CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, março 31, 2013

LANÇAMENTO DE LIVRO


Evany Nascimento autografa o livro
para o autor do post
No sábado 30, a Livraria Valer patrocinou o lançamento do livro Monumentos Públicos do Centro Histórico de Manaus, de Maria Evany do Nascimento (224p. R$ 40,00). Trata-se de um trabalho elaborado para conclusão de curso, que contou com a direção da professora Luciane Páscoa. Uma observação: as Notas parecem não estar sincronizadas.

O livro como se propôs a autora relacionou, arrolou os marcos, as esculturas dispostas no centro antigo. Por isso, para quem circula pela cidade, além do centro, fica lembrando que existem outras figuras a serem registradas. Mas, o livro diz bem, apenas o centro foi contemplado.

Aproveito para lembrar uma prática embalada pela rede social, que é a de mostrar fotos de Manaus antigamente. Tenho participado e observado um número bem expressivo de comentaristas, curtidores e saudosistas...

Voltando ao livro. Obrigado, Evany, pelo trabalho desenvolvido, porque são tantas as lendas envolvendo nossos monumentos, nossa história. Era preciso que alguém se dispusesse a percorrer com olhar acadêmico, sim, mas também de amor pela cidade, para relacionar e divulgar esse acervo maravilhoso.

Benayas Pereira, revisor de Monumentos, a
autora e o responsável pela postagem 

sexta-feira, março 29, 2013

REVISTA CABOCLA


A direção da Revista 
Este magazine circulou na década de 1930, em Manaus, editado pelo saudoso jornalista, cronista e acadêmico Genesino Braga. Da edição de novembro de 1936 saquei o texto abaixo de Ramayana de Chevalier (que dispensa apresentação), cuidando de peixes. A data é oportuna para falar desse tema: Sexta-feira Santa.


 

Em remanso de lago, em poço de igapó, em água represada de confluente, em qualquer lugar da Planície, boia, satisfeito e feliz, peixe comprido e benéfico: pirarucu.
Peixe glebário, sofredor, manso como ninguém, hospitaleiro como poucos, aguentando, sem protestar, cada canícula danada do Amazonas, pelo bem da terra e da gente.
E gostoso. Ninguém é capaz de negar que, na maciez da carne, no sabor dos acepipes, na volúpia brillat-savarineana das longas travessas enfeitadas e espetaculares, não fosse pirarucu, prato digno de uma boa e farta secreção gástrica. Até de palinódias e epicédios, tais as tristuras nascidas da satisfação pós-pasto.

Belo peixe, grande prato, velho amigo.
Nas horas ondulantes da alegria cabocla, quando os naipes se ensarilham nos saraus para o aconchego das coxas, para cadência dos sambas, fustigados pelo calor dos vatapás e do clima, melhor companheiro não existe que o pirarucu glebário, irmão de sofrimento telúrico, camarada antigo de todas as melancolias, remédio infalível para todas as excitações e carícias...
Não há sardinha elegante, traíra bailadeira, pescada duvidosa, matrinxã sentimental, que não repita e proclame, das excelências do pirarucu, em dias de crise familiar, em momentos de vazante braba e inflexível.

Fazem-lhe festas, afagos, doçuras, mimos, mungangas, rapapés, ternuras, delícias até, quando, sozinho, sem concorrentes, é ele o supremo bem da Planície, o único herói que resiste às crueldades atmosféricas, às selvagerias cosmológicas.
Transfigura-se, mesmo, no tubarão doméstico. Chega a comer das pirapitingas mais suaves, das tucunarés mais cheirosas. Chega, até, à façanha de tolerar as blandícias e os namoros das piranhas mais terríveis. Basta encher o rio, melhorarem as coisas, movimentarem-se as ambições alienígenas, e ei-lo perdido.

Pirarucu baixa, baixa, some-se no desconforto do ninguém. Basta chegar bacalhau. Peixe das “oropa”, “de fora” no sentido genérico do termo, novidade, ineditismo, sensação.
Cadê pirarucu em festa caseira? Cadê pirarucu em agrado doméstico? Cadê pirarucu em carinho de portão? Cadê pirarucu em traquinadas de Mindu, de Vila Municipal, de Cachoeirinha, de gleba?

Sumiu-se. Não se enxerga pirarucu nem para os pobres. As sardinhas, as traíras, as pescadinhas rechonchudas e magníficas, todas as castas ictiológicas, sarabandas, murmuram, reviram os olhos, bolam, rebolam, lânguidas, sedutoras, inoperantes, em torno do bacalhau vitorioso, egresso de qualquer banda desconhecida.

Basta ser bacalhau para ser vencedor. Esquecendo-se sofrimentos em comum, tragédias íntimas, companheirismos de infância, amabilidades prodigalizadas no silêncio dos jardins quietos, tudo em benefício do sorriso efêmero, da carícia transitória, das banalidades passageiras do bacalhau itinerante.
Pirarucu não toma vergonha. Mal bacalhau arriba as velas e zarpa, lá se volta ele para as sardinhas trêfegas, para as pescadas levianas, para as piramutabas seresteiras, acolhendo-as de novo, no mesmo abraço sincero de portão.

