CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, agosto 30, 2024

COLÔNIA OLIVEIRA MACHADO

Conheci o bairro Colônia Oliveira Machado levado pelo padre Antonio Plácido para servir de coroinha na igreja de São Francisco, no final da década de 1950. De fato, faz um bom tempo... Dias desses, postei neste Blog uma ligeira referência a este bairro. Ontem, revendo meus arquivos deparei-me com a coluna ÀS TERÇAS..., produção do saudoso mestre Mário Ypiranga Monteiro, circulada no Jornal do Commercio, (3 agosto 1965).

Igreja de São Francisco, na Colônia

Naquele espaço – reproduzido abaixo – seu autor chancela duas importantes advertências: 1) os motivos da homenagem prestada a Oliveira Machado, 29º presidente da província do Amazonas. 2) seu desconcerto à mudança de nomenclatura de logradouros da cidade, alguns já com vida longa. Morto este historiador em 2006, seu nome substituiu ao da rua Recife, de tempos idos de Manaus.

Recorte do matutino JC, 3 ago. 1965

Já se vem tornando absurda a preocupação da mudança de nomenclaturas dos logradouros públicos da cidade. Posto que o mal não seja novo, vamos perdendo, dia após dia, as nossas velhas tradições e o pior é que o fato implica em sério prejuízo administrativo quando não fosse meramente um impacto na história ou uma injustiça aos priscos homenageados. A anarquia reinante no cadastro urbano-suburbano é uma prova da ligeireza com que se deflagra leis contra a tradição ou se ignora o que existe de defeituoso e reclama revisão.

Já alertamos várias vezes os responsáveis, para a duplicidade de nomenclaturas existentes em ruas, praças etc. Ontem foi com o aeroporto da Ponta Pelada transformado, sem justificativa, em aeroporto de Ajuricaba, quando já existem várias nomenclaturas deste nome. Outrossim, invés de deixar-se uma avenida comprida com um nome só, retalha-se, divide-se a artéria para satisfazer caprichos e prejudicar os serviços administrativos e a história do futuro, que é o que sucede, por exemplo, com a avenida de Epaminondas. Ninguém sabe, afinal, se ela é e quando é Epaminondas ou Constantino Nery ou João Coelho...

Agora me chega ao conhecimento a notícia de que se pretende mudar o nome da Colônia de Oliveira Machado para bairro de Santos Dumont, quando já existe uma praça de Santos Dumont e um jardim de Santos Dumont. Que encrenca! No entanto, há bairros, como o de São Jorge, que não estão devidamente cadastrados nem se sabe os nomes das ruas!

Há uma injustiça gritante nessa pretendida reformulação. Ao doutor Joaquim de Oliveira Machado, o 29° presidente da Província do Amazonas, exonerado por decreto de 15 de junho de 1889, às portas da Republica, coube instalar a colônia do seu nome no antigo bairro dos Educandos, colônia que visava fomentar a habitalidade daquela região e obter outros resultados sociais e econômicos, e onde foram localizadas as sobras humanas do Nordeste. Só isso já lhe confere um mérito que acena de longe à nossa gratidão e espera de nós o respeito às grandes iniciativas, iniciativas que hoje são bem difíceis de ver-se programadas. Santos Dumont já tem a sua consagração pública naquela praça com a sua herma e uma cabeça a que o povo sensatamente crismou de “cabeça de coco” e honestamente pôs abaixo por constituir um atentado à estética e uma ofensa ao gênio do brasileiro. Foi reposta depois, segunda edição melhorada e ampliada.

Mas enquanto o interesse se volta para nomes estranhos ao nosso meio, à nossa vida atribulada, os amazonenses, os filhos da terra, ou os brasileiros que fizeram do Amazonas seu berço e nos ajudaram a criar este milagre humano que é a cidade, demoram esquecidos. São muitos. Poderíamos citar grande cópia deles: Antonio Brandão de Amorim, Ermano Stradelli, Vicente Reis etc.

Os estrangeiros a quem nada devemos e cujos países de origem nos ignoram, são homenageados frontalmente como se devêssemos homenagear a um estrangeiro... Isto raia ao ridículo! A sistemática ignorância dos indivíduos-símbolos que honraram o nosso passado pela cultura, pelo trabalho, leva-nos a acreditarmo-nos incapazes, povo sem história, povo sem dignidade, povo sem tradição, sem espírito de compreensão, subserviente e impressionável diante de mentalidades arrivistas que nada contribuem, nem contribuíram para a nossa grandeza moral e prática. Que exemplo se pretende oferecer às gerações formadas na anarquia política em que nos debatemos? Onde estão, por exemplo, as placas com os nomes de um frei de Santa Luzia, de um Bararoá, de um Bernardo de Sena, de um Adolpho Lisboa, de um Galdino Ramos, homens que em várias épocas e em vários planos de atividades dignificaram a inteligência e mantiveram alto o nosso nome?

Visto(sic) a insistir na necessidade de uma revisão no cadastro municipal e na confecção de uma planta geral da cidade, uma planta menos vigarista que corrija os numerosos defeitos de outras que foram desenhadas com o intuito, parece, de apenas provar hilaridade. Senhores, pensem bem que a história é uma Themis terrível que nem perdoa e nem esquece!

terça-feira, agosto 27, 2024

NACIONAL NO MARACANÃ (1969)

Encerrando as postagens sobre o prélio entre o Nacional FC 1x0 e o GE Maringá, em 24 de agosto de 1969, compartilho a página frontal de matutino, mostrando a explosão dos manauaras com o feito até hoje único. São passados 55 anos. 

