CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, outubro 14, 2010

MORTE DE EDUARDO RIBEIRO

Eduardo Ribeiro
Nessa data, há 110 anos, morria Eduardo Ribeiro, o primeiro governante do Amazonas a alcançar a fama. Cercado de segurança prestada por elementos da Polícia Militar, ele "conseguiu" suicidar-se. A fatalidade convulsionou Manaus, afinal, o morto desfrutava de prestígio e elevado reconhecimento público, quatro anos após deixar o Poder Executivo.

Mulato, nascido no Maranhão, graduou-se engenheiro militar e, nessa condição, desembarcou em Manaus. Registram seus biógrafos que essa transferência funcional ocorreu por "castigo", em virtude a preferência dela pela República. Durante décadas, o pessoal militar sabe bem, a região amazônica serviu de castigo para militares, seja por falta grave seja por péssima classificação escolar.

Grande ventura do tenente Ribeiro: a proclamação da República. O engajamento de militares no governo ensejou a presença de outros colegas no Amazonas. Esteve ao lado do primeiro governador republicano, tenente Ximeno de Villeroy que, ao deixar Manaus, deixou o subalterno na direção do governo.

No Amazonas, a consolidação da nova ordem no País fez-se com lutas. Já governador, Eduardo Ribeiro (alcunhado de O Pensador, em razão do jornal que dirigiu em São Luís) conseguiu sobrepujar os adversários, entre os quais os irmãos Silvério e Constantino Nery. Posteriormente, governadores do Amazonas e tidos como suspeitos pela morte do maranhense.


A morte encontrou Eduardo Ribeiro solteiro, sem família, residindo em sua chácara e, como sabido, cercado por segurança policial. Mas bastante enfermo, tratando-se da saúde mental, daí a explicação para a esdrúxula "causa mortis". Deixou grande fortuna. O inventário realizado pelas autoridades judiciárias contabiliza os valores, distribuídos em terrenos, imóveis, jóias e outros bens de menor peso. Abaixo, cópia da capa do processo.
O Doutor Emilio Bonifácio Ferreira de Almeida, Juiz Municipal de Órfãos, Ausentes e Interditos de Manaus, capital do estado do Amazonas, etc.

Havendo falecido hoje em sua chácara denominada Pensador, no bairro da Cachoeira Grande, desta cidade, o Doutor Eduardo Gonçalves Ribeiro, sem deixar herdeiros presentes, deixando, entretanto bens que devem ser devidamente acautelados, mando que o escrivão Nogueira, autuando este, intime os Doutores Curador Geral de Órfãos, Ausentes e Interditos e o Procurador Seccional da República, para o dia quinze do corrente, às nove horas no referido lugar, proceder-se à arrecadação e arrolamento de ditos bens, dos quais nomeia Curador o Doutor Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, que também será intimado.


Manaus, 14 de outubro de 1900

Eu, Francisco Nogueira de Souza, escrivão, escrevi
a) Emilio Bonifácio Ferreira de Almeida

A documentação pertinente ainda se encontra nos arquivos do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Mas, apesar da abundância de objetos, nenhum subsistiu ao ataque dos “credores”. Em nossos dias, nada existe que tenha passado pelas mãos do “grande morto”.
Eduardo Ribeiro (busto) "admira" a esquina famosa
de Manaus: av Eduardo Ribeiro com Sete de Setembro


A Casa de Eduardo Ribeiro, inaugurada neste ano com belo ornamento, não possui qualquer lembrança do proprietário. Nela existem móveis de época, unicamente, adquiridos em antiquários fora de Manaus.

Não há uma biografia sobre o Pensador. Existem sim trabalhos parciais. O mais relevante – Negritude e Modernidade - pertence ao Governo do Amazonas, com texto do historiador Mário Ypiranga e outros colaboradores. Lembro o Dicionário Amazonense de Biografias, de Agnello Bittencourt. Ainda, preocuparam-se com as obras do morto mais que centenário: os acadêmicos Antonio Loureiro e Moacir Andrade, em texto jornalístico, e a historiadora Etelvina Garcia.

A morte de Eduardo Ribeiro segue envolvida em mistérios, embalada por opiniões disparatadas, e cada vez mais esquecida com o passar do tempo. Seu túmulo em área nobre do cemitério São João deixou de ser referência, no local, político morto mais jovem tomou-lhe o privilégio.

A Crítica. Manaus, março 1975
Tomara que seu nome continue batizando a avenida central de Manaus, a despeito de desprezada pela administração municipal; apesar de ter perdido a primazia para outras artérias, que hoje modernizam a Manaus sonhada, no distante final do século XIX, pelo maranhense Eduardo Ribeiro.


8 comentários:

  1. amigo, eu passei alguns anos pesquisando sobre a vida de Eduardo Ribeiro, li tudo o que pude encontrar, e escrevi o meu romance TEATRO AMAZONAS assim. Na Biblioteca Nacional encontrei um livro, intitulado CONTRA A CALÚNIA, escrito por ele, ou melhor, com artigos e escritos. Tudo está relatado no romance. O livro está em frangalhos. Não deixe de ler meu romance on-line pois vc é um leitor importante para mim. Um abraço, Rogel Samuel
    http://teatroamazonas.blogspot.com/

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  2. Caro Sr. fiz algumas pesquisas, a sociedade da época principalmente a elite política e social, odiavam Eduardo Ribeiro, principalmente por ser negro, ainda mais que chegara a Manaus enviado pelo poder federal, tirou do poder as velhas raposas, que desfrutavam do poder e das verbas públicas em seu próprio benefício, enriquecendo a custa do povo, que não é diferente de hoje, essa questão do suposto ``suicídio´´ o próprio médico que investigou o corpo de Eduardo Ribeiro disse em alto e bom som: ESTE HOMEM NÃO COMETEU SUICÍDIO ELE FOI ASSASSINADO, no dia seguinte este médico não estava mais em Manaus. Existia uma família ou ainda existe não sei que foi acusada do suposto crime, que foi apagado como tantos no vão da memória e da História.

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  3. eduardo ribeiro foi na verdade assassinado.

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  4. Lendo hoje esta materia fantastica, cada vez vejo melhor Eduardo Ribeiro. Queira nos no amazonas ter tido um politico desse quilates.

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  5. Eduardo Ribeiro foi um governador visionário, mas também foi um homem sem escrúpulos, um dos pais da traição políticas em nosso estado. Muitos historiadores o descrevem como um homem bom, honesto e preocupado com o Amazonas. Na verdade, com todo o respeito ao morto, foi uma pessoa que usou dos meios mais sujos e traiçoeiros para permanecer no poder junto com seus apaniguados. Desde o congresso foguetão, a carta de renúncia de Dileto às manobras para enriquecer de forma obscura. Como tudo passa, isso também passou e hoje apreciamos as benfeitorias construídas com o dinheiro público, claro, não de Eduardo, que chegou aqui sem nada e morreu gozando de fortuna inestimável que logo foi consumida pelos seu grupo e seus adversários.

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  6. Era muito invejado. Quando criança ouvia de meus bisavós e avós. Que morreu envenenado.

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  7. Era muito invejado. Quando criança ouvia de meus bisavós e avós. Que morreu envenenado.

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  8. Era muito invejado. Quando criança ouvia de meus bisavós e avós. Que morreu envenenado.

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