O Toddy é um chocolate metido à besta. O bacalhau é um pirarucu que ninguém provou. Quantas vezes chega podre à porta da venda, quando o pirarucu fresquinho, trazido do Amatari ou do Canumã, é desprezado injustamente...
Tudo novidade, a terrível, a cruciante, a dominadora novidade, que faz mais gostosos os lábios desconhecidos, mais torturantes os corpos inalcançados. É por isso que a sífilis anda por aí, bonitinha como o quê.
Maior injustiça ao pirarucu é a de desprezá-lo quando ele é o único que se atira, sinceramente, cavalheirescamente, à minhoca atada ao dorso do anzol. É o único que é pescado, pelas pescadas.

Bacalhau chega, fareja, vê muita intimidade, muito amor à primeira vista, muita pirotecnia, muito voo, muita tentativa de aterrisagem, acha tudo muito precipitadozinho, goza, tira a sua casquinha, arranca o seu pedaço, lambe os beiços, arriba, e vai dizer o diabo das pirapitingas em Belém.
Enquanto isso pirarucu ficou aqui, firme, estático, sereno, esperando a hora da “carne virada” para avançar.  Há uma vingança para o pirarucu que comeu a minhoca do anzol. Pirarucu casado não fica de mãos abanando. Solto é manso, bondoso, tolerante, resignado. Amarrado é curioso: vira candiru.

quinta-feira, março 28, 2013

ATLÉTICO RIO NEGRO CLUBE: CENTENÁRIO (1)

Benedito Souza, o atleta, em
primeiro plano, 1950
Em novembro deste ano, o Atlético Rio Negro Clube (ARNC) completa o primeiro centenário. A marcante efeméride de certo será condignamente festejada. Ainda que distante, tomei a liberdade de marcar essa data neste espaço, tendo inaugurado há dias, com o mesmo título, a inciativa. Espero cumprir o prometido com a dignidade que o “Clube Líder da Cidade” merece.
Para isso, valho-me da revista – Rionegrino -- que o ARNC fez circular por vários anos. Da edição nº 29, do início de 1950, transcrevo a notícia da participação do Amazonas na prova de São Silvestre, que ocorre na virada do ano. Lembrando que em nossos dias, sob o patrocínio da TV Globo, passou para a tarde e, no ano passado, para a manhã desse dia.

Recorte da revista Rionegrino, 1950

 

Constituiu, sem dúvida, um acontecimento impar na vida da cidade, a realização em Manaus, a 10 de dezembro (1949), da Prova Preliminar da XXVI “Corrida de São Silvestre”, promovida pela A Gazeta Esportiva, de São Paulo, destinada a indicar o representante do Amazonas à maior prova pedestre da América do Sul, que se realiza todos os anos, na capital bandeirante, à meia-noite do dia 31 de dezembro.

O Atlético Rio Negro Clube esteve presente à grande prova, não como simples participante, mas como sério concorrente, e alinhando uma equipe valorosa, preparada graças ao esforço de Manoel da Costa Reis, professor Waldir Oliveira e Carlos Almada.

E o “Alinhaderrimo” juntou ao rosário de feitos gloriosos que ornam seu pavilhão mais um triunfo, cabendo-lhe a grande honra de dar à terra de Ajuricaba o seu representante à XXVI Corrida de São Silvestre, que o idealismo do saudoso jornalista Casper Libero fez realizar, pela primeira vez em 1926, e que hoje pertence não apenas ao Brasil, mas ao mundo inteiro, dado que o empreendimento de A Gazeta Esportiva já rompeu as fronteiras de nossa Pátria, irrompendo nas Américas; deixou de ser também das Américas, para propagar-se na Europa, para firmar-se como uma das mais importantes do mundo.

Venceu o Rio Negro, através do atleta Benedito Constantino de Souza, “sprinter” dos mais consagrados na barelândia, cobriu a distancia de 5.000m, em 17min07, credenciando-se a participar em São Paulo, como representante do Amazonas na tradicional prova da meia-noite. 

 
A 20 de dezembro(1949), daqui partiu a delegação do Amazonas, integrada do jornalista Irisaldo Godot e do atleta rionegrino  Benedito Constantino de Souza, sendo portadora das apresentações do  Atlético Rio Negro Clube aos seus coirmãos Clube do Remo, de Belém do Pará, e São Paulo Futebol Clube, da Pauliceia. (...)
Ambos colocaram à disposição do atleta baré as suas instalações, salientando-se o clube bandeirante, que foi de uma fidalguia a toda prova, cercando Benedito Constantino de Souza e Irisaldo Godot de todas as atenções, procurando servi-los em tudo que estivesse ao seu alcance. 

Sob forte aguaceiro, foi disputada a majestosa prova da meia-noite, em São Paulo. Venceu categoricamente o atleta belga Lucien Theys, colocando-se o corredor amazonense, dentre 1.600 concorrentes, em 234º lugar, fazendo jus à valiosa medalha, vencendo o corredor do vizinho estado do Pará, cuja classificação foi a 285ª.

