CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, novembro 27, 2019

NOTÍCIAS DE 1969


Duas gratas lembranças cinquentenárias, ambas em A Crítica

No Sim & Não (de 26 novembro 1969), observar a postura do jornalista moço Aldísio Filgueiras, atual membro da Academia Amazonense de Letras.
No texto sobre a Cidade Universitária (de 27 novembro 1969), vemos a figura do engenheiro Nelson Porto, que foi diretor da Faculdade de Engenharia nos primeiros momentos daquela escola de ensino superior.
Aldísio Filgueiras (à esq. assinalado)

SIM E NÃO
Para uma visita a Manaus, onde veio rever amigos que conquistou durante o último Festival de Cinema, chegou ontem do Rio a atriz Isabela, figura principal das películas “Proezas de Satanás”, “Na Vila de Leva e Traz”, “Capitu” (*), “O Bravo Guerreiro” e de tantas outras que a tornaram conhecida do público brasileiro. Isabella mostrava-se alegre ao desembarcar no Aeroporto da Ponta Pelada, tendo sido recebida por um grupo de amigos e admiradores. Na próxima semana, ela começará a trabalhar na novela para TV “Verão Vermelho”.

(*) Capitu - filme brasileiro de 1968, dirigido por Paulo Cesar Saraceni e baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis. Seu roteiro foi escrito por Paulo Emílio Sales Gomes e Lygia Fagundes Telles. No elenco, Isabella Cerqueira (Capitu), Othon Bastos (Bentinho) e Raul Cortez (Escobar), entre outros.

A Cidade Universitária
Já estão praticamente concluídos os alicerces dos três primeiros prédios que comporão a Cidade Universitária, na rodovia do Contorno [atual avenida Rodrigo Otávio]. Os edifícios se destinam a Faculdade de Engenharia e aos Institutos de Física e Química da Universidade do Amazonas, tendo o Magnifico Reitor [Dr. Jauary Marinho] visitado as obras à noite de anteontem, em companhia do professor Nelson Porto [engenheiro e filatelista, fundador do Clube Filatélico do Amazonas] e de diretores de outras escolas superiores e assessores.
Nelson Porto (à  esq. de óculos
escuros, camisa clara).

De acordo com que o andamento das obras indica, o próximo ano letivo da Faculdade de Engenharia já está (sic) iniciado na nova sede, meta por cuja concretização a UA [Universidade do Amazonas] vem trabalhando.

terça-feira, novembro 26, 2019

AMAZONAS: SEQUESTRO DE AVIÃO


Lembrando que no final de 1968 foi instituído o AI-5, estabelecendo duras diretrizes do Governo Militar. 

No ano seguinte, aconteceram diversas manifestações contrárias. Uma delas, foi o sequestro de avião. Dois episódios aconteceram sob o céu amazonense, e, em ambos os casos, as aeronaves foram levadas para Cuba. Neste episódio, o segundo, o sequestrador ficou lá, e o avião retornou.
Compartilho do matutino A Crítica (13 novembro 1969) o relato do segundo desvio de aeronave. Nessa ocasião, o aeroporto de Itacoatiara, que tinha o privilégio de operar com avião de linha, entrou para a história. 
Título da reportagem sobre o sequestro (jornal A Crítica, 13 novembro 1969)


-- Quero ir para Cuba. Te vira!
A ordem em termos ríspidos partiu de um jovem de pouco mais de vinte e cinco anos de idade, que trajava calça de brim azul-marinho, camisa branca e com óculos de aro grossos de tartaruga e lentes claras. Ele queria que o comandante Alexandre soubesse que o YS-11 estava sendo sequestrado.
O turboélice da Cruzeiro do Sul deixou o aeroporto de Itacoatiara, às 13:15 horas de ontem, com destino a Santarém e Belém. Seis passageiros e seis tripulantes estavam no avião. Depois que o sequestrador fez a ameaça, a rota do voo mudou: a próxima escala seria Caiena, na Guiana Francesa.
O comandante da aeronave Alexandre de Casrilevitz, ligou as turbinas e as hélices às 12:18 horas. Logo em seguida, o avião subiu. Era o voo 254, com destino a Belém e escalas em Itacoatiara e Santarém. O resto da tripulação era composta do copiloto Marco Antonio de Castro Espírito Santo, rádio navegador Mário de Queiroz Ferreira e dos comissários Ademar Feuder, Floricéia de Queiroz Mendes e Tereza, todos residentes no Rio de Janeiro.
As 12:50 horas, o avião pousou no aeroporto de Itacoatiara, onde só dois passageiros ficaram: Mariano Mendes e Chibly Abrahim. Embarcou apenas um: Vitor Mário Troiano. Junto com ele, seguem João B. Oliveira, José Messias Souza e Vicente Adriano, que ficariam em Santarém. Para Belém, iam Roberto Campos e Iran Souza. Logo que levantou voo de Itacoatiara, o comandante entrou em contato com a torre de Santarém. Não demoraria a chegar.

DEPOIS, O SEQUESTRO
Com um revólver em uma das mãos e uma granada na outra, o estranho entrou na cabina de comando e avisou que não queria conversa com a terra. Ato contínuo prendeu o rádio navegador, Mário de Queiroz Ferreira no compartimento traseiro do avião. Com muita calma, o comandante Alexandre disse ao sequestrador que o levaria a Cuba, mas seria necessário, inicialmente, entrar em contato com a torre de controle de Belém, para receber as coordenadas da rota exigida pelo passageiro. Após alguns minutos de indecisão, o sequestrador, que se havia identificado como Vitor Mário Troiano, foi libertar o rádio navegador para manter o contato necessário com a torre de Belém.
A próxima escala seria Caiena. na Guiana Francesa, ponto mais próximo, em território estrangeiro na rota para Cuba. As coordenadas foram recebidas pelo rádio navegador. A partir daí, o sequestrador permitiu aos tripulantes que falassem normalmente com a torre de controle de Belém. Foi por isso que, tudo o que ocorreu a bordo do YS-11, chegou ao conhecimento das autoridades da Aeronáutica e do pessoal da Cruzeiro do Sul.
Capitão Figueiredo
(mesmo jornal)
A maior preocupação das autoridades e gerência da empresa a que pertence a aeronave, era a da pouca autonomia de uso do aparelho. Ele é de fabricação japonesa e tem uma autonomia de voo de seis horas, e deixava muitas dúvidas sobre sua chegada a Caiena. Mas, a apreensão foi desfeita porque a capacidade total do tanque do aparelho havia sido abastecida em Manaus. A viagem de 950 quilometras, até Caiena, não oferecia nenhum perigo. O capitão Figueiredo, subcomandante do Destacamento da FAB, informou que, quando o avião foi sequestrado, o comandante Alexandre já havia solicitado permissão de pouso à torre de controle de Santarém.
Por volta das 17 horas o YS-11 aterrissou em Caiena, sendo feito o seu reabastecimento. Logo em seguida, a rota tinha como destino Trinidad, onde chegou por volta das 21:30 horas. Após o reabastecimento, mais 2 escalas: Porto Rico e Nassau.

