Polícia Militar. 

O café estava situado na praça Gonçalves Dias, componente da atual praça Heliodoro Balbi, no popular, da Polícia. A praça e o café eram o ponto de referência do Clube da Madrugada e, em nossos dias, são meras reminiscências dos mais idosos.

Diante do desapontamento com o testemunho do Mudinho, que não teve quem interpretasse sua “linguagem” diante do magistrado, o poeta Paula e Souza escreveu o poema seguinte:

Depoimento Público do Mudinho do Cachorro-Quente
da Praça Gonçalves Dias


Reúna o povo da praça /que o mudinho vai falar:
no banco do lado esquerdo / tem o poeta Bacellar;
o banco tem mil estórias / de muito longo contar,
poeta Alexandre Otto / um dia vai relatar.
A estátua do poeta / que o Clube mandou fincar,
a lira jogando sons / tão difíceis de captar.
Vem o professor Gonzaga / com mil reservas de humor
descobrindo em noite clara / grande disco-voador.
Tio Quelé e o Leão, / nobre figura de foco
por sua aguda dicção, / tem o escudo do “Naça”
tem coisas do coração, / tem amores do Monassa
tem poemas pelo chão, / mas hoje tem outra estória
do estudante Sebastião, / mais conhecido por “Padre”
que foi morto sem razão, / e dois dias depois de morto
apareceu de supetão / comeu um cachorro quente
na barraca do Mudinho / com pimenta e com limão.
O estudante fora morto / numa noite suburbana,
o crime foi praticado / por uma “gang” bacana
que se diz era de assalto / a bancos e caixa forte,
coisas de crime e de morte / que o poeta não entende.
O certo é que o dinheiro / roubado na noite langue
era pra ser repartido / entre três membros da “gang”.
Os autos estão confusos / chamaram o mudo a depor,
na banca do “hot dog” / o mudo quase falou.
Quando o poeta passava / descuidado, no local,
ouviu o mudo em trejeitos / falando por tal e qual;
correu mostrou ao poeta / a notícia do jornal:
seus gestos eram contrários / a esse fato formal.
Se o mudo conta a verdade / só quem sabe é o Promotor,
são coisas desta cidade / são páginas de desamor,
mas o poeta se lança / nos vagões da claridade
na busca de novos sons / para o bem da humanidade.
Senhores donos da praça / queiram bem me desculpar,
tenho que falar de coisas / que se falta registrar,
até mesmo estórias tredas / onde um mudo vai falar,
mas deixo ainda um lembrete / ao dono do Pavilhão,
não deixe o mudo sem luz / pois é triste a escuridão,
e o mais triste de tudo é a gente / não ter luz no coração.

Publicado em O Jornal, 28 outubro 1969



sexta-feira, julho 26, 2019

CRIME QUE ABALOU A REPÚBLICA DO PINA (2)

O crime já cinquentenário mal explicado e três personagens: Sebastião Lustosa Brasil, vulgo “padre”, o morto; Mudinho que, ainda que mudo, falou, e o poeta Paula e Souza que, sem dúvida, poetizou.  


Recorte de O Jornal, 31 de outubro de 1969
Dando prosseguimento às audiências acerca do processo crime a que responde perante a Justiça Pública o réu Luiz Carlos de Souza Leão, amazonense, solteiro, estudante, com 22 anos de idade, filho de Carlos Lustosa Leão e de Iracy de Souza Leão, residente à rua Saldanha Marinho, nº 789, acusado de haver assassinado seu primo Sebastião Lustosa Brasil, estudante, com 21 anos de idade, mais conhecido pelo vulgo de “Padre”, fato ocorrido no dia 10 de março do ano em curso, no quilômetro 10 da Estrada AM-1, que liga Manaus ao município de Itacoatiara, em um varadouro, o dr. Asclepiades Eudóxio Rodrigues, Juiz de Direito da 9ª Vara Criminal da Capital, inquiriu, na sala de audiência, os srs. Edmar de Carvalho Borges, paraense, casado, com 32 anos de idade, motorista profissional, filho de João Teixeira Borges e de Izolina de Carvalho Borges, residente à rua São Bento, 300, (bairro da Glória), e João Wilson da Silva, amazonense, com 26 anos de idade, motorista profissional, filho de Raimundo Belo da Silva e de Francisco Chagas, residente à rua Manicoré, 416, ambos arrolados no dito processo.
O primeiro, teria dirigido o carro Simca Tufão, modelo 1964, chapa nº 38-83-A, de propriedade do segundo, cujo veículo quando ocorreu o crime fora abandonado em frente à casa de João Wilson da Silva, seu proprietário, tendo no seu interior, inclusive, um relógio que fora emprestado ao referido motorista e de propriedade do dono do carro. 

