CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, setembro 14, 2019

LIVROS USADOS


As fotos aqui compartilhadas mostram forte presença da população em uma feira, que oferecia livros usados. Às vésperas do cinquentenário, a leitura do texto do Jornal do Commercio (2 agosto 1970) oferece inúmeras facetas que diferenciam aquela feira das iniciativas de atuais “sebeiros”, concentrados na Praça da Polícia.
Veja-se parte da Livraria Escolar (à esq) e as barracas para exposição
Tenho acompanhado o esforço do Celestino Neto (Lé) para vender livros usados. É uma dureza. Arrisco dizer com convicção que o problema maior é o desaparecimento de leitores de livros, pois hoje a leitura está concentrada nos tablets e assemelhados. Como essa publicação é realizada em tópicos, daí pouco se lê, prefere-se o áudio. No entanto, a produção de livros é substanciosa.
De retorno à rua Henrique Martins: acolá, os jovens de ontem faziam a festa, literalmente. Conseguiam as bandas, cita-se a Blue Birds, ainda animando a galera, e as jovens bem-dotadas para enfeitar a artéria. Tem mais. Aquela artéria era afamada, alcunhada de Canto do Fuxico, pois reunia respeitável grupo de manauaras: comerciários, estudantes, juristas, militares. As livrarias ali situadas era outro agente de atração.
O centro da cidade de Manaus, diverso de nossos dias, era local de moradia, de repartições públicas e de colégios famosos e do comércio. Com esses ingredientes, aquele mercado em torno de “livros usados” marcou o local e a cidade.
Não tenho informações se esse trabalho dos jovens teve continuidade.

Recorte do texto exposto no Jornal do Commercio (2 agosto 1970)

A
Feira do Livro Usado, inaugurada ontem na Rua Henrique Martins, está se tornando sucesso absoluto. E como eu digo, depois do Supermercado de Arte, tudo é possível em matéria de comunicação de massa. A febre de cultura anda tomando conta da cidade.
Os livros são vendidos ao som de “travelling band baby I love, you, divino maravilhoso” e outras mais. Enquanto você compra o livro usado, que varia no preço entre Cr$ 0,20 e 1,00 dos novíssimos, tem garotas boas ao seu lado se rebolando ao som do Blue Birds. É a comunicação total, comunicação em massa.
As presenças marcantes lá são as da turma de Teatro da Fundação, destacando-se o Moacir, o Chacrinha amazonense, que estava vestido com uma fardão, semelhante àquele usado pelos Beatles no Sargeant pepper's ou àquele usado pelos membros da Academia Brasileira de Letras para o chá das cinco, mas, segundo ele garante, a fantasia é de burguês.
Ainda importante é a obra da artista uruguaia Isabel Rodriguez, quadros impressionantes e primitivos são vendidos na calçada. Até o [Joaquim] Marinho, lá do Depro, ficou entusiasmado com a ideia dos jovens, que teve pleno apoio da Fundação Cultural e da Secretaria de Educação e Cultura. E mais entusiasmados estão os próprios vendedores e compradores com toda aquela badalação.
Estudantes de todos os colégios estavam lá comprando os livros usados que, aliás, estavam bem usados mesmo, mas pelo preço, tudo serve. A barraca do Colégio Brasileiro vendeu tudo, tudo mesmo. Eles pretendem renovar o estoque, para recomeçarem na próxima semana.
A Feira se estenderá por toda essa semana que se inicia e espera a sua presença. É uma boa oportunidade de encontrar um livro que você esteve sempre procurando. Tem uns livros lá bem dignos de Museu Histórico, vai ver que é o livro que você esteve procurando há uns cinco anos. É bom arriscar.
A Feira funcionará todos os dias, no expediente normal, começa cedo e fecha às onze com o comércio. E todo dia tem um conjunto tocando no meio da rua, sempre tem mulheres bonitas, e nunca vai faltar aquela animação, que só estudante sabe trazer às promoções públicas.

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