Detalhe da 1ª página do Jornal do Commercio
27 agosto 1969 

Nacional de todas as cores  

Ontem, dia 26 de agosto, houve verdadeiro Carnaval na cidade com a chegada dos jogadores do Nacional, que no domingo souberam honrar o futebol amazonense no estádio Mário Filho (Maracanã), vencendo a valorosa equipe do Maringá, do Estado do Paraná, pelo placar de um a zero. Incalculável multidão, desde o meio-dia, começou a deslocar-se para o aeroporto de Ponta Pelada. As avenidas e ruas de acesso ao aeroporto apresentavam um movimento surpreendente, com milhares de pessoas a caminho de Ponta Pelada. Centenas de carros, caminhões, ônibus, motonetas conduziam milhares de pessoas. Os coletivos que fazem aquela linha eram insuficientes e os que não dispunham de ao menos uma "carona", foram a pé. Em frente à estação de passageiros a festa virou carnaval e as bandeiras de todos os times confraternizaram na recepção ao Nacional que honrou o futebol amazonense. Desaparecia o clubismo para predominar apenas o Futebol Amazonense, que vive bastantes de glórias, cabendo ao time mais querido mostrar no Maracanã, a evolução do pebol baré. E ao som de batucadas e da banda da Polícia Militar do Estado, milhares de pessoas cantaram e pularam na maior explosão de alegria que o futebol já proporcionou ao manauara. Bandeiras do Nacional, Rio Negro, América, São Raimundo, Olímpico, Fast, Sul América e Rodoviária, entrelaçavam-se numa apoteose esportiva. A tarde quente caiu, chegou à noite, e a cidade ainda cantava o grande feito.

O dia de ontem, efetivamente, será de agora em diante, o Dia do Futebol Amazonense.

Nota própria – pebol (corruptela de “pé na bola”), futebol.


segunda-feira, agosto 26, 2024

POLICIAMENTO DE TRÂNSITO EM MANAUS (4)

Antecipando ao Detran (Departamento Estadual de Trânsito), funcionou por décadas a Delegacia de Tráfego, seguida pela DET (Delegacia Especializada de Trânsito), ambas instaladas à rua José Paranaguá esquina da rua Floriano Peixoto, nas proximidades do quartel da PMAM (Polícia Militar do Amazonas). (Em nossos dias, funciona uma filial da loja Ramson’s.) Nessa esquina, não obstante o crescimento de veículos, operou a primeira sede do Detran (Departamento Estadual de Trânsito).

Por óbvio, o serviço de taxi ou de “carro de praça” ou de automóvel de aluguel, alcunhas da época, existia, prestado por automóveis envelhecidos, mas conservados de alguma forma. Diante da inexistência de taxímetro, a delegacia de trânsito baixou a portaria, que vai postada, estabelecendo os valores a cobrar pelas corridas, com pagamento em Cr$ (cruzeiros). A Tabela foi assinada pelo titular - Clearco Antony.

Copiado do Diário Oficial de 11 jan. 1957

domingo, agosto 25, 2024

NACIONAL NO MARACANÃ (1969)

Transcrito do O Jornal, edição de 27 de agosto, descrito com merecido entusiasmo a vitória do amazonense Nacional FC (conhecido por Naça) sobre o paranaense GE Maringá. 

Recorte de O Jornal, 27 agosto 1969

Dia 24 de agosto de 1969, o Maracanã repleto assistia também a caminhada vitoriosa do Brasil rumo ao título mundial de futebol. E antes o futebol amazonense se consagrava perante o país inteiro, graças ao esforço do grande e dedicado presidente Flaviano Limongi da Federação Amazonense, que conseguiu junto à CBD a apresentação do Nacional, campeão amazonense.



O Nacional bravamente venceu seu valoroso adversário pela contagem mínima gol assinalado por ação de Pepeta [José Ricardo dos Santos Silva], aos 10 minutos do segundo tempo. Gol que fez vibrar não só a torcida amazonense, bem como a torcida presente que simpatizou com o onze do maior Estado do Brasil. A partida apresentou os seguintes detalhes: Juiz — Luiz Carlos Oliveira; auxiliares — Eduardo Menezes e Aloísio Felisberto da Silva, todos da Federação Carioca de Futebol.


O glorioso quadro do Nacional venceu com Marialvo; Pedro Hamilton, Sula, Valdemiro e Téo; Mário e Rolinha; Zezé, Rangel, Pretinho (Marcelo) e Pepeta. Maringá (Paraná) com Adelson; Cisca, Zé Carlos, Ditão e Japonês; Gauchinho e Reginaldo; Varley (Peter), Ademir (Zé Leite), Edgar e Valtinho. (...)

SERÃO HOMENAGEADOS

Para comemorar a visita do Nacional ao Maracanã, o presidente da FAF prestará significativa homenagem aos componentes da delegação do Nacional, bem como os demais cronistas que assistiram a grande exibição do representante do futebol amazonense. A delegação do Nacional FC que viajou ao Estado da Guanabara, para o jogo com o Maringá estava assim constituída e todos receberão medalhas amanhã em solenidade a ser realizada na FAF.