O texto oferece várias e reluzentes informações: o Rio Negro possuía vários apelidos: entre outros, o de Alinhaderrimo. O Benedito pertencia à equipe do “atleta sozinho”, pois seguia acompanhado apenas de um jornalista; será que a viagem ocorreu de avião? Deve ter sido de navio, com parada em Belém. Finalmente, para não enfadar, a provincial disputa entre Amazonas e Pará, aqui patenteada com a posição do amazonense sobre o paraense, que sequer teve o nome registrado. Quem fim levou o Benedito Constantino de Souza?

quarta-feira, março 27, 2013

ANÚNCIOS CLASSIFICADOS

Emílio de Menezes, poeta
Nas primeiras décadas do século passado, era habitual a veiculação de anúncio comercial ilustrado com versos, bem ou mal estruturados.
A respeito desse recurso, transcrevo a descrição produzida pelo saudoso memorialista Pedro Nava, em seu livro Chão de Ferro. A lembrança dele data de quando era interno do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1918.
E a pérola citada envolve o poeta Emílio de Menezes (1866-1918), mestre dos sonetos satíricos, humorista, fazia de seus versos instrumento de publicidade para os produtos de consumo de sua época”, que o adolescente Nava via passar na rua onde moravam. Mais tarde, quando conheceu a poesia de Menezes, preferia a burlesca, melhor que a séria, confessa.

Principalmente pela quadrinha que corria no internato. A do boticário que inventara sabão maravilhoso para a pele e o chamara Cuticura. Fora ao Emílio pedir uns versos, de anúncio. Pagava bem. Pois foi contemplado 

Quando o Emílio de Menezes
Acorda de pica dura,
Fala, batendo na dita:
Só sabão de Cuticura...

Para completar o tratamento, alguns anúncios circulados na capital do Amazonas, entre 1932 e 1935.
 
Revista Cabocla, 1935
 
Guia Turístico de Manaus, 1932

Contracapa da revista Cabocla, 1935

Revista Cabocla, 1935
 

segunda-feira, março 25, 2013

ELEIÇÃO NA CADEIRA 21

Símbolo acadêmico
Nesta tarde, a Casa de Adriano Jorge acabou de confirmar a escolha amplamente anunciada, pré-estabelecida.
“Depois de muitas peripécias, a professora Márcia Perales foi eleita para a cadeira 21, de Tenreiro Aranha, da Academia Amazonense de Letras.
O último ocupante dessa cadeira foi o poeta Luiz Bacellar.
A professora certamente vai quebrar uma pedreira para escrever o seu discurso de posse, onde, obrigatoriamente, deve analisar a obra dos dois poetas: o seu antecessor e o seu patrono”. (palavradofingidor.blogspot.com)

 

 

ANIVERSÁRIO DO IGHA


A comemoração ocorreu no sábado 23, com reunião presidida pelo sócio Antônio Loureiro. Mas é hoje que essa instituição cultural completa 96 anos de existência.
O novo presidente é o médico Antônio Loureiro. Essa escolha veio a propósito, pois, rigoroso especialista, será bem capaz de estabelecer o diagnóstico para a morbidez que assola a Casa de Bernardo Ramos. E curá-la! 



Sede do IGHA, na rua Bernardo Ramos - Centro Histórico

sábado, março 23, 2013

SEMINÁRIO SÃO JOSÉ: REABERTURA EM 1943

Dom João da Mata (1941-48)
Na terça-feira 19, a Igreja festejou o dia de São José Operário, reunindo significativo número de católicos. A solenidade contou com a direção do novo arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani. São José também é o padroeiro do Seminário local, instalado na Maromba. A caminhada desse estabelecimento de formação do clero já sofreu algumas interrupções. Todavia, pode contemplar alguma retomada emocionante, como a ocorrida em 1943.

Fundado em 1848, com a denominação de Seminário São José, pelo bispo do Pará, funcionou este até o início do século passado, quando teve suspensas suas atividades. Foi nessa conjuntura que o 6º bispo do Amazonas, Dom João da Mata Andrade e Amaral (1941-48), o encontrou ao assumir a diocese.
Não mediu esforços para superar esse obstáculo. Menos de dois anos depois de empossado, na festa do padroeiro da Casa, usando a residência episcopal e auxiliado pelos Salesianos, o bispo reabriu o Seminário, na praça General Osório (edifício demolido) confrontando com o atual Colégio Militar de Manaus. Uma nova interrupção das atividades aconteceria no final da década de 1960.
Dez anos adiante, a igreja do Amazonas começou a colher os frutos desse empreendimento, a partir de 1954 foram ordenados os padres Manoel Bessa; Luiz Ruas; Vicente Albuquerque; Jorge Normando, Moisés e Bernardes Lindoso; Onias Bento; Tiago Brás; Francisco Pinto; Juarez Maia. Um pouco mais a frente, os padres Sebastião Puga e Luís Souza.
Naquela tarde de março, há 70 anos, Dom João da Mata fez a festa, como descreve o matutino dos Archer Pinto:

