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terça-feira, janeiro 21, 2020

MOAGEIRA DE TRIGO DE MANAUS




Título da reportagem em A Notícia, 7 janeiro 1970

Afirmando ter voltado ao Amazonas a fim de cumprir uma promessa que fizera à classe empresarial, quando aqui esteve, para inauguração do “Palácio do Comércio”, que era trazer a Manaus o ministro da Fazenda, Sr. Delfim Netto, chegou ontem a nossa capital, pelo Boeing da VASP, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, sr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil Netto, que veio acompanhado de uma ilustre comitiva encarregada de ajudar os líderes empresariais nos preparativos de suas reivindicações.

COMITIVA
Acompanhando o titular da CNI, vieram os mais destacados representantes da entidade, integrantes do Conselho Econômico daquela Federação, inclusive seu presidente, economista Ernesto Jorge Street, e Ítalo Bologna, diretor do Departamento Nacional do Senai. Integrando a comitiva veio, também, o escritor Mário Simonsen, autor do livro “Brasil 2001”, que teve grande repercussão em todo o país.

RECEPÇÃO
O grupo foi recebido no Aeroporto Internacional Ajuricaba, pelos dirigentes das classes empresariais no Amazonas, tendo à frente o sr. Antonio Simões, presidente da Fieam e inúmeras autoridades que foram levar seus votos de boas-vindas à ilustre comitiva augurando que a missão que os trouxe ao Amazonas seja coroada de êxito.

Simonsen e Azevedo (Foto A Notícia, 7 janeiro 1970)
Notas próprias:
Incorporado à delegação, desembarcou o industrial Gilberto Azevedo, responsável pela implantação da moageira de trigo na Colônia Oliveira Machado. A história desta empresa deve ser bastante conhecida, como a mudança de administração e da nomenclatura para Ocrim SA - Produtos Alimentícios. 
Para completar a publicação, transcrevo um texto de Ramayana de Chevalier, compartilhado do Jornal do Commercio (14 jan. 1970), em que o saudoso articulista oferece formidáveis dados sobre aquele industrial.

UM PIONEIRO FELIZ
Ramayana de Chevalier

Nós o víamos, aos quandos, pelos bares, em turmas alegres de bons vizinhos, palestrando cm transe de entusiasmo. Depois, desaparecia. Durante algum tempo, era uma sombra de saudade fraternal. Sua figura animada e esfuziante, enchia o “Mandy's Bar” como um trecho de Schubert. Todos o queríamos, na sua qualidade entreamada de paraense, nosso irmão mangaua do delta. Discutia futebol, comércio, indústria, sonhos. Vivo como um esquilo, não perdia uma vez de mirada sentimental, sempre elogiando Manaus e o seu povo, sempre a entoar loas para o futuro que esperava o Amazonas, sua segunda terra de adoção.
Chama-se Gilberto Azevedo. Presidente do Conselho da Confederação Nacional da Indústria, era um simples, um braço estendido para o sofrimento humano, um coração. Não conheço muitos homens do seu porte. Tem três metros de altura, como os legítimos vencedores. De uma argúcia acima do comum, Gilberto Azevedo derramava juventude e espírito pelas rodas amigas da capital baré. O que estaria planejando esse sonhador de moinhos de vento? Que espécie de visitas seriam essas que nós todos adorávamos por que seduziam à nossa inteligência e à nossa sede? O “Mandy’s” perfumava-se com a sua presença.
Cavalheiro de requintada fidalguia, homem de lhaneza no trato e no convívio, Gilberto era um pedaço do Guamá, desaguando no rio Negro. Passou a frequentar Manaus mais assiduamente. Não raro, de um peplo de nuvem cinzenta surgia o seu “Caravelle”, espantando audácias. E ei-lo entre nós, mais sacudido e mais risonho que uma cuia de tacacá, augurando felicidades.
Certa vez explodiu a novidade: Manaus ia ter uma moageira, uma indústria de trituração da semente do trigo bendito, iria alimentar-se como uma cidade civilizada, como um núcleo moderno no coração da selva.
Foi escolhida a Colônia Oliveira Machado, onde tantas vezes eu fora em criança, como escoteiro, ainda em traços primitivos. Hoje, quem a conhecerá?
Um edifício admirável, de linhas elegantes e sóbrias povoa o antigo deserto. Uma pequena cidade, composta de residências e de estabelecimentos, acompanhou o nascimento da moageira. Novas iniciativas começaram a proliferar, espanando progresso para todos os lados. A indústria “Papaguara” vive do avanço civilizador da moageira. O amazonense come hoje um pão de primeira qualidade. mesmo com a Zona Franca, mesmo com a concorrência estrangeira, mesmo com a felicidade dos ingressos livres. Foi Gilberto Azevedo quem imaginou, quem idealizou, quem plasmou os alicerces dessa indústria de moagem do trigo.
Por traz dos biombos daquele sorriso ameno e simples, daquelas gargalhadas esfuziantes de quem vive montado na vida, ele guardava um presente para o Amazonas. Havia de integrar-se na imensa região, como um combatente igual, como um irmão de gleba, sonhador infatigável do nosso progresso e do nosso futuro. Continuou a ir sempre a Manaus. Voltou tantas vezes quantas lhe impõe o dever de vigiar, de incrementar a indústria, de levar o vigor do seu caráter a todos os que trabalham nesse estabelecimento modelar.
Não conheço a obra, pessoalmente. Somente através de fotos e de relatórios, de notícias e de informes. Mas conheço, de sobra, esse grande brasileiro que é Gilberto Azevedo. Sei do alcance do seu sonho, da grandeza de coração, do quanto ele estima e sente gloriosamente o Amazonas.Um dia, o povo inteiro de Manaus haverá de compreender a estatura da obra que ele imaginou em sua terra. E nesse dia, a fábrica de moagem passará a representar um monumento erguido em homenagem ao espírito construtivo e ao enorme coração de Gilberto Mendes de Azevedo.  

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