NINGUÉM DESCE
O sequestrador deu ordens à tripulação, quando o YS-11 chegou ao aeroporto de Caiena, para que ninguém saísse do aparelho. Só a porta de emergência foi aberta para receber alimentação necessária até o fim da viagem exigida pelo sequestrador. Enquanto o avião estava sendo reabastecido, ninguém podia entrar ou sair do aparelho. Os alimentos foram trazidos até a porta da aeronave por um servente do aeroporto de Caiena.
Em menos de dois meses, é o segundo sequestro de aviões que a Cruzeiro do Sul sofre. O primeiro ainda está na lembrança de todos: o do Caravelle, que vinha de Belém.

segunda-feira, novembro 25, 2019

PMAM: MARCHA PARA ITACOATIARA

Recorte de A Crítica, 28 novembro 1969

A Polícia Militar do Estado, às quatro horas de hoje, seguiu rumo à Granja Castelo Branco no quilometro 96 da Manaus-Itacoatiara, para iniciar a jornada de marcha diurna e noturna até o marco da inauguração da estrada Torquato Tapajós [em Itacoatiara].
Conforme afirmou o major Câmara, comandante do pelotão, a finalidade da marcha é exercitar oficiais e praças em deslocamentos longos, sobrevivência na selva e adestramento quanto ao vigor físico, a fim de colocá-los em condições de enfrentar problemas atuais dessa natureza. As instruções serão ministradas pelos tenentes Ilmar [Faria], [Mael] Sá e Osias [Lopes] que têm curso de Guerra na Selva.

Durante o trajeto, serão distribuídos remédios para os moradores que vivem ao longo da estrada e na cidade de Itacoatiara, adquiridos na [secretaria de] Saúde, drogarias e representações.
A tropa que marcha sob o comando do Major Câmara recebeu ordem de embarque nas viaturas às quatro horas da manhã, com a finalidade de iniciar a marcha às oito horas do quilômetro 96, perfazendo nesse primeiro dia cerca de 28 quilômetros ao chegar ao 124.
A marcha, a encerrar-se no dia 4 de dezembro será totalmente pela estrada, e até o término terá uma base de 25 quilômetros diários, com paradas para instruções.

INSTRUÇÃO
Os exercícios que serão praticados pelos trinta e dois integrantes da marcha, versarão sobre guerra na selva de uma maneira geral, destacando doenças tropicais, armadilhas, sobrevivências e outros tópicos importantes. Essas aulas serão dadas dentro do mato, a fim de que os participantes sintam a realidade do modo de vida no mato, e serão ministradas por oficiais que tenham curso Guerra na Selva.
Após as instruções e as marchas diurnas, é que o major Câmara resolverá a noturna, o que irá influenciar muito nessa decisão será o estado e a moral da tropa.

DISTRIBUIÇÃO  
O percurso da marcha (170 quilômetros) servirá também para a distribuição de medicamentos aos moradores que vivem ao longo da estrada Torquato Tapajós e na própria cidade de Itacoatiara, onde pretendem deixar os nomes dos participantes da jornada.

VOLTA
O final da marcha dar-se-á no dia [?] quando chegarão no quilometro 286, retornando no dia 6, às 12 horas. É pensamento do comando da Polícia fazer um emblema com a finalidade de entregar aos participantes da marcha.
 
Detalhe da Marcha da Sobrevivência (O Jornal, 11 outubro 1970)
NOTAS DO POSTANTE
·        Este treino, primeiro realizado na corporação, foi realizado em porfia ao adestramento que o CIGS proporcionava, como o celebrado Curso de Guerra na Selva.
·        A largada, como se viu na informação jornalística, aconteceu na Granja no Km 96. No ano seguinte, houve a repetição desse exercício, intitulado de Marcha da Sobrevivência, e a saída ocorreu no quartel da Praça da Polícia.
  • Alguns oficiais da PMAM já haviam concluído este curso, de forma que foi simples ao então major Pedro Câmara, fascinado pela cidade de Itacoatiara, organizar a Marcha.
  • A Granja Castelo Branco perdeu sua finalidade, mas o edifício, construção em madeira, inspiração do arquiteto Severiano Porto, ainda se encontra no Km 96, integrante do município de Rio Preto da Eva. Curiosamente, a “granja”, servindo de abrigo para terceiros, foi rebatizada de coronel Mael Sá, que integrou essa Marcha, ainda tenente.
  • A estrada Torquato Tapajós ainda estava em fase de conclusão, quase toda sem asfalto; além desse desconforto, a ultrapassagem do rio Urubu, em duas localidades, era realizada em balsa movida a força humana.

domingo, novembro 24, 2019

MANAUS: NOVEMBRO 1969

Duas curiosidades, do tempo em que a TV engatinhava em Manaus...

