Capa do livro |
Folheando a pequena obra, revi o soneto Falando a meu coveiro, que nos remete ao caos que o cemitério de Manaus enfrenta devido
a quantidade de mortos pela Covid-19. Se não há tempo para despedida cristã,
quanto mais para orientar o coveiro.
Falando a meu coveiro
É aqui neste lugar, ao pé deste cipreste,
junto a este mausoléu. Pega uma enxada, cava
sete palmos de chão! Anda depressa, grava
no teu semblante mudo o riso que escondeste!
Abre o meu leito eterno... O meu lugar é este!
Quero nele abafar minha paixão escrava
Quero enterrar-me logo... a vida já me agrava...
Depressa! a minha dor de dores se reveste!
Alarga-a mais um pouco, afasta mais a areia!
Eia, assim como está, torna-se muito feia,
profunda-a mais...trabalha! Este dinheiro é teu!
Que é isso? Um crânio aí? Dá-m'o, quero beijá-lo.
Limpa-lhe bem o pó! Dá cá, quero estudá-lo
Como alguém algum dia há de estudar o meu!
(“Vereda Iluminada".
Manaus-AM, 1932)
Hemetério Cabrinha realmente teve uma trajetória fascinante: foi escritor, carpinteiro, espírita e militante das causas sociais.
ResponderExcluirRecentemente escrevi um artiguinho sobre ele e outros migrantes nordestinos.
Caso alguém se interesse: https://www.academia.edu/resource/work/73833782