Padre Tiago Braz |
Erasmo Linhares |
A denúncia do deputado João Veiga possuía fundamento, confirma Bezerra, que providenciou telegramas para os patronatos de radiodifusão. O padre Tiago e o Erasmo foram recolhidos ao xadrez da Chefatura de Polícia, ao tempo existente na rua Marechal Deodoro. Era Chefe de Polícia, doutor Paulo Nery, que se afastou desta função em 31 de outubro, para assumir a prefeitura de Manaus. Seu substituto foi Joaquim Cascais, coronel da reserva da PM.
Estávamos no início do Regime Militar (1964-1985), e o Amazonas era governado por Arthur Reis (1964-67). A Rádio Rio Mar pertencia a arquidiocese do Amazonas. E o deputado João de Brito Albuquerque Veiga Filho (médico, nascido no Recife (PE), deputado federal pelo Amazonas) integrava a oposição pelo MDB.
Nada se diz da entrevista do deputado no programa da rádio, mas se observarmos os conceitos expedidos sobre o governador, é possível imaginar as declarações de João Veiga no “A Verdade é o limite”. A seguir, o documento para sua apreciação:
O senhor JOÃO VEIGA (Comunicação – sem revisão do orador)
Sr. Presidente e Srs. Deputados, recebi hoje, tendo sido enviada de Manaus com data de 12 de outubro, a seguinte carta:
“Sr. Deputado João Veiga, como já havia feito através de telegrama e da Radional, formulo a presente para narrar com maiores detalhes a agressão que sofremos por parte da Polícia, em consequência da entrevista que V. Exa. prestou a esta emissora, através do programa A VERDADE É O LIMITE.
Lá passamos várias horas, sendo-nos negado o mais elementar direito de defesa e se fomos soltos , devemos à interferência de amigos que tão logo souberam da ocorrência entraram em contato com o Governador, conseguindo, após muitos pedidos, que fossemos soltos. Mas já passavam várias horas que sofríamos a injustiça de uma prisão atribiliária (sic), pairando, ainda, a ameaça de fechamento da nossa emissora.
Estamos convictos, Sr. Deputado, de que não abusamos do nosso dever de manter informado o público e de proporcionar oportunidade a que o povo e os seus representantes, dentro das normas de respeito e do acatamento à autoridade, expressem seus pensamentos sobre tudo aquilo que interesse à coletividade. Cremos que isso constitue-se num dos mais positivos ângulos do regime democrático, regime cuja vigência é plena no País.
Pedimos, Sr. Deputado, que V. Exa., com o espírito de luta e clarividência que o caracetriza, adote providências junto às autoridades competentes desta Nação, a fim de garantir a nossa integridade física e o livre exercício de nossa missão, segundo nos assegura a lei.
Atenciosamente,
ass. Padre Tiago Braz"
Sr. Presidente, esta carta está assinada pelo Padre Tiago Braz, Diretor-Superintendente da Rádio Rio Mar, emissora do Arcebispado de Manaus . Este padre foi preso, como diz a carta – e ele não entrou em pormenores – durante oito horas seguidas, ficando incomunicável, tendo sido preso também, por me ter entrevistado, o jornalista profissional Erasmo Linhares, este durante dez horas, igualmente incomunicável, ambos em xadrez comum.
Cópia da carta do pe. Tiago |
Tudo isto se verificou por ordem do déspota, truculento e, ele sim, marginal, Governador Arthur Cesar Ferreira Reis, cujo mandato de supremo mandatário do Amazonas infelizmente lhe foi trazido por uma cegonha maldita, mandato que lhe caiu ao colo, sem nenhum trabalho ou reivindicação sequer.
Esse lunático, paranóico e esquizofrênico naturalmente está anotado no caderno de Deus Todo-Poderoso, porque não é a toa que esse marginal, inescrupuloso, homem que não se respeita, iria colocar um sacerdote do clero do Amazonas em xadrez comum, pelo único crime de ter permitido a fala de um representante do povo, esse orador que ocupa a tribuna no momento, através da Rádio Rio Mar, do Amazonas, no programa “A Verdade é o limite”. Mas acredito que em breve aquele déspota vá para a vala comum e os diabos o persigam até a eternidade (Muito bem).
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