A Crítica, 27 novembro 1969

A Crítica, 19 novembro 1969

sábado, novembro 23, 2019

FRANCISCO MALHEIROS


Não sei se estou embolando o meio de campo. Seguinte: ouvi muito falar de Francisco Malheiros, que fora fundador da Rádio Tropical, a primeira FM da capital, com estúdio na rua José Paranaguá, após o cruzamento com a avenida Joaquim Nabuco. Eu residia na Praça Ribeiro Junior, um logradouro ali próximo, então existente nos fundos do quartel da Polícia Militar.
Com a evolução da radiofonia local, esta emissora foi transferida para o Aleixo (na rua do Garajão), agora com a denominação de Cidade (FM 99,3). Quem lembra do slogan: “se a Tropical não deu, nada aconteceu!”
Em dias passados, catando subsídios em jornais de antanho, encarei a publicação que abaixo compartilho. Confesso que fiquei aturdido com a descrição, parecendo-me estapafúrdia, porém... fica o registro.

Jornal do Commercio,
13 novembro 1969

Dr. FRANCISO MALHEIROS
Cientista Amazonense  

Faz anos na data de hoje o cientista amazonense, de renome universal, dr. Francisco Malheiros cientista dotado de uma bondade invulgar, coração humilde, singelo nas suas atitudes, sereno nos seus pensares, regula sua inteligência para todos aqueles que o procuram.
Tem se dedicado nestes últimos tempos a diversas curas das terríveis enfermidades, que assolam o mundo inteiro dia a dia e não se cura, só vemos grandes vigaristas, na maioria alcunhados de “cientistas”, ganharem o tal prêmio Nobel. Chama-se a isso política do mais forte. É o que está acontecendo atualmente nesse tal prêmio Nobel, política de uma nação para outra.
Aí não existe ciência, existe o tal apadrinhado. Nosso cientista há uns vinte anos concorre ao tal Prêmio Nobel com uma das suas fórmulas extraída da flora amazonense, que é tão poderosa, ao mesmo tempo curar câncer e a leucemia.
O nosso cientista, porém, depois de receber a confirmação e mandarem buscar a sua biografia, dizendo que o seu preparado havia sido aprovado, até agora nenhuma notícia mais teve. Assim como as moscas “tsé-tsé” continuam a matar os infelizes pretos na África, assim também nós brasileiros nunca poderemos ganhar porque não sabemos bajular uma fórmula falsa por uma verdadeira, e é o que fazem atualmente os “cientistas vigaristas”, enquanto as doenças continuam. O nosso cientista não poderá ganhar nunca porque só prevalecem o “quatro grandes”, os cientistas dos países pequenos ficam esquecidos, o que eles fazem não é levado em conta.
Desejamos muitos cumprimentos ao feliz aniversariante, cientista dr. Francisco Malheiros, e a continuidade nos seus estudos para o bem da humanidade sofredora e em honra da terra que deu o berço – o Amazonas.

sexta-feira, novembro 22, 2019

CLUBE DA MADRUGADA: 65 ANOS


Acerquei-me da sede (Praça da Polícia) do Clube da Madrugada, em 1966, quando ingressei na Polícia Militar do Estado, doze anos depois da criação daquele. Todavia, confesso tristemente que não participei, sequer, dos encontros costumeiros, das exposições e dos lançamentos de livros ocorridos na Praça da Polícia, portanto, diante de meus olhos.
Logo do Clube da Madrugada
O trânsito pelo Café do Pina, região sagrada dos madrugadores, permitiu-me conhecer “de vista” um bom número de seus integrantes. A configuração desta agremiação permaneceu em minhas lembranças, que foram se diluindo diante das mudanças ocorridas no logradouro e, também, porque o Clube diminuiu suas mesas-redondas.
Assim se passaram anos...

Em 2004, voltei a me preocupar com o CM, quando passei a catar papeis sobre um dos seus integrantes: L. Ruas, o padre-poeta autor do livro de poesia – Aparição do Clown (1958). Desse modo, chafurdando nos jornais de antanho, redescobri o “clown” e os múltiplos acólitos. Então, aquelas figuras notórias na República do Pina foram se revelando, tendo L. Ruas me “ensinado” várias lições sobre poesia. Todavia, em se tratando desta arte, prefiro o saudoso Farias de Carvalho.
Reunião do CM, ao centro, o
governador Henoch Reis

Mantive amizade com dois saudosos integrantes do CM: Jorge Tufic e Luiz Bacellar. Além de grandiosas conversas e muitos ensinamentos sobre o Movimento, rolaram alguns uísques com Tufic e, no Pina restaurante (da av. Joaquim Nabuco), várias ceias com o eclético Bacellar.

Ainda naquele ano, auxiliei nos festejos do cinquentenário do Madrugada, celebrados no início da noite, no Largo de São Sebastião. Compareceu uma gama de intelectuais, que louvaram ao extremo as benesses oriundas desse Movimento.
Lançamento de livros no
 cinquentenário do Madrugada
Hoje, são contados 65 anos de fundação. No entanto, os ralos admiradores pouco hão de celebrar, em particular aos pés do mulateiro da Praça da Polícia, onde tudo começou, e serve de símbolo desse movimento. A data será aproveitada pelo poeta Elson Farias, pertencente a 2ª geração do CM, para festejar seu jubileu de ouro de ingresso na Academia Amazonense de Letras.

Quando o Clube da Madrugada completou 15 anos, em 1969, seu presidente Aluízio Sampaio promoveu a festa do 
debutante, tendo convidado a cidade em publicação do matutino A Crítica (22 nov. 1969), aqui compartilhada.

