O porto de Manaus
Aziz Ab’Sáber
(da Escola de
Jornalismo Casper Líbero)
Porto de Manaus, em contrução, início do século XX |
O sítio do porto de Manaus correspondente a um trecho da margem de
ataque principal do rio Negro possui condições de acesso e
atracação das melhores que se poderia desejar. Para escapar aos efeitos da gigantesca oscilação anual das águas do rio Negro, construiu-se o porto pelo sistema de cais flutuantes, conseguindo-se obter uma profundidade média
de 12 a 24m em toda a extensão do
embarcadouro.
Desta forma, como bem anotou Paul Le Cointe, a estrutura do aparelho portuário de Manaus foi idealizada e construída dentro de um plano "tão simples quanto prático".
Falando-se sobre o porto de Manaus, sua estrutura, seus elementos e sua paisagem, assim se expressa Le Cointe: "Dois grandes cais flutuantes, construídos sobre flutuadores cilíndricos de 2 metros de diâmetro e 5 metros de comprimento, conseguem manter, em excelentes condições, o embarque e o desembarque das mercadorias e dos viajantes. Em um deles, de 200 metros de comprimento e 26 de largura, estabelecidos sobre 30 séries de 4 cilindros cada um, encostam unicamente navios transatlânticos; ele se liga aos armazéns situados em terra por três carros aéreos de tração elétrica, montados sobre sólidas torres de aço de 21 metros de altura e que transpõem um espaço de 153 metros.
O outro é reservado aos navios que fazem a navegação de cabotagem e àqueles que servem às linhas fluviais; ele se comunica com os cais dos armazéns por um plano inclinado articulado,
flutuante, de 167 metros de comprimento e 12 de largura,
que possibilita acesso fácil, qualquer que seja o nível do rio Negro.
Vastas docas construídas sobre a linha da
cais, consideravelmente ampliadas por um aterro, e sobre uma grande plataforma mantida por estacas, servem de entreposta ou são utilizadas para atividades aduaneiras cujos serviços administrativos foram unidos em um edifício especialmente construí do para esse fim", - "O conjunto das construções portuárias não poderia em cosa algum ser estética, mas ele possui um grande inconveniente - que poderia ser evitado em parte por um melhor agrupamento dos edifícios - que é o de esconder completamente a vista do ria e dificultar a ventilação das quarteirões ribeirinhos, que são as mais frequentados e movimentados de Manaus",
Porto de Manaus em funcionamento, década de 1940 |
O aparelho portuário continua senda uma espécie de órgão postiço em face do centro principal da cidade, não se entrosando esteticamente com o corpo do organismo urbano manauense, muito ao contrário do que se sucede em Belém.
No setor econômico, Manaus é ainda o grande porto de exportação da borracha da Amazônia Central e Ocidental. Todo o volume da sua cabotagem tem girado em torno da borracha bruta ou semimanufaturada, e, secundariamente, em torno da castanha exportada a granel. De resto, os inúmeros pequenos produtos da região não perfazem grande volume, interessando à cabotagem apenas na categoria de produtos "ancilares".
Em contraste, a importação é a mais variada possível, desembarcando em Manaus os mais diversos produtos nacionais e estrangeiros, já que a cidade é a grande redistribuidora de uma área
territorial superior a 2 milhões de quilômetros quadrados dentro da Amazônia Brasileira.
Dessa forma, Manaus, através de seu interessante porto, possui a função regional de grande porta de ocidentalização para as regiões equatoriais da Amazônia Brasileira.
No próximo número, a última parte do autor: Paisagem urbana de Manaus.
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