Zemaria Pinto (*)
Zemaria Pinto |
No último dia 25, ao noticiar a eleição do acadêmico que
irá ocupar a cadeira n° 23 da Academia Amazonense de Letras, o jornal onde o
eleito trabalha noticiou o fato, informando que o patrono da referida cadeira
era um tal de Cruz e Silva.
Como notícias de jornais são descartáveis, imaginei que a pessoa que escreveu a
matéria no calor da luta confundiu o poeta Alencar e Silva, o ocupante
anterior, com o genial poeta catarinense Cruz e Sousa, o verdadeiro patrono da
cadeira 23.
Já esquecera o
incidente quando, há pouco, lendo o tal jornal onde trabalha como advogado e
assina colunas o futuro acadêmico, deparo-me novamente com a aberração: o
“patrono Cruz e Silva”, citado em matéria de mais de meia página, com o
sorridente bacharel e futuro acadêmico.
Jornalistas não
precisam conhecer literatura, claro. Mas acadêmicos não podem ignorar seus
símbolos. Quem deu a informação errada? O próprio “novo nome da academia”? O
presidente, bacharel e jornalista? Os eleitores bacharéis?
Tenho certeza
que o vice-presidente, também bacharel e jornalista, não foi, porque em seu
“dicionário biográfico”, ele dá a informação correta, apesar de tropeçar na
grafia – Cruz e Souza, com z -, o que não chega a ser incomum.
Cruz e Sousa (1861-98) |
Podia continuar
calado, no meu canto, mas agredir o autor de Broquéis e Faróis duas
vezes em menos de uma semana é demais pro meu estômago.
Como a poesia
continua sendo necessária, apesar dos bacharéis, dos jornalistas e dos
acadêmicos, fiquem com um poema de João da Cruz e Sousa:
Acrobata da
dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que, desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta, clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que, desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta, clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
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