Esta postagem vai em memória do saudoso coronel PM Neper da Silveira Alencar, patrono da Academia de Polícia Militar, e em lembrança de seu natalício (101 anos) completado dia 7 último.
A publicação registra alguns dados do genitor deste oficial, Abílio Alencar que, oriundo do Piauí, foi emérito Professor em nossa cidade.Outro competente mestre é o autor – João Crisóstomo de Oliveira, e a publicação circulou em O Jornal, 6 de março de 1953, por ocasião da morte do homenageado.
Recorte do mencionado periódico |
João
Crisóstomo de Oliveira
Na quase
puerícia de seus 14 anos, chega Abílio de Barros Alencar com seus pais e irmãos
procedente do Piauí, de onde era filho, para a outrora Terra da Promissão como
era considerado o Amazonas malfadado de hoje.
Filho de
Benedito de Barros Alencar e de D. Rosalina Feitosa de Alencar, ambos naturais
do Ceará, Abílio Alencar desde aquela pouca idade radicou-se no Amazonas de tal
modo que se considerou natural desta Terra como se os seus olhos se houvessem
aberto, pela vez primeira, para o sol planiciário e para a grandeza do Rio Mar. (...)
Matriculando-se
na antiga Escola Normal, vencendo todas as dificuldades, vai forjando o seu
espírito sedento de saber em prélios intelectivos ao lado das brilhantes inteligências
de Alice Brito Inglez, Isabel Freitas, Tristão de Sales e outros colegas e
recebendo as lições dos grandes mestres da época como Sidou, Berredo, maestro
Franco e outros.
Recebe o
honroso diploma de professor normalista em 1908. Em 1913, conquista o título de
engenheiro pela Universidade do Manaus. Nascem destes dois proveitosos cursos
as suas grandes paixões: o magistério e a matemática.
Consagra-se o
magistério de tal forma que desde a juventude só esta inclinação sublime
polariza sua vida: conduzir, orientar, ensinar, sobretudo a ciência dos
números.
Moço ainda,
projeta o seu nome como um legítimo matemático. Faz concurso brilhante de aritmética
para a antiga Escola Modelo, anexa à velha Escola Normal, para onde mais tarde é
promovido.
Em 1927,
bacharela-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de então. (...)
Como professor,
tornou-se um matemático respeitado não só no Estado, mas no país inteiro e em
terras de além-mar, colaborando nas mais conceituadas revistas do gênero
destacadamente na Revista Brasileira de Matemática e no Almanaque Bertrand,
editado em Portugal, aos quais emprestava o brilho de sua pena de verdadeiro criador
no campo da ciência dos números.
Como
engenheiro, realiza notáveis e importantes trabalhos de agrimensura e perícias delicadas
e difíceis, em que vence galhardamente.
Como advogado,
colaborou modestamente com certo causídico de renome do nosso fórum, dele
recebendo os mais exaltadores encômios que não o envaidecem e não o empolgam de
modo a fazê-lo abraçar decisivamente a carreira, pois a sua paixão resume-se em
uma só: o magistério. Unindo o seu destino, pelo laço do matrimônio, com D. Judith
Pinheiro da Silveira, Abílio Alencar encontra nessa companheira lutadora e
perseverante um grande estímulo para batalhar e vencer.
Funda a antiga
Escola Rui Barbosa, leciona em a Universidade, no colégio N. S. Auxiliadora, na
antiga Escola Municipal de Comércio, atual Sólon de Lucena, onde fez posteriormente
brilhante concurso perante o interventor Nelson de Melo, sendo homenageado como
mestre competente que dispensou a arguição. Dirigindo mais tarde a referida
Escola, batalha, com perseverança e denodo pela conquista da federalização do
Estabelecimento, vitória que conseguiu para a alegria e conforto de quantos
estudavam, à época, naquela casa de ensino comercial.
Na antiga
Escola Normal, tornou-se o mestre de Matemática competentíssimo e rigoroso no
julgamento de seus discípulos de modo que todos o olhavam com um misto de temor
e estima, embora mais tarde se tornasse o mestre indulgente que todos nós
conhecemos.
Dirigiu a
antiga Diretoria de Instrução Pública, na ausência do titular efetivo, Dr.
Beltrão e, no governo Leopoldo Neves, já aposentado, voltou a dirigir o atual
Departamento de Educação e Cultural, época em que tivemos ocasião de colaborar
com o mestre amigo, que sempre pautou a sua administração pela manutenção de
uma liberalidade e demonstração de estima e compreensão para com todos. Sempre
se nos demonstrava constrangido quando não podia atender a parte que o
procurava, a quem tratava como uma criatura estimada da família. E assim não
foi compreendido por seus pares e correligionários, afastando-se daquela
repartição bastante desgostoso sem, no entanto, nunca dar demonstração de
rancor ou animosidade a quem quer que seja.
Como chefe de
família, tinha tal afetividade aos seus que era capaz dos maiores sacrifícios
para que ninguém sofresse a menor privação, chegando ao ponto de, na época de
maior atribulação de sua vida, quando a Carta de 37 lhe cortar a cátedra do Sólon
de Lucena, deixando- o em situação quase desesperadora, seguir para o Rio de
Janeiro enfrentando todos os obstáculos para dar assistência ao seu querido
filho enfermo Euler, inteligência privilegiada, o seu grande sonho, o seu
grande ideal que ele desejava ver concretizado com o ingresso de Euler na
carreira diplomática, sonho que é dilacerado com a morte prematura do jovem, o
que o deixa profundamente abalado.
No Rio, leciona Desenho no colégio Pritaneu,
de Antóvila Vieira [depois deputado federal pelo Amazonas] para
manter-se e sustentar os seus naquela angustiosa situação.
Ainda no
desejo de amparar os seus, funda com sua filha Léa Antony o antigo Colégio “Gustavo
Capanema”, atual Instituto com o mesmo nome que permanece sob a direção da
dinâmica professora.
Lecionou
Matemática no antigo Ginásio Amazonense e constituiu-se o verdadeiro oráculo da
juventude, no ensino particular daquela ciência.
Temos aí
traços ligeiros da vida exuberante de Abílio de Barros Alencar que a morte nos
arrebatou a 25 de fevereiro, deixando todo campo educacional do Amazonas
enlutado, deixando principalmente o casarão do Instituto de Educação, onde ele
pontificou por muitos anos, debaixo da pesada atmosfera da saudade, debaixo da
angustiosa impressão do seu desaparecimento irreparável.
Solidarizando-nos sinceramente com a justa dor
da família Abílio Alencar, apresentamos-lhe as nossas condolências de amigo,
com estas palavras consoladoras: Abílio Alencar desapareceu no corpo, mas seu
nome impoluto e a sua obra exuberante já o perenizaram na memória e no tributo
de gratidão de seus discípulos de escola e do exemplo honroso. MANAUS, 28-2-53
Gre homem foi meu pai adotivo
ResponderExcluirUma pessoa que amava a todos
Grde Mestre .saudades,e tristeza ao mesmo tempo , jamais o esquecerei