  
Recorte de A Crítica, 
22 novembro 1969
Mulateiro, símbolo do
Madrugada, 2016
O Clube da Madrugada, entidade responsável pela renovação das artes e das letras amazonenses, está no dia de hoje fazendo o seu “debut”, completando os seus quinze anos de atuante presença no cenário cultural do Amazonas. Fundado no dia 22 de novembro de 1954 por um grupo de jovens idealistas — escritores, poetas, artistas, economistas, sociólogos decididos a desoprimir o ambiente do desânimo e do marasmo em que vivia mergulhado e que se refletia desoladoramente no caráter decadente das atividades criadoras, em nosso Estado. O Clube da Madrugada vem, desde então, ao longo destes quinze anos renovando, agitando, inoculando alma nova e abrindo novas perspectivas às atividades criadoras do nosso espírito, no afã de integrá-las, em grau qualitativo e contributivo, ao nível em que elas se exercem nos centros mais desenvolvidos do Sul do País.
Pela sua importância, será a efeméride condignamente festejada pelos madrugadores, os quais têm encontro marcado hoje à noite, às 20 horas, na Praça Heliodoro BaIbi segundo adiantou-nos o presidente Aluízio Sampaio, que por nosso intermédio pede o comparecimento de todos os seus pares àquele encontro.

quinta-feira, novembro 21, 2019

COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA (4)

Jornal do Commercio, 26 nov. 69

O Comando Militar da Amazônia (CMA) teve relevante zelo, quando comandado pelo general Rodrigo Octavio Jordão Ramos (1968-69), popularmente conhecido por RO. Sua fama de “caxias” cruzava o território do Norte, que ele percorreu com ímpeto. Militares de todas as patentes o respeitavam. Inclusive na Polícia Militar do Amazonas, onde eu servia, posto que lhe cabia a supervisão da milícia. Esses cuidados se acentuavam quando era marcada uma inspeção do general RO.
Ao deixar o CMA, os jornais da capital enfatizaram o fato, dado sua personalidade. Há em Manaus uma avenida com seu nome. E, no portão de cada quartel da Região, sua assinatura  abaixo da consagrada frase que lembra a conquista e a manutenção da Amazônia.
Recolhi de dois matutinos essa recordação cinquentenária.

Título da nota sobre o general Rodrigo Octavio - A Crítica, 26 nov. 1969
O general de divisão José Nogueira Paes foi designado ontem pelo presidente Garrastazu Medici para comandar o CMA e 12ª Região Militar, em substituição ao general Rodrigo Octavio Jordão Ramos, promovido ontem ao posto de general de exército e designado para chefiar o Departamento de Produção e Obras do Exército. 
Para o mais alto posto hierárquico do Exército também foram promovidos ontem os generais de divisão Artur Duarte Candal Fonseca, Idálio Sandemberg e Breno Borges Fortes. Ao posto de general de divisão foram promovidos os generais de brigada Moacir Barcelos Potiguara e Augusto José Peresgrave. Ao posto de general de brigada foram promovidos os coronéis Milton Tavares de Souza, Benedito Maia de Almeida, Caio Barbosa Leite, Geraldo Alvarenga Navarro e Enéas Martins Nogueira. 
O general Candal Fonseca foi designado para comandar o IV Exército e o general Breno Borges, o III Exército.

quarta-feira, novembro 20, 2019

ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO AMAZONAS



Onde andarão os jovens atletas de futsal, ontem de futebol de salão, que –há exatos 50 anos– lavraram sob a baixa temperatura sulista uma excelente página para a história da antiga Escola Técnica, cujo ensino tanto evoluiu que se tornou uma Escola Superior (IFAM).
A aventura foi relatada pelo “enviado especial” de A Crítica, Ricardo Bessa, estampado na edição de 20 de novembro de 1969. Os nomes da embaixada esportiva ficaram pela metade, incompletos. Somente os dos jogadores, ainda assim, os de quadra. Deles, lembro apenas o do Torrado, que se aventurou pelo futebol profissional. Quem dirigiu a delegação? E o médico? 

Este achado me obrigou a procurar aquela Casa de Ensino, quem sabe, possa ali encontrar algum registro mais plausível dessa maratona. Assim prometo!

Ilustração da reportagem, sem identificação dos membros da
delegação (A Crítica, 20 nov. 1969)
Toda a saudade da cidade de Manaus, a acentuada diferenciação climática e a fadiga de uma viagem heroica, foram as dificuldades encontradas pela delegação da Escola Técnica do Amazonas, que representou muito bem nosso Estado nos IV Jogos de Estudantes Brasileiros do Ensino Industriai (JEBEI-4), realizado na cidade de Pelotas – Rio Grande do Sul.
Superando todos esses imprevistos, os amazonenses brilharam no Sul, conquistaram vitórias difíceis e mostraram aos estudantes do extremo Sul como se vive em Manaus; beneficiados por uma Zona Franca e sobre a amizade de um povo bastante hospitaleiro. O Amazonas classificou-se na JEBEI, venceu quatro Estados, inclusive os próprios gaúchos, destacando, enfim, o nosso Estado em todas as maneiras necessárias.

SHOW NO GELO
Até os sulistas condenavam o clima que no momento imperava na cidade de Pelotas. A temperatura baixou a 6 graus. O pessoal do Norte é quem mais sofria. Nos dois dias de realizações, ninguém conseguia sair para as quadras. Os amazonenses foram escalados para jogar no segundo dia contra o Maranhão. Caía neve na quadra da AABB e o Amazonas deu show no gelo. O Maranhão derrotado por um placar de 1x0, passou a ser considerado o GELAR de Pelotas.
Era a nossa primeira vitória, uma estreia no gelo. Não tínhamos aparelhos para esquiar, mas a bola corria de pé em pé. A temperatura subiu para 7 graus, e tivemos que enfrentar os gaúchos de Parobé. Nos ataques gaúchos quase sempre a nossa defesa ficava paralisada, mas de frio, e surgia a oportunidade para nosso goleiro, Raimundo Silva, classificar-se como o melhor de todo o JEBEI.
Iniciamos com um tento a zero, mas o final foi de 3x2 em nosso favor. A equipe amazonense venceu com: Raimundo, Zé Raimundo, Lourival (Zé Paulo), Walmir (Lucio), Paulinho (Torrado).
Começamos a jogar de manhã e à noite, sempre ganhando com dificuldade, lutando por um destaque. No mesmo dia, saímos para enfrentar o Piauí que vinha de uma campanha muito boa e já havia participado de diversos encontros desportivos. Era o primeiro que participávamos. Não tememos, e vencemos por 4x1. Daí, os amazonenses começaram a ser olhados com mais respeito e seriedade. Também iniciou a divulgação de nosso Estado. Muita gente procurava os amazonenses para saber sobre o Amazonas. Lá se desconhece o nosso modo de vida, a nossa civilização etc.
Partimos para uma quarta atuação e nossa equipe, até os reservas já estavam esgotados e então jogamos contra Alagoas já sem condições e somente por amor ao nosso Estado. Devido a longínqua distância, os Amazonenses participaram apenas de futebol de salão, composta de nove atletas. Contra o Alagoas só éramos três em forma, os outros 6 estavam quebrados sem poderem ao menos movimentarem-se. Jogamos desfalcados, mas conseguimos com muito esforço e boa vontade implantar um placar de 2X1 nos alagoanos.
Daí passamos a ser sucessos e éramos admirados por todos e visados por Espírito Santo e São Paulo que, igualmente a nós, já se encontravam classificados. Fomos para a final. Ou não fomos, porque ordem do departamento médico era que ninguém poderia jogar, todos estavam no estaleiro, esmagados e sem condição de jogar. Então tivemos que nos conformar com a classificação, já que nossa meta era o campeonato. Mas o médico proibiu e disse que não se responsabilizava quem teimasse e jogasse. Ganharíamos facilmente de São Paulo, mas não fomos à quadra. Nem mesmo andar a turma conseguia.

