CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

Mostrando postagens com marcador Tenorio Telles. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tenorio Telles. Mostrar todas as postagens

domingo, julho 27, 2025

POESIA DOMINICAL (9)

 O poema deste domingo é obra do saudoso Sergio Luiz Pereira (1965-2015), que nos herdou duas obras (Cordas da Lira e Sopros do Oboé) e uma póstuma, donde recolhi a ilustração poética. Metais Sonoros é o título da obra será editada para relembrar o décimo ano da morte do Poeta, que ocorre em dezembro próximo. Dele escreveu Tenório Telles, em Estudos de Literatura do Amazonas (2021): “A morte precoce de Sergio Luiz Pereira interrompeu não só uma história de vida, mas o trabalho criativo de um dos mais dedicados e meticulosos poetas de sua geração.” E conclui: “É particularmente marcante na poética de Sergio Luiz Pereira o rigor formal, a linguagem elegante e a beleza que reveste sua lírica.”

 

Serginho, nos pincéis do Bjarne (2016) 


DOS CANTOS DA CIDADE

Amanhece o encanto já perdido.

 · Bandeira Tribuzi

 Quando o dia estender seus lençóis brancos

Quase nada seremos: carnes frias

Corpos comuns em tristes letargias

Contrário do que foram solavancos.

 

A tarde mais virá com ventos francos

Bater em nossas mentes, fugidias

Lembranças do que fomos nas sadias

Ondas de amor, sem trancos ou barrancos.

 

Quando a noite pesar em nossos passos

Cada qual mitigará os seus cansaços

À procura de encanto renovado.

 

Quem sabe não seremos só saudade

Nos quatro cantos da nossa cidade

     Banhada pelo gozo já apagado.

domingo, maio 25, 2025

POESIA DOMINICAL (5)

O autor Mavignier de Castro (1891-1970), oriundo do Ceará e instalou-se em Manaus, “suas crônicas e poemas são expressivos de seu encantamento com a majestosidade e beleza desse universo líquido e verde”, que tão bem conheceu por suas andanças como promotor público, registra Tenório Telles e Antonio Paulo Graça, em Estudos de Literatura do Amazonas.   

Paisagem foi publicado no vespertino A Tarde, em 22| maio| 1960, há exatos 65 anos, na coluna Cartão Postal.

 



Baixa a tarde diluindo lentamente

ametistas, topázios e turquesas

sobre o debrum flumíneo da Amazônia.

Aí vem a noite com a sua visitação de escuros e silêncios.

Paisagem de quatro dimensões murchando vesperalmente

num sono antigo de lianas e raízes.

Cerra-se, úmido, o verde dos olhos dos lagos

e forma um só veludo com as árvores, os barrancos e os igapós. 

Céleres gaivotas esparsas vão confundindo

as asas como aspas solitárias

gizando as solidões fluviais que fogem. 

Debruça-se o crepúsculo sobre as águas,

a tarde quieta veste-se de sombras nas alturas,

e os homens vão recolhendo à mansuetude dos casebres

as almas cheias, maduras e leves

e a certeza intemporal de uma Presença

na fácil perfeição de todas as coisas.

sexta-feira, novembro 22, 2024

CLUBE DA MADRUGADA: 70 ANOS

Aproveito a efeméride de hoje para recordar a comemoração do Jubileu de Ouro deste clube, celebrada em 2004. O Largo de São Sebastião engalanou-se para abrigar a arena da celebração. Subiram ao palco músicos e literatos, jovens e remanescentes do movimento amanhecido em 1954, quando “um punhado de jovens, sequiosos por romper o isolamento da província, o isolamento geográfico”, resolveu “descobrir o verdadeiro comando de sua existência”, consoante o registro de um dos fundadores – Jorge Tufic, in Clube da Madrugada 30 Anos.

Teatro Amazonas e o palco dos festejos

Ainda em plena atuação, um dos fundadores, Luiz Bacellar (1928-2012), prestigiou o lançamento de livros de integrantes do Madrugada promovido pela Editora Valer. O autógrafo de Bacellar em Quatro Movimentos (1975) guardo o exemplar com religiosidade.

