Zuavo provincial, que zelava pelo quartel da Praça da Polícia |
O município de
Abufari foi um dos tantos criados no governo de Plínio Coelho (1955-59) que,
sem viabilidade e estrutura, morreu no nascedouro.
Sobre o
infausto acontecimento, o padre-poeta Luiz Ruas, que na época frequentava o
Clube da Madrugada e o Café do Pina, ambos na ilharga do quartel da praça da Polícia,
e conhecia “de vista” o tenente Lisboa, escreveu o texto abaixo.
E fiz esta transcrição de seu livro Linha d´água: crônicas (Rio: Edições Fundação Cultural do Amazonas/Artenova, 1970).
E fiz esta transcrição de seu livro Linha d´água: crônicas (Rio: Edições Fundação Cultural do Amazonas/Artenova, 1970).
Tenente Lisboa
Atravessou, ontem, a cidade, o cortejo fúnebre que acompanhou até o Cemitério São João Batista os despojos do Tenente Lisboa [Anacleto Moraes Lisboa].
A violência do impacto provocado pela morte
fulminante do jovem oficial da nossa Polícia Militar sacudiu e concentrou a
atenção de todos em torno do acontecimento, lamentável por vários motivos.
Em primeiro lugar, temos que pensar, somos forçados a pensar, na situação de completo abandono em que se encontram os
habitantes do nosso interior e, em particular, o nosso caboclo. É quase inacreditável
que, em pleno século XX, ainda assistamos chacinas desse tipo. A notícia das
atrocidades que foram praticadas no município de Abufari, nos evocaram, sem dificuldades, histórias e cenas das
primeiras tentativas de colonização do Brasil, no início do século XVI. No
entanto, aconteceu.
Quartel da Polícia Militar e o Café do Pina (encoberto), 1974 |
Mas, se não podemos deixar de prantear o desaparecimento do Tenente Lisboa, resta-nos o consolo de lançar sobre
seu túmulo as flores do louvor pela grandeza de sua disciplina de verdadeiro soldado, capaz de cumprir seu dever mesmo correndo o risco extremo de perder a vida.
Nesta hora de tanta irresponsabilidade, nesta hora em que pululam os que se omitem dos seus compromissos apenas por
egoísmo, por interesses ou por outros sentimentos semelhantes, a figura deste jovem
oficial se ergue diante de nós como símbolo de todos quantos sabem
guardar dentro de si a retilineidade dos heróis.
Não sei se ele tinha filhos, pois, apenas, o conhecia de vista.
Mas, se os tinha, não resta dúvida que a maior herança que eles receberam, foi a morte de seu pai. Porque foi, acima de tudo, a morte de um verdadeiro homem e de um verdadeiro soldado. E, se é verdade que é a morte que explica a vida, mesmo sem conhecer de
perto a vida do Tenente Lisboa, podemos
dizer, sem medo de errar que
foi limpa, correta e elevada.
Assinatura do autor: Luiz Ruas |
E esta herança não se restringe, apenas, aos filhos. Estende-se, também, aos seus
companheiros de milícia, estende-se à Polícia
Militar, que se vê aureolada, na pessoa de um de seus soldados, com a luz que circunda a
memória dos heróis. Resta, agora, que a Polícia Militar continue seguindo a trilha gloriosa de homens como o Tenente Lisboa
que, com certeza, já conquistou, na memória de todos os seus companheiros de caserna, um lugar
privilegiado e imorredouro e já se inscreveu, nas páginas de sua história, como um dos
mais
cintilantes nomes.
cintilantes nomes.
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