Coronel Hiram Reis |
Para homenagear ao chefe da expedição pelo rio Juruá, coronel da reserva do Exército Hiram Reis, reproduzo dele sua penúltima postagem, que narra a etapa vencida entre as cidades de Codajás e Anamã, no rio Solimões.
Com chegada marcada para a tarde deste domingo, 10 de março, a expedição encerra seus trabalhos de campo. É preciso destacar que este trabalho foi realizado em embarcação exótica para a dimensão de nossos rios, de caiaque, cobrindo vasta extensão do rio Juruá e parte do rio Solimões. Trabalho extenuante, que somente a dedicação e o empenho e a brasilidade de Hiram Reis e seus parceiros de luta poderiam vencer.
Selva,
camaradas, até o próximo desafio.
Codajás – Anamã (*)
Ao passar
pela Boca do Purus, minha memória, madrugando no passado, recolheu, no arquivo
ancestral, a imagem de dois ícones de nossa história, em outubro de 1905, navegando
no vapor Rio Branco, singrando este mesmo rio tendo como destino Manaus. José
Plácido de Castro tinha comandado o vitorioso Movimento Revolucionário Acreano,
que resultou na incorporação das terras “ditas” bolivianas ao Brasil.
Euclides
da Cunha chefiara a Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus, cuja
missão era mapear o rio Purus desde a foz, no Solimões, até suas cabeceiras,
definindo as fronteiras do país com a Bolívia e o Peru.
Novamente
os cordiais Policiais Militares nos apoiaram na hora da partida. Quando chegamos
ao flutuante do “Pisca”, ele já estava a postos para que pudéssemos
carregar na lancha “Mirandinha”, o material que ficara sob seus
cuidados.
Eu
havia visitado Codajás, pela primeira vez em janeiro de 2009, na minha descida
pelo Solimões. Deixamos para trás mais uma amazônica cidade que regrediu consideravelmente
nos serviços prestados à comunidade, apresentando uma triste realidade que
parece ser a tônica das cidades do rio Solimões pelas quais passamos, ao contrário
do que observamos no Juruá.
Partida
para Anamã (05.03.2013)
Deixamos
o cabo Mário para trás arrumando os badulaques na lancha Mirandinha e iniciamos nossa jornada. A noite emprestava à paisagem
um toque de magia e mistério, eu me orientava pela claridade da cidade que
ainda dormitava preguiçosamente e pelas luzes das embarcações que desciam
placidamente o formidável rio. Os primeiros raios solares só surgiram no
horizonte, depois de termos remado hora e meia, matizando as diáfanas nuvens.
Ao
raiar do dia cruzamos por uma embarcação da Marinha do Brasil, a P20, que
realizava manobras na área. O dia transcorreu sem grandes alterações, o calor
era insuportável e foi necessário reabastecer nossos cantis por três vezes.
Antes de entrarmos em um furo que conduzia à cidade de Anamã, solicitei ao Mário
que fizesse algumas tomadas da Boca do lendário rio Purus. Como em 2009,
cruzamos pelas enormes alfaces d’água (pistia
stratiotes) de mais de 50 cm de diâmetro, do Purus.
O
Furo, indicado ao Mário por um ribeirinho, diminuía consideravelmente a distância
até Anamã e por ele enveredamos. As águas do Solimões penetravam velozmente
pelo furo e chegando ao lago já tinham empurrado as águas negras mais para o
interior tingindo-o totalmente com suas águas leitosas. Depois de remarmos uns
dez minutos, avistamos a cidade das originais e multicoloridas casas de madeira,
ao fundo, e picamos a voga para atingi-la.
Fomos
direto para o Porto de Anamã, que por sinal encontra-se em péssimo estado de
conservação. Guardamos nossos materiais em um flutuante da Prefeitura, sob
custódia do Vovô, e contatamos o cabo PM Evandro Carreira, já orientado
pelo seu comandante, Major PM Michel, que nos levou até o hotel e às dezenove
horas até o restaurante do Soldado, que a Prefeitura havia-nos
igualmente franqueado.
Anamã
e a Enchente de 2012
Para saber mais, consulte
A
maioria das casas de Anamã é de madeira e sua arquitetura requintada, riqueza
de detalhes e pinturas vivas chamam a atenção de quem a visita. Os marceneiros
locais são muito hábeis e os acabamentos são originais raramente repetidos em
outra construção. A marca das águas nas paredes das residências não deixa
dúvidas do estado de calamidade que assolou a pequena Anamã. Verificamos muitas
obras sendo executadas e esperamos que o pico da cheia que se avizinha não venha
a causar mais transtorno aos moradores.
O
lendário rio Purus
Pelo
Purus havia passado alguns desbravadores em busca do conhecimento e da fortuna,
muitos em busca da simples sobrevivência, idealistas buscando estender nossas
fronteiras pela força do direito, e guerreiros tentando fazê-lo pelo direito da
força. O Purus não é apenas um rio, mas um protagonista que, junto com homens
de valor, gravou belas páginas na história da nossa nação.
Homens
que enfrentaram o desconhecido, que subjugaram a mata, que a analisaram,
estudaram, mas, também homens que tiveram suas vidas arrebatadas pela força da
natureza e cujos destinos foram manipulados inexoravelmente pelas titânicas
energias telúricas.
O
Purus merece nosso respeito pelo que foi, pelo que é e pelas contraditórias
passagens levadas a efeito na sua calha. Um rio patriota, que guarda nas suas
águas as imagens imaculadas de um Plácido de Castro e de um Euclides da Cunha.
Um rio de ambição e sem consciência, que reflete as carrancas dos ambiciosos
seringalistas que escravizaram os seringueiros nordestinos e suas famílias.
O
Purus pré-histórico é tudo isso e muito mais. Nas suas calhas, foram
descobertos os restos de gigantescos animais, como o “Purusaurus
brasiliensis” de 15 a 20 metros de comprimento, que dominava as águas no lago
Pebas. O purusaurus viveu de 5 a 6
milhões de anos atrás e provavelmente foi o maior dos crocodilianos gigantes
extintos.Nosso preito de respeito a esta artéria viva da nacionalidade brasileira que reflete, nas suas águas, a pujança de uma raça do porvir, alicerçada no invulgar passado, mas com os corações e mentes voltados para o futuro.
Encerramento
dos trabalhos de campo da Expedição
GBM
Convidamos
aos amigos que acompanharam fielmente nossa jornada cívica a comemorar nossa chegada às 15 horas, de 10
de março de 2013, no porto do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia.
Participe e\ou convide seus amigos a fazer parte da escolta fluvial no Rio
Negro ou do congraçamento nas instalações do CECMA.
(*) Hiram Reis e Silva, Manacapuru (AM), 07 de
março de 2013
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