CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, julho 31, 2018

EPHIGENIO SALLES (1)

Prosseguimento do capítulo sobre a vida deste governador do Amazonas (1926-30), compartilhado de Ao Serviço do Amazonas (foto).



Voltei, como sempre, a mourejar na imprensa, até 1907, quando resolvi embarcar para o Rio, no propósito de reencetar os meus estudos de Direito, interrompidos de início, à falta de recursos. Matriculado desde então, regressei ao Amazonas, de onde me transportava à capital da República, ao fim de cada ano letivo, para prestar exames de segunda época.

Agrava-se em 1910 a situação política do Estado. Precipitam-se os acontecimentos e, de tal forma, que, à noite de 7 de outubro desse ano, pernoitávamos eu e o então deputado Dr. Monteiro de Souza, além dos Drs. Pedrosa Filho e Pedro Guabiraba; tenente-coronel Manoel Carvalho, conde Marco de Panigai, major José Lins e Aristeu Rocha, no quartel da força pública do Estado, então comandada pelo intrépido coronel [PM] Pedro José de Souza (e hoje dissolvida em circunstâncias lamentáveis), entrando a participar da resistência heroica ao bombardeio de Manaus, levado a efeito, desde as primeiras horas do dia 8, por cinco navios da Marinha de Guerra, surtos em nosso porto, pelo 19° Grupo de Artilharia e pelo 48º BI do Exército.

De arma em punho, como simples soldado, defendi a ordem legal e a autoridade constituída, na pessoa do então governador, coronel Antonio Bittencourt, com quem éramos todos solidários. E diz-me a consciência que cumpri, com destemor e desinteresse, um dever elementar de lealdade e de patriotismo.
Em novembro de 1910, fui provido, por concurso e vitaliciamente, no cargo de distribuidor e contador geral do Foro, cargo de que vim a ser exonerado, após a revolução de 1930, por ato do então interventor Álvaro Maia, ex-diretor da Imprensa Pública no meu governo, e a quem eu igualmente nomeara lente das duas cadeiras de que é proprietário, no Ginásio Amazonense Pedro II.

Já formado em Direito e sem prejuízo das minhas obrigações forenses, assumia, em fevereiro de 1912, a direção do “Diário do Amazonas”, que, de órgão do partido dominante, se transformara em jornal independente, sustentando a candidatura do senhor Monteiro de Souza à sucessão do coronel Bittencourt, no governo do Estado.

* * *

Candidato avulso, logrei eleger-me, em 1914, a primeira vez, para a Câmara dos Deputados, integrando a representação federal do Amazonas.

E como deputado federal aqui me encontrava, em 14 de janeiro de 1917, quando se verificou o movimento armado que visava impedir a posse do Dr. Alcântara Bacelar, eleito governador do Estado para suceder ao Dr. Jonatas Pedrosa. Mais uma vez, compreendi que não podia faltar com o meu concurso à defesa da autoridade e da lei.

Dirigi-me, por isso, incontinenti ao palácio do governo, hoje sede da administração municipal, e em ali chegando, na companhia dos Drs. Pedrosa Filho, Mario Sá e Alberto Corrêa, major José Soares, Raimundo Neves, Jaime Baird e Aldovar de Sales Vitor, tratei de aparelhar a resistência legal, guarnecendo, eu mesmo, uma metralhadora assestada à porta principal do edifício, enquanto os companheiros ocupavam posições estratégicas, armados de rifles e fuzis, para repelir o assalto.

EPHIGENIO SALLES

Capa do folheto
Efigênio Salles foi governador do Amazonas no quadriênio 1926-30. Nascido em Minas Gerais, desembarcou ainda jovem na "capital da borracha", e nela fez amplo progresso. Ele próprio conta sua rocambolesca passagem pela vida, no folheto Ao serviço do Amazonas, publicado em 1934. 
A reprodução deste será feita em etapas.

Título geral do capítulo



Limitar-me-ei, todavia, a uma simples enumeração de fatos, expostos à luz da verdade sabida de todos, com referência precisa a datas, figuras e documentos, mas em geral desacompanhados de quaisquer comentários, que, aliás, não comportaria a natureza sucinta desta narrativa.

Trata-se apenas de avivar, na justa oportunidade, o que está na consciência dos bons amazonenses, sem atenção e com desprezo absoluto aos desmemoriados, que se negam a si mesmos, negando a própria evidência do dia de ontem.