Presidente - Des. Joaquim Paulino Gomes. Diretores - Alfredo Ferreira Pedras, José Renato da Frota Uchoa, Samuel Facundo do Valle e José Soares Portela. Colaboradores - dr. Péricles Toledo e sr. Emanuel, antigo craque do Nacional. Técnico - Alfredo Barbosa Filho; médico - dr. Juarez Klinger; massagista - Júlio Fernandes; Roupeiro - Eduardo Santos, e Messias Sampaio, que foi como representante da crônica, escolhido pelo clube, e os seguintes atletas: Marialvo, Procópio, Pedro Hamilton, Sula, Valdemiro, Valdir Santos (emprestado pelo São Raimundo), Téo, Mário, Rolinha, Bell, Zeze, Rangel, Pretinho, Pepeta, Márcio, Marcelo e Chiquinho.

sábado, agosto 24, 2024

NACIONAL FC VENCEU O GE MARINGÁ (1969)

 Há 55 anos, era domingo – 24 de agosto –, no Estádio do Maracanã jogariam as seleções do Brasil vs da Venezuela (eliminatórias da Copa do Mundo 1970). À época havia a preliminar, normalmente entre os juvenis das mesmas agremiações. A fim de concluir a programação, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), do presidente João Havelange, programou em preliminar o encontro entre os vencedores do Torneio Centro/Sul x Norte/Nordeste. O Nacional campeão do Norte enfrentou o Grêmio Maringá, campeão do Torneio Centro–Sul de Futebol de 1968 e do Torneio Centro-Sul x Norte-Nordeste de 1968. Tratavam-se de duas agremiações vitoriosas em seus estados.

Recorte do Jornal do Commercio, 27 agosto 1969

Era a primeira vez que um clube caboclo ousava essa aventura, inclusive enfrentar o estádio do Maracanã. Narram os registros do clube que para tanto receberam ajuda do CR Vasco da Gama, que cedeu um ônibus; e do Fluminense, que brindou a delegação com um coquetel. Venceu o time amazonense pelo placar mínimo, com gol de Pepeta (ainda hoje vivo para confirmar esta história), cujo resultado capacitou a cidade de Manaus a festejar com euforia tamanha conquista.

55 anos depois, em decorrência de sérios tropeços destes quadros esportivos, tanto o Nacional como o Maringá disputam a segunda divisão do torneio regional.


MORTE DE GETÚLIO VARGAS: 70 ANOS

Reproduzo parte de um texto de propriedade do saudoso Ramayana de Chevalier, que se empenhou ao seu modo, como jornalista e oficial R/2, em prol de Getúlio Vargas (1882-1954), e por quem possuía extremada admiração. Servindo em Manaus, em 1961, na administração de Gilberto Mestrinho, Ramayana escrevia para o jornal A Gazeta. Foi neste matutino, em edição de 20 de abril, que ele resumiu os derradeiros dias do presidente Vargas, encerrados com a morte há 50 anos. 


(...) Assisti, anos mais tarde, à humilhação do gigante. Foi no dia da prisão de Gregório Fortunato, nos jardins do Palácio do Catete. Antes de entrar no automóvel que o levaria ao Galeão, Fortunato ainda discutia no jardim. Cercavam-no soldados da Aeronáutica e oficiais. Junto à grade do lado, eu observava a cena. E no segundo andar, dentre as frinchas da veneziana, vi um vulto que contemplava, em silêncio, toda a teatral prisão do chefe da guarda pessoal.
Era o presidente [Getúlio] Vargas. Nada podia fazer. Nada esperava mais. Tinha prometido ao grupo de emergência, constituído no Galeão, que o levariam até lá, preso, para depor. O homem que viera nas asas da revolução de 30, o chefe político do uma Nação que ele impulsionara para a frente, o Chefe supremo dos exércitos em 1932, o ditador das Américas, o Grande Líder, o presidente Constitucional do Brasil, depois, iria descer do seu pedestal, para comparecer, como um preso comum, diante de oficiais que ele promovera, diante de oficiais que ele havia ajudado a generalar-se.

Era ao crepúsculo e eu não pude ver os seus olhos. Das frinchas, ele se despedia, tristemente, do seu amigo e escudeiro. Durante mais de vinte anos, a sua vida fora guardada por aquele cão de fila negro e fiel. Alguns dias depois, passara eu a noite mal dormida, com os acontecimentos. A cidade do Rio estava com os nervos de poraquê. Pelas oito horas da manhã, abri o rádio, todos acordados em minha casa, esperando a notícia da prisão do Grande Presidente. Foi então que escutamos a mensagem:

.“Alô! Alô! Brasil! Atenção! Acaba de se suicidar no Palácio do Catete o presidente Getúlio Dornelles Vargas”

