Além desses três personagens: Sebastião Lustosa
Brasil, vulgo “padre”, o morto; Mudinho,
ainda que mudo, falou, e o poeta Paula e Souza que, sem dúvida, poetizou. Restava
inserir em cena o personagem primordial: Luís Carlos, o matador do “padre”.
Luís Carlos, Jornal do Commercio,
22 maio 1969
22 maio 1969
Em verdade, o Café do Pina nada tinha com o crime, apenas
emprestei a denominação pelo inusitado dos personagens já descritos. Ainda que suscintamente, vamos aos fatos. Em 9
de maio de 1969, o corpo do Sebastião Brasil, conhecido por “padre”, foi encontrado
em um varadouro do km 10 da rodovia (hoje) Torquato Tapajós, já em
decomposição. Trazia um projetil de revólver 22 no crânio. Daí o epiteto jornalístico:
Crime do Varadouro.
Jornal do Commercio, 22 maio 1969 |
Vira e mexe, a Polícia aventou algumas hipóteses
para a morte: 1) envolvimento em guerrilha (o país passava pelo regime militar);
2) envolvido no assalto à agência de aviação Cruzeiro do Sul; 3) desforra da
família da noiva (defloramento); 4) atormentado por problemas, preferiu o suicídio.
Ao final do mês, o comissário Salum Omar, encarregado
inquérito, solicitou a prisão do acusado da morte: Luís Carlos de Souza Leão
(primo do morto), de 22 anos, residente na rua Saldanha Marinho, 789 – Centro.
O juiz competente acolheu o pedido, e mandou recolher o acusado à Penitenciária
do Estado, então na avenida Sete de Setembro.
Pouco adiante, conforme relatado no post (2), o
Mudinho “falou” que o “padre” comeu um cachorro-quente em sua banca, dias após
sua morte. Com essa revelação, o advogado de Luís Carlos, dr. Olavo Faria,
solicitou a soltura do acusado e a exumação do cadáver. E conseguiu.
Enquanto em liberdade, Luís Carlos acabou por se
envolver com drogas no bairro de Educandos e, em consequência, foi
reencaminhado ao presídio. A exumação cadavérica foi realizada pela manhã, no
início de novembro, sob a direção do médico-perito Antonio Hosanah, e com a presença
inclusive do próprio juiz, dr. Asclepiades Eudóxio. Enfim, para desconforto do indiciado,
o corpo do “padre” estava na cova.
Recorte de O Jornal, 20 novembro 1969 |
Ainda não cheguei ao final dessa tragédia, vou continuar
catando papeis. Somente sei que o meu colega Brasil, como o tratávamos, pagou um
custo elevado pela vida. Vida tão pouco vivida.
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