*  *  *
Cheguei a Manaus em abril de 1896, com 17 anos de idade apenas e sem nenhuma carta de apresentação ou recomendação, como um pobre imigrante que era, dentro do meu país. E aqui aportando, iniciei desde logo a minha vida, muito modestamente, como mero aprendiz de tipógrafo nas oficinas do Diário Oficial do Estado. Mas, logo no ano seguinte, regressava ao Rio, precisamente quando mais intensa ia a luta de Canudos, entre os fanáticos de Antonio Conselheiro e as tropas do governo, constituídas de batalhões do Exército e das forças policiais de diferentes unidades da República. Moço, cheio de ardente civismo, imediatamente ingressei na coluna Arthur Oscar, seguindo para a Bahia incorporado ao 22° BI, sob o comando do coronel Bento Thomaz Gonçalves e, em seguida, por substituição, do seu bravo fiscal, major Lydio Porto, debaixo de cujos ordens servi até vitória final dos legais. Terminada essa sangrenta biela, de tão doloroso registro na história dos primeiros dias do regime, voltei ao Amazonas.

Dispondo, já então, de um círculo maior de relações, fui convidado pelo major Euzébio Caldas, gerente do jornal “Amazonas”, para incumbir-me, como repórter, da parte noticiosa daquela folha, dirigida e redigida, à época, pelos saudosos amazonenses, coronéis Antonio Bittencourt e Antonio Salgado dos Santos. Fastidioso fora rememorar, nestas linhas, a crônica do velho e tradicional órgão de publicidade, que durante certa fase foi forçado a suspender sua publicação. Seria necessário volver toda uma página movimentada da vida política do Estado. É tarefa para o historiador de amanhã.

Entre 1898 e 1899, no governo Ramalho Junior, partia eu para o Acre, em companhia de Luiz Galvez Gonçalves d'Arias, afim de tomar parte na reação que, sob a orientação do mesmo Galvez, ali se organizou para expulsar os bolivianos que haviam invadido a região, de lá desalojando grande número de famílias brasileiras, cearenses, naquelas paragens radicadas desde muitos anos.
Não há lugar também, aqui, para a rememoração desse capítulo.
Gravemente enfermo, desci do Acre, diretamente com destino ao Rio de Janeiro, de onde tornei a estas plagas, de meados para o fim de 99, retomando o meu obscuro posto de auxiliar da imprensa, na redação do “Amazonas”.

Eis que, já no governo Silvério Nery, são os acreanos de novo deslocados de suas antigas propriedades, vindo refugiar-se nas cercanias de Puerto Alonso, um pouco abaixo da linha Cunha Gomes, em Caquetá, Esperança e outros pontos. Tangiam-nos, ainda uma vez, os bolivianos, comandados pelo general Rojas, com a presença até dos generais Pando e Monte, aquele presidente e este ministro da guerra da Bolívia.

A opinião brasileira, como é natural, alvoroçou-se com esses sucessos de repercussão viva e imediata na capital amazonense, onde para logo se formou uma expedição patriótica, sob os auspícios do governador Silvério Nery e direção do denodado Dr. Orlando Corrêa Lopes.

Não vacilei em participar espontânea e entusiasticamente dessa coluna, que se compunha de elementos de escol no jornalismo e nas letras, e tenho o orgulho de ter sido nela o voluntário número 1, ao lado de vultos brilhantes, logo depois incorporados, tais, entre muitos outros, o grande Plácido de Castro, que viria mais tarde a desempenhar papel de extraordinária relevância nos acontecimentos do Acre; João Barreto de Menezes, José Maria dos Santos, comandante Pery Delamare, Trajano Chacon, Ribeiro de Castro, José dos Anjos, Arnaldo Machado, Guilherme Souto, Inácio José de Carvalho, Gentil Norberto, Avelino Chaves, para citar dos maiores alguns já desaparecidos, e bem assim o atual diretor-proprietário da “União Portugueza”, senhor Manoel Domingos dos Passos Gomes na gloriosa jornada, dizem mais alto que tudo as promoções que sucessivamente obtive, passando de cabo-sargenteante da primeira guerrilha, posto em que daqui saíra, a capitão assistente do cominando geral de todas as forças acicatais, e sempre por atos de bravura em árduas refregas e no desempenho de arriscadas missões de que fui encarregado. 

Em princípios de 1901, baixava, porém, a Manaus, com outros companheiros na causa comum, e isto por solidariedade ao comandante em chefe das nossas tropas, Dr. Orlando Lopes, em divergência, com o comando de algumas unidades provisórias organizadas pelos próprios elementos da região.

quinta-feira, julho 26, 2018

CONSTANTINÓPOLIS


Nascido em Constantinópolis, estava eu às vésperas de completar sete anos quando o texto abaixo compartilhado circulou no vespertino Diário da Tarde (18 janeiro 1953). Lido por esses dias, mais de sessenta anos depois, fiquei imaginando o lugar desgraçado, infeliz onde nasci. Só havia misérias, infortúnios, se acreditar na descrição do jornalismo de antanho.

