Marilyn Monroe |
O mundo da informação vem
há dias anunciando o cinquentenário da morte de Marilyn Monroe, fato acontecido
em 1962. M&M foi encontrada morta em sua residência, sozinha, aos 36 anos. Sua
beleza proporcionou meios para que a indústria cinematográfica americana a constituísse
em símbolo, e a elevasse à condição de uma das deusas de Hollywood. Por esse motivo se deve a repercussão mundial com
seu desaparecimento. Na verdade, nem o mundo do entretenimento nem os fãs a
esqueceram, passado 50 anos.
Qualquer notícia na década
de 1960 circulava sem a velocidade que assistimos em nossos dias, ordenada pela
internet e outros meios de comunicação. Apesar da distância de Manaus, a
infausta notícia da morte desembarcou na margem esquerda do rio Negro. Esse
fato é óbvio pautou os jornais e as rádios da época, posto que Manaus ainda sonhava
com a TV.
Mas, um cronista interessou-se
pelo fato. Falo do saudoso padre-poeta Luiz Ruas (1931-2000), conhecedor da técnica
do cinema e experimentado cineclubista e participante da arte cênica. Homem antenado
com o mundo e suas atribulações, filósofo e professor de psicologia, este
religioso soube com maestria (do cinema) expressar a sua visão do sombrio episódio.
Ignoro, todavia, em que
momento e em qual jornal publicou seu lamento, pela morte da diva hollywoodiana,
em forma de poema. E até se o fez público em jornal. Transcrevi o poema, que
vai publicado abaixo, de seu livro Linha
d´água (Rio: Artenova, 1970).
Palavras para a mulher morta nua ou para Eva de ouro e barro
L. Ruas
Chanel...
O perfume denso e entorpecente de Chanel envolve o mundo.
Havia também um telefone.
Um telefone ligado para alguém ou para o nada. Havia também um telefone.
Corte.
Cut.
A câmara apanhava em close-up
as duas pétalas da flor de carne
Vermelhas. Grossas.
Polpa.
Polpa de carne.
Flor de carne.
Flor de carne.
E o mundo inteiro caminhava de rastos, como um réptil mole,
invertebrado e abúlico, para a borda daquele abismo semiaberto.
E quando já se
sentia o bafo quente da besta-flor-de-carne...
Cut.
Na contingência de ter nascido sexo e carne e
mulher a besta-abismo-e-flor:
The goddessl
Onde ela aparecia
todos se curvavam.
Na tela.
De 16mm. Na tela.
No cinerama.
Ou
nas folhinhas pregadas nas barbearias, nas tabernas, nas celas de presidiários.
The goddess! A vamp! O
ídolo! A besta-abismo-e-flor em sepia tone!
Cut.
Desejamos
que a esperança e a paz tenham sorrido à atriz durante a angustiosa solidão
desta pobre mulher (L´Osservatore Romano).
The goddessl
Enorme e sozinha no seu pedestal.
De ouro e barro.
E
solidão. De ouro e barro.
Hollywood a matou (Izvestia).
Hollywood?
O
mundo a matou. Hollywood?
O mundo, cuja única esperança era o bafo quente exalado das
bordas vermelhas daquele vulcão.
Cut.
Ó solidão de um mundo que apenas crê em flores
vermelhas, vermelhas ...
Close-up.Um telefone ligado para o nada.
E uma flor de barro.
Ou Eva morta.
Nua.
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