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quinta-feira, abril 12, 2012

Aziz Ab’Sáber (1924-2012) 5ª parte

Penúltimo capítulo sobre o desenvolvimento de Manaus, publicado no Correio do Norte (quinzenário mantido pelo casal Anísio e Lindalva Mello, em São Paulo), circulado no 2ª quinzena de outubro de 1959.

O porto de Manaus

Aziz Ab’Sáber
(da Escola de Jornalismo Casper Líbero)

 No conjunto das funções urbanas da capital amazonense, onde a função comercial ocupa papel de primeira plano, avulta a importância do Porto de Manaus. Trata-se do maior porto fluvial do Brasil e de um dos oito maiores portos do país. Possui o porto de Manaus 1.313m de extensão de cais flutuante para profundidade de 20m. Seus armazéns totalizam uma área de 19.031 m2, possuindo a capacidade para 38.026 toneladas. Servem às atividades do porto 19 guindastes de 2 a 3 toneladas cada um.

Porto de Manaus, em contrução, início do século XX

O tio do porto de Manaus correspondente a um trecho da margem de ataque principal do rio Negro possui condições de acesso e atracação das melhores que se poderia desejar. Para escapar aos efeitos da gigantesca oscilação anual das águas do rio Negro, construiu-se o porto pelo sistema de cais flutuantes, conseguindo-se obter uma profundidade média de 12 a 24m em toda a extensão do embarcadouro.
Desta forma, como bem anotou Paul Le Cointe, a estrutura do aparelho portuário de Manaus foi idealizada e construída dentro de um plano "tão simples quanto prático".

Falando-se sobre o porto de Manaus, sua estrutura, seus elementos e sua paisagem, assim se expressa Le Cointe:  "Dois grandes cais flutuantes, construídos sobre flutuadores cilíndricos de 2 metros de diâmetro e 5 metros de comprimento, conseguem manter, em excelentes condições, o embarque e o desembarque das mercadorias e dos viajantes. Em um deles, de 200 metros de comprimento e 26 de largura, estabelecidos sobre 30 séries de 4 cilindros cada um, encostam unicamente navios transatnticos; ele se liga aos armazéns situados em terra por três carros aéreos de tração elétrica, montados sobre lidas torres de aço de 21 metros de altura e que transpõem um espaço de 153 metros.

O outro é reservado aos navios que fazem a navegação de cabotagem e àqueles que servem às linhas fluviais; ele se comunica com os cais dos armazéns por um plano inclinado articulado, flutuante, de 167 metros de comprimento e 12 de largura, que possibilita acesso fácil, qualquer que seja o nível do rio Negro. Vastas docas construídas sobre a linha da cais, consideravelmente ampliadas por um aterro, e sobre uma grande plataforma mantida por estacas, servem de entreposta ou são utilizadas para atividades aduaneiras cujos serviços administrativos foram unidos em um edifício especialmente construí do para esse fim", - "O conjunto das construções portuárias não poderia em cosa algum ser estética, mas ele possui um grande inconveniente - que poderia ser evitado em parte por um melhor agrupamento dos edifícios - que é o de esconder completamente a vista do ria e dificultar a ventilação das quarteirões ribeirinhos, que são as mais frequentados e movimentados de Manaus",

Porto de Manaus em funcionamento, década de 1940
A despeito de pequenas modificações introduzidos no quadro descrita há mais de trinta anos por Le Cointe, ele ainda é perfeitamente válida para urna boa compreensão do porto de Manaus.  
O aparelho portuário continua senda uma espécie de órgão postiço em face do centro principal da cidade, não se entrosando esteticamente com o corpo do organismo urbano manauense, muito ao contrário do que se sucede em Belém.

No setor econômico, Manaus é ainda o grande porto de exportação da borracha da Amazônia Central e Ocidental. Todo o volume da sua cabotagem tem girado em torno da borracha bruta ou semimanufaturada, e, secundariamente, em torno da castanha exportada a granel. De resto, os inúmeros pequenos produtos da região o perfazem grande volume, interessando à cabotagem apenas na categoria de produtos "ancilares".
Em contraste, a importação é a mais variada possível, desembarcando em Manaus os mais diversos produtos nacionais e estrangeiros, já que a cidade é a grande redistribuidora de uma área territorial superior a 2 milhões de quilômetros quadrados dentro da Amazônia Brasileira.

Dessa forma, Manaus, através de seu interessante porto, possui a função regional de grande porta de ocidentalização para as regiões equatoriais da Amazônia Brasileira.
 
No próximo número, a última parte do autor: Paisagem urbana de Manaus.

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