Recorte do referido vespertino
Não há uma indicação de bem-estar, da presença de qualquer organismo que proporcionasse um bom final de semana. Nem a igreja do padre Antonio Plácido, nem a igreja Batista de (que ainda conserva) Constantinópolis, tão pouco o cine Vitória ou a Usina Labor, menos ainda a beira do rio Negro e do igarapé de Educandos serviam de atenuantes. Nada. Somente aflições.
Ainda não havia o consumo de drogas, longe do nível de nossos dias, a cachaça seria essa desgraça para os homens e, para as mulheres, a prostituição. Acredito que o jornalista (não identificado, como era praxe da época) escreveu a matéria para cumprir a pauta, com interesse da empresa Archer Pinto, quem sabe, em atingir algum governante, ou todos.
Sorte grande, creio hoje, ter eu escapado desse inferno, se existiu nessa dimensão.


Bairro que congrega milhares de gente humilde; um pedaço esquecido de Manaus que ainda espera a proteção dos poderes públicos; trincheira onde permanece um exército de trabalhadores pelo engrandecimento desta terra infeliz — Constantinópolis possui, como os demais bairros de Manaus, a sua própria vida, os seus próprios problemas e amarga também o sofrimento e a miséria. (...)
Presa fácil dos caçadores de votos; gente humilde e ignorante que se deixa levar pelos demagogos, ambiciosos — aquela gente de Constantinópolis, sempre se apresentou como fator indiscutível na organização da sociedade amazonense, trabalhando nas mais difíceis tarefas; sendo ela aquela que, jamais se negou a lidar com o trabalho mais sacrificado das fábricas e das usinas, ou a exercer outras tarefas também medíocres, mas sempre honradas; mas mesmo assim nunca foi olhado com a consideração que merece; nunca recebeu o amparo de que necessita, e daí os mais desprimorosos conceitos que se lhe fazem.
Ali permanece uma infância infeliz, que não sentindo a assistência necessária, é obrigada a enveredar pela senda do crime e da prostituição. Bairro populoso, sustentáculo de nossa economia porque dali saem os homens que lidam nos mais duros trabalhos; bairro essencialmente operário, Constantinópolis carece de mais escolas e é merecedor de melhor sorte. Embora seja um dos mais populosos bairros de Manaus, ainda não compreenderam os poderes públicos que Constantinópolis já necessita de um hospital. Ao contrário, desassistido e pobre, doentio na sua maioria, aquele povo não dispõem nem ao menos de postos médicos onde possa se socorrer nos casos mais urgentes.

Sem um policiamento rigoroso; carecendo de luz e de água; sem ao menos uma feira onde comprar o alimento; com suas ruas e becos sempre em completa escuridão –Constantinópolis se transformou em campo aberto à ação dos criminosos, dos ladrões audaciosos, que assaltam em plena via pública ou chegam ao ponto de arrombarem residências, porque lhe falta a vigilância policial. A esta, porém, façamos justiça, não cabe exclusiva culpa porque aqueles becos em completa escuridão se apresentam como armadilhas traiçoeiras, onde o crime se verifica, e o criminoso se acoberta, sendo difícil por isto mesmo a proteção policial.
Ali sim, é que se verifica a deficiência assistencial em que vive a infância do Amazonas. Aquelas prostitutas em corpo de meninas, são o efeito da desorganização em que vivemos. Elas, sem a proteção necessária, sem o chamamento ao caminho do bem, sem os recursos indispensáveis para o convívio num meio mais elevado, se transformam então em vítimas pela hipocrisia da chamada “alta sociedade” e de repasto aos instintos bestiais dos “bonitões” e endinheirados. Isoladas no seu próprio ambiente, como a uma barreira imposta ao desenvolvimento social pelos preconceitos e pelo seu estado de pobreza, são forçadas então a seguir o destino de todas as jovens infelizes e desassistidas, ignorantes e necessitadas – a prostituição. (...)
Filhos que não conhecem pais; meninos ignorantes que não veem uma esperança de melhores dias; juventude forcada a seguir o caminho do crime; bairro infeliz sem um hospital, becos escuros que são verdadeiras armadilhas; povo desprezado e sempre ludibriado pelos políticos despudorados, são os complementos desse quadro entristecedor que se denomina Constantinópolis: expressão maior de miséria e sofrimento.



terça-feira, julho 24, 2018

TRABALHO ESCRAVO (1)

Máquina operando,
sem proteção ao
transeunte

Devo me desculpar pela acusação que registrei contra a Prefeitura de Manaus, efetuada ontem, quando a responsabilizei pela obra de restauração de calçadas no Centro.

