(notas ligeiras sobre os primeiros 174 dias de morte do poeta)
Zemaria Pinto
Zemaria Pinto |
Levado ao
SAMEL, um serviço particular, o escritor foi atendido com presteza, sendo
preparado para a operação de colocação de pinos e placas, que ligariam de volta
os ossos de sua perna, o que só aconteceria cerca de um mês depois.
Após a
recuperação, no dia 02 de maio, Bacellar foi para a Fundação Dr. Thomas, um
órgão mantido pelo município de Manaus, onde ficou na enfermaria.
A opção pela
Fundação era simples: Bacellar morava em um apartamento, onde teria que subir
vários lances de escada. E, além disso, precisaria de cuidados 24 horas por
dia. Como ele optara – há muito tempo – por viver sozinho, foi levado, sob
protestos, ao Dr. Thomas.
Em julho,
quando, apesar de muito debilitado, já estava até caminhando, com o auxílio de
um andador, uma série de exames médicos colocou-o sob a suspeita de
tuberculose. Foi, então, levado ao Hospital de Doenças Tropicais, onde o
diagnóstico mudou radicalmente: câncer no pulmão, com metástase para outros
órgãos.
Mais alguns
dias de volta à Fundação e Bacellar foi levado ao CECON – especializado em
oncologia, onde ficou por mais de um mês, tendo retornado ao Dr. Thomas na
segunda metade de agosto.
No dia 06 de
setembro, sentindo muitas dores e apresentando um quadro de convulsão, Bacellar
foi levado de volta ao CECON, de onde saiu no dia 09 de setembro, para ser
velado em uma funerária particular. Deixara de respirar pouco depois das13h00,
exatamente 174 dias depois do início da agonia. No dia 10, com a presença de
uma pequena multidão de amigos, foi sepultado no mesmo jazigo onde fora
sepultada sua mãe, no cemitério São João Batista.
Luiz Bacellar |
Alguns jornais
impressos e alguns blogs, no dia 10 de setembro, atribuíram a um secretário de
estado uma declaração que o faz – ao secretário – parecer mentiroso e
lambanceiro. Para preservar a honra e a dignidade do tal secretário, vou
relatar a verdade, tal como ela de fato aconteceu – e que pode ser checada com
gente da estatura moral de Ronaldo Bonfim, Tenório Telles, Jane Cony e Elson
Farias, entre tantos outros.
O secretário
teria dito que “o governo do Amazonas tomou todas as medidas necessárias para
tentar reverter o quadro de saúde de Bacellar.” Disse também que “o governo
informou à família que custeará todas as despesas do sepultamento, assim como
acompanhou todo o tratamento médico dele.”
Os fatos:
Desde o dia 19
de março até o dia 10 de setembro – do acidente até o enterro – nenhuma
secretaria ou qualquer órgão público gastou um centavo de real com a saúde de
Luiz Bacellar.
1 – O serviço
médico e a estada no SAMEL foram cortesia da direção daquela instituição;
2 – Os pinos e
placas usados na perna avariada foram pagos com recursos do próprio Luiz
Bacellar (não vou dizer o valor para não envergonhar os pretensos benfeitores);
3 – O Dr.
Thomas, o Tropical e o CECON são instituições públicas, que jamais cobraram por
qualquer serviço prestado a Bacellar;
4 – Para ter
cuidadores 24 horas por dia, Bacellar pagava do seu próprio bolso os serviços
desses profissionais, além de contar com um time de voluntárias – o que valeu
para as temporadas no Tropical e no CECON;
5 – O serviço
da funerária foi pago com recursos de uma das irmãs do Bacellar, que fez
questão de respeitar sua vontade, declarada em um documento datado de 25 de
agosto, que se resume ao seguinte (copio o documento, por isso a primeira
pessoa):
A – Não quero ser velado em nenhum espaço público;
por conseguinte, desejo ser velado em um local particular, sem pompa nem
circunstância;
B – A propósito, desejo que minha urna
seja a mais simples possível;
C – Dispenso antecipadamente quaisquer manifestações
públicas de apreço, que desejo reservadas apenas a meus amigos sinceros.
Portanto,
nenhuma instituição e nenhuma pessoa física, além da irmã citada, desembolsou
qualquer quantia, mínima que fosse, para o tratamento de Luiz Bacellar,
custeado com as escassas economias do escritor.
Mente e
prevarica quem disser o contrário.
Agora, abutres,
deixem que o poeta descanse em paz.
PS: sobre as últimas palavras de Bacellar terem sido que “queria
se encontrar com Jesus”, trata-se de uma falácia evangélica: o velho Dom Luiz
jamais diria tal sandice. Nem pra fazer piada.
Extraído
do www.palavradofingidor
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