Foi o maior choque que já sofri em minha vida. Todos, de mim as minhas filhas, a minha pupila, todos choramos. O Rio, o Brasil inteiro chorou. Só não o fizeram os que continuaram a maquinar traições contra sua memória. Tive vontade de sair de casa, armado, para desafiar todo mundo. Era o desespero, era a ferida popular. Se ele tivesse apelado para o povo, nenhum poder o derrubaria! Agradeço, “àquelas quatro velas, estas lembranças estão sentidas. Só havia quatro velas acesas. Mas elas valeram por um milhão delas. Porque foram colocadas pelos que, ainda hoje, choram pelo maior dos brasileiros de todos os tempos. (A GAZETA. Manaus, 20 de abril de 1961)

sexta-feira, agosto 23, 2024

POLICIAMENTO DE TRÂNSITO EM MANAUS (3)

Na década de 1950, o serviço de bondes já bastante precário enfrentava a circulação de ônibus made in Manaus, conforme ilustra a foto colhida no entroncamento das avenidas Eduardo Ribeiro com Sete de Setembro. E, mesmo em 1971 (foto), antes que a Zona Franca de Manaus produzisse seus melhores resultados, a capital seguia utilizando ônibus de madeira, ou seja, construídos sobre chassis de caminhão, com “tecnologia” local. ilustrando o tema do policiamento, exponho alguns desses veículos.

Bonde vs ônibus (acima) outros modelos anos 1950 (abaixo)


Em 1971, ônibus na linha de Educandos

Diversos modelos adquiridos com o advento da ZFM

quarta-feira, agosto 21, 2024

POLICIAMENTO DE TRÂNSITO EM MANAUS (2)

 A instalação de montadoras de automóveis, no final da década de 1950, acarreta sensível mudança na capital amazonense. Naquele período, ocorre a inauguração da COPAM (Companhia de Petróleo do Amazonas), processadora de combustível e gás. Somente na década seguinte, o trânsito em Manaus passa a exigir maior desempenho da Polícia Militar. 

Ônibus de madeira no Tabuleiro da Baiana,
no início da av. Eduardo Ribeiro, anos 1960
Essa operacionalidade prosperou até 1971, por conta de um episódio grotesco que apressou a implantação de nova etapa de policiamento. Em Manaus, atuava a Polícia Rodoviária, subordinada à Divisão de Trânsito do extinto Deram (Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas), cujo aquartelamento situava-se diante do entroncamento do atual elevado de Flores, localidade onde em nossos dias opera o BBE (Batalhão de Bombeiros Especial). Próximo ao final de dezembro de 1970, um guarda rodoviário altercou-se com o comandante-geral da PM, coronel EB Maury Silva, amigo do governador Danilo Areosa. Este, ao conhecer o fato, sancionou a lei 1.011, de 31 de dezembro, criando o BPE (Batalhão de Policiamento Especial) para “cumprir o policiamento urbano e rural de trânsito, florestal, rodoviário nas estradas estaduais, entre mais atribuições”, e, com este novo regramento, extinguiu a Polícia Rodoviária do Deram.

Então tenente-coronel 
Lustosa (1971) 

O batalhão foi instalado de imediato, posto que foi agraciado com “o acervo patrimonial, inclusive as viaturas” do suprimido órgão controlador. Ainda que desse modo premiado, somente em 1 º de fevereiro de 1971 assumiu aquele comando o tenente-coronel Pedro Lustosa, que o transferiu ao capitão Ruy Freire, em 25 de março, a fim de assumir a chefia da Casa Militar do governador João Walter de Andrade (1971-75). Ruy passou ao tenente-coronel Helcio Motta, menos de um mês depois; Helcio prosseguiu até novembro daquele ano, quando passou ao major Osorio Fonseca, que o conduziu até a data do novel desmembramento.

Quartel do comando da PMAM até 2002

Durante aquele ano de 1971, o pessoal encarregado do trânsito urbano enfrentou amplos obstáculos logísticos, posto que sua sede estava situada fora do centro de Manaus, principal local de desempenho. Como distribuir e como alimentar os policiais? relembrando que o aquartelamento estava em Flores. O arranjo ocorreu em abril do ano subsequente, com a disposição do comandante-geral, coronel EB Paulo Figueiredo (1971-73), que providenciou a separação dos irmãos siameses: o trânsito de Manaus e das ínfimas (ou única) rodovias. No quartel de Flores permaneceu a Cia P Rdv (Companhia de Polícia Rodoviária), sob o comando do capitão Humberto Soares; e a Cia Tran (Companhia de Trânsito), ocupando as dependências que pouco antes serviam de almoxarifado do quartel da Praça da Polícia, cuja entrada era pela rua José Paranaguá, sob o comando do major Osório Fonseca.

Essa abrupta arrumação, contudo, somente seria legalizada pelo decreto 2.426, de 14 de dezembro de 1972, que dispôs “sobre a Organização Básica da Polícia Militar do Amazonas”. Como enunciado, o edito promoveu vigorosa reformulação na estrutura geral da corporação. Oportunidade em que foram criados e extintos alguns corpos policiais, tendo obtido mais evidência a incorporação do serviço de extinção de incêndios, até então executado pelo Corpo de Bombeiros Municipais. (segue)

POLICIAMENTO DE TRÂNSITO EM MANAUS (1)

Cartão Postal focando o
bonde na Ponte de Ferro
Para tratar sobre este tipo de policiamento convém lembrar a circulação de bondes elétricos entre 1897 e 1957, em Manaus. 