Como o Trabalho Escravo continua do mesmo modo e maneira, com o pessoal executante da obra apresentando nenhuma proteção pessoal, assim como para os passantes, incluindo veículos, resolvi interrogar ao açougueiro da esquina sobre a dita-cuja, que também sofre com o desastre.

Ele me explicou que a restauração da calçada ao longo da avenida Sete de Setembro presta-se para facilitar a visita ao Centro Cultural Palácio Rio Negro. Pois haverá rampa e sinalização para deficientes. A autorização e o valor da obra encontram-se afixados no painel naquele Centro. Quem circula de carro pela rua Major Gabriel e aguarda o semáforo na esquina, pode ler a Placa com estes dados, coisa de três milhões de reais e alguns quebrados para tanto.

O caminhão (foto) que retira o entulho tem a placa JMM 8663 de Rolim de Moura (RO).

Portanto, cabe ao governo do Estado. Cadê o Ministério Público do Trabalho, isso mesmo?

Operários e o caminhão


  




segunda-feira, julho 23, 2018

TRABALHO ESCRAVO

Há duas semanas, mais ou menos, parte da calçada da avenida Sete de Setembro (a partir da rua Jonatas Pedrosa em direção ao Centro) vem sendo restaurada. Comentam que se trata de trabalho da Prefeitura de Manaus. Todavia, não é possível identificar, pois não há indicação da obra em painéis e os operários não portam qualquer identificação de qualquer construtora.

No sexta-feira passada, assisti com outros frequentadores do Canto do Quintela esse maravilhoso trabalho escravo. Os operários não dispunham de qualquer proteção no trabalho: sem roupa adequada, muito menos botas, além da utilização de ferramentas inadequadas, por exemplo, respeitável marreta ainda da segunda guerra. Sem contar, a proteção para os transeuntes. Faltava apenas o relho do feitor, porque o calor amazônico substituía com sobra. 


Caminhão que apoiava o serviço. Local: esquina da Sete de Setembro
com avenida Joaquim Nabuco


.

RELEMBRANÇAS

É isso aí... revirando o bau, encontrei essas três ventarolas (ou coisa semelhante), que serviram para refrescar e, em paralelo, divulgar os eventos.
As datas: a da Polícia Militar é de 1995; a da Imaculada Conceição, 2005 e do Arquivo Público, do corrente ano.



sábado, julho 21, 2018

PMAM: NOTAS PARA SUA HISTÓRIA

Quartel da PM ainda
na Praça da Polícia

Compartilhado da Mensagem do governador Silvério José Nery lida perante o Congresso dos Representantes, em 10 de julho de 1902

Sobre o efetivo da Força Estadual, então intitulada de Regimento Militar do Estado, seu quadro é de 901 soldados e 53 oficiais. No período de 1º de julho de 1901 a 31 de maio de 1902, foram incluídas 434 praças e excluídas 320. Era seu comandante o coronel Adolpho Lisboa.

Na época, foi inaugurada a biblioteca do Regimento, com cerca de 800 0bras sobre assuntos militares e perto de 1.500 volumes. Montou-se uma sala d’armas, para exercício de esgrima.
Ainda alcancei esta biblioteca, quando ingressei na PM, em 1966, abandonada em uma sala, diria, sem serventia. Este acervo foi transferido para o CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças) enquanto funcionou no quartel existente na Ponte da Bolívia (hoje Barreira).
Declaro que frequentei bastante este espaço, tendo guardado alguns raros exemplares. Hoje, um resquício desses livros compõe a biblioteca da Academia Coronel Neper Alencar.

Tenente-coronel Ulisses Saturnino de Freitas foi nomeado membro da comissão encarregada de relacionar e avaliar o material de madeira enviado do Rio de Janeiro pelos Srs. Antonio Jacuzzi Irmãos & Cia. Outros membros da comissão: tenente-coronel Arthur Cesar Moreira de Araújo (cuja lembrança é a Escola Estadual com seu nome, situada à avenida Djalma Batista) e o tenente Francisco Lopes Braga.

