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domingo, novembro 25, 2012

CLUBE DA MADRUGADA – 58 ANOS (2ª. Parte)

Alencar e Silva (1930-2011)l
Acredito que a última publicação conhecida sobre o Clube da Madrugada foi realizada por um dos seus fundadores: Alencar e Silva, que morreu em setembro de 2011. Portanto, dono de respeitável conhecimento sobre o Movimento, que segue lembrado. Aproveito o texto para penitenciar-me de um pecado mortal cometido no texto anterior: é que, ouvindo o autor de Lunamarga, ainda existem outros fundadores bem vivos.  Com a palavra, o saudoso Alencar e Silva. (*)

Destinado a assinalar no tempo um acontecimento de alta relevância para o desenvolvimento cultural do Estado, um dia gravou-se no bronze esta inscrição: "Pois foi. Jovens se reuniram sob as frondes desta árvore, e aconteceu. Era madrugada. 22 de novembro de 1954. E fez-se.”
Luiz Ruas, presidente do CM (1957-58)
Alude o breve texto à criação do Clube da Madrugada. E os jovens que então ali se reuniram, teriam seus nomes para sempre inscritos na legenda gloriosa como seus fundadores. Foram eles: Saul Benchimol, Luiz Bacellar, Farias de Carvalho, Theodoro Botinelly, Fernando Collyer, José Pereira Trindade, Francisco Baptista, João Bosco Araújo, Antônio Gurgel do Amaral, Celso Mello, Humberto Paiva e Camilo Souza.






E aos quais se juntariam, em seguida, Jorge Tufic, Guimarães de Paula, L. Ruas, Francisco Vasconcellos, João Bosco Evangelista, Astrid Cabral, Carlos Gomes, Pedro Amorim, Aluísio Sampaio, Jefferson Péres, Arthur Engrácio, Elson Farias, Antísthenes Pinto, Max Carphentier, Alcides Werk, Ivens Lima, Edison Farias, Sebastião Norões, Benjamim Sanches, Ernesto Penafort, Ernesto Pinho Filho, Erasmo Linhares, Edson de Souza, Carlos Genésio, M. Braga, Wagner Pinto, Anísio Mello, Maria José Hosanah da Silva, Pinheiro Pucu, Evandro Carreira, Fábio Lucena, Leopoldo Péres Sobrinho, Adrino Aragão de Freitas, Mauro Tavares, Flávio Roberto de Souza, Afrânio de Castro, Moacir de Andrade, Oscar Ramos Filho, Álvaro Páscoa, Hahneman Bacellar, Van Pereira, Getúlio Alho, José Maciel e outros.

Surgido como síntese unificadora da inquietação que vinha movendo a mocidade amazonense, desde a década anterior, e que buscava abrir espaço ao exercício da liberdade criativa e à renovação dos padrões artísticos e literários vigentes - o Clube da Madrugada chegava já amadurecido para os novos tempos sabendo perfeitamente o que queria.

O poeta Jorge Tufic, que se refere ao CM como uma atmosfera e um movimento de ideias, identifica nas raízes desse movimento uma série de fatores causais que se resumem, basicamente, no esgotamento e anacronismo da vida cultural de Manaus, êxodo da juventude, desfalcando anualmente a população de parte ponderável de seus valores, e inexistência de universidade. Surgia, assim, o Clube da Madrugada em meio a uma crise total de valores.

Muitos, evidentemente, foram os presidentes do CM. E todos o terão conduzido com o acerto esperado, dando cumprimento à pauta do seu ideário e ao intercâmbio de conhecimentos e experiências em que os madrugadenses mutuamente se enriqueciam, como que ao clima de um centro de estudos superiores.

A partir, porém, dos anos 60 e princípios dos 70, houve notável mudança de ritmo. E Aluísio Sampaio viria como que a encarnar a alma do Clube como força coesiva e dinâmica que lhe comunicaria novo ânimo e o faria projetar-se, ostensivamente, em cena aberta, para reafirmar e mostrar, em toda a sua extensão, a que vinha.

Isto se fez não só por meio da publicação de livros - o que já vinha ocorrendo desde a década anterior - mas, principalmente, do espaço gráfico de toda uma página semanal do "O Jornal", na qual se estampava a produção cultural do grupo e dos novos valores que começavam a surgir.

Dentro da informalidade que sempre o caracterizou, o Clube da Madrugada foi extremamente parcimonioso na outorga do título de "Cavaleiro de Todas as Madrugadas do Universo", contando-se entre as personalidades agraciadas com essa honraria os escritores Ramayana de Chevalier, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Assis Brasil, André Araújo, Nunes Pereira, Jean-Paul Sartre, Ferreira de Castro e o jornalista Umberto Calderaro Filho.

Aluísio Sampaio era um obstinado. Seu período presidencial (ou imperial...) estendeu-se praticamente por toda uma década - o quanto durou a página dominical do CM - tempo durante o qual só se assinalaria um breve hiato, no biênio 1965/66, com a presidência de Francisco Vasconcellos, também brilhante, dinâmica e operosa.

Lembro, a propósito, ter sido ele o iniciador da Coleção Madrugada, tornando-se, assim, o meu primeiro editor, eis que o meu livro Lunamarga veio a constituir o volume 2 da coleção, nos idos de 1965.

Voltando a tomar as rédeas em suas mãos - ocasião em que se esboçou uma cisão de consequências positivas, pois que daria lugar à criação do núcleo local da UBE - pôde Aluísio Sampaio conduzir o CM aos seus objetivos programáticos, sendo a sua dedicação pessoal responsável pela fase mais aguerrida e brilhante da entidade. A propósito, não será necessário enfatizar a competência com que se houve o grande comandante na utilização dos espaços abertos na imprensa amazonense (além da página no "O Jornal", também no "Jornal do Comércio" e na "A Crítica"), para a divulgação dos trabalhos do grupo, cuja produção intelectual se projetava para além do campo estritamente literário - poesia, conto, crônica e ensaio - e alcançava a área dos estudos sociais e econômicos.

Efetivamente, o entusiasmo, a operosidade e a força da sua liderança foram ainda responsáveis pela verdadeira explosão ocorrida no âmbito das artes plásticas, em Manaus, a partir dos começos dos anos 60, quando o Clube da Madrugada patrocinou numerosas exposições, coletivas e individuais, dos artistas locais, pertencentes ou não aos seus quadros. Lembra-se, a propósito, haver sido um membro do CM, o pintor Moacir Andrade, o primeiro artista brasileiro a expor em Brasília.

Em 1963, por exemplo, sob a denominação de Feira de Artes Plásticas, varias amostras foram montadas em logradouros públicos de grande afluência, como a praça da Matriz (lado da av. Eduardo Ribeiro) e a praia da Ponta Negra, sendo visitadas por milhares de pessoas, e atingindo-se, dessa forma, o buscado objetivo de levar ao grande público o trabalho dos nossos artistas, na primeira tentativa, entre nós, de diluição das barreiras que afastam o povo das exposições em espaços fechados.

Ao evocar-lhe a figura ímpar de grande animador do Movimento Madrugada, é de justiça creditar-se ao zelo de Aluísio Sampaio, pelo menos em parte, numerosas outras iniciativas, como, por exemplo, o experimento da Poesia de Muro. 

(*) Alencar e Silva. Quadros da Moderna Poesia Amazonense. Manaus: Editora Valer, 2011.

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