Há um registro icônico de 1927, com um guarda no cruzamento das avenidas Joaquim Nabuco com Sete de Setembro, o esquecido Canto do Quintela. O guardião estava sobre os trilhos de bonde, quê fazendo? Vamos ao primeiro capítulo.
  

A fim de melhor harmonizar o entendimento sobre a evolução do policiamento de trânsito em Manaus, convém uma exposição de apropriados antecedentes: a circulação de automóveis em Manaus era bem diminuta na década de 1950. Todavia, com a instalação de montadoras de automóveis no Brasil, o número foi crescendo paulatinamente e, por óbvio, exigindo mais cuidados com o tráfego, cuja maior evidência eram os primitivos ônibus de madeira. Antecipando o Detran (Departamento de Trânsito), funcionou por décadas a Delegacia de Tráfego, seguida da DET (Delegacia Especializada de Trânsito), ambas instaladas à rua José Paranaguá esquina da rua Floriano Peixoto, nas proximidades do quartel da PMAM (Polícia Militar do Amazonas). Nessa esquina, não obstante o crescimento de veículos, operou a primeira sede do Detran (Departamento Estadual de Trânsito).

A partir de 1964, com a instalação do Governo Militar, e com a PMAM se renovando, esta Força tomou novos encargos, um dos quais em relação ao trânsito, tendo incumbido à 2ª Cia Fzo (Companhia de Fuzileiros) o controle do fluxo de veículos. É conveniente esclarecer que a reduzida Força Estadual – cerca de trezentos homens – operava com a equivalência de um batalhão do Exército. Desse modo, no quartel da Praça da Polícia existia a 1ª companhia, que cuidava das guardas em geral; a 2ª, já circunstanciada; e a 3ª, intitulada de GPO (Grupamento de Policiamento Ostensivo), que abrigava o policiamento do “Cosme e Damião”; o pessoal de administração, mecânicos e artífices, mais os integrantes da Banda de Música estavam sob o guarda-chuva da CCSv (Companhia de Comando e Serviços).

Em fevereiro de 1967, o governo federal de Castelo Branco restaurou a Zona Franca de Manaus. Em decorrência dessa inciativa, o porto de importação atraiu para a capital amazonense um número respeitável de nacionais e estrangeiros. Além de lojas de todas as dimensões, e a locomoção desses visitantes redimensionou a circulação de carros na então pacata cidade, tanto que determinou novo recorte de policiamento, em geral.

Na ocasião, o controle do trânsito efetuado pela Segunda teve um comandante assaz cumpridor de metas (caxias, em linguajar da caserna): tenente Ruy Freire. Exigente no trajar e na disciplina, exigia o mesmo procedimento de subordinados, que tiravam serviço em pontos fixos e móveis da cidade, todos dotados do temido “talão de multas”. Ao tempo, cada policial cuidava de resolver in loco os problemas encontrados, pois, não havia como contactar com o quartel. Afora o sargento “rondante”. As artérias mais preocupantes, em decorrência do comércio que carecia de carga e descarga e pela aglomeração de fregueses, situavam-se em redor do Mercado Público. Outra bastante agitada, era a rua Marechal Deodoro (antes de se tornar exclusiva de pedestre). (segue)

segunda-feira, agosto 19, 2024

MANAUS: CINE-TEATRO POLYTHEAMA

 Anúncios publicados na revista Victoria-Regia, na década de 1930, divulgam as atrações deste local que, além do cinema, acolhia espetáculos teatrais. Desativado, cujo prédio tomou outras destinações, ainda se pode observar as sereias decorativas. 

Edição de julho 1932

Edição de agosto 1932 

Circulada em junho 1933


domingo, agosto 18, 2024

DOIS POETAS AMAZONENSES

 Na sequência: i) a capa do livro de poesia de Farias de Carvalho (1930- 1997) - PÁSSARO DE CINZA (Manaus, 1957); ii) o oferecimento inserido no exemplar de Farias para Mário Ypiranga (1909-2004), folclorista e, em tempo oportuno, poeta; e iii) a consideração pouco lisonjeira de Ypiranga expressa em página do livro sobre o autor.

Livro publicado em Manaus, em 1957

Oferecimento do autor para "meu irmão querido"
Mário Y. Monteiro

Comentário de Mário Ypiranga: "Esse Farias é vigarista
até nas mensagens. Acaba pedindo uma entrada de
favor no Céu, como pedia ao Vasco Farias, no cinema."

 

quinta-feira, agosto 15, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (APÊNDICE)

Apêndice à história da Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, rematando meu ansiado livro Guarda Policial (1837-1889). 

Concluindo esta retrospectiva sobre a Polícia Militar do Estado no período provincial, exponho breve análise sobre os comandantes da corporação, titulares e interinos. Uns mais outros menos, em razão dos apontamentos obtidos. Primordialmente, não houve um só amazonense no comando desta organização. Entre os 15 oficiais nomeados, e mesmo os interinos, é conhecida a naturalidade de três paraenses, um baiano, um cearense e dois fluminenses ou da capital do Império. Contudo, é bastante compreensível a tamanha dependência. Qual seria a possibilidade de romper essa dependência? Era bastante complexa, não somente em decorrência de regras e de regulamentos vigentes, mas, em particular, pela insuficiência geral de oficiais. E de praças, do mesmo modo.