VIAGEM HEROICA
A delegação Amazonense composta de nove atletas, um assistente técnico, um dirigente e um repórter de A Crítica, saiu de Manaus dia 24 do mês anterior até a cidade de Fortaleza, donde, irmanados com colegas do Ceará, iniciaram uma viagem heroica. Treinou em Fortaleza com a Escola Técnica local, e venceu por 12x0. O repórter não mandou a notícia porque o leitor pensaria não ser verídica. O treino deu início as movimentações da Escola do Amazonas. Passamos quatro dias ainda no Ceará, saindo em seguida para uma viagem por rodovia até ao outro extremo do País.
Passamos por 28 cidades, atravessamos os Estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, S. Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foi uma viagem cansativa de cinco dias e quatro noites, noites sofridas de frio. Em Santa Catarina, paramos a viagem. Caía neve, e não tivemos condição de continuar. Uma viagem saudosa e de clima as [ilegível] cidade de Manaus, a acentuada diferenciação climática e a fadiga da viagem foram compensadas pelo ambiente festivo e empolgante desta grande realização cívico-desportiva do Ensino Industrial.
Vale ressaltar a boa realização dos dirigentes da Escola Técnica do Amazonas em lutar para que o Amazonas participasse dessa união de estudantes brasileiros. Pela primeira vez a nossa Escola participou de Jogos assim, isso representa o início dos trabalhos de uma nova diretoria, que luta pelo o engrandecimento da Escola Técnica Federal do Amazonas.

terça-feira, novembro 19, 2019

ITACOATIARA: CASA DA CULTURA


Não sabia onde havia lido a respeito do projetista da Casa da Cultura, que o governador Danilo Areosa começava a implantar nos municípios. Por isso, receei em afirmar que o autor era o conhecidíssimo arquiteto Severiano Porto. Porém, a comprovação estava logo ali, no matutino A Crítica, de 6 de novembro de 1969 (foto).
 
Severiano Porto observa, sentado ao fundo, o prefeito de Itacoatiara.
(A Crítica, 6 nov. 1969)
 Às 17 horas de hoje, no “hall” da Biblioteca, vão ser apresentadas ao público a maquete padrão das “Casas de Cultura”, que a Fundação Cultural construirá brevemente no interior amazonense, começando por Itacoatiara e Manacapuru. Trata-se do projeto de Severiano Mário Porto. Faz parte, a iniciativa, do programa de administração do governador Danilo Areosa, de levar a cultura também aos municípios. O prefeito Jurandir Oliveira (foto) localiza no mapa de Itacoatiara, com o arquiteto Severiano Porto, o local onde será construída a CASA DE CULTURA da Velha Serra (sic).

CIDADE JARDIM - RESIDENCIAL


O conjunto residencial Cidade Jardim, existente a avenida Constantino Nery, nas proximidades do Parque dos Bilhares, existe há 50 anos. A construção dos prédios foi da responsabilidade da Esusa – Engenharia e Construções SA, empresa ainda existente com sede no Rio de Janeiro.
A notícia sobre a inauguração do conjunto é do Jornal do Commercio, 20 de novembro de 1969 (foto).
Recorte do citado jornal

ESUSA apresentou “Cidade Jardim”

As 17:30 horas de ontem realizou-se no conjunto residencial “Cidade Jardim”, a cerimônia de apresentação à sociedade amazonense, dos modernos e confortáveis apartamentos do Banco Nacional de Habitação [BNH]. Já se encontra pronto o primeiro bloco, constituído de 6 confortáveis apartamentos, os quais foram mostrados aos presentes, merecendo os mais significativos elogios, quer pelo excelente acabamento quer pelo aproveitamento integral do espaço.
As senhoras Roberta Oiticica e Kattlen Lima dispensaram tratamento gentil a todos os convidados, sendo incansáveis na explicação de detalhes do empreendimento. Dentro de breve tempo novas unidades serão entregues aos adquirentes de apartamentos do conjunto “Cidade Jardim”.
Os flagrantes acima são: 1) do bloco de 6 apartamentos já concluídos; 2) a senhora Kattlen Lima, alta funcionária da Esusa, quando atendia convidados, demonstrando o sentido funcional e confortabilidade dos apartamentos já prontos para serem habitados.

segunda-feira, novembro 18, 2019

AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA, EM MANAUS


Mais um cinquentenário registro, dessa vez a visita do professor Aurélio Buarque de Holanda (1910-89), autor do conhecido “dicionário do Aurélio”, à cidade de Manaus. Fato ocorrido em 17 de novembro de 1969.
Aurélio Buarque Holanda
Veio à convite da Academia de Letras do Amazonas, sob a presidência de Djalma Batista, para uma série de palestras sobre sua especialidade. Sua vinda deve ter lhe produzido outra satisfação, a de cunho familiar, pois sua esposa Marina Baird Ferreira (1922-2015) era “amazonense”, segundo firma a publicação jornalística, todavia, em breve consulta à internet recolhi que ela nasceu em Belém do Pará.  Enfim, Aurélio, registra a mesma fonte, era primo do compositor Chico Buarque de Holanda.