Manchte de O Jornal, 19 de março de 1943
Estiveram presentes ao ato o Dr. Álvaro Maia, interventor federal; Dr. Leopoldo Péres, presidente do Departamento Administrativo do Estado; capitão Antero Azevedo, comandante do 27º BC; Dr. Ruy Araújo, secretário-geral do Estado; professor Antovila Vieira, prefeito municipal; desembargador Arthur Virgílio, vice-presidente do Tribunal de Apelação; Dr. André Araújo, juiz de Menores; Dr. Temistocles Gadelha, diretor do Departamento de Educação; o corpo consular e representantes das Forças Armadas dos Estados Unidos (?), pessoas gradas e famílias e o representante dos nossos diários (O Jornal e Diário da Tarde).

Após a chegada da procissão, que conduzia a imagem de São José, transladada da Catedral para o Seminário, acompanhada da banda de música da Força Policial, e que foi recebida estrondosa salva de palmas, as autoridades, que se encontravam no salão de espera do Seminário São José, foram convidadas a tomar lugar no palanque que se achava armado em frente ao referido estabelecimento de ensino religioso, e onde, a pedido do senhor bispo, o Dr. Álvaro Maia foi recebido com uma salva de palmas.
De uma das janelas do Seminário, Dom João da Mata Amaral pronunciou formosa oração, em que, mais uma vez, evidenciou os seus dotes invulgares de orador e sua sólida e brilhante cultura.


Numa quente tarde de outubro de 1941, tomava posse desta mimosa Diocese de Manaus. E a ideia primeira que me veio à mente foi um Congresso Eucarístico, ideia que, ao calor do calor do coração amazonense, logo se corporificou... Em junho do ano passado – a Igreja Católica viveu em Manaus – a sua hora meridiana. Mais do que uma visão de Tabor foi o Congresso Eucarístico um cântico de ressurreição.
Os raios do sol eucarístico polvilharam de ouro as aguas do Rio-mar – douraram as florestas, iluminaram os céus e as almas da Amazônia.

E nesta hora histórica, já as aguas do monarca dos rios começam a se coalhar de embarcações para a febre da batalha da borracha – as florestas estão vertendo o leite que irá talvez, nos planos divinos, salvar a civilização com o Cristo batizou o mundo há dois milênios – os céus se cruzam de aviões que abrem no espaço uma nova rota que fará de Manaus, uma das maiores e mais importantes capitais brasileiras, -- as almas se iluminam, com as claridades sobrenaturais da graça – os corações se povoam de fé intrépida...

E o velho Seminário São José, não resistindo por mais tempo  a esse grito de ressurreição, se levanta das suas gloriosas cinzas. É uma ressurreição que abraça a alma e o corpo do Amazonas.
Não foi em vão que nas noites memoráveis do Congresso apelamos para o Céu: a messe é grande -- o trigal já loureja, mas os operários são poucos. O céu ouviu o grito angustiante do nosso peito. Ali estão os jovens em cujos corações  primaveris o Senhor da messe lançou a semente da vocação. Eu os contemplo como alvoradas de padres, as esperanças da Igreja no Amazonas.

Este Seminário é um quartel da Igreja a se defrontar com o quartel da Pátria. Ali se formam os soldados para a defesa da soberania da nação – aqui se formam os soldados do Evangelho para a defesa do patrimônio da fé, que nos legaram os nossos maiores. A cruz e a espada, no correr da nossa História, sempre estiveram entrelaçadas. Foi aos clarões do sol da eucaristia que, lá na gloriosa Bahia, a cintilar sobre a espada de Pedro Álvares Cabral e a cruz de frei Henrique de Coimbra, amanheceu para o mundo e para a história o gigante da América, o Brasil.

Este Seminário sobre ser um templo de fé e saber será, também, uma escola de civismo. No seu salão principal, figurarão os retratos do Presidente da Republica e do interventor Federal, Dr. Álvaro Maia. De par com o cultivo da piedade e das letras crescerão no coração do jovem levita a flor do patriotismo e o culto aos grandes vultos da nacionalidade. O retrato do Dr. Álvaro Maia ali ficará como uma homenagem de gratidão da Diocese ao Governo e povo do Amazonas, por este clima de cordialidade que tem sempre existido entre o Bispo, o Governo e o povo querido deste privilegiado Estado.

Nem um só instante quero pensar que um dia venha a trancar novamente as suas portas o monumento que ora se ergue, sob as benções do povo. Repetir-se-ia a história de Agar, que fugiu para não ver morrer à fome o seu filho Ismael. Não sobreviverei a este dia. O Seminário não fechará. A mulher amazonense, cristã e heroica, estará sempre pronta a dar filhos para o altar da Pátria e o altar da Igreja. O Seminário não fechará porque, se for preciso, abrir-se-á mais um capítulo na história da proverbial generosidade do Governo e do povo do Amazonas.
O Seminário não morrerá jamais. Esta não é uma obra da vaidade do homem. Tem a marca divina. É um milagre do Coração Eucarístico de Jesus.