Personalidades presentes: músico Maury Marques;
poeta Max Carpenthier e o editor Tenório Telles (a partir da esq.)

Mais uma memória, do mesmo modo compartilhada do Tufic: em comemoração ao 7º aniversário do CM, a direção mandou confeccionar uma placa alusiva ao evento, com os seguintes dizeres:

Pois foi. Jovens se reuniram sob a fronde desta árvore; e aconteceu. Quando Madrugada, o Clube surgiu. Era novembro, 22, 1954.

 

quinta-feira, novembro 21, 2024

MADRUGADA E L. RUAS, SEU PRESIDENTE

Nascido em 22 de novembro de 1954, o Clube da Madrugada – movimento que abrigou intelectuais e artistas em Manaus – apesar de extinto, vem sendo relembrado pelas sete décadas de criação. A Editora Valer acaba de lançar o livro “Clube da Madrugada 70 Anos”, de Tenório Telles, e coordena uma série de encontros, mesas e colóquios.

Capa do livro de Jorge Tufic

Quero relembrar duas datas sobre o Clube: a primeira mais distante, a dos 30 Anos registrada em livro de Jorge Tufic, um dos presidentes de maior proeminência do CM. A segunda, a comemoração do cinquentenário, cuja festa foi concretizada no Largo de São Sebastião em palco onde desfilaram os remanescentes daquela Madrugada.

Aquele ano de 1954 legou marcas indeléveis a Manaus: a instalação do Instituto Christus, depois CIEC, pelo mestre Orígenes Martins; a criação da Rádio Rio Mar, hoje pertencente a arquidiocese de Manaus; e o Clube da Madrugada, destes, atualmente apenas a emissora funciona. No entanto, quero me referir a outra singularidade: nas três entidades operou o padre-poeta L. Ruas.

Refiro-me a Luiz Augusto de Lima Ruas (1931-2000), que foi ordenado sacerdote por dom Alberto Ramos em 31 de outubro de 1954, ao lado do saudoso Manuel Bessa Filho, na Catedral da Padroeira. Companheiro de Orígenes no seminário, Ruas integrou-se ao grupo fundador do Christus. Cooptado por Jorge Tufic, ingressou no Madrugada, tendo presidido o clube biênio 1957-58, quando lançou sua obra-prima A Invenção do Clown. Enfim, quando a igreja católica adquiriu a Rio Mar, L. Ruas exerceu distintas funções, destacando-se como cronista radiofônico.

Padre-poeta L. Ruas

Exerceu o magistério em diversos colégios, no Seminário e na Universidade Federal do Amazonas. Seu nome crisma a EE Padre Luiz Ruas, no bairro Zumbi III. Faleceu em Manaus, em 1º de abril de 2000, estando sepultado no cemitério São João Batista.

quinta-feira, outubro 14, 2021

LITERATURA AMAZONENSE

 Mais uma página do folheto Amazonas Cultural, publicação da subsecretaria de Cultura do Amazonas, circulado em dezembro de 1992. O trabalho literário pertence ao poeta Cláudio Fonseca e a ilustração saiu do pincel do saudoso artista Anísio Mello.

“Cláudio Fonseca (1952) é um poeta que, seguindo a senda aberta por Luiz Bacellar, apresenta, em seu discurso poético, elementos clássicos. O autor faz uma poesia com forte conotação existencial e densidade literária. O poeta transcende a percepção regional da vida e elabora uma lírica identificada com os dramas humanos, a solidão e o tempo”, registra Tenório Telles em Estudos de Literatura do Amazonas (Valer, 2021).
 

 

domingo, março 07, 2021

OCTAVIO SARMENTO (1879-1926)

 Esta semana tomei a iniciativa de enfrentar as setecentas páginas que o mestre Tenório Telles escreveu para a sua obra Estudos de Literatura do Amazonas (Manaus: Valer, 2021). Lá pelas tantas deparei com o estudo sobre o poeta Octavio Sarmento, que foi fundador da Academia Amazonense de Letras, e esteve redondamente esquecido. Contudo, em trabalho para o Silogeu, o acadêmico Zemaria Pinto, ocupante da Cadeira fundada por Sarmento, retirou-o do limbo com a publicação A Uiara & outros poemas (Manaus: Valer, 2007).

