Lembrando que no final de 1968 foi instituído o AI-5, estabelecendo duras diretrizes do Governo Militar.
No ano seguinte, aconteceram diversas manifestações
contrárias. Uma delas, foi o sequestro de avião. Dois episódios aconteceram sob
o céu amazonense, e, em ambos os casos, as aeronaves foram levadas para Cuba. Neste
episódio, o segundo, o sequestrador ficou lá, e o avião retornou.
Compartilho
do matutino A Crítica (13 novembro 1969) o relato do segundo desvio de
aeronave. Nessa ocasião, o aeroporto de Itacoatiara, que tinha o privilégio de operar
com avião de linha, entrou para a história.
-- Quero ir para Cuba. Te vira!
A ordem em termos ríspidos partiu
de um jovem de pouco mais de vinte e cinco anos de idade, que trajava calça de
brim azul-marinho, camisa branca e com óculos de aro grossos de tartaruga e
lentes claras. Ele queria que o comandante Alexandre soubesse que o YS-11 estava
sendo sequestrado.
O turboélice da Cruzeiro do Sul
deixou o aeroporto de Itacoatiara, às 13:15 horas de ontem, com destino a Santarém
e Belém. Seis passageiros e seis tripulantes estavam no avião. Depois que o sequestrador
fez a ameaça, a rota do voo mudou: a próxima escala seria Caiena, na Guiana
Francesa.
O comandante da aeronave
Alexandre de Casrilevitz, ligou as turbinas e as hélices às 12:18 horas. Logo
em seguida, o avião subiu. Era o voo 254, com destino a Belém e escalas em Itacoatiara
e Santarém. O resto da tripulação era composta do copiloto Marco Antonio de
Castro Espírito Santo, rádio navegador Mário de Queiroz Ferreira e dos comissários
Ademar Feuder, Floricéia de Queiroz Mendes e Tereza, todos residentes no Rio de
Janeiro.
As 12:50 horas, o avião pousou no
aeroporto de Itacoatiara, onde só dois passageiros ficaram: Mariano Mendes e
Chibly Abrahim. Embarcou apenas um: Vitor Mário Troiano. Junto com ele, seguem João
B. Oliveira, José Messias Souza e Vicente Adriano, que ficariam em Santarém.
Para Belém, iam Roberto Campos e Iran Souza. Logo que levantou voo de
Itacoatiara, o comandante entrou em contato com a torre de Santarém. Não demoraria
a chegar.
DEPOIS, O SEQUESTRO
Com um revólver em uma das mãos e
uma granada na outra, o estranho entrou na cabina de comando e avisou que não
queria conversa com a terra. Ato contínuo prendeu o rádio navegador, Mário de
Queiroz Ferreira no compartimento traseiro do avião. Com muita calma, o comandante
Alexandre disse ao sequestrador que o levaria a Cuba, mas seria necessário, inicialmente,
entrar em contato com a torre de controle de Belém, para receber as coordenadas
da rota exigida pelo passageiro. Após alguns minutos de indecisão, o
sequestrador, que se havia identificado como Vitor Mário Troiano, foi libertar o
rádio navegador para manter o contato necessário com a torre de Belém.
A próxima escala seria Caiena. na
Guiana Francesa, ponto mais próximo, em território estrangeiro na rota para
Cuba. As coordenadas foram recebidas pelo rádio navegador. A partir daí, o
sequestrador permitiu aos tripulantes que falassem normalmente com a torre de
controle de Belém. Foi por isso que, tudo o que ocorreu a bordo do YS-11, chegou
ao conhecimento das autoridades da Aeronáutica e do pessoal da Cruzeiro do Sul.
Capitão Figueiredo (mesmo jornal) |
A maior preocupação das autoridades
e gerência da empresa a que pertence a aeronave, era a da pouca autonomia de uso
do aparelho. Ele é de fabricação japonesa e tem uma autonomia de voo de seis
horas, e deixava muitas dúvidas sobre sua chegada a Caiena. Mas, a apreensão
foi desfeita porque a capacidade total do tanque do aparelho havia sido
abastecida em Manaus. A viagem de 950 quilometras, até Caiena, não oferecia nenhum
perigo. O capitão Figueiredo, subcomandante do Destacamento da FAB, informou
que, quando o avião foi sequestrado, o comandante Alexandre já havia solicitado
permissão de pouso à torre de controle de Santarém.
Por volta das 17 horas o YS-11 aterrissou
em Caiena, sendo feito o seu reabastecimento. Logo em seguida, a rota tinha como
destino Trinidad, onde chegou por volta das 21:30 horas. Após o reabastecimento,
mais 2 escalas: Porto Rico e Nassau.
NINGUÉM DESCE
O sequestrador deu ordens à
tripulação, quando o YS-11 chegou ao aeroporto de Caiena, para que ninguém saísse
do aparelho. Só a porta de emergência foi aberta para receber alimentação necessária
até o fim da viagem exigida pelo sequestrador. Enquanto o avião estava sendo
reabastecido, ninguém podia entrar ou sair do aparelho. Os alimentos foram
trazidos até a porta da aeronave por um servente do aeroporto de Caiena.
Em menos de dois meses, é o segundo
sequestro de aviões que a Cruzeiro do Sul sofre. O primeiro ainda está na
lembrança de todos: o do Caravelle, que vinha de Belém.
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