Salve, Seminário São José!

Em nome dos seminaristas, falou o aluno Geraldo Bessa, saudando as autoridades.

SENADOR EDUARDO BRAGA (PMDB-AM)

STF abre inquérito para investigar líder do governo no Senado

MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
 

Senador Eduardo Braga (PMDB-AM) em veja.com
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes determinou a abertura de inquérito para investigar o envolvimento do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), em supostos desvios de recursos durante sua gestão no governo do Amazonas (2003-2010).
Mendes acolheu pedido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para analisar a conduta de Braga na desapropriação de um terreno avaliado inicialmente em R$ 400 mil e desapropriado pelo governo do Amazonas no valor de R$ 13,1 milhões, em 2003.
Segundo Gurgel, "verifica-se que há indícios que apontam que o senhor Eduardo Braga teria contribuído para o desvio de vultuosa quantia dos cofres do Estado do Amazonas na desapropriação de imóvel pertencente à empresa Colúmbia Engenharia".

O Ministério Público Federal vai avaliar se houve crime de formação de quadrilha, peculato e fraude de licitação.
O procurador-geral pediu a quebra de sigilo de empresas que participaram da negociação, além de depoimentos dos envolvidos e elaboração de laudos pelo Instituto Nacional de Criminalística. Após essa fase, Gurgel vai decidir se oferece denúncia contra Braga.
Além do senador, são investigados um secretário de governo, cinco servidores, um procurador do Amazonas e quatro representantes de duas empresas.

O caso começou a ser investigado pelo Ministério Público do Estado do Amazonas que apontou a "presença dos fortes indícios da prática de peculato, formação de quadrilha, crimes contra licitações e falsa perícia".
Como Braga é senador, ele tem foro privilegiado e precisa de autorização do Supremo para ser investigado criminalmente.
De acordo com o Ministério Público estadual, em abril de 2003, o governo do Amazonas abriu processo de desapropriação de um terreno 703.000 m2, para a implantação de um loteamento com aproximadamente 2.000 casas populares.

O governo pagou R$ 13,1 milhões pela área, em quatro parcelas, num prazo de um mês e 20 dias. Três meses antes dessa operação, o terreno foi comprado por duas empresas no valor de R$ 400 mil, uma valorização de 3.100%.
O governo teria seguido laudo elaborado por servidores da Secretaria de Habitação. Do total, R$ 7,3 milhões correspondiam ao valor da terra e R$ 5,6 milhões ao custo das benfeitorias necessárias. De acordo com as investigações, as benfeitorias não existiam e seriam feitas depois.

A Promotoria afirma que "mesmo diante do valor extraordinário que seria despendido pela administração pública e da evidente irregularidade no seu desembolso, o então governador Eduardo Braga editou decreto que declarou de interesse social para fins de desapropriação".
A defesa nega a participação de Braga em qualquer ato irregular e sustenta que ele agiu de boa-fé ao editar "decreto, com a crença de estar praticando ato que conta com o mais absoluto e irrestrito amparo legal." 

Os advogados argumentam ainda que o peemedebista foi inocentado em três ações que investigaram se houve improbidade administrativa e que a denúncia é política. Segundo o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o terreno vale hoje R$ 80 milhões.

quarta-feira, março 20, 2013

LIVROS PUBLICADOS EM MANAUS (1900-60) 6ª Parte


Capa de Poemas amazônicos
Prossigo listando os livros que foram publicados em Manaus, no período de 1900 a 1960. Agora que a Biblioteca Pública se encontra à disposição dos interessados, espero aprofundar a pesquisa.
Detalhe curioso: os conhecidos Poemas Amazônicos, de Pereira da Silva, teve a edição original editada com a seguinte autoria: Francisco Pereira (da Silva). Aliás, toda a produção deste autor, poemas, contos e ensaios, dispersos em revistas e jornais, foram identificados como indicado. Abaixo, mais outra curta amostragem.


1911
MIRANDA, Bertino. Congresso comercial, industrial e agrícola (22 a 27 fev. 1910). Typografia Palais Royal, (Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro).
SOBRINHO, Maranhão. Victorias-regias (poesia). Livraria Comercial, de J. R. de Mello. (Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro)
PEREIRA, Francisco Luiz. Glosas: ao relatório da comissão nomeada por portaria do governo provisório da Republica Portuguesa, de 15 de fevereiro de 1911, para simplificar e unificar a ortografia. (Prefácio de Adriano Jorge). Livraria Universal (de Pereira & Penalva), 54p. (Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro)


1927
PEREIRA, Francisco. Poemas amazônicos. Augusto Reis, 127p. (Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro)
MORAES, Raymundo. Cartas da floresta. Livraria Clássica (Banca do Largo)
REZENDE, Análio de Mello e FIGUEIREDO, Huascar de. O caso Kirk. Velho Lino, 132p. (Biblioteca Pública e Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro)
SOUZA, Antônio Telles de. Problemas relativos ao movimento diurno. [s.n.], 53p. (Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro)

