Alencar e Silva (1930-2011)l |
Destinado a assinalar no tempo um acontecimento de alta relevância
para o desenvolvimento cultural do Estado, um dia gravou-se no bronze esta inscrição:
"Pois foi. Jovens se reuniram sob as
frondes desta árvore, e aconteceu. Era madrugada. 22 de novembro de 1954. E fez-se.”
Luiz Ruas, presidente do CM (1957-58) |
E aos quais se juntariam, em seguida, Jorge Tufic, Guimarães
de Paula, L. Ruas, Francisco Vasconcellos, João Bosco Evangelista, Astrid Cabral, Carlos
Gomes, Pedro Amorim, Aluísio Sampaio, Jefferson Péres, Arthur Engrácio, Elson
Farias, Antísthenes Pinto, Max Carphentier, Alcides Werk, Ivens Lima, Edison Farias,
Sebastião Norões, Benjamim Sanches, Ernesto Penafort, Ernesto Pinho Filho, Erasmo
Linhares, Edson de Souza, Carlos Genésio, M. Braga, Wagner Pinto, Anísio Mello,
Maria José Hosanah da Silva, Pinheiro Pucu, Evandro Carreira, Fábio Lucena, Leopoldo
Péres Sobrinho, Adrino Aragão de Freitas, Mauro Tavares, Flávio Roberto de Souza,
Afrânio de Castro, Moacir de Andrade, Oscar Ramos Filho, Álvaro Páscoa, Hahneman
Bacellar, Van Pereira, Getúlio Alho, José Maciel e outros.
Surgido como síntese unificadora da inquietação que vinha movendo
a mocidade amazonense, desde a década anterior, e que buscava abrir espaço ao exercício
da liberdade criativa e à renovação dos padrões artísticos e literários vigentes - o
Clube da Madrugada chegava já amadurecido para os novos tempos sabendo perfeitamente
o que queria.
O poeta Jorge Tufic, que se refere ao CM como uma atmosfera e
um movimento de ideias, identifica nas raízes desse movimento uma série de
fatores causais que se resumem, basicamente, no esgotamento e anacronismo da
vida cultural de Manaus, êxodo da juventude, desfalcando anualmente a população
de parte ponderável de seus valores, e inexistência de universidade. Surgia, assim,
o Clube da Madrugada em meio a uma crise total de valores.
Muitos, evidentemente, foram os presidentes do CM. E todos o
terão conduzido com o acerto esperado, dando cumprimento à pauta do seu ideário
e ao intercâmbio de conhecimentos e experiências em que os madrugadenses
mutuamente se enriqueciam, como que ao clima de um centro de estudos
superiores.
A partir, porém, dos anos 60 e princípios dos 70, houve notável
mudança de ritmo. E Aluísio Sampaio viria como que a encarnar a alma do Clube
como força coesiva e dinâmica que lhe comunicaria novo ânimo e o faria
projetar-se, ostensivamente, em cena aberta, para reafirmar e mostrar, em toda
a sua extensão, a que vinha.
Isto se fez não só por meio da publicação de livros - o que
já vinha ocorrendo desde a década anterior - mas, principalmente, do espaço
gráfico de toda uma página semanal do "O Jornal", na qual se
estampava a produção cultural do grupo e dos novos valores que começavam a
surgir.
Dentro da informalidade que sempre o caracterizou, o Clube da
Madrugada foi extremamente parcimonioso na outorga do título de "Cavaleiro
de Todas as Madrugadas do Universo", contando-se entre as personalidades
agraciadas com essa honraria os escritores Ramayana de Chevalier, Jorge
Amado, Guimarães Rosa, Assis Brasil, André Araújo, Nunes Pereira, Jean-Paul
Sartre, Ferreira de Castro e o jornalista Umberto Calderaro Filho.
Aluísio Sampaio era um obstinado. Seu período presidencial (ou
imperial...) estendeu-se praticamente por toda uma década - o quanto durou a
página dominical do CM - tempo durante o qual só se assinalaria um breve hiato,
no biênio 1965/66, com a presidência de Francisco Vasconcellos, também
brilhante, dinâmica e operosa.
Lembro, a propósito, ter sido ele o iniciador da Coleção
Madrugada, tornando-se, assim, o meu primeiro editor, eis que o meu livro Lunamarga veio a constituir o volume 2 da coleção, nos idos de 1965.
Voltando a tomar as rédeas em suas mãos - ocasião em que se
esboçou uma cisão de consequências positivas, pois que daria lugar à criação do
núcleo local da UBE - pôde Aluísio Sampaio conduzir o CM aos seus objetivos
programáticos, sendo a sua dedicação pessoal responsável pela fase mais
aguerrida e brilhante da entidade. A propósito, não será necessário enfatizar a
competência com que se houve o grande comandante na utilização dos espaços
abertos na imprensa amazonense (além da página no "O Jornal", também
no "Jornal do Comércio" e na "A Crítica"), para a
divulgação dos trabalhos do grupo, cuja produção intelectual se projetava para
além do campo estritamente literário - poesia, conto, crônica e ensaio - e
alcançava a área dos estudos sociais e econômicos.
Efetivamente, o entusiasmo, a operosidade e a força da sua liderança
foram ainda responsáveis pela verdadeira explosão ocorrida no âmbito das artes
plásticas, em Manaus, a partir dos começos dos anos 60, quando o Clube da
Madrugada patrocinou numerosas exposições, coletivas e individuais, dos
artistas locais, pertencentes ou não aos seus quadros. Lembra-se, a propósito,
haver sido um membro do CM, o pintor Moacir Andrade, o primeiro artista
brasileiro a expor em Brasília.
Em 1963, por exemplo, sob a denominação de Feira de Artes
Plásticas, varias amostras foram montadas em logradouros públicos de grande afluência,
como a praça da Matriz (lado da av. Eduardo Ribeiro) e a praia da Ponta Negra,
sendo visitadas por milhares de pessoas, e atingindo-se, dessa forma, o buscado
objetivo de levar ao grande público o trabalho dos nossos artistas, na primeira
tentativa, entre nós, de diluição das barreiras que afastam o povo das exposições
em espaços fechados.
Ao evocar-lhe a figura ímpar de grande animador do Movimento Madrugada, é
de justiça creditar-se ao zelo de Aluísio Sampaio,
pelo menos em parte, numerosas outras iniciativas, como, por exemplo, o
experimento da Poesia de Muro.
(*) Alencar e Silva. Quadros
da Moderna Poesia Amazonense. Manaus: Editora Valer, 2011.
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