Registro do valor do imóvel desapropriado pelo Estado até 31 maio 1902, do sobrado de Custodio Pires Garcia, na Praça da Constituição (hoje de Heliodoro Balbi, mas que o vulgo prefere de Praça da Polícia), que custou aos cofres estaduais – 868:518$399 [oitocentos e sessenta e oito contos, quinhentos e dezoito mil e trezentos e noventa e nove réis]. Não tenho capacidade de calcular essa fortuna.

QUEM SOU EU...

Este texto foi escrito para complementar o site que vou inaugurar até o final do mês, nada demais, somente a sequencia deste Blog. E serve para fazer minha apresentação.

Quem sou eu?... somente um
catador de papéis e de antigas histórias regionais

Acabo de executar largo passo na exigente concorrência da mídia pela Internet. Confesso de pronto minha penúria com as teclas e os atalhos, do mesmo modo com os aplicativos e os símbolos. Todavia, sigo me esforçando para melhor evoluir.

Nascido em Constantinópolis (hoje bairro de Educandos), em 1946, migrei para o centro da Cidade ao ingressar no quartel da Praça da Polícia, aos 20 anos. Antes, porém, completei o ensino médio no Seminário São José, desse modo, minha predileção por estas organizações e seus núcleos afins.
Graduei-me pela Faculdade de Direito do Amazonas (1980) e até iniciei (sem concluir) o mestrado em História, na Universidade Federal de Pernambuco (1999). Daí advém outra predileção: a história do Amazonas.
Ultimamente, a biografia da família tem me ocupado. Já se encontra em PDF o livro sobre as viagens de meu pai no Brasil. Ele era oriundo do Peru. Agora, estou removendo do fundo do lago a epopeia da família materna: os Lima do Anveres.
No tocante à minha própria família, esta já se encontra à sua disposição, basta copiar o texto de Rober70 Mendonça.

Com a intenção de “desovar” bom número de tantos papéis catados, a entulhar o escritório-residencial, surgiu o catadordepapeis.blogspot.com, que estreou em março de 2010. Vem servindo para preencher o meu tempo de aposentado e retribuir o incentivo de colegas e familiares, blog que acaba de ser substituído por este site nessa corrida sem termo. Julgo oportuna essa maneira elegante de me livrar de recortes e outros impressos e, de algum modo, compartilhar fontes de pesquisas.

Festejei a centésima publicação, prometendo fidelidade diária. Não alcancei. Ao atingir 1001 postagens, três anos depois, afirmei que, apesar dos apelos da controladora de blogs, persistia fiel ao formato antiquado. Afinal, reitero o que afixei na partida: caro leitor-amigo, aproveite a viagem deste barco e, desejando, envie sua contribuição. É cada uma dessas que me faz reparar o rumo. Vamos comigo!


terça-feira, julho 17, 2018

CAVALARIA DA PMAM: NOTAS


Estátua à entrada do quartel da
Cavalaria
Na condição de unidade policial, a Cavalaria surgiu com a criação do Regimento, no meado da última década do século XIX. No entanto, devo registar que, na reinstalação da Guarda Policial, em 1876, havia previsão de alguns cavalos para uso do estafeta e do ordenança. Com isso, pode-se nomear esse período e esse emprego da cavalgadura como a pré-história desta arma na Polícia Militar do Amazonas.

Efetivada na estrutura do Regimento Militar em 1896, e a fim de operacionalizar o serviço, o Estado teve de adquirir os cavalos.  Não os encontrando em Manaus ou adjacências, foi obrigado a importá-los, realizando-a de muito longe, do exterior. Os cavalos vieram da Argentina, a distância e o único meio de transporte existente me leva a imaginar essa operação. Não muito estranha, visto que outra similar foi realizada já em nossos dias, um século depois.
Ainda que não se conheça o número desses animais, são conhecidos dois registros sobre dessa singular importação. O primeiro, inserido na mensagem do governador do Amazonas aos Congressistas, em 10 de julho de 1902. Na ocasião, Silvério Nery efetuava um retrospecto de seu governo e, entre outros subsídios, registrou que as “contas tomadas”, ou seja, os recursos dispostos “ao tenente Luís Gomes Freire de Quadros não foram adequadamente aprovados”.  
Os valores referiam-se ao “emprego de 1.000 libras esterlinas que recebeu em Buenos Aires, para a compra da cavalhada para o Regimento Militar do Estado, e mais 2:500$000 [dois contos e quinhentos mil réis] que recebeu no Pará para despesas com o transporte da cavalhada até este porto”.
Asseguram os fiscais do Tesouro que a prestação de contas estava incorreta, “pela falta de documentos comprobatórios das despesas que o responsável alega ter realizado”.
Tenente Quadros era apesar da nacionalidade portuguesa, oficial do Regimento e, na ocasião dessa negociata, exercia o cargo de Ajudante de Ordens do próprio governador. Não alcancei as providências administrativas sobre o comprador.  De igual maneira, o número de quadrupedes “hermanos” adquiridos com as libras esterlinas.