Nessa circunstância, como o governo supria tal penúria? Uma delas, certamente lançando mão de quem estivesse mais próximo ou até disponível, pois, outra grave questão marcou longamente a Amazônia. A região estava destinada aos apenados, aos castigados, daí, por exemplo, a deficiência e as agruras dos presidentes com os oficiais. E o que imaginar sobre a atuação dos subordinados? A resposta pode ser alcançada nas entrelinhas.

De outro lado, entre outros embaraços, o Corpo Policial do Amazonas não dispunha de órgão para instruir seu efetivo (salvo alguns contratados temporariamente), por isso os oficiais, em essência, eram aproveitados de outros corpos militares. Condição que não vinculava estes à corporação policial. Enfim, para bem entender como esta corporação atravessou o período provincial, urge “catar” mais papéis oficiais e elaborar mais pesquisas e estudos. A porta, almejo, foi apenas franqueada. 


Mural existente na UniNilton Lins, à época em que a
Academia de Polícia Militar nesta funcionava

Proclamação da República

A nova ordem constitucional no Brasil foi consumada em 15 de novembro de 1889. Os habitantes do Rio de Janeiro, então capital do Império, assistem “bestializados” ao movimento militar que resulta na Proclamação da República e o consequente banimento da família imperial. Amanhecia, pois, uma nova ordem constitucional. Assume o Governo Provisório, nele permanecendo por mais de um ano, o marechal Manoel Deodoro da Fonseca. 

A Proclamação, em Manaus

A notícia deste movimento conhece Manaus na tarde de 21 de novembro, a bordo do vapor Manáos, da Companhia Brasileira de Navegação. Esse transporte conduzia uma delegação republicana paraense “com o único objetivo de trazer ao conhecimento dos ‘clubistas amazonenses’ o novo fato”. Ou seja, a novidade de que o Amazonas se constituía em Estado federativo, partícipe da República brasileira.

Em decorrência dessa mudança institucional, o doutor Manoel Francisco Machado é destituído da presidência da Província; em seu lugar, assume a Junta Governativa, chefiada pelo tenente-coronel EB Antônio Florêncio Pereira do Lago, e mais o capitão de fragata Manoel Lopes da Cruz e o doutor Domingos Teófilo de Carvalho Leal.

No âmbito do Corpo Provincial nada é alterado: nem a nomenclatura, nem seu comandante. É possível pensar que um estado crítico assomava aquela instituição, com seus integrantes antevendo breve mudança. As mudanças somente aportam no Corpo com a assunção do primeiro governador republicano. Conhecida a nova forma de governo, os políticos liberais ou republicanos saíram a disputar o governo do Estado. O Governo Central, no entanto, guiado pela espada do marechal Deodoro da Fonseca, surpreendeu os políticos do Amazonas, nomeando o tenente EB Augusto Ximeno de Villeroy.

A Força Militar estadual será agraciada com variadas dedicações pelo governo republicano, ainda que tenha sido testada em lutas internas, com expressivo sucesso.

Essas histórias, todavia, compõem a segunda parte desta trilogia. Assim espero, assim seja. (fim)

terça-feira, agosto 13, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (37)

Último capítulo da história da Polícia Militar do Amazonas, relativo ao período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889). 


Colônia Oliveira Machado

O bacharel Joaquim de Oliveira Machado toma posse na presidência do Amazonas, em 10 de fevereiro de 1888. Nascido em Barra do Pirai (RJ), a 20 de abril de 1842, faleceu aos 78 anos, em Niterói (RJ). Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco (SP).

Ao assumir o governo provincial amazonense vê-se diante de intransponíveis dificuldades financeiras, porém, atendendo aos apelos locais resolve enfrentar a crise. Todavia, é curto seu período de governo, avança por 140 dias, até 1º de julho!

Oliveira Machado
As aperturas provinciais refletiam a crise geral enfrentada pelo Governo Imperial, motivada pela avalanche republicana exigida pelas mais representativas camadas sociais. Na margem esquerda do rio Negro, o esforço de Machado teve recompensa, ao menos pela singela homenagem recebida das autoridades. Uma localidade existente nos arrabaldes de Manaus, à beira do rio Negro, ocupada por migrantes nordestinos, tomou seu nome e, em nossos dias, constitui o bairro Colônia Oliveira Machado, integrante da Zona Sul em que se encontra mapeada a Manaus do início do século XXI.

 

Barão do Solimões

Em 1.º de julho de 1889, Manuel Francisco Machado (nascido em Óbidos (PA) em 1838, onde faleceu em 1928), o único barão do Solimões, é empossado na presidência da província. Dois dias depois, desembarca em Manaus o conde d’Eu (1842-1922), esposo da princesa Isabel. Na capital, o primeiro genro imperial visitou as repartições públicas, e, em seguida, acompanhado de parlamentares regionais viajou em inspeção até o forte de Tabatinga, no rio Solimões, marco da fronteira com as repúblicas da Colômbia e do Peru. O baronato teve curtíssima duração, pois se extinguiu em 21 de novembro, quando Manaus conheceu a reviravolta política com a instalação da República.

Conde d'Eu, esposo da princesa Isabel


De imediato, uma Junta Governativa assume o governo do Estado.