MUDO NÃO FOI INTERROGADO – O cidadão mudo-surdo José Renato Ferreira, amazonense, solteiro, com 25 anos de idade, (filiação ignorada), proprietário de um ponto de venda de “cachorro quente”, nas proximidades do Cine Guarany, não prestou depoimento perante o Juiz Asclepíades Eudóxio Rodrigues, com a assistência do Promotor Carlos Alberto Bandeira de Araújo e da escrivã Albaniza Monteiro, em face da intérprete não ter comparecido, uma professora do Instituto Montessoriano Álvaro Maia, ficando transferido sua audiência para o próximo dia 4 de novembro.
A presença desse cidadão mudo-surdo em cartório, prende-se a uma versão de que o mesmo gesticulando deu a entender que Sebastião Lustosa Brasil, a vítima, estaria vivo, pois a referida testemunha que é tido como “importante”, teria afirmado que viu a vítima dois dias depois de ocorrido o chamado “Crime do Varadouro”. (segue)

CRIME QUE ABALOU A REPÚBLICA DO PINA


 Um crime já cinquentenário mal explicado e três personagens: Sebastião Lustosa Brasil, vulgo “padre”, o morto; Mudinho que, ainda que mudo, falou, e o poeta Paula e Souza que, sem dúvida, poetizou. 


Manchete de O Jornal, 19 outubro 1969

O “padre” foi meu contemporâneo no Seminário São José, sendo ele mais novo. Era um jovem espontâneo, simpático e bem-falante, simpatizante do comunismo cubano no início dos anos 1960. Credo não muito católico naquele período, ainda mais na casa de padres e no Governo dos Generais. Também flertava com a droga ilícita, outro grave pecado.

Junto ao Pavilhão São Jorge, cognominado Café do Pina, ao final de tarde, funcionava uma venda de cachorro-quente, pertencente ao Mudinho. Apesar de, ou em razão dessa deficiência, o jovem surdo-mudo era benquisto pela vasta freguesia do local. Fartei-me bastante nesse ponto com essa gororoba, até me recordo que o cachorro do Mudinho era preparado com picadinho (carne moída, para os não iniciados), ao invés de salsicha e, entre poucos ingredientes, bastante feijão-de-metro. Era servido no pão pequeno, em nossos dias francês, e, ao gosto do freguês, temperado com pimenta regional.

Enfim, o poeta, por óbvio do Clube da Madrugada, Paula e Souza.

O caso policial
Sebastião Lustosa e os remanescentes seminaristas deixaram o prédio da rua Emilio Moreira ao final de 1967, com o fechamento do Seminário. Cada qual seguiu sua “vocação”. Pouco mais de um ano depois, em 10 de março de 1969, portanto, às vésperas do cinquentenário, o corpo do “padre” foi encontrado abandonado em um varadouro da estrada Manaus-Itacoatiara (AM-1, hoje AM-010). Por esse detalhe, ficou conhecido e divulgado pela imprensa como o “Crime do Varadouro”.
A Polícia para esclarecer o assassinato, atestou o envolvimento do falecido com drogas que, em decorrência desse insidioso caminho, foi morto. O suspeito, também envolvido com drogas, era o primo do morto Luiz Carlos Souza Leão, que foi preso e recolhido à Penitenciária.
O crime parecia estar esclarecido: o morto sepultado e o matador na Detenção, quando o Mudinho “falou”. E, “falando”, complicou. Entre trejeitos próprios da deficiência deu a entender que o morto havia saboreado um cachorro-quente em sua banca, dois dias depois de trucidado. Acrescentando que o fizera com bastante pimenta. Essa revelação mítica foi decifrada por um frequentador daquele espaço gastronômico. 
Pavilhão São Jorge, ou do Pina, nos anos 1970
Tornada pública, ensejou duas medidas: uma, da autoridade policial, que convocou o Mudinho para depor; a segunda, da defesa do acusado (Dr. Olavo Faria), que requereu exumação cadavérica da vítima. Esta foi realizada sob a orientação do Dr. Hosanah Silva, médico-perito do DESP (Delegacia Especializada de Segurança Pública), assistência do juiz Asclepiades Eudóxio e demais peritos convocados. Resultado: aberta a sepultura, lá estavam os restos mortais do mal-aventurado jovem.
Nesse interim, o acusado fora posto em liberdade, mas eis que numa noite de libertinagem, no bairro de Educandos (então a meca da esbornia), foi apanhado com drogas. Apresentado ao escrivão de plantão, foi autuado e recolhido de volta ao presídio da Sete de Setembro.

