O título desta, já declarei antes, tomei do livro do saudoso
senador Jefferson Péres, no qual nosso conterrâneo relembrou a Manaus de sua vida
ou sonho. Mas, o recorte do jornal e outras imagens pertencem ao amigo Ed
Lincon.
Entre outras saudades, Péres relembra o transporte
coletivo. Ao tempo da transição entre o bonde estabelecido pelos ingleses e os primeiros
ônibus, fabricados em fundo de quintal. O Zepelin foi um deles, um ônibus com nome
e formato semelhante ao dirigível que se esborrachou em Paris (FRA), desastre
que pôs fim àquele meio de transporte aéreo.
Jefferson Péres, em sua Evocação, assim relembra esse período:
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Jornal do Comércio, Manaus, 29 junho 1948 |
No final dos 40, os serviços da Manáos Tramaways passaram a
se deteriorar. Com a encampação da velha concessionária inglesa, essa
deterioração se acelerou e os bondes começaram a ser desativados. Foi quando
surgiram os primeiros
ônibus na cidade. Eram carros improvisados, toscos, com carrocerias de madeira,
construídas aqui mesmo, e eram tão raros que chegavam a ser individualizados
por nomes próprios, como Pirata da Perna-de-Pau e Periquito da Madame,
marchinhas carnavalescas em voga. Depois, surgiu um de melhor acabamento, o Zepelin,
em forma de dirigível, que fez enorme sucesso pela sua aparência exótica.
Agora, é o Jornal
do Comércio que narra a prova do Zepelin:
Em construção pelo Sr. Joaquim
Barata
Júnior o original veículo, que
poderá
transportar 64 passageiros sentados, estando
seu custo em 200 mil cruzeiros.
Vai Manaus contar, a
partir de domingo vindouro, quando será inaugurado, de
mais um confortável ônibus. O
"Zepelin", como será chamado
esse transporte de passageiros,
não tem o que o que tirar, quanto à sua feição,
do aparelho que lhe deu
o nome.
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Zepelin em frente à sede do Atlético Rio Negro Clube |
A nossa reportagem, informada
da existência desse ônibus, de forma sui-generis, aqui para nós do Amazonas, esteve,
ontem nas oficinas do Sr. Joaquim Barata Junior, à avenida Sete de Setembro,
o qual é seu proprietário, e ali pode
constatar, realmente, que se esta
construindo um ônibus como nos haviam informado.
Aliás,
é de se ressaltar que àquele local tem comparecido grande número de curiosos, que procuram
se informar do bojudo Zepelin, que dentro
de poucos dias estará voando por toda a Cidade.
Chegados ao local da construção, fomos recebidos pelo Sr.
Joaquim Junior, que se colocou a nossa inteira disposição, tendo nos contado
que se baseou na construção, em um ônibus com aquela forma, existente no vizinho Estado
do Pará. Contou-nos aquele senhor ter sabido,
de fonte não muito certa, que o proprietário
do
transporte "Zepelin", de Belém, havia feito
o registro
de patente no Rio de Janeiro, o
que não permite seja feito outro, isto
é, por
outra pessoa, mesmo dentro daquele
Estado, senão pelo dono do, registro. Agora mesmo, ao que consta, o proprietário'
dessa invenção recebera uma proposta de um industrial de
São Paulo, para compre daquela patente, pela soma
de Cr$ 300.OO0,OO, no que não foi atendido.
-- E, como foi que
conseguiu permissão para aqui fazer a construção? Indagamos.
-- Ora, Sr. Repórter,
é muito simples. Eu também desejo ver o Amazonas orgulhoso, por este bonito feito. Entretanto, o meu “Zepelin” não está parecido,
nem um pouco, com o de Belém. Andei, para tanto, dando uns "driblings”, a fim de
que, no caso de ser verdadeira essa versão do
registro de patente, pelo comerciante paraense,
eu poder provar que o "Zepelin” amazonense não é igual ao paraense.
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Zepelin, diante do Ginásio Amazonense ou Colégio
Estadual, fotografado da Praça da Polícia |
A construção do "Zepelin"
de Manaus já está por Cr$
200.000,00, podendo conduzir 64 passageiros' sentados.
Possui chassis próprio para ônibus, com teto interno forrado a couro
e poltronas estofadas, com molas no assento
e no encosto.
O seu comprimento é
de 12 metros, medindo 2m80 de
diâmetro circunferencial, na sua parte mais bojuda.
O "Zepelin"
amazonense será inaugurado no próximo domingo, quando fará várias voltas pela cidade com
as autoridades e imprensa, que serão convidadas para esse fim, pelo Sr.
Joaquim Barata Junior.