CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, agosto 10, 2012

Um caso do cine Politeama (final)

     Ed Lincon (colaborou)

No inicio de maio de 1949, o cabo Sandoval da Rocha, da Polícia Militar, recebeu do proprietário do cine Politeama,  Dr. Alberto Carreira, injusta agressão. A despeito das medidas tomadas pelas autoridades, policiais militares invadiram aquela casa de espetáculos e promoveram em represália tremendo quebra-quebra.

A intranquilidade tomou conta da cidade por dias. Os boatos, o disse-me-disse, o boletim do soldado sustentavam essa situação. Confirmava o jornal A Gazeta: “a vingança dos militares que se julgaram ofendidos na sua honra pelo Dr. Alberto Carreira da Silva, ainda repercute no seio da opinião pública, dando motivos aos mais desencontrados comentários por toda parte.”

O matutino prosseguiu na lição tentando mostrar aos milicianos que “tudo passou” e, aos manauenses, assegurou que os “briosos policiais” não mais pensam em repetir o atentado. Se houve motivo para represálias, este desapareceu com a vingança levada a cabo em noite passada. Portanto, encerra o periódico, todos devem voltar às suas atividades normais e considerar o incidente encerrado.

Periódico já desaparecido em Manaus (AM)
Buscando sanar esse embaraço, “em nome do exercício pleno do nosso papel de imprensa”, o jornal A Gazeta entrevistou o dono do cine Politeama, que foi gentil em reconhecer o excesso de sua parte. Incialmente assegurou que “não arrancou as divisas do uniforme do cabo Sandoval” e mais, que não proferiu palavras ofensivas à sua dignidade, tampouco a corporação a que ele pertence.

Dr. Carreira fez questão de esclarecer os fatos acontecidos entre ele e o cabo Sandoval. Disse que conversava com o graduado, e na ocasião decidiu passar a mão pelo seu ombro, quando percebeu que algo havia caído ao chão, de pronto agachou-se, apanhou o objeto e passou ao cabo. Só então percebeu que se tratava do “distintivo de cabo que estava pregado na manga do dólmã com colibris”.

Recorte de A Gazeta, 7 maio 1949 
No dia seguinte, desde a manhã, recebi informações de que se tramava na Polícia Militar uma revanche, “inclusive com a minha eliminação”, prosseguiu Dr. Carreira. Acreditava que nada aconteceria, por isso não tomei qualquer providência. Enfim, houve a invasão e os demais episódios já relatados. No encerramento da entrevista, o jornal fez um apelo ao outro lado, na pessoa do comandante da Polícia Militar, coronel Manuel Corrêa, “para que considere insubsistente o atrito, encerrando-o definitivamente”.

De pronto, este comandante atendeu ao apelo jornalístico. Para isso, coronel Corrêa recebeu a reportagem para esclarecer os pontos nebulosos, resumindo que “não se deve dar crédito a boatos infundados com que alguns elementos perniciosos procuram intranquilizar as famílias”. Encerrou, fazendo provecta profissão de crença nos elementos da Polícia Militar, que “haverão de continuar, como sempre fizeram, a manter a ordem pública, a zelar pela vida e pela propriedade de todos”.

Com isso, a segurança voltou a bom termo, e o cine Politeama seguiu oferecendo as deleitáveis fitas que seu dono, Dr. Alberto Carreira, confiando na Polícia Militar, sabia oferecer para o entretenimento dos manauenses.

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