CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, julho 27, 2019

CRIME QUE ABALOU A REPÚBLICA DO PINA (4)



 Além desses três personagens: Sebastião Lustosa Brasil, vulgo “padre”, o morto; Mudinho, ainda que mudo, falou, e o poeta Paula e Souza que, sem dúvida, poetizou. Restava inserir em cena o personagem primordial: Luís Carlos, o matador do “padre”.

Luís Carlos, Jornal do Commercio,
22 maio 1969


Em verdade, o Café do Pina nada tinha com o crime, apenas emprestei a denominação pelo inusitado dos personagens já descritos.  Ainda que suscintamente, vamos aos fatos. Em 9 de maio de 1969, o corpo do Sebastião Brasil, conhecido por “padre”, foi encontrado em um varadouro do km 10 da rodovia (hoje) Torquato Tapajós, já em decomposição. Trazia um projetil de revólver 22 no crânio. Daí o epiteto jornalístico: Crime do Varadouro.

Jornal do Commercio, 22 maio 1969
Vira e mexe, a Polícia aventou algumas hipóteses para a morte: 1) envolvimento em guerrilha (o país passava pelo regime militar); 2) envolvido no assalto à agência de aviação Cruzeiro do Sul; 3) desforra da família da noiva (defloramento); 4) atormentado por problemas, preferiu o suicídio.

Ao final do mês, o comissário Salum Omar, encarregado inquérito, solicitou a prisão do acusado da morte: Luís Carlos de Souza Leão (primo do morto), de 22 anos, residente na rua Saldanha Marinho, 789 – Centro. O juiz competente acolheu o pedido, e mandou recolher o acusado à Penitenciária do Estado, então na avenida Sete de Setembro.

Pouco adiante, conforme relatado no post (2), o Mudinho “falou” que o “padre” comeu um cachorro-quente em sua banca, dias após sua morte. Com essa revelação, o advogado de Luís Carlos, dr. Olavo Faria, solicitou a soltura do acusado e a exumação do cadáver. E conseguiu.
Enquanto em liberdade, Luís Carlos acabou por se envolver com drogas no bairro de Educandos e, em consequência, foi reencaminhado ao presídio. A exumação cadavérica foi realizada pela manhã, no início de novembro, sob a direção do médico-perito Antonio Hosanah, e com a presença inclusive do próprio juiz, dr. Asclepiades Eudóxio. Enfim, para desconforto do indiciado, o corpo do “padre” estava na cova. 

Recorte de O Jornal, 20 novembro 1969

Ainda não cheguei ao final dessa tragédia, vou continuar catando papeis. Somente sei que o meu colega Brasil, como o tratávamos, pagou um custo elevado pela vida. Vida tão pouco vivida.  

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