Composição de Edgard Alecrim |
O primeiro recado pertence ao Edgard
Alecrim, artista plástico, que em certo verão acompanhou outro artista em
Itacoatiara. Este outro, nascido na Velha Serpa, era Anísio Mello, falecido há dez
anos, que foi contratado para decorar o palco do Festival de Música da cidade.
Evento que acontece a cada ano em setembro.
O jovem Edgard ficou encantado com o trabalho
de Anísio. Retornou narrando as aventuras passadas na beira do rio Amazonas e
de cursos d’água. Ao tempo, conheci Edgard na residência de Anísio, em reunião
do Chá do Armando, que me presenteou uma cópia de jornal em que, ladeando o
mestre Anísio, foram motivo de reportagem.
Enfim, Edgard virou fã de Anísio. Daí o
recado que, em 2005, ele versejou “para o meu especial amigo Anísio Mello”, e
divulgou em composição especial.
O segundo, saiu da pena de L. Ruas,
padre-poeta falecido em 2000. O texto – escrito de próprio punho, me permitiu
elaborar algumas considerações, ainda que ele não revele a data e o
destinatário(a).
Estou certo de que escreveu este bilhete
na residência do casal Orígenes e Berenice Martins (fundadores do Instituto
Christus), onde Ruas era da família. Sua amizade começou com o Orígenes,
enquanto seminarista em Manaus e Fortaleza. E aprofundou no colégio e na própria
doença. Em outras palavras, até a morte.
Recado de L. Ruas (*) |
O texto revela duas inclinações de L.
Ruas: a bebida e a música. Veja que ele “acabou a vodca” e ouviu todo o
repertório de Helena de Lima, Ciro Monteiro, Elizete Cardoso e Ataulfo Alves (os
cantores da década de 1950/60). Haja cantores e músicas para ouvir, portanto,
esperou por longo período... lance de quem é da casa.
A bebida (infelizmente) era habitual em
Ruas; ele confiava, isso recolhi em seu poema Oráculo, que devia buscar o
cristão, em qualquer ambiente. Ao lado da bebida, o cigarro foi seu companheiro
até que a doença o acamasse. Agora, a propósito de música: ele conhecia esta
arte, sabia escrever e interpretá-la. É dele os hinos da igreja Matriz e a de São
Pedro Apóstolo (bairro de Petrópolis). Ao tempo da Igreja do latim, como era deleitoso
assistir as cerimônias da Semana Santa, nelas, Ruas se destacava por sua voz de
tenor.
Enfim, depois de derrotado pela “paciência”,
manifestou sua impaciência... “vou andar por aí”. Todavia, repensou e advertiu:
“é possível que volte.” Esse mesmo contexto parece ter usado ao elaborar o sintético
poema Vigília, incluído em seu livro Poemeu (1985): Quando escuto
passos no caminho / Sei que não vens... / Mas te espero.
(*) Transcrição do recado de L. Ruas
Eu estive aqui desde 12hs. / Fiz milhares de paciência. / Agora, não sei que horas são. / Acabei a vodka (sic) / Acabou a Helena de Lima / o Ciro e a Elizete, o Ataulfo. / Eu vou andar por aí. / É possível que eu volte. / Não acertei nenhuma paciência. / É possível... / É... é possível que eu volte.
L. Ruas
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