CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, junho 22, 2019

350 ANOS DE MANAUS


Este ano a cidade de Manaus comemora seus 350 anos, 

contados desde a instalação do fortim no Lugar da Barra em 1669. No entanto, esta comemoração veio a se estabilizar em 1969, quando o prefeito Paulo Nery promoveu a celebração do Tricentenário.
A data é controversa: pouco se sabe da construção do forte, tanto que a data é um arranjo cronológico, ou seja, a junção de 24 de outubro de 1848 com o ano de 1669.
Já postei aqui um longo discurso do então deputado Paulo Nery, saudando o centenário de Manaus em 24 de outubro de 1948, que correspondia à lei que elevou a vila à cidade de Manaus.
Do mesmo periódico comemorativo (O Jornal), compartilho outro texto, cujo autor compartilhou grande parte da História do Amazonas, de Bertino de Miranda. 

O Jornal, 24 outubro 1948
 Estão sendo celebradas nesta capital as festas e solenidades comemorativas do primeiro centenário da fundação da cidade de Manaus. Em cada peito do povo de Ajuricaba, o valente guerreiro índio que preferiu a morte à escravidão, lançando-se n’água, acorrentado, quando lhe levavam numa canoa para bordo de um navio português, que o transportaria para Lisboa, onde certamente iria acabar os seus dias de vida entre as grossas paredes de um cárcere, palpita e freme, no culto que nesta hora a cidade engalanada rende à memória do seu grande antepassado, o amor da Pátria através da grandiosidade das lendas, dos mistérios da selva, da impetuosidade da corrente que a solapa os barrancos para se construir melhor e da realidade maravilhosa do vale que representa um mundo cheio de promessas dadivosas.A cidade de Manaus tem a sua história bastante movimentada e interessante, não sendo, por isso, fastidioso que nesta oportunidade transcrevamos fragmentos do que nos diz a respeito Bertino Miranda:
“Em 1833, a Regência manda executar em todo o Império o Código do Processo. É um dos muitos meios de que se utiliza para ver se consegue acalmar os ânimos, harmonizando um pouco os múltiplos interesses políticos que ameaçam subverter o país. A Manaus cabe um quinhão ótimo; vê-se livre da sujeição de Serpa, como já se havia visto, em 1828, da de Barcelos. Toca-lhe ser cabeça de um Termo! Este lhe dá direito de possuir uma Câmara Municipal própria. Enfim, se realiza um de seus sonhos doirados!”

“Os novos limites incluem Serpa; isto causa certo orgulho aos manauenses vendo seus antigos dominadores sujeitos, agora, a seu auto. Sobem igualmente pelo curso inferior do Solimões até Castro de Avelãs e abrangem o Purus, ainda inculto e quase sem moradores. Luzéa (Maués) é outro Termo; surge, em vez de Serpa, e como outrora Barcelos, a rivalizar, na bacia do estuário, com o antigo e microscópico Lugar da Barra do século XVIII. Luzéa absorve Silves na preponderância do Baixo Amazonas e do Madeira. Barcelos é o terceiro Termo, e o quarto Ega (Tefé), com limites no Alto Solimões e Japurá. A influência de Manaus se alastra rapidamente. Ocupa logo a primeira plana. Todas as ordens que se expedem de Belém escalam primeiro por aí. A Câmara é que as envia aos outros Termos. Nas diversas crises da Cabanagem, Óbidos e Santarém, dois centros da Legalidade, procuraram de preferência a sua aliança e estimaram em grande apreço o seu apoio.” (...) 

Morto Batista Campos, seus partidários procuram se aproximar de Felix Malcher. É a única influência que pode assumir a chefia do partido. Seu engenho no Acará torna-se logo um foco de exaltados que precipitam as coisas. Com o primeiro encontro sangrento perdem as ramificações da capital. Estas, segundo conjectura Rayol, eram João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, o futuro fundador da província, o cientista Corrêa de Lacerda, Marcos Rodrigues Martins, o barão de Jaguararí e outros. Representavam por si e pelos seus amigos elementos poderosos. Todos eles se haviam tornado beneméritos nas lutas da Independência.
Entrementes, Manaus se apercebe do que se passa lá com rapidez vertiginosa, a onda rubra. Desde a Aclamação abortada de 1832 seus habitantes vivem alarmados com as Expedições Militares.

 Tem lugar a Cabanagem. Maparajuba é um dos seus chefes mais prestigiosos e Bernardo de Sena o seu lugar-tenente.
“Seis meses esteve Manaus sob o jugo dos Cabanos. Sena mete-se em todos os assuntos e afeta um escrúpulo excessivo pelos dinheiros públicos. Parece que não é crime fazer-lhe essa justiça. Naturalmente, sua vontade não encontra obstáculo. Todos deviam querer adivinhar os seus pensamentos e aplaudir com entusiasmo os seus discursos”.

 Bernardo de Sena foi, depois de sua forte atuação na cabanagem, assassinado e Freire Taqueirinha assumiu o Comando Militar. Gregório Naziazeno restabeleceu a legalidades na madrugada de 31 de agosto de 1836, quando os patriotas e os guardas nacionais puderam apoderar-se do Quartel, sem derramamento de sangue. Encerrando-se hoje as comemorações desse centenário, que funde, Manaus — a linda cidade que é uma revelação do espírito brasileiro vencendo a selva imensa — numa só alma a exaltar o Brasil, queremos trazer nestas palavras nossa saudação muito comovida ao berço querido de muitos dos entes que nos são mais caros — esposa e filhos.

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