A única alternativa de transporte então do rio da Prata ao rio Negro era o navio. Assim foi realizado. Apenas interrogo se o afretamento foi realizado em duas etapas, de Buenos Aires à Belém, e deste porto para o de Manaus.

Na verdade, a cavalhada chegou ao porto de Manaus e encaminhada ao Piquete de Cavalaria, que existia na rua Duque de Caxias, onde hoje está assentada a maternidade Balbina Mestrinho e um quartel da PMAM. Este terreno estendia-se por um barranco que findava no igarapé do Mestre Chico, cuja referência hoje é um edifício da igreja Quadrangular do Reino de Deus.
Capa do livro com o
registro de Mario Ypiranga

O outro registro tem por fonte o governador Antonio Bittencourt, que foi vice do governador Silvério Nery. No opúsculo circulado em 1912, sob sua responsabilidade, intitulado Eram eles os ladrões... (crônica de uma oligarquia nefasta), referindo-se aos Nery, delatou seu antigo chefe. A primeira acusação diz respeito a mencionada cavalhada comprada para o Regimento, que, todavia, acabou na fazenda do governador situada no lago do São José do Amatari.
Um pouco mais de delação: alguns cavalos foram “vendidos” aos oficiais, que pagaram em módicas prestações.

Enfim, o texto do citado panfleto sempre ocasionou uma indagação: quem era o autor dos artigos publicados no primitivo jornal Diário do Amazonas, que originou o Eram eles...? Entre outras especulações, suspeitou-se do jornalista Victor Hugo Aranha. Todavia, o saudoso mestre Mario Ypiranga dirime a dúvida: registrando de próprio punho na capa do exemplar de sua biblioteca, assegura que o texto desta delação foi escrito “pelo professor Agnello Bittencourt”. Dessa maneira começou a Cavalaria na Polícia Militar do Amazonas.

Que fim levaram os cavalos? Perderam o imperativo quando o boom da borracha esvaziou o Estado, que entrou em decadência, levando em seu bojo a corporação militar estadual. A Polícia Militar sentiu o reflexo e foi encolhendo ano após ano. De sorte que, como a cavalaria desapareceu, os canhões foram recolhidos ao museu, não havendo mais necessidade dos “beiçudos”. Não houve renovação.
Até que... isso é para outro capítulo. 

segunda-feira, julho 16, 2018

AVIAÇÃO NO AMAZONAS

Apenas para ilustrar a futura história da aviação no estado do Amazonas, e lembrar as extintas empresas de navegação aérea.

Observe os horários e o tempo de voo de Manaus ao Rio de Janeiro. 

Este compartilhamento foi sacado do matutino A Gazeta, de agosto de 1955.  

Boa viagem. 

sábado, julho 14, 2018

LITERATURA AMAZONENSE

Autor, traço de Anísio Mello
Para comemorar 25 anos de poesia, o saudoso poeta Jorge Tufic elaborou uma série de poemas sobre temas regionais. Deu-lhe o título de "Os mitos da criação e outros poemas", e assim reinaugurava a circulação do Jornal Cultura, publicação do Fundação Cultural do Amazonas - Seduc, relativo a março/abril de 1980. 
Compartilho este poema, cujo tema nos é bem conhecido.

Recorte da publicação
 O BOTO 
Rema, Senhor: festança vai começar.
Vento cheira à baunilha. As sombras andam
para trás, como exércitos em fuga.
Margem leste caminha vem trazendo
a lua. São Jorge fica mais perto
enquanto o dragão lhe atiça a fogueira.
Noite agora é um clarão, clarão de festa,
onde o boto apessoado comparece
com seu terno de linho. Madrugada
ele volta ao perau. Leva, nos braços
a cabocla que dorme e que parece
consentir no feitiço que a tornara
dona de um reino aquático, ou talvez
de um sonho que mãe-d’água lhe contara.

quarta-feira, julho 11, 2018

HINOS EUCARÍSTICOS


O bispo do Amazonas, dom João da Matta, preparou o 1º Congresso Eucarístico de Manaus, em 1942. Dez anos depois, coube a dom Alberto Ramos, arcebispo do Amazonas, a organização do 2º Congresso. Entre outras provisões, havia o imperativo de um hino para cada encontro, servindo para conduzir, estimular os participantes.  
Dom Alberto Ramos
Conheci, porque cantei exaustivamente estes dois hinos, quando estudava no Seminário São José. Outro dia, eles vieram ao meu encontro, ao sacá-los do Jornal Cultura (novembro 1974), que anunciava novo Congresso Eucarístico.