 
Recorte do Jornal do Commercio, 18 de novembro de 1969

Para proferir uma série de cinco conferências sobre Poesia, na sede da Academia de Letras, chegará a Manaus o Professor Aurélio Buarque de Holanda, da Academia Brasileira de Letras. Filólogo, antologista e dicionarista de renome; autor de importantes obras de crítica, de ensaio, de antologia e filológicas; entre as quais o “Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa”, já na 12ª edição.
Especialmente convidado pelo Silogeu amazonense, o Professor Buarque de Holanda desenvolverá em suas conferências o tema: Poesia - Cecilia Meirelles, generalizando o gênero em suas evolução e conceituação.
A série de conferência terá início hoje à noite na sede da Academia; às vinte e meia horas, prolongando-se até sábado. As inscrições para o Curso poderão ser feitas na secretaria da Faculdade de Filosofia e; à noite, na secretaria da Academia de Letras, estando das mesmas encarregado o sr. Arnaldo Rosas Filho.

O Professor Buarque de Holanda, que será saudado na Academia pelo acadêmico João Chrysostomo de Oliveira, vem ao Amazonas pela primeira vez e se faz acompanhar de sua esposa, dra. Marina Baird Buarque de Holanda (foto), que é amazonense, filha de tradicional família de Manaus.

PMAM: SELEÇÃO DE SOLDADOS



Edital da PMEA circulado no Jornal
do Commercio (8 novembro 1969)
Na passagem do calendário, de apenas 50 anos. O edital para a seleção de soldados combatentes revela inúmeros detalhes: a Força Estadual ainda assinava como PMEA (Polícia Militar do Estado do Amazonas) e era titulada de Batalhão Amazonas, nomenclatura conferida pelo governador Arthur Reis (1964-67). Seu comandante era o tenente-coronel EB José Maury de Araújo e Silva, todavia, assinava como coronel PM.

A inscrição era realizada no CIM (Centro de Instrução Militar), na rua Dr. Machado, detrás da maternidade Ana Nery (hoje Balbina Mestrinho). Este quartel depois de várias modificações, agora abriga o CPM (Comando de Policiamento Metropolitano). O diretor do CIM era o major Laurindo Lopes de Souza, carinhosamente saudado por “lacerdinha”.

Vê-se que a corporação não exigia muito de seus candidatos (apenas masculino): deveria ter até 25 anos, regularizado no Exército, ter servido (1ª categoria) ou não (2ª), desde que possuidor de saúde. Escolaridade de – no mínimo – primário completo (equivalente ao 5º ano fundamental). Além de solteiro, estabelecia a altura de 1m65 (mínimo).

Para finalizar, lembro que a esta ocasião a Zona Franca de Manaus começava a concorrer com a PM. Até então, era esta quem “socorria” os mais inválidos, os sem profissão, apenas desejosos de um emprego. Assim, a procura pela PM era intensa, mas se observava que os incluídos estavam “de olho” nas vagas do Distrito. E, somente para efeito comparativo: aos ingressos do corrente período são exigidos: curso superior e CNH, entre outros predicados.

domingo, novembro 17, 2019

CORONEL ODACY OKADA


Encontrei-me com o Okada por ocasião do Serviço Militar, na turma do NPOR/65. No ano seguinte, ingressamos na Polícia Militar do Estado e, adiante, em 1967, estivemos na extinta Escola de Material Bélico/EB, no Rio de Janeiro, ele, cursando Manutenção de Auto e eu, de Armamento.
Em 1969, ele estava no Palácio Rio Negro como ajudante de ordens do governador Danilo Areosa (1968-71). E, quanto a mim, dirigia a Tesouraria da PMAM. É daquele ano, as duas fotos aqui compartilhadas, recolhidas do matutino A Crítica.
Em nossos dias, o coronel aposentado Okada trava uma difícil batalha pela saúde. Oxalá ele veja esta publicação, a qual segue com meus votos de sucesso.
 
A partir da esquerda: tenente Okada, dr. Araújo Cavalcante, coronel
Temistocles Trigueiro e o governador Danilo Areosa (A Crítica,
 8 novembro 1969)
O ESTÁDIO “VIVALDO LIMA” passa à íntegra, à realidade. Os trabalhos ali executados pela firma Irmãos Prata com o apoio decisivo do governador Danilo Duarte de Matos Areosa estão bastante adiantados, observando-se nitidamente a construção dos primeiros lances das gerais que servirão para acomodar a torcida amazonense na mais moderna praça de esportes do Norte do País. Ontem, o governador Danilo Duarte de Matos Areosa, esteve em visita às obras do TARTARUGÃO, acompanhado do coronel [PM] Temístocles Trigueiro, presidente do Grupo Executivo e de seu secretário particular, sr. José Araújo Cavalcante. O Chefe do Executivo Amazonense mostrou-se entusiasmado com os adiantamentos dos serviços, voltando a afirmar na ocasião que em 1970, o “Vivaldão” será inaugurado. 
A esquerda, de quepe, o tenente Okada no aeroporto da Ponta Pelada
(A  Crítica, 29 novembro 1969)
Viajando nos dois jatos comerciais da linha, chegaram a Manaus ontem à tarde Dr. João Lúcio de Souza Coelho, Álvaro de Souza Carvalho e José Rebuzzi, diretores da Brasil-Juta e Braspérola, sendo recebidos no aeroporto pelo industrial Mário Guerreiro e o tenente OKADA - Ajudante de Ordens do Governador do Estado.

CASA DA CULTURA: 50 ANOS


50 anos, no governo Danilo Areosa, foi projetada e construída Casa de Cultura em alguns municípios. O recorte de jornal (Jornal do Commercio, 7 novembro 1969) mostra a apresentação da maquete, idealização (acredito) do arquiteto Severiano Porto. já deviam estar em construção, pois a promessa do governo era entregá-las no final daquele ano.
Posso assegurar que a cidade de Itacoatiara recebeu a sua, pois, estive participando de algum evento no local. Não sei se ainda prospera, vou perguntar ao acadêmico Francisco Gomes, o “protetor” do patrimônio de Velha Serpa.