1952
SILVA, Alencar e. Painéis (poesia). s/ed. 117p. (Biblioteca da  Academia Amazonense de Letras e Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro).
ROCHA, Adaucto. Introdução à economia amazônica: ensaio sobre a recuperação econômica da Amazônia. Oficina Gráfica da Escola Técnica, 452p. (Biblioteca Publica).
MORAES, Péricles. Leopoldo Péres. Sérgio Cardoso. (Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro).
MELLO, Anísio. Minhas vitórias-régias (poesia). Ed. Correio de Notícias. (acervo de Roberto Mendonça e Biblioteca da Academia Amazonense de Letras)
CABRINHA, Hemetério. O Cristo do Corcovado. [s.n.]  56p. (Biblioteca Pública e Biblioteca Mário Ypiranga Monteiro)
RAMOS, Alberto Gaudêncio. Cronologia eclesiástica da Amazônia. Sergio Cardoso, 143p. (Biblioteca Pública)
REIS, Henoch da Silva. A Constituição Imperial do Brasil. Fênix, 66p. (Biblioteca Pública)

terça-feira, março 19, 2013

ARTHUR REIS E A CABANAGEM

Arthur Reis, 1927

A revista Cabocla, que foi criada e dirigida pelo saudoso jornalista Genesino Braga, em sua edição de julho de 1936 publica uma resenha do livro “Traços cabanos”, elaborada pelo jovem Arthur Reis (1906-93). Convém lembrar que este amazonense já se consagrara ao publicar, cinco anos antes, sua primeira obra – História do Amazonas. O texto, abaixo.
 

Título da resenha na revista Cabocla, 1936
 
A história da historiografia amazônica já oferece, à galeria nacional, uma série de figuras interessantes, que não têm sido devidamente apreciadas. Vindo de Mauricio de Heriarte, Braun, passando por sobre os vultos memoráveis de Bettendorf, José de Moraes, Jacinto de Carvalho, jesuítas que nos deixaram a notícia pormenorizada das façanhas da ordem de Santo Inácio, passando por sobre Berredo, o injustiçado cronista dos “Anais do Maranhão”, indo a Baena, Accioly, Rodrigues Ferreira, Sampaio, Lobo d´Almada, Aguiar de Andrade, Leonardo Ferreira Peres, André Fernandes de Souza, José Maria Coelho, Almeida Souto, chegamos a José Verissimo, Arthur Viana, João Lucio de Azevedo, Rayol, Santa Rosa, Marajó, Bento Aranha, Teodoro Braga, Sant´Ana Nery, Torquato Tapajós, Bertino de Miranda, Manoel Barata, Aprígio Menezes, Vilhena Alves, Faria e Souza, Inácio Moura, Braga Ribeiro e Palma Muniz, além de outros menores, que trabalharam os materiais com que teremos amanhã o grande panorama da evolução regional no quadro geral da civilização brasileira.

Panorama, no fim de contas, que estava tardando e deve ser traçado por nós do vale para evitar que se continue a referir à síntese dos quatro séculos que o Brasil já viveu, sem a necessária justiça à nossa contribuição, que nada tem de inferior a das demais províncias humanas do país.
Acresce, porém, que há ainda uma série de fatos que não foram convenientemente estudados, reclamando, por isso mesmo, a pesquisa nos arquivos, fase de penetração, de divulgação de documentos. Para isso, o departamento paraense na espécie magnificamente aparelhado, com abundante e razoavelmente catalogado material.

O desembargador Jorge Hurley, que preside com amor, entusiasmo, alto descortino a Casa do Pará, o Instituto Histórico de Belém, avisado estudioso da amazonologia, escritor de louvados e proclamados merecimentos, fidalgo do pensamento, atitudes francas, certo de que sem o conhecimento dessas fontes preciosas, fundamentais, não era possível dizer a verdade histórica, bom heurista, severo, meteu ombros à tarefa beneditina e nos está revelando, minuciosamente um mundo de novidades. Altas novidades, que nos esclarecem, que nos orientam, que nos explicam certos momentos da caminhada amazônica.

Jorge Hurley lançou-se ao esmerilhamento da “Cabanagem”, nas suas origens, nos seus episódios, nas suas consequências. No Arquivo de Belém fez colheita magnifica, selecionada. Escreveu, então, uma trilogia interessantíssima, de que nos manda o primeiro tomo sob o título “Traços cabanos”. São quinze capítulos estampando episódios da Cabanagem, a começar no desembarque de Andréa, o caso da escuna Clio, as façanhas de Jacó Patacho, o “Lampeão glebário”, assuntos que ficam definitivamente esclarecidos.

