Há cerca de dois anos, escrevendo sobre minha experiência
com os médicos oftalmologistas, não encontrei na memória o nome de um night
club, de minha prioridade. Todavia, que relação houve entre esses pontos
tão diversos? Explico: descobri minha grave deficiência ocular tardiamente, por
isso, uso óculos de forma contínua.
Jornal do Commercio, 17 agosto 1970 |
Aqui entra a diversão noturna que, na década de 1970
e seguinte, quando eu era assíduo frequentador da boate Danilo´s, situada na
rua Silva Ramos, em frente ao edifício da direção-geral do BEA (Banco do Estado
do Amazonas), ora Bradesco, nela me aconteceu um “acidente”.
A dança havia evoluído, apartando os casais; a
música mais eclética, revelação de novos roqueiros, obrigava a exercitação de
braços e pernas, cada dançarino ao seu estilo. Para cumprir esse ritual, e
porque dançava mal, eu retirava os óculos e os metia na camisa enfiada “por
dentro”, na expressão de então, da calça.
Certa madrugada, ao final do “embalo de sábado à
noite”, passo a mão pela camisa em busca dos óculos, cadê o “para-brisas”? A
camisa aberta por fora da calça prenunciava o desastre: as lentes caíram ao
chão e foram moídas por sapatos bem polidos. Ainda tive o desplante de procurá-lo.
Esse causo voltou-me à lembrança ao catar esse
recorte no Jornal do Commercio (17 de agosto de 1970), às vésperas do
cinquentenário... Faz tempo, capitão Danilo’s, assim eu fui alcunhado.
Já vão longe os tempos das carruagens, quando era chique desfilar pelas ruas de Manaus, num carro puxado a cavalo, com um cocheiro devidamente uniformizado. Também do passado, embora um pouco recente, os bondes da antiga Manáos Tramways, quando os casais, românticos ou não, no fim da tarde ou nas noites de calor, davam suas voltas pelas ruas da Manaus.
O tempo, na sua marcha destruidora e construtiva, deixou lembranças para nossos avós e pais, que ainda se recordam dos tempos das carruagens e dos bondes. Três décadas depois, Manaus tomou roupagem nova. Principalmente a partir do final da década dos 60. Hoje, cerca de 15 mil veículos, entre automóveis, motocicletas, lambretas etc., deixam perturbados os sonos provincianos, ainda não acostumados ou resistindo a aceitar uma nova Manaus: trepidante, agitada, com gente diferente, falando uma linguagem também diferente e com roupas tidas esquisitas.Se Manaus mudou durante o dia, também a vida noturna assumiu novas dimensões, com o surgimento de novas casas de diversão, inteiramente contidas no contexto do embalo “kente” e ao gosto da época agressiva e violenta que vivemos: com guerrilhas urbanas e suburbanas, sequestros nos céus e na terra, assaltos em bancos e nos bolsos populares.
Manaus-70 é assim: com minissaia, máxi e mídi, não querendo ficar enquadrada e nem pra trás. É uma cidade pra frente, atualizada na moda e no papo, com gente querendo mais gente, porque no fim das contas o que falta na Amazônia é gente mesmo.
Manaus-70. Madrugada quente ou fria. Com boates e inferninhos. Mocidade agitada e estudiosa. Conflitos de gerações e entrechoques preconceitos.
Manaus-70 é tudo isto e mais. “Danilo’s”, o night club das noites embaladas e uma imagem bonita e expressiva da Manaus moderna e sem provincianismo e preconceitos desusados. Pra frente, Manaus!'
sensacional, coronel!
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