Dom João da Mata (1941-48) |
Fundado
em 1848, com a denominação de Seminário São José, pelo bispo do Pará, funcionou
este até o início do século passado, quando teve suspensas suas atividades. Foi nessa
conjuntura que o 6º bispo do Amazonas, Dom João da Mata Andrade e Amaral
(1941-48), o encontrou ao assumir a diocese.
Não
mediu esforços para superar esse obstáculo. Menos de dois anos depois de
empossado, na festa do padroeiro da Casa, usando a residência episcopal e
auxiliado pelos Salesianos, o bispo reabriu o Seminário, na praça General
Osório (edifício demolido) confrontando com o atual Colégio Militar de Manaus. Uma nova interrupção das atividades aconteceria no
final da década de 1960.
Dez
anos adiante, a igreja do Amazonas começou a colher os frutos desse
empreendimento, a partir de 1954 foram ordenados os padres Manoel Bessa; Luiz
Ruas; Vicente Albuquerque; Jorge Normando, Moisés e Bernardes Lindoso; Onias
Bento; Tiago Brás; Francisco Pinto; Juarez Maia. Um pouco mais a frente, os
padres Sebastião Puga e Luís Souza.
Naquela
tarde de março, há 70 anos, Dom João da Mata fez a festa, como descreve o
matutino dos Archer Pinto:
Manchte de O Jornal, 19 de março de 1943 |
Estiveram
presentes ao ato o Dr. Álvaro Maia, interventor federal; Dr. Leopoldo Péres,
presidente do Departamento Administrativo do Estado; capitão Antero Azevedo,
comandante do 27º BC; Dr. Ruy Araújo, secretário-geral do Estado; professor Antovila
Vieira, prefeito municipal; desembargador Arthur Virgílio, vice-presidente do
Tribunal de Apelação; Dr. André Araújo, juiz de Menores; Dr. Temistocles
Gadelha, diretor do Departamento de Educação; o corpo consular e representantes
das Forças Armadas dos Estados Unidos (?), pessoas gradas e famílias e o
representante dos nossos diários (O
Jornal e Diário da Tarde).
Após
a chegada da procissão, que conduzia a imagem de São José, transladada da
Catedral para o Seminário, acompanhada da banda de música da Força Policial, e
que foi recebida estrondosa salva de palmas, as autoridades, que se encontravam
no salão de espera do Seminário São José, foram convidadas a tomar lugar no
palanque que se achava armado em frente ao referido estabelecimento de ensino
religioso, e onde, a pedido do senhor bispo, o Dr. Álvaro Maia foi recebido com
uma salva de palmas.
De
uma das janelas do Seminário, Dom João da Mata Amaral pronunciou formosa
oração, em que, mais uma vez, evidenciou os seus dotes invulgares de orador e
sua sólida e brilhante cultura.Os raios do sol eucarístico polvilharam de ouro as aguas do Rio-mar – douraram as florestas, iluminaram os céus e as almas da Amazônia.
E
nesta hora histórica, já as aguas do monarca dos rios começam a se coalhar de embarcações
para a febre da batalha da borracha – as florestas estão vertendo o leite que
irá talvez, nos planos divinos, salvar a civilização com o Cristo batizou o
mundo há dois milênios – os céus se cruzam de aviões que abrem no espaço uma
nova rota que fará de Manaus, uma das maiores e mais importantes capitais
brasileiras, -- as almas se iluminam, com as claridades sobrenaturais da graça –
os corações se povoam de fé intrépida...
E
o velho Seminário São José, não resistindo por mais tempo a esse grito de ressurreição, se levanta das
suas gloriosas cinzas. É uma ressurreição que abraça a alma e o corpo do
Amazonas.
Não
foi em vão que nas noites memoráveis do Congresso apelamos para o Céu: a messe
é grande -- o trigal já loureja, mas os operários são poucos. O céu ouviu o
grito angustiante do nosso peito. Ali estão os jovens em cujos corações primaveris o Senhor da messe lançou a semente
da vocação. Eu os contemplo como alvoradas de padres, as esperanças da Igreja
no Amazonas.
Este
Seminário é um quartel da Igreja a se defrontar com o quartel da Pátria. Ali se
formam os soldados para a defesa da soberania da nação – aqui se formam os
soldados do Evangelho para a defesa do patrimônio da fé, que nos legaram os
nossos maiores. A cruz e a espada, no correr da nossa História, sempre
estiveram entrelaçadas. Foi aos clarões do sol da eucaristia que, lá na
gloriosa Bahia, a cintilar sobre a espada de Pedro Álvares Cabral e a cruz de
frei Henrique de Coimbra, amanheceu para o mundo e para a história o gigante da
América, o Brasil.
Este
Seminário sobre ser um templo de fé e saber será, também, uma escola de civismo.
No seu salão principal, figurarão os retratos do Presidente da Republica e do
interventor Federal, Dr. Álvaro Maia. De par com o cultivo da piedade e das
letras crescerão no coração do jovem levita a flor do patriotismo e o culto aos
grandes vultos da nacionalidade. O retrato do Dr. Álvaro Maia ali ficará como
uma homenagem de gratidão da Diocese ao Governo e povo do Amazonas, por este
clima de cordialidade que tem sempre existido entre o Bispo, o Governo e o povo
querido deste privilegiado Estado.
Nem
um só instante quero pensar que um dia venha a trancar novamente as suas portas
o monumento que ora se ergue, sob as benções do povo. Repetir-se-ia a história
de Agar, que fugiu para não ver morrer à fome o seu filho Ismael. Não sobreviverei
a este dia. O Seminário não fechará. A mulher
amazonense, cristã e heroica, estará sempre pronta a dar filhos para o altar da
Pátria e o altar da Igreja. O Seminário não fechará porque, se for preciso, abrir-se-á
mais um capítulo na história da proverbial generosidade do Governo e do povo do
Amazonas.
O
Seminário não morrerá jamais. Esta não é uma obra da vaidade do homem. Tem a
marca divina. É um milagre do Coração Eucarístico de Jesus.
Salve,
Seminário São José!
Em
nome dos seminaristas, falou o aluno Geraldo Bessa, saudando as autoridades.
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