CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, janeiro 04, 2020

DOIS RECADOS



Composição de Edgard Alecrim 
O primeiro recado pertence ao Edgard Alecrim, artista plástico, que em certo verão acompanhou outro artista em Itacoatiara. Este outro, nascido na Velha Serpa, era Anísio Mello, falecido há dez anos, que foi contratado para decorar o palco do Festival de Música da cidade. Evento que acontece a cada ano em setembro.

O jovem Edgard ficou encantado com o trabalho de Anísio. Retornou narrando as aventuras passadas na beira do rio Amazonas e de cursos d’água. Ao tempo, conheci Edgard na residência de Anísio, em reunião do Chá do Armando, que me presenteou uma cópia de jornal em que, ladeando o mestre Anísio, foram motivo de reportagem.
Enfim, Edgard virou fã de Anísio. Daí o recado que, em 2005, ele versejou “para o meu especial amigo Anísio Mello”, e divulgou em composição especial.


O segundo, saiu da pena de L. Ruas, padre-poeta falecido em 2000. O texto – escrito de próprio punho, me permitiu elaborar algumas considerações, ainda que ele não revele a data e o destinatário(a).
Estou certo de que escreveu este bilhete na residência do casal Orígenes e Berenice Martins (fundadores do Instituto Christus), onde Ruas era da família. Sua amizade começou com o Orígenes, enquanto seminarista em Manaus e Fortaleza. E aprofundou no colégio e na própria doença. Em outras palavras, até a morte.
Recado de L. Ruas (*)
O texto revela duas inclinações de L. Ruas: a bebida e a música. Veja que ele “acabou a vodca” e ouviu todo o repertório de Helena de Lima, Ciro Monteiro, Elizete Cardoso e Ataulfo Alves (os cantores da década de 1950/60). Haja cantores e músicas para ouvir, portanto, esperou por longo período... lance de quem é da casa.
A bebida (infelizmente) era habitual em Ruas; ele confiava, isso recolhi em seu poema Oráculo, que devia buscar o cristão, em qualquer ambiente. Ao lado da bebida, o cigarro foi seu companheiro até que a doença o acamasse. Agora, a propósito de música: ele conhecia esta arte, sabia escrever e interpretá-la. É dele os hinos da igreja Matriz e a de São Pedro Apóstolo (bairro de Petrópolis). Ao tempo da Igreja do latim, como era deleitoso assistir as cerimônias da Semana Santa, nelas, Ruas se destacava por sua voz de tenor.
Enfim, depois de derrotado pela “paciência”, manifestou sua impaciência... “vou andar por aí”. Todavia, repensou e advertiu: “é possível que volte.” Esse mesmo contexto parece ter usado ao elaborar o sintético poema Vigília, incluído em seu livro Poemeu (1985): Quando escuto passos no caminho / Sei que não vens... / Mas te espero.


(*) Transcrição do recado de L. Ruas
Eu estive aqui desde 12hs. / Fiz milhares de paciência. / Agora, não sei que horas são. / Acabei a vodka (sic) / Acabou a Helena de Lima / o Ciro e a Elizete, o Ataulfo. / Eu vou andar por aí. / É possível que eu volte. / Não acertei nenhuma paciência. / É possível... / É... é possível que eu volte.
L. Ruas

Nenhum comentário:

Postar um comentário