Costuma-se usar o eufemismo "desaparecer" para indicar a morte de alguém, porém, quando escrevo isso sobre o padre Luiz Augusto de Lima Ruas, de fato, ele desapareceu.
Há algum tempo nada se publica sobre ele. De minha parte, cansei da peleja de anunciar os feitos do amigo, obrigado a tanto pela guarda de vasto material por ele produzido em jornais. L. Ruas (1931-2000) |
Sobre o reverendo, que a comunidade literária conhecia por L. Ruas, publiquei ligeira biografia (2004) e, com o acervo retido, organizei quatro livros. E anuncio a existência do próximo, vencido o coronavírus.
Hoje se completa o vigésimo ano da morte do autor de Aparição do Clown (1958), ocorrida em sua residência na avenida Joaquim Nabuco, depois amargar por longo período as sequelas de um AVC.
Seu nome crisma uma Escala Estadual no bairro do Zumbi, mas não creio que a direção saiba desse fato. Que, apesar de ser "dia da mentira", se trata de uma triste verdade.
Compartilho o texto do finado poeta Jorge Tufic, sobre o amigo de tantos encontros, publicado em Intérpretes de Aparição do Clown (2010).
Esse ponto longínquo de nossa vida, o janeiro de 1959, se
constitui num dos mais altos da literatura amazonense, em particular do
movimento Madrugada. L. Ruas, tal como assinava os seus livros, artigos e
crônicas, surpreende a todos com este seu longo poema, ao mesmo tempo estranho
e revolucionário, mas no fundo mesmo uma projeção corajosa da personalidade do
autor.
O clown de Ruas é o ator ou o dançarino do universo que ele
consegue libertar das amarras sociais e dos preconceitos irremovíveis, um corpo
astral de silêncios e coisas que se transformam, ao menor toque de um bastão
luminoso. Basta dizer que até hoje ninguém soube interpretá-lo, seja como
texto, seja como fosse a partitura volátil de uma confissão transbordante,
plena de movimentos em busca de uma unidade de sons e palavras, afinal
conquistada.
Terá sido difícil a esse religioso evitar uma prática antiga
daqueles que, embora poetas, se devotam a Deus ou a Krishna, e acabam por
esquecer que à poesia não cabe o papel de servir, mas de ser servida. Pois eu
considero o Aparição do clown uma batalha entre a cruz, como dever a
Deus, e a liberdade, como dever à Deus e à poesia. Uma forma terrena e divina
de conciliação dos extremos, mas onde, graças à poesia, os extremos também
desaparecem, enquanto libertam.
Jorge Tufic (1930-2018) |
Meu testemunho sobre L. Ruas abrange esse largo período de nossa
existência, que vai da fundação do Clube da Madrugada, em novembro de 1954;
atravessa os anos selvagens da ditadura militar; sangra nos tempos em que o
poeta esteve longe de nosso convívio; termina com o seu falecimento e a minha
transferência domiciliar de Manaus para Fortaleza.
Foram memoráveis os nossos encontros de final de semana!
Memoráveis os seus discursos ao pé do mulateiro, na Praça da Polícia Militar!
Memoráveis as missas que celebrava!
E os porres, também, com muita
dignidade!
Olá. Minha turma de ensino médio irá apresentar um trabalho sobre L. Ruas. Gostaríamos de saber um pouco mais sobre a biografia dele.
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