Estava ultimando meu livro Bombeiros do Amazonas:
retrospectiva 1876-1998 (Manaus: Valer, 2010) quando fui entrevistado para
o jornal Em Tempo, pelo jornalista Evaldo Ferreira, cuja temática era – os
naufrágios ocorridos no Amazonas. A entrevista aqui compartilhada foi divulgada
na edição de domingo,19 de abril de 2009.
Corte da página com a entrevista (EM TEMPO, 19 abr. 2009) |
Onde pesquisou para saber mais sobre o Corpo de Bombeiros do
Amazonas? ROBERTO MENDONÇA
- Parti da documentação produzida pela corporação enquanto subordinada à
Polícia Militar. Depois, passei e repassei o Diário Oficial, rica fonte de
nossa história. Li os jornais locais, consultei o arquivo central dos Bombeiros
do Rio de Janeiro, enfim, até entrevistei os antigos comandantes. E ainda
conversei e tomei apontamentos sobre os Bombeiros Voluntários.
Que descobriu sobre a atuação dessa corporação nos naufrágios de
embarcações? RM
- Esta importante atividade veio ocorrer há pouco mais de três décadas, desde
quando os Bombeiros passaram à responsabilidade do governo do Estado, mais
precisamente, em 1973. A partir deste momento foi possível comprar o primeiro
equipamento de mergulho e, assim, dar início à atividade.
Quantos naufrágios conseguiu listar em seu livro? RM - Apenas três, mas não os relatei
no livro. Apenas fiz fotos dos noticiosos da época, e, com elas, uma exposição
no quartel dos Bombeiros.
Das pesquisas que fez, qual naufrágio lhe chamou mais a atenção? RM - Apesar do absurdo, trata-se do
afundamento do ônibus da Soltur, nas águas do rio Urubu, em 1976. A morte de
quase todos os passageiros enlutou a cidade de Itacoatiara, para onde se
dirigia o ônibus. Era madrugada e devo lembrar que a travessia do rio ainda era
feita por balsa. As pontes estavam em projeto. O ônibus parou dentro d'água.
Era véspera das eleições, por isso, a dor da cidade se ampliou ainda mais. Os Bombeiros
já possuíam equipamento de mergulho e estiveram presentes para cumprir o doloroso
trabalho de recolher os mortos.
Roberto Mendonça |
Há poucas décadas, o Corpo de Bombeiros tinha dificuldades até
para apagar incêndios por falta de equipamentos. Então, o que faziam quando
ocorria algum naufrágio?
RM - Os problemas resultantes de um naufrágio cabiam à Capitania dos Portos, que
se deslocava para o local. Ouviam os sobreviventes e contava-se nos jornais. A
FAB, se possível, conduzia os feridos para Manaus. Prometia-se um rigoroso
inquérito e nova tragédia voltava a acontecer tempos depois. Ocorre que o
número de barcos era bem menor, portanto, o índice de acidentes também era
proporcional.
Atualmente, os Bombeiros possuem um pelotão fluvial. Quando esteve
sob seu comando, a corporação já possuía equipe para atuar em naufrágios? RM - Não necessariamente em naufrágios,
mas os bombeiros já possuíam alguns mergulhadores. Elementos que aprenderam na
prática, mas demonstravam uma disposição sobre-humana para enfrentar os rios.
Afinal, não há beleza nos mergulhos em nossos rios como se observa nos mares. A
escuridão intimida, desnorteia. Eu mesmo senti a realidade, quando bombeiro, e
tenho relatos surpreendentes de resgates produzidos pelos Bombeiros.
A partir de quando os Bombeiros passaram a atuar mais diretamente
nas ocorrências de naufrágios? RM - Cada vez mais os bombeiros vão se equipando, adquirindo equipamentos
e instruindo seus elementos. Mas, a quantidade de barcos regionais cresce e, em
consequência, aumenta o número de acidentes. Certamente os mais graves, os que
envolvem mortos, despertam mais atenção, mas os mergulhadores dos bombeiros
atuam até no afundamento de uma canoa, desde que haja pessoas desaparecidas.
É verdade que, na sua época de comandante, os Bombeiros
mergulhadores iam para uma operação, como se diz, “só com a cara e a coragem”? RM - No primeiro instante nem iam.
Depois, sim, o velho adágio se aplica com propriedade. Ocorre que o pessoal
também levava um dote muito próprio dos bombeiros: a sorte. A fortuna ajuda esse
pessoal. Pessoalmente assisti a um fato desta natureza, quando o cabo Severiano,
mergulhador, às apalpadelas, no escuro e na lama, encontrou no lago do
Puraquequara um motor de popa, que havia caído de um barco do Exército.
Juntando o ex-comandante, sabedor dos fatos, e o historiador,
conhecedor da história, diria que os naufrágios com várias vítimas fatais
continuarão ainda a acontecer por muito tempo? RM - Certamente. Se não conseguimos
evitar os desastres automobilísticos, onde as variáveis condutor-rodovias-fiscalização,
entre outras, estão disciplinadas, como cuidar de tantos barcos, em tantas
"avenidas e ruas" fluviais do Amazonas?
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