Maquete da Casa da Cultura (JC, 7 novembro 1969)
Em solenidade presidida pelo Secretário da Educação e Cultura, dr. Vinicius Câmara, estando presentes destacadas personalidades e a imprensa, foi exposta ao público ontem à tarde no hall da Biblioteca Pública do Estado a maquete modelo das “Casas de Cultura” que o Governo amazonense, através da Fundação Cultural, vai construir brevemente no interior, começando por Manacapuru e Itacoatiara.Falando na ocasião sobre a importância do empreendimento, disse  o Secretário Vinicius Câmara que as “Casas de Cultura” se constituíram de uma biblioteca, um auditório com cento e vinte lugares que servirá para conferência, recitais de músicas e poesia e montagem de peças de teatro, além de ser dotada também de apartamento para artista em trânsito.
Cada “Casa de Cultura” ocupará, cada uma, cerca de 300 metros quadrados e as duas primeiras serão construídas em ritmo acelerado, devendo ser inauguradas até o fim do corrente ano.


domingo, novembro 10, 2019

PMAM: COMANDANTE-MIRIM



Major Homero orienta o Pablo,
instalado na mesa do comandante, sob o
olhar do governador Mestrinho (Foto de
arquivo)
A iniciativa de escolher um comandante-geral mirim ocorreu no comando do coronel PM Amílcar Ferreira (1991-92). Tudo quanto restou da promoção foram as fotos, na PMAM, ninguém lembra sequer o mês. E já consultei alguns integrantes em busca do nome deste comandante, entre outros, junto ao então major Homero, organizador da festa. Todavia, tudo quanto consegui foi que ele se chama Pablo. É obvio que hoje ele é um homem, certamente casado, contando essa bravata aos seus filhos.

Alguém conhece esta faceta da corporação da Praça da Polícia? Me ajude, me escreva, assim terei condições de mais facilmente concluir esse detalhe da história da Polícia Militar do Amazonas.

quinta-feira, novembro 07, 2019

POSSE DO QUARTEL EM PETRÓPOLIS



Agora, abrigando o comando-geral da Polícia Militar do Amazonas e outros tantos departamentos e diretorias, este quartel foi ocupado em 7 de novembro de 1971. São passados 38 anos, desde que o saudoso tenente-coronel Flavio Augusto Rebello e o major Mael Rodrigues de Sá, comandante e subcomandante, pela ordem, do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), desembarcaram naquele bairro.

Na reserva, coronel Flavio
Aquela OPM possuía cerca de trezentos homens, portanto, era um diminuto efetivo para tão enorme edificação. Viaturas reduzidas, com destaque para o caminhão de transporte de tropa, apelidado de “espinha de peixe”, devido sua extravagante construção.
O bairro sem estrutura, apenas uma linha de ônibus para atender a população e os bravos policiais. A comunicação era realizada por telefone fixo e um primitivo rádio Motorola.

Havia espaço para tudo, inclusive o campo de futebol, ainda agora utilizado, bem elástico. E foram se chegando as Unidades criadas à época, lembro da Companhia de Guardas, do Centro de Formação de Praças, Banda de Música, mais adiante, o Canil. Até que ocorreu a transferência do Comando-Geral para o local que lhe havia sido destinado. Aconteceu em 2002, porém, não se encontra bem instalado, pois a quantidade de “penduricalhos” lhe tira o brilho e a dignidade.

Enfim, esta obra saiu da prancheta do arquiteto Severiano Mário Porto.


quarta-feira, novembro 06, 2019

CLÓVIS BEVILAQUA


Clóvis Bevilaqua tem seu excelso nome inscrito no Palácio da Justiça do Amazonas, hoje transformado em centro cultural, situado na avenida Eduardo Ribeiro. Foi nosso primeiro templo de aplicação da Justiça. Padre Nonato Pinheiro, excepcional cultor das letras, articulista de O Jornal, escreveu neste periódico em 22 de março de 1959, o texto que aqui compartilho.
Antiga sede do Tribunal de Justiça do Amazonas
que leva o nome de Clóvis Bevilaqua
Não encontrei ainda dados sobre se alguma homenagem foi prestada ao jurista cearense. Hei de alcançar. Sei, por vivência, que dois de seus irmãos viveram em Manaus (Angelino e Clotilde). Formado em agronomia na escola da Universidade de Manaus, Angelino era o patrono do parque agropecuário, todavia, em nossos dias perdeu o privilégio. A irmã foi casada com o farmacêutico Francelino de Araújo, cujo filho Albucassis gerou a Elba, com a qual fui casado. E, nesse período, estive catando dados biográficos sobre a família Bevilaqua.  
Após a leitura, observa-se que neste mês passado, Clóvis Bevilaqua completou 160 anos. 

Recorte de O Jornal, 22 março 1959
Ocorre neste ano o centenário de nascimento do preexcelso jurista Clóvis Bevilaqua, uma das mais soberbas organizações mentais de que se orgulha o Brasil. Nasceu em Viçosa, no Ceará, no dia 4 de outubro de 1859. Formado pela famosa Faculdade de Direito do Recife, verdadeiro alcantil de águias na história da Jurisprudência nacional, tornou-se um dos jurisconsultos mais notáveis e um dos homens de letras mais festejados, deixando o seu nome cravejado de brilhantes no Direito e na Literatura.

