Francisca Lima, na formatura de Corte&Costura |
Com
a idade que possuía, não atinava para a enfermidade que consumia dona Francisca. Ainda
jovem, com pouco mais de 30 anos... Lembro que a seguira ao Cambixe, no Careiro, em
casa de parentes, para cumprir uma regra sanitária de antanho: doenças eram
curadas em ambiente amplamente saudável. No Brasil, são conhecidos os refúgios
que "proporcionavam" cura à tuberculose. Não era o caso do Cambixe!
Outra
lembrança da época, o médico que atendeu minha mãe fora o doutor Jorge Abrahim,
vereador da cidade, mas pouco recomendado como especialista. Dele se contavam
pilhérias sobre sua prática medicinal.
Certo
mesmo é que a gravidade da enferma progredira. As atenções foram redobradas. Uma
delas, os três filhos foram acomodados na casa da irmã dela, minha saudosa tia,
dona Raimunda Barbosa, que ano passado teve celebrado seu centenário de
nascimento.
Raimunda era a filha mais velha dos Lima, e a Francisca, a caçula. Com a morte dos “velhos”, a primeira passou a cuidar da irmã. Por isso, foi a ela que meu pai se dirigiu quando resolveu namorar minha mãe. E, como a tia exigiu dele alguns detalhes próprios do galanteio da época, meu pai (ainda vivo aos 96 anos) guardou algum ressentimento da cunhada.
Casamento de Francisca e Manuel, em Iquitos-Peru, 1944 |
Raimunda casou-se
com seu Manoel Barbosa, e o casal se estabeleceu na “estrada” de Constantinópolis,
hoje avenida Leopoldo Peres, bem no início da conhecida Baixa da Égua. Nesse endereço, os
Lima Barbosa produziram pão e os filhos. E ali fui alimentado, também.
Era
na casa desta tia que eu estava, quando fui levado apressadamente até a minha. Levado
para tomar a benção de minha mãe, para assim me despedir dela. Embora tenha tomado
e retomado sua benção, não houve resposta, não podia mais, minha mãe estava morrendo.
Então, vi o lamento, o choro dos presentes. Também derramei minhas lágrimas infantis, confesso, sem entender bem aquele momento, sem entender a “indesejada visita”.
O enterro foi realizado a moda antiga: conduzido o féretro, o caixão (melhor dizendo) pelas ruas, com os acompanhantes revezando-se no transporte manual. Havia um tamborete para, aqui e ali, suportar o caixão, e permitiro pequena recuperação aos condutores. Enfim, para quem conhece ou não a distância, o sepultamento aconteceu no cemitério de São João Batista, saindo do bairro de Educandos. Foram alguns quilômetros.
Por décadas, não quis saber da causa mortis, da causa da perda de minha mãe. Então, como a saúde própria passou a me inquietar, pensava que o câncer fora a determinante. A explicação, todavia, estava facilmente ao meu alcance, bastava consultar o cartório. Assim fiz. E no atestado de óbito estava a dura resposta: tuberculose pulmonar havia causado a morte.
Casal Mendonça, com os filhos Roberto (em pé) e Henrique (sentado), Rio 1950 |
Até
à eternidade, mãe!
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