Recorte do mencionado jornal |
Crônica para o amanhã
Tarde está
cansada. Há macios cinzentos nas calçadas.
Hoje, talvez, fosse
bom navegar em teus mares, ó cálida e vespertina doçura. Hoje, talvez, fôssemos
além destes limites de azul.
Pelos ferros
contorcidos da claraboia, a luz tenta uma transfiguração dos minutos. Ler a
revista, sem pressa. Tragar um cigarro sem emoções. Não mover os olhos. Não
molhar os lábios. Não desejar. Apenas aceitar a comunhão suave da tarde
cansada.
Cessaram os
ritmos violentos que rompem a tranquilidade dos equilíbrios e nos jogam, em
rodopios, para o plano momento. Ah! O claro momento!
A luz cai intensa
e perpendicularmente sobre a retina e fere o idílio da luminosa comunhão dos seres
que se consomem na espera.
O retorno para o
que foi. Há sempre retornos nos momentos da tarde, véspera da noite. Amanhã é
possível que haja outras partidas.
Vejo-te.
Quero-te. Sinto que te fazes presente nos momentos silenciosos do entardecer.
Hoje te procuro. Hoje te desejo. Vermelho é rosa do que vivi. É sempre possível
olhar no espelho e não ter medo de esperar o amanhã. Se você tomar o vermelho
da rosa em suas mãos, ele se transforma silenciosamente em tarde.
Tarde cansada.
Desce em mim tua
ternura feita de quietude. Estas folhas que se desprendem sem rumorosos. Agora
todos estamos reconciliados. É quietude e sombra este caminhar de leve que se
integra em nossa voz que murmura qualquer som.
Agora é preciso
esperar a noite.
Agora é preciso
desejar o amanhã.
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