Na ocasião, li as duas anotações citadas, e, para meu gáudio, remexendo meu arquivo encontrei um poema de Octavio Sarmento, publicado na revista Cá e Lá (janeiro de 1917), dedicado ao diretor da revista; aqui vai compartilhado.

  

Detalhe da capa do estudo academico

CABELOS BRANCOS

Para Heitor de Figueiredo

 

O’ moços de hoje, alegres companheiros

Dos mesmos brincos e da mesma idade.

Quão diferente a estrada que, ligeiros

Seguis agora, em viva alacridade,

 

Da que meus passos vão, entre espinheiros,

Em meio à minha funda soledade,

Em meio aos mortos risos meus, fagueiros,

A perlustrar, na extinta mocidade!...

 

Que santa mágoa, doce e pungida,

Me toma a ver-vos, pela penedia,

Vencendo a vida, em rápidos arrancos...

 

E eu não poder seguir-vos!... E entre escombros

Dos sonhos meus, sentir já, sobre os ombros,

Cair-me a neve dos cabelos brancos!


Original extraído da revista


segunda-feira, outubro 26, 2015

SERGIO LUIZ PEREIRA (1966-2015)

Sérgio Luiz Pereira
Faleceu ontem, em pleno domingo de bastante chuva, chuva que parecia lamentar a partida de nosso amigo. Serginho, como nos acostumamos a tratá-lo, saiu de cena sem alarde, sem atender ao nosso insistente apelo para que nos acompanhasse por mais anos. Não deu ou não foi possível. Morreu às vésperas de seu cinquentenário.

Funcionário da Editora Valer há quinze anos, onde servia como Revisor de talento e competência. Nesse labor, teve a oportunidade auxiliar a revolução editorial que a Valer executou em nossa cidade, assegurou o editor Tenório Telles. Assim, por sua apreciação técnica passaram inúmeros livros, tanto os clássicos reeditados quanto os livros de escritores amazonenses e de outras procedências.

Sonetista de qualidade, produziu dois livros: Cordas da liraSopros do oboé. Preparava um terceiro, já em fase de editoração, que os amigos já se comprometem em lançar logo que possível.

Bjarne Furtado
De outro modo, era vice-dirigente de uma associação litero-musical-etílica, que responde pelo dialético nome de Chá do Armando, e que se reúne toda sexta-feira, após o expediente. Ou seja, desde o começo da noite até o encerramento das lembranças e lambanças, ou que as altercações e as criações artísticas se esgotem, por parte dos presentes. Serginho era o termômetro desse pessoal, pois sabia conduzir a entidade com sorriso espontâneo e uma estimulante dose de Red. 

Três músicos desse pessoal, sob a direção do violinista Bjarne Furtado, reuniram forças para, executando o Carinhoso e outros temas de prazer do falecido, promover uma despedida repleta de soluços entre a plateia. Nessa oportunidade, o Cauã (foto), filho do falecido, achegou-se ao caixão e parecia dialogar com o pai. Que terão conversado?

No final desta tarde, os "chazistas", os amigos e os parentes o levaram para o Campo Santo. No cemitério Nossa Senhora Aparecida, popularmente do Tarumã. A partir de hoje, é naquele local que ele vai -- ao som do oboé -- nos aguardar.  
Até a eternidade, amigo Sérgio Luiz Pereira.

domingo, novembro 16, 2014

CLUBE DA MADRUGADA: 60 ANOS | 4


Logomarca do Clube da Madrugada


No próximo sábado 22, o Clube da Madrugada completa sessenta anos. A Academia de Letras encerra sua homenagem a esse movimento cultural da cidade. Outros encontros acontecem na Universidade Federal e na do Estado.
Minha lembrança vai abaixo com fotos do encontro realizado em frente ao Teatro Amazonas, na passagem do cinquentenário.