Enquanto rememorava a música dos hinos, fui lendo os nomes dos responsáveis pelas obras. Então, lembrei-me de ter visto raramente padre Manuel de Albuquerque (1907-77), quando este circulava entre as cidades de Tefé (AM) e Santarém (PA). Respeitável poeta, produziu a letra do hino.

A música coube ao então padre Pedro Mottais, nascido na França, que ingressou no Amazonas pela cidade de Tefé (AM), onde certamente fez amizade com o autor da letra. Vindo para Manaus, governou a paróquia de Nossa Senhora dos Remédios e a reitoria do Seminário, ao receber a distinção honorifica de cônego. Participante da criação da Faculdade de Ciências Econômicas, instalada em 1958, foi seu primeiro diretor (1958-59). Possuía um automóvel, cujo ruído facilitava aos alunos do seminário saber quando o reitor se aproximava. Todavia, cônego Mottais “mudou-se de Manaus sem despedidas” para São Paulo. Há registros de que esteve servindo à Igreja em Jundiaí (SP), e que veio a falecer possivelmente em São Vicente (SP), já promovido a monsenhor.

Página do Jornal Cultura (novembro 1974)

A letra do hino do II Congresso pertence ao então clérigo Áureo Pereira de Araújo, que não estou bem certo, sigo averiguando, esteja vivendo em Belo Horizonte. Lembro-me dele, pois residia aos fundos do Seminário, pela rua Major Gabriel, onde ora encontra-se um anexo da Uninorte. Sei que ele frequentava o seminário fora de Manaus, penso que os dominicanos. Oxalá esteja vivo.

A música é de autoria do professor José Arnaud (1895-1978). Este maestro era tenente da reserva do Exército e havia dirigido a Banda de Música da Polícia Militar do Amazonas, entre 1945-48. Envolvido na recuperação da história dessa organização musical, recebi informações básicas sobre o compositor do hino de sua filha Lacy Arnaud Soares, nascida em Manaus, porém, residente no Rio de Janeiro, cujo filho David Arnaud Soares é médico cardiologista, em Manaus. Professor José Arnaud deixou boa quantidade de produção musical, infelizmente esquecidas.

segunda-feira, julho 09, 2018

AINDA SOBRE CEMITÉRIO



Sepultura de Aria Ramos

1.       Em 17 de fevereiro de 1915, em uma festa de carnaval no Ideal Clube, então localizado no cruzamento da avenida Eduardo Ribeiro com a rua Henrique Martins, foi morta a violinista Aria Ramos, participante do conjunto musical. O desastre causou uma comoção na cidade. Sobre seu túmulo (SP 3869 – Quadra 05) no cemitério São João existe este poema de autoria de Th. Vaz:


Diante de sua graça,

que a doce alegria de viver tornava ainda mais radiosa,

em face do gênio que no esplendor

de sua mocidade alvorecia,

a própria morte estacou maravilhada,

e, em vez de a prostrar com a arma sinistra e brutal,

que traz ao ombro, a tocou de leve,

sutilmente, com um beijo fulminador...



2.    Dois dias antes, em 15 de fevereiro, havia falecido o Dr. Simplício Coelho de Rezende, ilustre piauiense, que, entre outros merecimentos, possui o de ter sido o primeiro diretor da centenária Faculdade de Direito do Amazonas. A lápide de seu túmulo (SP 614 – Quadra 05) guarda esta inscrição em latim:


Hic jacet doctor Simplicio Coelho de Rezende jurisconsultus brasiliensis. 

1841-1915


3.    Em março de 1983, o Jornal Cultura, órgão da Superintendência Cultural do Amazonas, publicou do acadêmico padre Raimundo Nonato Pinheiro (1922-1994), que refletia sobre sua (dele) morte, este poema:

Estranho Pensamento

Padre Nonato Pinheiro

Estranho pensamento me assedia:
de saber em que sítio, em que floresta,
vive a árvore que, na extrema sesta,
ao meu corpo o caixão dará um dia!

E me assaltou atroz melancolia:
sentindo a imolação da árvore honesta,
abandonando os pássaros em festa
para levar meu corpo à cova fria...

