Capa do livro |
De minha parte, autor de Cândido Mariano & Canudos, a fim de repassar o envolvimento da força estadual amazonense no conflito, reproduzo o segundo capítulo do trabalho que organizei para o Museu Tiradentes, no Palacete Provincial.
1. MANAUS DOS PRIMÓRDIOS DA REPÚBLICA
Proclamada a República (1889), sua instalação nos Estados, no entanto, motivou inúmeras escaramuças. Há registros destas tanto na Capital Federal, o Rio de Janeiro, quanto nas capitais dos Estados. O motivo era único: a conquista do poder político. Assim, os grupos que haviam ou não pugnado pelo novo regime digladiavam-se pelo poder regional.
A questão mais emblemática ocorreu no plano central, quando o presidente Deodoro da Fonseca se desentendeu com o vice e sucessor, Floriano Peixoto. No Amazonas, seguiu-se a regra. A intriga federal depõe o governador eleito, Thaumaturgo de Azevedo, e impõe no seu lugar a Eduardo Ribeiro (1892-96). Ainda assim, na capital amazonense, a consolidação da Republica sofreu desdobramentos. Basta lembrar a rebelião político-militar (1892-93), envolvendo o partido dos Nery na tentativa de derrubar ao governador Eduardo Ribeiro. A derradeira manifestação dessa disputa, no meu entender, ocorreu com a renúncia de Fileto Pires (1896-98).
Não foi diferente nos demais Estados, como se registra na Bahia. Ali, a refrega política entre gonçalvistas e vianistas propiciou, ou foi um dos mais destacados agentes, o desfecho de Canudos.
Fileto Pires, governador do Amazonas (1896-98) |
A província do Amazonas instalada em 1852 suportou por anos a deficiência de recursos financeiros. Dependia da coroa imperial, pois apenas produzia as drogas do sertão. A capital – Manaus, na margem esquerda do Rio Negro, situava-se a enorme distância da capital mais próxima, Belém do Pará. De repente, a Amazônia viu chegar sua redenção com o emprego cada vez mais abundante da seiva da seringueira (hevea brasiliensis). Assim, Manaus se transformou na capital da borracha, atraindo uma população de nacionais e estrangeiros.
Na década da proclamação da República, Manaus passou a usufruir do superávit comercial instituído pela extração e comercialização da borracha. Mas foi com a instalação do Estado, em especial no governo de Eduardo Ribeiro, que a cidade cresceu e se transformou. Parte deste material arquitetônico, ainda se encontra no Centro Histórico. A arrecadação fazendária acima das previsões, tudo permitia, desde o Teatro Amazonas, passando pela energia e os bondes elétricos e as roupas lavadas na Europa. Para exacerbar a riqueza da época, narra uma lenda que se acendia charuto com cédula de libra esterlina.
Foi, pois, essa riqueza que arrojou
o governador Fileto Pires a enviar um batalhão (278 homens) do Regimento
Militar do Estado para a Campanha de Canudos. Ao final, o abastecido cofre do
governo Pires exonerou o governo central do pagamento das despesas da
expedição.
Conselheiro (caricatura) no Memorial em Canudos (BA) |
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