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sexta-feira, agosto 30, 2024

COLÔNIA OLIVEIRA MACHADO

Conheci o bairro Colônia Oliveira Machado levado pelo padre Antonio Plácido para servir de coroinha na igreja de São Francisco, no final da década de 1950. De fato, faz um bom tempo... Dias desses, postei neste Blog uma ligeira referência a este bairro. Ontem, revendo meus arquivos deparei-me com a coluna ÀS TERÇAS..., produção do saudoso mestre Mário Ypiranga Monteiro, circulada no Jornal do Commercio, (3 agosto 1965).

Igreja de São Francisco, na Colônia

Naquele espaço – reproduzido abaixo – seu autor chancela duas importantes advertências: 1) os motivos da homenagem prestada a Oliveira Machado, 29º presidente da província do Amazonas. 2) seu desconcerto à mudança de nomenclatura de logradouros da cidade, alguns já com vida longa. Morto este historiador em 2006, seu nome substituiu ao da rua Recife, de tempos idos de Manaus.

Recorte do matutino JC, 3 ago. 1965

Já se vem tornando absurda a preocupação da mudança de nomenclaturas dos logradouros públicos da cidade. Posto que o mal não seja novo, vamos perdendo, dia após dia, as nossas velhas tradições e o pior é que o fato implica em sério prejuízo administrativo quando não fosse meramente um impacto na história ou uma injustiça aos priscos homenageados. A anarquia reinante no cadastro urbano-suburbano é uma prova da ligeireza com que se deflagra leis contra a tradição ou se ignora o que existe de defeituoso e reclama revisão.

Já alertamos várias vezes os responsáveis, para a duplicidade de nomenclaturas existentes em ruas, praças etc. Ontem foi com o aeroporto da Ponta Pelada transformado, sem justificativa, em aeroporto de Ajuricaba, quando já existem várias nomenclaturas deste nome. Outrossim, invés de deixar-se uma avenida comprida com um nome só, retalha-se, divide-se a artéria para satisfazer caprichos e prejudicar os serviços administrativos e a história do futuro, que é o que sucede, por exemplo, com a avenida de Epaminondas. Ninguém sabe, afinal, se ela é e quando é Epaminondas ou Constantino Nery ou João Coelho...

Agora me chega ao conhecimento a notícia de que se pretende mudar o nome da Colônia de Oliveira Machado para bairro de Santos Dumont, quando já existe uma praça de Santos Dumont e um jardim de Santos Dumont. Que encrenca! No entanto, há bairros, como o de São Jorge, que não estão devidamente cadastrados nem se sabe os nomes das ruas!

Há uma injustiça gritante nessa pretendida reformulação. Ao doutor Joaquim de Oliveira Machado, o 29° presidente da Província do Amazonas, exonerado por decreto de 15 de junho de 1889, às portas da Republica, coube instalar a colônia do seu nome no antigo bairro dos Educandos, colônia que visava fomentar a habitalidade daquela região e obter outros resultados sociais e econômicos, e onde foram localizadas as sobras humanas do Nordeste. Só isso já lhe confere um mérito que acena de longe à nossa gratidão e espera de nós o respeito às grandes iniciativas, iniciativas que hoje são bem difíceis de ver-se programadas. Santos Dumont já tem a sua consagração pública naquela praça com a sua herma e uma cabeça a que o povo sensatamente crismou de “cabeça de coco” e honestamente pôs abaixo por constituir um atentado à estética e uma ofensa ao gênio do brasileiro. Foi reposta depois, segunda edição melhorada e ampliada.

Mas enquanto o interesse se volta para nomes estranhos ao nosso meio, à nossa vida atribulada, os amazonenses, os filhos da terra, ou os brasileiros que fizeram do Amazonas seu berço e nos ajudaram a criar este milagre humano que é a cidade, demoram esquecidos. São muitos. Poderíamos citar grande cópia deles: Antonio Brandão de Amorim, Ermano Stradelli, Vicente Reis etc.

Os estrangeiros a quem nada devemos e cujos países de origem nos ignoram, são homenageados frontalmente como se devêssemos homenagear a um estrangeiro... Isto raia ao ridículo! A sistemática ignorância dos indivíduos-símbolos que honraram o nosso passado pela cultura, pelo trabalho, leva-nos a acreditarmo-nos incapazes, povo sem história, povo sem dignidade, povo sem tradição, sem espírito de compreensão, subserviente e impressionável diante de mentalidades arrivistas que nada contribuem, nem contribuíram para a nossa grandeza moral e prática. Que exemplo se pretende oferecer às gerações formadas na anarquia política em que nos debatemos? Onde estão, por exemplo, as placas com os nomes de um frei de Santa Luzia, de um Bararoá, de um Bernardo de Sena, de um Adolpho Lisboa, de um Galdino Ramos, homens que em várias épocas e em vários planos de atividades dignificaram a inteligência e mantiveram alto o nosso nome?

Visto(sic) a insistir na necessidade de uma revisão no cadastro municipal e na confecção de uma planta geral da cidade, uma planta menos vigarista que corrija os numerosos defeitos de outras que foram desenhadas com o intuito, parece, de apenas provar hilaridade. Senhores, pensem bem que a história é uma Themis terrível que nem perdoa e nem esquece!

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