Há, todavia, em “Traços cabanos” referências aos meus mirrados, paupérrimos ensaios regionais. No capítulo “Os cabanos no Amazonas”, a referência vale quase como uma contestação. É que, na “História do Amazonas”, afirmei a morte violenta de Bararoá, no Autaz, a 6 de agosto. Hurley, com o ofício nº 31, de 23 de outubro de 1838, de Andréa ao Secretário dos Negócios da Guerra, encerra as dúvidas a respeito do incidente, que tantos prejuízos imediatos trouxe à ordem geral na Comarca do Amazonas.

Bararoá, pela descrição do futuro barão de Caçapava, foi morto pelos cabanos já no (rio) Madeira. É, assim, um tópico sobre o qual não se pode mais dizer em contrário. Só esse tópico. Porque, em torno da figura de Ambrósio Aires, há ainda outras lacunas desafiando pesquisas. Geralmente apontado como degredado político nordestino, envolvido no movimento democrático, constitucionalista, de 1824, aqui estaria cumprindo penalidade.

Ora, na relação dos que se viram às voltas com a justiça impiedosa, sangrenta das comissões militares de Dom Pedro I, não consta o nome do nosso herói. Sabemos apenas de Alexandrino Magno Taveira Pau Brasil, José Ferreira de Azevedo, frei Alexandre da Purificação, três patriotas daquela jornada cívica que aqui vieram padecer a culpa de suas atitudes políticas. Só esses três nomes aparecem. A não ser que Bararoá, revolucionário, ao fracasso do movimento, como o boticário Vicente Alves da Silva, aqui tivesse vindo parar como fugitivo.

O fato é que já o encontramos, em 1832, contra as nossas aspirações autonomistas, inteiramente ao lado do Governo do Pará, o que não ocorreria com frei Alexandre, que se bateu por nossos anseios libertários. Encontramo-lo, mais, nesse instante, como autoridade legal, no rio Negro. Criminoso político no exercício de funções militares, naqueles momentos de tantas paixões? Teria sido dos anistiados em 1831?!
Uma figura singular, surpreendente, esse Ambrósio Aires, rixento, bravo, terror dos cabanos.
* * *

“Traços cabanos” não é absolutamente uma obra que apresente os vinte anos de intranquilidade que vivemos sob o Primeiro Império e as Regências, com unidade, exposição circunstanciada, ou visão sintética. Estamos diante de um livro de episódios, documentados, que era preciso vir à luz como o foram. Como, de certo, o de Jacó Patacho, “Lampeão glebário”, imortalizado nas páginas de “O Missionário”, de Inglês de Souza.

A história da Cabanagem, serena, das origens ao seu epílogo, tem de ser feita ouvindo-se a palavra dos que a movimentaram e encontramos espalhada no noticiário dos jornais da época, em Belém e na Corte, na panfletária que circulou em massa e foi uma característica muito curiosa do Primeiro Império e das Regências, apreciando-se essa documentação preciosa que agora nos vai sendo confiada.

Ainda há pouco tempo, a 13 de maio, não se fez em Belém e no Rio de Janeiro, a comemoração festiva do centenário do fim da Cabanagem! E não sabemos tão bem que a tomada de Belém não encerrou o ciclo sangrento, como muito acertadamente assinalou, apoiado no que já afirmei documentadamente, Basílio de Magalhães, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro?!

“Traços cabanos” é uma contribuição feliz, para o conhecimento de nossa formação político-social. Jorge Hurley nos deu ali um farto cabedal de minúcias importantes.

Mando-lhe, com estas linhas, as minhas felicitações.

domingo, março 17, 2013

ATLÉTICO RIO NEGRO CLUBE: CENTENÁRIO

De uma revista editada por este Clube, ao tempo em que era comum esse tipo de comunicação em qualquer entidade, retirei as fotos postadas. Rionegrino era o título desta publicação, que contava as glórias sociais, esportivas e literárias de seus associados. Afinal, o Rio Negro desfrutou da reputação de clube líder da cidade, por décadas.

Na edição nº 24, de novembro de 1939, Rionegrino divulgou fotos da construção da sede, a mesma que conhecemos, construída na avenida Epaminondas, em frente à praça da Saudade.

Em nota, a direção do ARNC informa que o projeto tem a assinatura do arquiteto amazonense Dr. Aluízio Araújo. A execução da obra está a "cargo dos conceituados construtores" J. Lopes & Cia., sob a fiscalização dos velhos “rionegrinos”, engenheiros Argemiro Pessoa e Ariolino Azevedo. Encerrando a nota, vangloria-se de que “a construção vem sendo levantada com a energia e o idealismo da mocidade que forma sob a bandeira gloriosa do ARNC”.
 



 

sábado, março 16, 2013

AMBRÓSIO AIRES, O BARAROÁ

Ambrósio Aires, o Bararoá
O município de Autazes nasceu com a denominação de Ambrósio Aires, um controvertido personagem da campanha da Cabanagem (1835-40). A instalação daquela localidade coube a outro personagem, este integrante do judiciário e agente da literatura amazonense. Falo de Otaviano Mello, autor de vasta bibliografia e que nos legou o multiartista Anísio Mello, este desaparecido em abril de 2010.