Há, todavia, um feito singular a se creditar ao barão do Solimões: competiu-lhe cerrar no Amazonas as cortinas do Governo Imperial. Esse feito lembra outra coincidência, também de cunho regionalista. São dois paraenses a inaugurar (Tenreiro Aranha) e a encerrar (barão do Solimões) a administração provincial no Amazonas.

 

Comandante da transição

Em 12 de setembro de 1889, assume o comando do Corpo Policial do Amazonas o major (possivelmente do Exército) José Pereira da Rocha Filgueira, comissionado no posto de tenente-coronel. Ainda não fui capaz de encontrar outros dados sobre este oficial. Nenhuma indicação foi encontrada tanto no Arquivo Histórico do Exército, consultado com tenacidade, quanto nos arquivos da Polícia Militar do Amazonas.

Não creio que esse comandante fosse oficial superior do Exército, porque na capital amazonense não havia disponibilidade de oficiais, ainda mais do posto de major. E mais, com semelhante patente, nenhum ainda não servira na Força Estadual. Mesmo buscando entre os reformados, Filgueira não foi localizado, resta, pois, a última alternativa: pertencer a Guarda Nacional, transmito esse impasse aos pósteros. Oriundo de onde tenha origem, constitui-se o comandante executor da transição do Império à República, na corporação.

sexta-feira, agosto 09, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (36)

Penúltimo capítulo da história da Polícia Militar do Amazonas, relativo ao período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

Presidente Pimenta Bueno

É empossado na presidência, em 10 de janeiro, Francisco Antônio Pimenta Bueno, coronel do Exército. Natural da província do Mato Grosso, nascido em 1836, era filho de José Antônio Pimenta Bueno, visconde de São Vicente. Permanece apenas seis meses na direção da Província, deixando o Governo em 12 de junho.

Mapa Diário, de 31 out. 1888, assinado pelo
major Tertuliano 

Relatório de 5 de Agosto

No Relatório atrás mencionado, dirigido ao presidente provincial, o major Tertuliano Melo analisa sem meias palavras o pessoal da extinta Guarda Policial: “encontrei esse pessoal geralmente viciado, sem hábitos militares, sem moralidade, sem disciplina, sem instrução; atribuíam ao soldado de polícia, com razão ou sem ela, todos os latrocínios que havia na cidade”. E por aí, a fora! Era pouco lisonjeiro para uma corporação que se destinava a garantir a tranquilidade social.

De outra maneira: o comandante bastante entusiasmado assegura que, desde a sua posse no Corpo Policial, “buscou que ele prestasse os serviços para o qual foi criado; porque era praxe empregar o Exército em diligências onde se presumia haver necessidade de força”.

Enfim, o Corpo Policial dispunha de um efetivo pronto de 11 oficiais e 183 praças; faltava quase nada para o estado completo: três soldados e um corneteiro.


Justificação apresentada pelo comandante:


Se têm geralmente dado aos Corpos Policiais a mesma organização que os corpos do Exército, organização que não me parece consentânea aos fins diferentes a que se destinam (destaquei).

Os corpos do Exército na organização se atendam a fins táticos, eles têm de agir como unidade ativa no teatro de combate, o que jamais acontecerá aos corpos policiais; na organização destes corpos se devem atender as necessidades administrativas.

Foi sobre este ponto de vista que fiz a presente organização que tem a vantagem da economia. Suprimi o fiscal cujas funções podem ser exercidas pelo comandante sem prejuízo do serviço. Dividi o corpo em dois esquadrões comandados por capitães e estes em duas companhias.

A organização do Exército, dando a cada companhia um capitão comandante e três subalternos, tem em vista as necessidades táticas do teatro de combate e essa necessidade cresce com a tática moderna na qual, o batalhão tem de agir na maioria dos casos em ordem dispersa. Nos corpos policiais, os capitães têm missão toda administrativa, por isso podem sem prejuízo do serviço comandar duas companhias.

Dividi o esquadrão em duas companhias por julgar que esta fração deve ser a unidade administrativa, e que melhor se analisa em todo, dividindo-o em partes. Tendo em vista as necessidades dos serviços de destacamentos, diligências e interno do corpo, dei quatro subalternos por esquadrão, aumentando apenas de dois tenentes o quadro atual.

quinta-feira, agosto 08, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (35)

Novo capítulo da história da Polícia Militar do Amazonas, relativo ao período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889).

  

Fac-símile da assinatura do comandante Tertuliano

Comandante Tertuliano Mello

Em 7 de setembro de 1887, assume o comando do Corpo Policial, Antônio Tertuliano da Silva Mello, capitão de engenheiros comissionado no posto de major, então servindo na Guarnição do Amazonas. Tertuliano nasceu em 1851, assentou praça aos 19 anos, e foi promovido a 2º tenente em 1876. Concluiu o Curso de Estado-Maior de 1ª classe, sob as diretrizes do Regulamento de 1874, tendo por colega o futuro presidente da República, Hermes Rodrigues da Fonseca (1910-14). 