No palco, Tenorio Telles, Sergio Cardoso e Maury Marques, Afonsina     



Mauri Marques e seu conjunto Jiquitaia

Roberto Mendonça e Francisco Gomes da Silva, lendo.
 

terça-feira, setembro 25, 2012

A sucessão de Alencar e Silva



Alencar e Silva, bico de pena de J. Maciel,
em Os poetas do Amazonas
Há um ano, em 25 de setembro, morria no Rio de Janeiro, o poeta Joaquim de Alencar e Silva, integrante da Academia Amazonense de Letras. Acabara de completar 81 anos e vinha enfrentando dura luta pela saúde. A vaga aberta com sua morte foi ontem preenchida, em eleição disputada, ao menos, em número de concorrentes: quatro foram os inscritos.

Alencar e Silva, que os mais próximos chamavam de Neto, nasceu em Fonte Boa (AM), em 1930. Realizou seus estudos em Manaus, alcançando o bacharelado pela Faculdade de Direito do Amazonas.  Aos 22 anos lançou seu primeiro livro de poesia – Painéis. Outras publicações foram realizadas, como Lunamarga, 1965, e Território noturno, 1982. Postumamente, em dezembro passado, saiu Quadros da Moderna Poesia Amazonense, pela Editora Valer.
Um pouco adiante, Alencar, ao participar com efusão do movimento literário criado em 1954, tornou-se “uma testemunha privilegiada das ações que transformaram o Clube da Madrugada num marco do fazer cultural no Amazonas” (Tenório Telles). Do Madrugada dirigiu por dez anos a “página literária” deste, encartada aos domingos em O Jornal.
Quando diretor-presidente do Diário Oficial do Amazonas, permitiu que nesse periódico fosse publicada uma página literária, experiência que perdurou enquanto seu mandato foi efetivo.

Na eleição de ontem, quatro concorrentes disputaram a Cadeira 23, do saudoso Alencar e Silva. Venceu o doutor Júlio Antônio Lopes, diretor de A Crítica, com 23 votos. Os demais pela ordem de sufrágios: empresário Rita Bernardino obteve cinco; padre João Batista Mendonça, dois; e Urias Freitas, um voto.  Novamente o jornal A Crítica vê-se recompensado pelos seus elementos; a primeira vez ocorreu na escolha da jornalista Mazé Mourão.

Alencar e Silva, por questões bem mais que plausíveis, decidiu morar na bela cidade do Rio de Janeiro, onde faleceu e foi sepultado.

segunda-feira, setembro 10, 2012

LUIZ BACELLAR (1928-2012)


Aspecto do encontro entre amigos de Luiz Bacellar,
na funerária, antes da saÍda do féretro
Hoje foi o último dia do poeta Luiz Bacellar, morto ontem, aos 84 anos, entre os amigos e admiradores. Para sacar os derradeiros documentos necessários a obtenção da certidão de óbito, abrimos os expedientes em duas repartições diferentes. No cemitério São João Batista, estava o amigo Zemaria Pinto, e no 2º Cartório de registro de pessoa física, instalado no bairro de Aparecida, fui eu em busca do comprovante de nascimento do falecido.

O passo seguinte foi realizado na Fundação Dr. Thomas, onde obtivemos o comprovante de residência. Reunidos esses documentos, fomos em direção ao 11º Cartório de registro, funcionando na av. Grande Otelo, no Parque Dez. Ali, enfim, tiramos a certidão de óbito do morto. Estava apto para ingressar na eternidade.

Aqui, um parêntese para lamentar as instalações deste cartório. Começa que não possui espaço para estacionamento, melhor deixar o carro mais adiante próximo à igreja católica mais adiante. No interior do cubículo, de cerca de 3x3, havia apenas um atendente, que atendia. Sobravam três cadeiras, que foram ocupadas pela nossa comitiva. Logo chegaram quatro mulheres e uma criança, e não tinham onde sentar. Iluminação fraca, que não colaborava com o escrevente. Aliás, de um modo geral, os cartórios precisam ser visitados pelos dirigentes dos consumidores.
Jornal A Crítica, edição de hoje
Os periódicos não dispensaram encômios ao poeta-morto. O autor de Frauta de Barro estava elegante em todas as páginas. Mas, duas questões destoaram: a nota assinada pelo jornalista-acadêmico Aldisio Filgueiras, estampada no Em Tempo, que causou “estranheza” aos dirigentes maiores da Academia de Letras.