Se Deus, que é poderoso e onisciente,
me indicasse o local, com exatidão,
onde se encontra a árvore silente

que a madeira dará pra meu caixão,
partiria pra selva incontinenti,
para beijar-lhe o tronco com emoção!...


sexta-feira, julho 06, 2018

CORONEL PM FLÁVIO REBELLO (1936-2018)

Coronel Flávio Rebello
O velho coronel vinha travando uma luta desigual para manter a saúde, porém, ontem não resistiu. Encerrou o bom combate. Hoje os familiares, os amigos e os companheiros de farda estiveram presentes para as despedidas. Neste dia, marcado pelo futebol mundial, em que o Brasil decide sua progressão. Por isso, o sepultamento ficou para depois da partida, e, como o esquife estava marcado pela bandeira da “Estrela Solitária”, registro que o futebol nacional foi derrotado.
Já escrevi alguns posts sobre o coronel Flavio, estando espalhados neste Blog. Entretanto, vou expandir as anotações, as de motu proprio, e para atender uma solicitação de seu sobrinho, o amigo coronel PM Eber Rebello.

Flávio Augusto da Silva Rebello nasceu em Manaus, em 25 de janeiro de 1936, ao falecer, ontem, era o oficial mais idoso da corporação. Sua vida profissional começou no Rio de Janeiro, em 1957, onde concluiu o curso de infantaria do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), da 1ª RM/RJ. O estágio obrigatório foi realizado no 17º Regimento de Infantaria, em Cruz Alta (RS). Tão pronto regressou à Manaus, foi incluído na Polícia Militar do Estado, no posto de 2º tenente, em 19 de outubro de 1960. Em decisão do governador do Estado, o professor Gilberto Mestrinho (1959-1963), e apoio do comandante da PMAM, o coronel Assis Peixoto. 

Em outubro de 1965 alcançou o posto de capitão, passando a exercer atividades de direção e controle do trânsito da Capital, com tal intensidade que sobreveio-lhe o codinome de “capitão seta”. Na ocasião, essa repartição ocupava um prédio fronteiro ao Quartel da Praça da Polícia, na rua José Paranaguá com avenida Floriano Peixoto. Somente para os mais jovens: transferido o Departamento de Trânsito (Detran) para outra sede, ali funcionou uma agência do BEA e hoje pertence a uma empresa de importação.
Outro detalhe de sua funcionalidade, ao tempo em que o Dr. Assis Peixoto governou o então Território Federal de Roraima (1963), Rebello, ainda tenente, integrou esse governo.

Os cursos exigidos pela caserna foram realizados todos no estado da Guanabara, ora Rio de Janeiro. Dessa maneira: na Polícia Militar, concluiu os Cursos de Aperfeiçoamento de Oficiais e o Superior de Polícia (1967), e, no Exército, o de Técnica de Ensino (1969).
Alcançou, então, o posto de tenente-coronel em setembro de 1969, coincidindo com uma reorganização no comando da Polícia Militar, por determinação da IGPM (Inspetoria-Geral das Polícias Militares), a criação da chefia do Estado-Maior. Esta função foi exercida por ele em duas oportunidades: em 1970, em substituição ao coronel Neper Alencar e, entre 1973-76, quando foi promovido ao último posto.
  
Quartel em Petrópolis, 1975
Não obstante, o nome deste oficial encontra-se enraizado, fundamentado na história do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Não apenas pela primazia de ter sido o primeiro comandante (1971-73), mas pelo judicioso cumprimento da missão de estabelecer o “Batalhão Amazonas” no quartel do distante bairro de Petrópolis, em instalação. Foi esta OPM que inaugurou aquele próprio estadual em 7 de novembro de 1971.
A idealização do complexo policial pertence à genialidade de Severiano Porto, construído para abrigar o efetivo da PMAM, então concentrado na Praça da Polícia. Próximo de celebrar o cinquentenário, o edifício apresenta-se muito, muito desfigurado, em parte pela transferência do Comando-Geral e outros organismos policiais, e de vários efetivos.
A decisão do coronel Paulo Figueiredo, então comandante-geral, de deslocar apenas o 1º Batalhão para aquele quartel, deu início à expansão da Polícia Militar. Assim, pode-se afirmar que a presença do batalhão no bairro de Petrópolis possui relevantes valores, a cada ano mais elevados.
Teve o mérito inquestionável de sobreviver num quartel digno pela arquitetura, porém cercado de vielas mal cuidadas, com pouco transporte e nenhuma comunicação, sequer telefone. Tudo isso mudou, hoje o bairro apresenta-se urbanizado e devidamente ocupado.
O velório do coronel Flávio Rebello foi realizado na funerária Almir Neves, da avenida Joaquim Nabuco. O sepultamento ocorreu no cemitério São João Batista. RIP