A convocação do Mudinho ensejou à autoridade uma providência inusitada, a requisição de um especialista em, digamos hoje, Libras. Na época, o valimento era socorrer-se do Instituto Montesoriano, dirigido pelo Dr. André Araújo, que cuidava de surdos-mudos, existente na então rua Paraíba. 

Sobre o poeta, contarei na segunda parte desta postagem. (segue)

quinta-feira, julho 25, 2019

MANAUS DE ANTIGAMENTE


A coluna VELHOS TEMPOS, do saudoso André Jobim, que circulava aos domingos em O Jornal, era bem apreciada em razão da reprodução de antigas datas e acontecimentos regionais. Vez ou outra sirvo-me delas, como esta cinquentenária, de 6 de julho de 1969. Nesta, conta ele, da atividade do IGHA, Instituto ao qual pertencia; do cemitério São José, “soterrado” pela sede do Atlético Rio Negro Clube; e relaciona os clubes de futebol, nomes que reproduzi, para ilustrar a postagem, sem alterar a ortografia.
Jobim residia na avenida Sete de Setembro esquina da rua Visconde de Porto Alegre, naquele casarão bem destacado, ainda existente, cujos filhos Fred e Roosevelt pertencem à reserva da Polícia Militar do Estado, portanto, meus colegas de farda.
 
Recorte de O Jornal, 6 de julho de 1969

Realizou o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas mais uma festa, recebendo desta feita, o comandante Aristides Leite, na Poltrona de Wallace, o grande naturalista. Sem favor a festa revestiu-se de um brilho excepcional que chegou a empolgar os que compareceram àquele sodalício na memorável noite de domingo, 22 de junho de 1969.

Grande foi a expectativa das páginas de oratória, onde a beleza do verbo e a singeleza das orações deram à festa de cultura um brilho magistral. O orador recebido falou com a elegância que o caracteriza e o reverendo padre Raimundo Nonato Pinheiro, empolgou o auditório.
Desta festa ficamos com saudades, mesmo porque, um fato marcou a sua grandiosidade, que foi aquele de vermos colocado no Salão Nobre do Instituto a imagem de Jesus na Cruz e a palavra de fé do nosso digno arcebispo D. João de Sousa Lima. Presidiu a sessão o nosso digno presidente desembargador João Rebelo Corrêa.
Foi mais uma festa, foi mais uma glória para a grande Casa da Memória, que se vai projetando no conceito público mais e mais e até mesmo transpondo fronteiras. Esteve presente à festa o Sr. Governador do Estado, Danilo Duarte de Matos Areosa, comandante do GEF [Grupamento de Elementos de Fronteiras], general Edmundo da Costa Neves, autoridades e grande número de pessoas amigas.

Na manhã de 29 de junho de 1969, foi alvo de grande homenagem naquele sodalício, o Sr. Presidente Des. João Rebelo Corrêa, pela passagem de seu aniversário natalício. O presidente amigo recebeu de cada um palavras de carinho e conforto, onde também, foram enaltecidos suas virtudes e seu trabalho à frente do grande Silogeu.

* * *
Depois de muito pesquisar encontramos nos velhos alfarrábios do saudoso historiador João Batista Faria e Sousa, a seguinte anotação, publicada em o jornal “O Tempo”, de 1915 — O 1º enterramento havido no Cemitério São José, foi o do cadáver de João Fleury da Silva, de 44 anos de idade, cearense, pardo, casado, comerciante, filho de José da Silva Brabo e d. Joaquina Angélica de Oliveira, a 7 de março de 1856 — Diagnóstico: Febre.

