Amanhã, em
solenidade às 19h, no quartel do Comando Geral, a Polícia Militar relembra o retorno
de sua tropa expedicionária a Canudos (BA). Amanhã, esse evento completa 115
anos.
De minha
parte, autor de Cândido Mariano &
Canudos, a fim de repassar o envolvimento da força estadual amazonense no
conflito, reproduzo o quarto capítulo do trabalho que organizei para o Museu
Tiradentes.
A CAMPANHA DE CANUDOS
Manuel
Vitorino, no exercício da presidência da República, nomeia o coronel Antônio
Moreira Cesar, do 7º Batalhão de Infantaria, para comandar a Terceira Expedição.
Este oficial destacou-se pela forma como enfrentou a repressão à Revolução
Federalista, tanto que era alcunhado de corta
cabeças. Em 1893, para se safar da acusação pelo assassínio de um
jornalista, serviu no 36º de Infantaria, sediado em Manaus.Arthur Oscar, general |
Açodado, Moreira
Cesar tão logo foi nomeado embarcou no Rio para Salvador (BA). Como antecipando
o final, tanto na viagem quanto no desembarque aprontou suas excentricidades.
Em 7 de fevereiro, partiu para Queimadas. Ali desembarcou no dia seguinte, logo
telegrafando para o ministro da Guerra, general Francisco de Paula Argolo.
Depois de informar da animada disposição da tropa, encerra preocupado: “Só temo que o fanático Antônio Conselheiro
não nos espere”.
Apesar da
afobação, o comandante teve que esperar nove dias para reunir a força de 1.300
homens e seis canhões Krupp, além de pessoal de apoio. Por isso, chega a Monte
Santo em 18, quando sofre um ataque epiléptico.
Uma semana depois passa em Cumbe (hoje Euclides da Cunha), onde se
desentende com o vigário. A partir desse vilarejo, a marcha se torna morosa,
tanto que a expedição aproxima-se de Canudos (cerca de três léguas, no Rancho
do Vigário), em 2 de março. No dia seguinte, por volta do meio-dia, Moreira
Cesar muda o plano original: depois de ordenar o bombardeio do arraial, comanda
o ataque imediato.
Estima-se
que, ao cabo de três horas de forte combate, o comandante foi ferido, atingido
por um tiro no ventre, na versão oficial. Mas há outras, inclusive a de que um
soldado, chamado Trajano, teria sido o autor do disparo. O comandante ferido é
amparado pelo pessoal de saúde, que constata a gravidade da lesão. No início da
noite, o subcomandante, coronel Pedro Tamarindo, decide abrigar as tropas em
local mais seguro, preocupado com a noite. Na madrugada, morre o coronel Moreira
Cesar.
Pela manhã,
conhecido o fim do comandante e a decisão dos oficiais de evacuar a tropa, não
houve quem pudesse controlar os grupos de praças, que fogem em direção ao
Cumbe. Diante desse quadro, os sitiados saem em perseguição aos militares, aprofundando
o desastre. Foi um autêntico salve-se
quem puder. Não há dados conclusivos sobre o número de mortos e feridos e
perdas de material. Para resumir a tragédia: são mortos o coronel Pedro
Tamarindo, o capitão Salomão da Rocha, comandante da bateria de Krupp, o
tenente Pires Ferreira, comandante da primeira expedição, entre um
extraordinário número de expedicionários.
Página de A Guerra de Canudos, do caricaturista Parlim |
As notícias
detalhadas da catástrofe chegam à capital da República, em 7 de março. Logo,
monarquistas com ou sem culpa são justiçados. Seus jornais, saqueados. O
desastre causa enorme repercussão no País. A cidadela e os fanáticos do Conselheiro são transformados em
inimigos da República, apesar de se tratar de problema da esfera regional. Era
preciso aniquilá-los, pois a República estava em perigo. É nesse estado de
ânimo que se engaja o estado do Amazonas.
Prudente de
Moraes reassume a presidência da República e se empenha em encontrar o líder para
a Quarta Expedição. Escolhe o general Artur Oscar de Andrade Guimarães, então
comandante do 2º Distrito Militar, sediado em Recife. Nomeado, o general
desloca-se para a Bahia, alcançando Queimadas (BA) em 21 de março. Diante do
quadro calamitoso, estabelece nova linha de ação. O ataque seria efetuado em
duas frentes: uma coluna, comandada pelo general João da Silva Barbosa,
partindo de Monte Santo (BA); a outra, pelo general Cláudio do Amaral Savaget,
saindo de Aracaju (SE).
Não obstante
o apoio federal, nada simples foi ultimar os recursos para a campanha. Ante os
entraves, o comando da expedição teve que aguardar por cerca de três meses
entre Queimadas e Monte Santo. Tanto tempo permitiu a instalação de uma linha
telegráfica na região, além da substituição do ministro da Guerra, agora o
marechal Carlos Machado Bittencourt.
Enquanto o
ataque não acontecia, a ansiedade nacional aumentava. Seja no Governo Federal,
porque devia reagir à oposição arraigada, que promovia agitação. Seja na esfera
estadual, para travar o crescimento de Canudos que, a despeito da repressão,
das investidas, mais crescia, crescendo a aglomeração humana
surpreendente.
Em Aracaju,
na segunda coluna, servia o major Antônio Constantino Nery, nascido em Manaus.
Oficial de estado maior, com formação em engenharia, assessorou ao comando,
tendo acompanhado a coluna até as proximidades de Canudos. Ferido, mesmo sem
gravidade, foi retirado do front. Suas observações permitiram-lhe produzir o
livro A Quarta Expedição contra Canudos,
cem léguas de Aracaju a Queimadas, via Canudos, narrando a preparação e o
deslocamento da coluna Savaget. A obre foi publicada em 1898 e, fac-similada,
foi reeditada no centenário de Canudos.
Vencida essa
perturbação, Artur Oscar ajustou o encontro das forças em Canudos para 27 de
junho. O deslocamento de ambas não saiu como esquematizado, porquanto os
caminhos tortuosos e os ataques dos jagunços perturbaram os militares. Todavia,
à tarde do dia determinado, a Primeira Coluna ou Savaget ocupou o Alto da
Favela, assim denominado pela vegetação existente no local. Uma posição
estratégica para o bombardeio do arraial. Enquanto isso, a coluna Savaget foi
surpreendida na passagem do Cocorobó, a pouco mais de duas léguas de Canudos. A
reação militar é surpreendente, mas o número de baixas, inclusive de oficiais,
mostra as dificuldades a enfrentar. O próprio comandante da coluna é ferido com
gravidade.
A despeito
de instalada em posição privilegiada, os conselheiristas
tanto fustigaram a primeira coluna que, em ato desesperado, o coronel Thompson
Flores investiu com sua tropa contra o reduto do Conselheiro. Pouco conquistou, ao contrário, ali perdeu a vida. A
situação então se agrava, todavia, são salvos pela chegada da coluna Savaget. (final em 5/5)
Dá gosto de ver o seu blog. Eu sou fissurado em História. Depois com calma darei uma olhada.
ResponderExcluirOrlando de Almeida Calado
Recife PE
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