Otaviano, para explicar a motivação do nome de Ambrósio Aires no município, fez circular um pequeno jornal. Intitulado AUTAENSE, existente na Biblioteca Mário Ypiranga, nele o promotor Otaviano elaborou pequena biografia e publicou uma foto do homenageado. Veja a reprodução abaixo (em azul).

Título da publicação em Autaense
A fotografia é, sem dúvida, o meio mais seguro e prático para, em curto tempo, se gravar na memória os fatos de maior ou menor importância histórica. Qualquer pessoa ou acontecimento de que falarmos, mui instintivamente, desenhamos dele, mentalmente, os traços fisionômicos, os seus protagonistas e, até suas consequências.
Assim, o distinto leitor já deve ter feito uma ideia de como era Ambrósio Aires, este que legou o seu nome a nova povoação que se ergue no rio Autaz-açu, patrocinada por bons brasileiros, e cujo retrato ilustra a nossa capa.
Ambrósio Aires só podia ser moço e forte, afeito as lutas e as vitorias de que se cobriria no período de 1835 a 1838 contra a Cabanagem. Estampando o seu retrato, oferta valiosa do prof. Célio Porciúncula, exímio pintor maranhense, ao presidente do Sindicato Agropecuário Autaense, prestamos-lhe justa homenagem.

Da preciosa oleografia do Caudilho de Bararoá, foi tirada a cópia por dona Esther Thaumaturgo Soriano de Mello, esposa do signatário do presente artigo, de onde fizemos a fotogravura.
Aproveitamos o ensejo para dizer algo mais sobre a personalidade de Ambrósio Aires. A sua nacionalidade é um ponto que tem sido muito discutido e motivo de controvérsia. Segundo as noticias colhidas nos nossos arquivos, chegamos à conclusão absurda de que Ambrósio Aires era “alemão”, “peruano”, “inglês”, “português” e “brasileiro”; era branco de cabelos louros; era trigueiro, de físico atraente etc.
O retrato de Bararoá parece vir esclarecer essas dúvidas. Os seus traços fisionômicos dizem mais do que as contradições dos escritores. Como europeu só poderia ser português, tanto pela expressão do seu rosto como pelo próprio nome. Entretanto, as características de Ambrósio Aires são da raça vermelha povoadora da América. De todas essas versões, embora um pouco romântica, a que mais se aproxima dos traços físicos de Ambrósio Aires é a de Francisco Amorim, que diz: “Era um moço de pouco mais de trinta anos, baixo, trigueiro, de olhos castanhos, olhar firme, boca rasgada e imperiosa...”.
Em um dado momento, no auge da luta Ambrósio Aires se dirigindo a um francês disse: “O senhor é estrangeiro e pode, querendo, abster-se de tomar parte na causa...” Ambrósio Aires, enfim, não parece estrangeiro, mas, simplesmente abuuna (sic). 

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Ambrósio Aires foi um deportado para o Rio Negro, logo após a abdicação de 7 de abril de 1831. Naquele rio que banha as nossas, antiga e atual, capitais, Barcelos e Manaus, havia a pitoresca povoação de Bararoá, que Mendonça Furtado, em 1758, elevou à vila mudando-lhe o nome para Thomar e que, em 1833, recebeu a sua primitiva denominação.
Dai surgiu o seu conhecido nome guerra – Bararoá.

Em Bararoá, Ambrósio Aires fez fortuna, casou-se e adquiriu amigos e prestígio. No período da Cabanagem, no seu belo degredo, tomou a resolução de defender a Comarca do Alto Amazonas e, além de expor a vida às sanhas inimigas, desordenadas, tangidas pelos cabanos, dava ainda os seus bens para garantir as despesas que fizessem em defesa do povo amazonense, se o governo não as aprovasse.
Assim ele escreveu: “quando o governo não aprovar a despesa feita, obrigo-me com os meus bens”. Com estas palavras escritas por Bararoá na ata das sessões da Câmara, esta não ousou mais recursar-se. Ambrósio Aires, no início da luta, já possuía bens, bastante para garantir as despesas de uma guerra. Em 1835, depois de feitos heroicos, foi o destemido confirmado no posto de capitão comandante das Forças Legais do Alto Amazonas.
Os bons e os justos rendem-lhe as homenagens que se fez credor pelos seus serviços à nossa Pátria e especialmente ao Amazonas.
Entretanto, outros afirmam que ele faleceu no rio Autaz, no dia 6 de agosto de 1938.

Até bem poucos anos havia um Sr. Cruz, macróbio respeitável, domiciliado neste rio, que dizia saber o lugar onde Ambrósio Aires tinha sido sepultado, na atual “Fazenda Bararoá”, propriedade do Sr. coronel Antônio Soares.
Devido os numerosos janeiros e cruciantes reumatismos, o velho Cruz, como era conhecido, faleceu sem nos mostrar o túmulo histórico, perdido no grande campo, certamente numa das partes mais elevadas da aprazível fazenda, que recebeu o seu proclamado nome de guerra: Bararoá!
Assinado: O. Mello (Otaviano Mello)