* * *
Nomes dos clubes de football que disputaram o Campeonato de 1920:
Atlético Rio Negro Club,
Nacional F. Club,
Monte Christo Sport Club,
Luzo-Brasileiro Sport Club,
União Sportiva Portuguesa,
Manaus Sporting Club,
Amazonas F. Club,
Brasil Sport Club e
Euterpe Club.  

segunda-feira, julho 22, 2019

DETALHES MANAUARAS



Rastreando a coleção de O Jornal circulado há 50 anos, em busca da descrição do primeiro passo humano na superfície lunar, esbarrei com dois anúncios bem simbólicos. Ao menos, para mim.

O Jornal, 17 julho 1969
 Começo pelo Fazano lanches, anunciando o encerramento de suas atividades, ocasião em que “avisa aos seus amigos que os utensílios de nossa propriedade acham-se à venda”. Esse estabelecimento, de propriedade de Salomão Abrahão, funcionava na avenida Eduardo Ribeiro, próximo à rua Saldanha Marinho. Nada de formidável, o lanche apenas uma porta adequada e um balcão central com bancos em semicírculo. De sorte que ficávamos de frente para os salgados e outras guloseimas. Apenas um atendente, acredito que filho do dono, o qual muito cortês fazia a diferença.
 
Estampado em O Jornal, 17 de julho de 1969
O outro era o anúncio comercial do Dr. Pythagoras Miranda, que cuidava de “doenças de senhoras”. Hoje, um ginecologista. Seu consultório estava no Edifício Lobras, no ponto central da cidade, então referência em Manaus. O endereço residencial – praça Ribeiro Junior, 348 – 2º andar. Fone: 2-35-69.
Aqui se amarra meu simbolismo. Recém-casado, eu morava no 3º andar do Edifício Lilac, ou seja, no andar de cima do conceituado médico. A praça, existente atrás do quartel da Praça da Polícia, desapareceu; o edifício, porém, segue no mesmo lugar, apenas alterou o nome e aceitou algumas antenas de transmissão telefônica no teto.
 
Nobre, dados da sepultura
Outro detalhe: cunhado de Pythagoras, o major Nobre (José Antônio Ferreira), que foi comandante do 27 BC, então aquartelado onde hoje está situado o Colégio Militar de Manaus, promoveu (verdadeiro ou não) farta coletânea de causos, narrados por seus comandados. Em especial, o soldado de ordem, que se abalava do quartel ao bairro de São Raimundo, a fim de levar e trazer notícias da bem-amada do militar.

domingo, julho 21, 2019

JORNAL CENTENÁRIO

Capa do periódico, existente no Arquivo Nacional

O periódico – Amazonia Jornal, que circulava bi mensário, ou seja, duas vezes por mês, trouxe no nº 15, de 9 de fevereiro de 1948, uma homenagem ao Dr. Álvaro Bandeira de Melo. Era o primeiro ano de existência deste quinzenário, sem que se saiba a data de seu desaparecimento.

Acredito que foi este cidadão quem fez a doação de uma imagem de São Jorge à Polícia Militar do Amazonas, em 1954. Essa imagem ocupou por décadas um oratório próprio no quartel da Praça da Polícia. Em nossos dias, após ser  restaurada, segue abrigada no Palacete Provincial.  

sábado, julho 20, 2019

50 ANOS DA CONQUISTA LUNAR



Era domingo. Julho de calor costumeiro, e o campeonato de futebol em andamento. Ainda sem emissora de TV, a cidade de Manaus contentava-se com o rádio (afortunado de quem possuísse um Transglobe, de não sei quantas pilhas). A Voz da América, produzida nos USA, transmitia as notícias americanas e as de interesse do Brasil. Certamente foi através dela que as emissoras de rádios de Manaus (Baré, Difusora e Rio Mar) transmitiram a chegada do homem na lua.
Como anunciei: naquele domingo, O Jornal (foto) trouxe amplos detalhes de como seria o espetacular feito. Da mesma maneira, anunciava o jogo da rodada. O Parque Amazonense recebia os aficionados torcedores para o jogo dominical. Eu estava lá.