A outra foi a grafia com que A Crítica enfatizou o sobrenome do falecido – BARCELLAR, que, para o próprio, era uma forma  degradante de tratá-lo. Para esse desastre, certamente o mesmo passaria discretamente seu cartão de visitas, repleto de escárnio (veja ilustração).
De volta ao falecido na funerária Almir Neves. Cumpria-se sua vontade expressa em documento hábil, assim, o acadêmico Luiz Bacellar deixou de ser reverenciado na Academia Amazonense de Letras, como de praxe. Tudo então acertado, o enterro aconteceria a partir das 15h30, apesar dos matutinos terem exposto o horário matinal (10h30), previamente estabelecido.

Uma hora antes da saída do féretro, os amigos reuniram-se em volta do falecido para as despedidas finais, ao ritmo da poesia e ao compasso da música. Este conclave foi regido pelo acadêmico Tenório Telles, e cercado de emoção. Versos do poeta morto e de outros poetas preencheram o encontro. A oração final coube ao poeta Thiago de Mello.

Abaixo, estão duas manifestações: a de Benayas Pereira e de Almir Diniz, dois poetas, dois admiradores do autor de Sol de Feira.
Um tchau ao poeta
Benayas Pereira
Eu acho que o poeta jamais deveria partir.
Um poeta, que acredito ser o americano Ezra Pound, dizia que "enquanto os mortais bebem vinho, os poetas bebem almas". Ezra sabia distinguir como ninguém a diferença entre os mortais dos poetas. Os mortais, dos quais faço parte, são pessoas broncas e laicas. Algumas eventualmente leem algo relacionado com poesias ou coisas pertinentes.
O poeta, não! O poeta passa sua vida elaborando, criando, passando noites em claro, em busca de uma só palavra que defina exatamente o que 'quer dizer. É sem dúvida, um esteta, um perfeccionista. Passados alguns anos, com uma idade madura e, após ter embebido o povo de poesias e alimentado sua alma, vem um deus e o leva para sempre.
Eu acho que o poeta jamais deveria partir.
Meu consolo de simples mortal é que o poeta parte, porém, deixa tudo o que criou para nós, mortais, broncos e leigos, no sentido de um dia quem sabe, um de nós tenha a ideia de pegar algum fragmento poético para nos embriagar de ternura. Este porre seria aquele vinho do qual Ezra se referiu.
Quintana disse uma vez que "com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram; ficamos sozinhos um pelos outros". É uma verdade crua. Com as idas desses poetas – alguns muitos jovens – o mundo vai ficando carente das coisas essenciais da vida e, entre elas, a poesia.
Vi muitos poetas partirem. Percebo que gradualmente a poesia se enfraquece. A renovação é parca. Breve não teremos mais um único soneto. Triste realidade de quem ainda sonha. O que será do mundo? É multo difícil ter de aceitar que um dia todos eles atravessarão o rio das águas cristalinas. E esse rio é Implacável. Por ele todos hão de percorrer sejam poetas ou simples mortais.
Eu não concordo: acho que este rio feroz e pungente deveria carregar somente os mortais. Os poetas não!
Por que... Eu acho que os poetas não deveriam partir.
*  *   *
EMPECILHO
Para Luiz Bacellar
Havia, claro, empecilho
bem na curva do caminho
entre o “café” e a vontade,
entre o "Quarteto" e o carinho,
bordando a manhã de brilho
com as luzes da amizade.
E havia a distância, enfim,
distância para vencer...
Sem asas, plumas e arminho
,
como hei de proceder?
Mas há o espírito endeusado
que voa e nunca se o vê.
Então, sendo um andarilho,
montei meu corcel alado
que existe dentro de mim:
pulei etéreo cercado,
transpus o
espaço sem fim.  
E na hora do "café
da manhã" – pode me crer –
estive bem do seu lado
só para aplaudir você! 
Almir Diniz - Campinas (SP) 4 set. 2005 

Já no cemitério de São João Batista, na Quadra 9, depois do minuto de silêncio, Luiz Franco de Sá Bacellar foi sepultado. A tarde, tornando-se aprazível, fez-se mais uma vez amiga do poeta para que os amigos levassem algum tempo em conversas antes de se afastar do cemitério.  

RIP (requiescat in pace) amigo-poeta Luiz Bacellar.