Não tendo participado do conflito do Paraguai, este capitão interrompe no comando da força policial a série de oficiais militantes nesta campanha. Igualmente, desde a instalação desta corporação, torna-se o primeiro oficial da ativa ou de 1ª Linha (denominação à época) a exercer esse encargo. Talvez por esses predicados, Tertuliano integraliza na instituição uma auspiciosa restauração há bastante almejada, seguramente pela fragilidade dos comandantes anteriores, tanto na administração quanto na condução dos policiais. Para melhor entender essa renovação, remeto o leitor ao seu Relatório, datado de 5 de agosto, adiante exposto.

Assim o presidente Niemeyer justifica a mudança de comandantes: “Como o capitão (artilharia) Miguel Vitor de Andrade Figueira não reunia os predicados indispensáveis a um ativo e zeloso comandante, dispensei-o, nomeando comandante do novo corpo o capitão do 3º Batalhão de Artilharia, Antônio Tertuliano da Silva Mello”. E complementa enfático. “Estou convencido que este oficial por sua inteligência, zelo e circunspeção, muito melhorará o estado dessa força, que ia decaindo de dia para dia na opinião pública, e que ora vai-se elevando a altura de sua missão”.


Quadro dos oficiais

 No mesmo documento, o presidente Niemeyer expõe a relação dos oficiais do Corpo e suas funções:

Major comandante – Antônio Tertuliano da Silva Mello

Alferes secretário – Raimundo Afonso de Carvalho (Nascido na província do Ceará, em 7 de setembro de 1862, Afonso de Carvalho foi um nordestino vencedor no Amazonas. Desembarcou aqui como soldado do Exército e retirou-se depois de comandar a PMAM no governo de Eduardo Ribeiro (1892-96), de exercer a superintendência (prefeitura) de Manaus; deputado no Congresso Estadual e, sendo seu presidente, assumir a chefia do Poder Executivo (1907-08), em substituição ao governador Constantino Nery.)

Alferes ajudante e quartel-mestre – Tomás Ferreira de Melo

1ª Companhia

Capitão Manoel Honorato dos Santos / Tenente José Soares de Souza Fogo e alferes Joaquim Bibiano de Freitas e Febrônio Gonçalves Pinheiro.

2ª Companhia

Capitão José Paes de Azevedo / Tenente Manoel Antônio Rodrigues Pará / e alferes Tito Velloso da Silveira e Teodoro Monteiro da Cunha.

Outras notas

Nem tudo havia mudado, porém. O alistamento de praças seguia a velha regra, fortemente marcado pelo emprego de mão de obra nordestina. E mais um episódio é aqui relatado. Acabava de desembarcar em Manaus o tenente José Soares Fogo conduzindo 80 indivíduos, contratados no Ceará. Para a inclusão no Corpo Policial, o presidente nomeia uma comissão composta do tenente-coronel Joaquim Leovigildo de Souza Coelho, major Joaquim Pinto Guedes e tenente Pedro Rangel de Abreu (todos do Exército) “para reconhecer a autenticidade dos documentos de engajamento apresentados”. Enfim, para consolidar o processo de inclusão, a presidência nomeia outra comissão, sem designar os nomes, para inspecionar os “candidatos”, ressalvando que somente os julgados aptos obteriam ingresso no Corpo. Quê decisão bizarra. Depois de desembarcados em Manaus, como dispensá-los?

segunda-feira, agosto 05, 2024

MANAUS: JORNAL ESCOLAR (1908)

 Ao vasculhar o acervo virtual da Biblioteca Nacional, consultei um expressivo número de jornais que circularam tanto na província, quanto no século passado, no estado do Amazonas. Entre estes, relevo para VISÕES DE HOJE, que em sua edição inaugural – 15 de novembro de 1908, publicou um poema do acadêmico Paulo Eleuthério (1886-1959), de  cunho patriótico, em cortesia à Proclamação da República.
 Paulo Eleuthério Alvares da Silva nasceu em Pau d’Alho (PE), tendo obtido vasta projeção em Manaus e Belém, onde dirigiu diversos estabelecimentos de ensino e órgãos jornalísticos. Em 1909 era “secretário e vice-diretor do Instituto João de Deus”, conforme registro de Robério Braga em Fundadores da Academia Amazonense de Letras, Manaus, 2019. Naquela ocasião, começou a circular o jornal Visões... e, de certo, a publicação do poema se deveu a esta posição. Foi um dos fundadores do Silogeu Amazonense, ocupando a cadeira 24.

 

Fragmento do poema

PATRIA!

Ao provecto educador pernambucano

Dr. Candido Duarte

Ideal, hei de alcançar-te

Hei de alcançar-te, Ideal!  

MARTINS JUNIOR

Tese do meu civismo! amor cristalizado
Em átomos de luz pelo meu ser fulgindo!
Quero ver-te a brilhar como Apolo no Pindo,
Das musas regulando o coro iluminado.

Alma do meu civismo! Ó crisol fecundado,
Pelo brilho de sol da História que vem vindo
Revelando o passado ao presente, sorrindo,
Bem cônscia de um porvir de mais glorias ornado.

Não basta o que já és — ó flama idealizada!
Quero ver-te mais forte e mais idolatrada,
Luzindo mais que o sol de 7 de Setembro!

Vamos! Pátria de Luz! Quero ouvir-te, louçã.
— De Bernardo Vieira à Benjamin Constant —
Provando o teu valor em 15 de Novembro!...

Manaus, Novembro de 1908.