CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, junho 16, 2019

ABILIO ALENCAR

Neper Alencar

Esta postagem vai em memória do saudoso coronel PM Neper da Silveira Alencar, patrono da Academia de Polícia Militar, e em lembrança de seu natalício (101 anos) completado dia 7 último. 

A publicação registra alguns dados do genitor deste oficial, Abílio Alencar que, oriundo do Piauí, foi emérito Professor em nossa cidade. 
Outro competente mestre é o autor – João Crisóstomo de Oliveira, e a publicação circulou em O Jornal, 6 de março de 1953, por ocasião da morte do homenageado.


Recorte do mencionado periódico





João Crisóstomo de Oliveira

Na quase puerícia de seus 14 anos, chega Abílio de Barros Alencar com seus pais e irmãos procedente do Piauí, de onde era filho, para a outrora Terra da Promissão como era considerado o Amazonas malfadado de hoje.
Filho de Benedito de Barros Alencar e de D. Rosalina Feitosa de Alencar, ambos naturais do Ceará, Abílio Alencar desde aquela pouca idade radicou-se no Amazonas de tal modo que se considerou natural desta Terra como se os seus olhos se houvessem aberto, pela vez primeira, para o sol planiciário e para a grandeza do Rio Mar. (...)

Matriculando-se na antiga Escola Normal, vencendo todas as dificuldades, vai forjando o seu espírito sedento de saber em prélios intelectivos ao lado das brilhantes inteligências de Alice Brito Inglez, Isabel Freitas, Tristão de Sales e outros colegas e recebendo as lições dos grandes mestres da época como Sidou, Berredo, maestro Franco e outros.
Recebe o honroso diploma de professor normalista em 1908. Em 1913, conquista o título de engenheiro pela Universidade do Manaus. Nascem destes dois proveitosos cursos as suas grandes paixões: o magistério e a matemática.
Consagra-se o magistério de tal forma que desde a juventude só esta inclinação sublime polariza sua vida: conduzir, orientar, ensinar, sobretudo a ciência dos números.
Moço ainda, projeta o seu nome como um legítimo matemático. Faz concurso brilhante de aritmética para a antiga Escola Modelo, anexa à velha Escola Normal, para onde mais tarde é promovido.
Em 1927, bacharela-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de então. (...)

Como professor, tornou-se um matemático respeitado não só no Estado, mas no país inteiro e em terras de além-mar, colaborando nas mais conceituadas revistas do gênero destacadamente na Revista Brasileira de Matemática e no Almanaque Bertrand, editado em Portugal, aos quais emprestava o brilho de sua pena de verdadeiro criador no campo da ciência dos números.
Como engenheiro, realiza notáveis e importantes trabalhos de agrimensura e perícias delicadas e difíceis, em que vence galhardamente.
Como advogado, colaborou modestamente com certo causídico de renome do nosso fórum, dele recebendo os mais exaltadores encômios que não o envaidecem e não o empolgam de modo a fazê-lo abraçar decisivamente a carreira, pois a sua paixão resume-se em uma só: o magistério. Unindo o seu destino, pelo laço do matrimônio, com D. Judith Pinheiro da Silveira, Abílio Alencar encontra nessa companheira lutadora e perseverante um grande estímulo para batalhar e vencer.

Funda a antiga Escola Rui Barbosa, leciona em a Universidade, no colégio N. S. Auxiliadora, na antiga Escola Municipal de Comércio, atual Sólon de Lucena, onde fez posteriormente brilhante concurso perante o interventor Nelson de Melo, sendo homenageado como mestre competente que dispensou a arguição. Dirigindo mais tarde a referida Escola, batalha, com perseverança e denodo pela conquista da federalização do Estabelecimento, vitória que conseguiu para a alegria e conforto de quantos estudavam, à época, naquela casa de ensino comercial.
Na antiga Escola Normal, tornou-se o mestre de Matemática competentíssimo e rigoroso no julgamento de seus discípulos de modo que todos o olhavam com um misto de temor e estima, embora mais tarde se tornasse o mestre indulgente que todos nós conhecemos.
Dirigiu a antiga Diretoria de Instrução Pública, na ausência do titular efetivo, Dr. Beltrão e, no governo Leopoldo Neves, já aposentado, voltou a dirigir o atual Departamento de Educação e Cultural, época em que tivemos ocasião de colaborar com o mestre amigo, que sempre pautou a sua administração pela manutenção de uma liberalidade e demonstração de estima e compreensão para com todos. Sempre se nos demonstrava constrangido quando não podia atender a parte que o procurava, a quem tratava como uma criatura estimada da família. E assim não foi compreendido por seus pares e correligionários, afastando-se daquela repartição bastante desgostoso sem, no entanto, nunca dar demonstração de rancor ou animosidade a quem quer que seja.
Como chefe de família, tinha tal afetividade aos seus que era capaz dos maiores sacrifícios para que ninguém sofresse a menor privação, chegando ao ponto de, na época de maior atribulação de sua vida, quando a Carta de 37 lhe cortar a cátedra do Sólon de Lucena, deixando- o em situação quase desesperadora, seguir para o Rio de Janeiro enfrentando todos os obstáculos para dar assistência ao seu querido filho enfermo Euler, inteligência privilegiada, o seu grande sonho, o seu grande ideal que ele desejava ver concretizado com o ingresso de Euler na carreira diplomática, sonho que é dilacerado com a morte prematura do jovem, o que o deixa profundamente abalado. 
No Rio, leciona Desenho no colégio Pritaneu, de Antóvila Vieira [depois deputado federal pelo Amazonas] para manter-se e sustentar os seus naquela angustiosa situação.
Ainda no desejo de amparar os seus, funda com sua filha Léa Antony o antigo Colégio “Gustavo Capanema”, atual Instituto com o mesmo nome que permanece sob a direção da dinâmica professora.

Lecionou Matemática no antigo Ginásio Amazonense e constituiu-se o verdadeiro oráculo da juventude, no ensino particular daquela ciência.
Temos aí traços ligeiros da vida exuberante de Abílio de Barros Alencar que a morte nos arrebatou a 25 de fevereiro, deixando todo campo educacional do Amazonas enlutado, deixando principalmente o casarão do Instituto de Educação, onde ele pontificou por muitos anos, debaixo da pesada atmosfera da saudade, debaixo da angustiosa impressão do seu desaparecimento irreparável.
Solidarizando-nos sinceramente com a justa dor da família Abílio Alencar, apresentamos-lhe as nossas condolências de amigo, com estas palavras consoladoras: Abílio Alencar desapareceu no corpo, mas seu nome impoluto e a sua obra exuberante já o perenizaram na memória e no tributo de gratidão de seus discípulos de escola e do exemplo honroso. MANAUS, 28-2-53 

Um comentário:

  1. Gre homem foi meu pai adotivo
    Uma pessoa que amava a todos
    Grde Mestre .saudades,e tristeza ao mesmo tempo , jamais o esquecerei

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