O evento acontece na Livraria Saraiva MegaStore do Manauara Shopping, às 19h30, com entrada franca.
Tenório Telles, apresentador da obra |
Um dos romances mais contundentes da literatura brasileira, Simá é contemporâneo do ciclo das narrativas indianistas do Romantismo brasileiro. Seu autor, Lourenço Amazonas, publicou-o em 1857, mesmo ano em que O Guarani veio a público. Na época o índio despontava como o elemento possuidor da brasilidade que faltava à literatura ou mesmo como uma justificativa ante os caminhos que tomava o país frente ao processo de implantação da República e o incômodo que representava a escravidão negra. Nesse sentido, Simá preenche esses requisitos, apresenta a primeira personagem-título feminina e tematiza um assunto igualmente inédito para a época, o estupro.
O livro de Lourenço se vincula, pelo tema, a Iracema, clássico de José de Alencar, embora seja anterior ao texto do romancista cearense, que só foi publicado em 1865. Segundo o professor Tenório Telles, Alencar não é o precursor dessa reflexão sobre a questão da construção da identidade nacional, expresso no encontro do mundo europeu e o primitivo, mas sim Lourenço Amazonas, militar baiano que passou parte da sua vida na Amazônia, convivendo com os indígenas e com o processo de colonização da região.
Do ponto de vista temático e histórico, Simá – Romance Histórico do Alto Amazonas, tem mais relevância que Iracema, embora faltasse a Lourenço Amazonas o talento literário de Alencar. A percepção do autor de Simá em relação à presença europeia na Amazônia é crítica e pessimista, o que o difere do autor de Iracema, que é condescendente e tenta justificar o processo civilizatório empreendido pelos europeus no Brasil e no continente americano. A postura de Lourenço é radical, sem condescendência com a violência e oportunismo de Régis, português que simboliza o colonizador: acolhido na casa de Marcos, um tuxaua manaus destribalizado, violenta a filha do indígena, Delfina, e a engravida. Para alcançar o seu intento, Régis usa o mesmo artifício que Alencar usará em Iracema: oferece vinho com ópio a Marcos e sua filha, que embebedam-se, tornando-se presas fáceis dos intentos do português, que, aproveitando-se da situação, estupra Delfina. Em Alencar, a personagem indígena, Iracema, seduz Martim, o português, sendo, assim, responsabilizada pelo nascimento de Moacir, fruto dessa relação espúria. (Texto e ilustração a cargo da editora)
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