Amigos, eu ouvi. Na exata hora da descida do homem na Lua, a transmissão da peleja esportiva foi substituída pela narração da conquista lunar. Há 50 anos!
Capa de O Jornal, 20 de julho de 1969

IGREJA CATÓLICA EM MANAUS: NOTAS

Capa do livro

Acabo de ler o livro Igreja de Manaus - porção da Igreja Universal: a Diocese de Manaus vivenciando a romanização (1892-1926), de Elisângela Maciel (Manaus: Valer, 2014). Para mim, que passei pelo Seminário São José local, serviu mais que uma grata revisão de meus conhecimentos. Pensava que sabia bastante acerca da matéria por ter sido seminarista e engolido livros e informações sobre a caminhada da Igreja. De ter sido abençoado (beijando o anel episcopal) por Dom Alberto Ramos e Dom João de Souza Lima. E outros benefícios ou castigos escolares.
O livro serviu, respeitável Mestra, para despertar em mim originais questões, pequenas dúvidas, e obrigar-me a buscar aclarações. Didático, o Igreja de Manaus foi exposto com disciplina, como convém à publicação universitária, portanto, capaz de ser entendido por qualquer seguidor da Igreja de Maria Imaculada.

Como de hábito, ao vasculhar pela internet a Biblioteca Nacional, encontrei um jornal sobre a posse do primeiro bispo do Amazonas. Nomeado de Amazonas Catholico, a edição especial e comemorativa em homenagem a D. José Lourenço da Costa Aguiar, Primeiro Bispo do Amazonas, circulou em 13 de junho de 1894. Nele se encontra a vasta programação elaborada para a recepção; dela, compartilho pequeno item, esclarecedor da maneira de como a cidade seria informada da chegada do navio Planeta, conduzindo o “preclaro Bispo Diocesano”.

Recorte do jornal, com a biografia do bispo na capa

Sinal da chegada
Logo que o telefone da ilha do Marapatá anunciar que — está à vista — o paquete do Loide Brasileiro, da ponte de ferro lançar-se-ão três foguetões, que estourando nos ares avisarão achar-se a bordo do Planeta o preclaro Bispo Diocesano.
Então fenderão os ares bastas girandolas de foguetes das praças dos Remédios, S. Sebastião e Sé, e a voz alegre dos sinos paroquiais ecoarão através dos espaços, repetindo aos povos, em sons festivais, a grande notícia — Ecce Sarcerdos magnus. Hosana in excelsis! [Eis o grande sacerdote. Hosana nas alturas!]

Outro recorte do periódico, com a programação

sexta-feira, julho 19, 2019

IGPM EM MANAUS - 50 ANOS

General Augusto Pereira

Na semana de festejos do Tricentenário de Manaus, a PMEA (Polícia Militar do Estado do Amazonas) recebeu a visita do IGPM (Inspetor-Geral das Polícias Militares), general de divisão Augusto de Oliveira Pereira. Tratava-se do terceiro oficial general a assumir esta função (ainda existente, agora englobando os Corpo de Bombeiros), criada em março de 1967. Além de controlar e disciplinar as corporações estaduais, distribuía cursos no país e no exterior (bastante aguardados em razão das diárias), entre outros deveres.

Estava eu presente nessa inspeção, lembrando-me ainda o quanto nos impressionou a postura do general e, detalhe, seu cabelo à escovinha. Havia uma cartilha de encargos a ser cumprida, enviada previamente. Após a inspeção, chegava ao comando as observações anotadas e as recomendações para os reparos. Certamente, acompanhavam os elogios.

A foto e o texto expostos foram sacados de O Jornal , edição de 21 de outubro de 1969. Alguns colegas consegui identificar, menos o fotografado cabisbaixo e com a mão no queixo. 

 
Estampado no jornal citado
Na manhã de ontem, o general Augusto de Oliveira Pereira, Inspetor Geral das Polícias Militares, iniciou os trabalhos de inspeção na nossa Polícia Militar. O comandante da briosa corporação, coronel José Maury de Araújo Silva, acompanhado de assessores, prestou-lhe os esclarecimentos pedidos sobre a situação e funcionamento da PMEA.
As fotos que ilustram este registro são desse encontro de militares, em cima, o coronel Maury Silva quando fazia a radiografia da nossa Polícia Militar; embaixo, o general Augusto de Oliveira Pereira e sua comitiva ouvem e tomam algumas notas.
À chegada do Inspetor Geral das Polícias Militares, a tropa formou e lhe apresentou as continências de estilo.

VISITA AO GOVERNADOR — Na parte da tarde, fazendo-se acompanhar do cel. José Maury de Araújo Silva, o general Augusto de Oliveira Pereira visitou o governador Danilo Areosa, no Palácio Rio Negro, conversando com s. exa. sobre problemas regionais.