A só enunciação do seu nome evoca de pronto a elaboração do projeto do Código Civil Brasileiro, de que foi merecidamente incumbido, mercê da luminosa auréola de jurista consumado, que lhe nimbou a fronte. No curto lapso de seis meses efetuava a ingente tarefa, revista por duas comissões: uma extraparlamentar, chamada dos cinco (Aquino e Castro, Anfilófio, Barradas, Lacerda de Almeida e Bulhões Carvalho, sob a presidência do ministro da Justiça) e outra parlamentar, chamada dos vinte e um, da qual fez parte o desembargador Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto. Aceitando a responsabilidade da espinhosa incumbência, não supunha Clóvis Bevilaqua que uma tremenda tempestade iria desencadear-se em torno da redação dos artigos.
O dr. José Joaquim Seabra, presidente da Comissão Especial do Código Civil, cometeu ao dr. Ernesto Carneiro Ribeiro, profundo conhecedor da língua portuguesa, a tarefa de abluir o projeto dos senões de linguagem, talvez existentes. Fê-lo o egrégio gramático em quatro dias e algumas horas, apresentando setenta e sete emendas. A Comissão Especial aprovou por unanimidade a redação do projeto, depois de submetida ao exame do autor dos Serões Gramaticais. Subindo o texto à consideração da Comissão do Senado, ergueu-se o senador Rui Barbosa, que apresentou substancioso Parecer, combatendo a redação em numerosos passos. Estava iniciada a famosa polêmica de linguagem entre os dois insignes baianos, da qual se beneficiaram os estudiosos da língua com os dois estupendos monumentos de vernaculidade: a Réplica e a Tréplica.
Embora se travasse a disputa entre Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro, é evidente que o autor da primitiva redação, Clóvis Bevilaqua, não podia fugir aos naturais melindres. A sua parte na elaboração do Projeto era notória e intransferível, apesar das emendas que o texto sofreu. (...)

Clóvis Bevilaqua extravasou seus melindres na Revista de Legislação, fascículo de 30 de setembro de 1902. Aproveitando-se de umas declarações sardônicas de José Veríssimo, o eminente jurista rompe o dique das iras mal represadas: “Pelo fundo e pela forma, diz S.S. que o senador Rui Barbosa virá a ser o verdadeiro autor do nosso futuro código civil. Que mais tenho eu com o que se disser a respeito do malsinado Projeto, se a esponja de autoridade tão conspícua já obliterou o que, nesse trabalho, pudesse recordar o meu estéril ainda que bem-intencionado esforço? Nada, sem dúvida".
A verdade é que Rui Barbosa não desfazia da autoridade de Clóvis Bevilaqua. Antes, no Parecer apresentado ao Senado, não se correu de alçá-lo a eminentes alturas: “Entre vários outros colaboradores de alto merecimento, duas culminantes sumidades jurídicas, representando aliás tendências opostas, o Sr. Clóvis Bevilaqua e o Sr. Andrade Figueira, impuseram o cunho do seu saber ao projeto; e, bem que ambos saíssem malcontentes de uma solução, que não podia satisfazer cabalmente a um e outro, força é que de tal cooperação resultassem valiosos frutos”. Tais palavras enaltecedoras foram reproduzidas na Réplica (n° 26). Rui Barbosa, porém, não se conformava com a audácia de Bevilaqua, amanhando “em seis meses o que Teixeira de Freitas não pudera acabar em sete anos” (Réplica, n. 19).

Como quer que seja, apesar de ter sido Rui Barbosa o principal redator do nosso Código Civil, a verdade inofuscável, como o mesmo Rui declarou, é que foi Bevilaqua quem delineou a traça, cavou os alicerces, erigiu até o fastígio a estrutura, e construiu de cabo a cabo a grande edificação, sem embargo de supor “obliterado” o seu esforço. E é por isso que merece Clóvis Bevilaqua a homenagem comovida do país, que neste ano de 1959 acenderá uma lâmpada votiva à memória do supereminente jurisconsulto cearense, que deixou de sua passagem vestígios cintilantes e inapagáveis.
Primoroso homem de letras, Clóvis Bevilaqua também se dava ao culto da literatura. Sócio fundador da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de Franklin Távora, imprimiu na mais alta instituição da cultura nacional e das letras pátrias a marca refulgente da sua inteligência, privilegiada de sóis. Ali recebeu Pedro Lessa, tendo proferido soberbo discurso, de que Humberto de Campos nos deu primorosa amostra em sua Antologia da Academia Brasileira de Letras. Ainda nesse discurso fascinante se revelou o cultor apaixonado do Direito, de que nos legou este singelo e belo conceito: “A sociedade não pode viver sem o equilíbrio dos elementos que a compõem. Para manter esse equilíbrio, foi criado o Direito; e o ideal deste é estabelecê-lo, sem prejudicar o desenvolvimento íntegro e harmônico das energias sociais.”

Entre as obras do imortal jurista brasileiro, citam-se: Vigílias Literárias, Estudos de Direito e Economia Política, Frases e Fantasias, Épocas e Individualidades, Direito das Obrigações, Criminologia e Direito, Lições de Legislação Comparada, Direito da Família, Teoria Geral do Direito Civil, Direito Internacional Privado, Juristas Filósofos, e muitas outras. Particular relevo alcançou o seu magistral comentário do Código Civil.
Por feliz coincidência, enquanto a nação celebra o centenário de nascimento de Clóvis Bevilaqua, o Amazonas festeja o cinquentenário de fundação de sua Faculdade de Direito. E aqui aproveito a oportunidade para sugerir ao meu dileto confrade Dr. Aderson de Menezes, opulenta cerebração de jurista e homem de letras, que ilumina a um tempo a Academia e a Faculdade com os revérberos do seu talento, que faça consistir no dia 4 de outubro, data centenária do nascimento de Clóvis Bevilaqua, o ponto alto, a culminância das comemorações cinquentenárias da nossa Faculdade, com a colaboração, que alvitro, da Academia Amazonense de Letras, uma vez que a celebração do centenário obrigatoriamente recai sobre as duas casas. Ambas as instituições realizariam solene assentada jurídico-acadêmica, num dos respectivos salões, ou mesmo no Teatro Amazonas, com o apoio e o prestígio dos poderes constituídos, mormente do Tribunal de Justiça, em cujo templo Clóvis Bevilaqua representa uma divindade.

Sinto-me feliz em ter sido, entre nós, o arauto do centenário, servindo-me deste brilhante matutino, como de um clarim de ouro, para anunciar aos novos a aproximação da auspiciosa festa centenária de um dos vultos mais insignes da Pátria, pontífice da cultura nacional, que turificou as aras do Direito e da Justiça!