Em outubro próximo, o Clube Filatélico do Amazonas (CFA) completa 50 anos.
Marinho, Jornal do Commercio, 1971 |
Nesta semana, no
entanto, perdeu um membro expressivo de seu elenco: Joaquim Marinho, possuidor
de uma supina coleção de selos. E de tantas outras inusitadas peças.
Marinho desaparece
(morto domingo,2) quando a Filatelia atravessa um momento extremamente sensível,
basta se observar o desmonte que se processa na estrutura dos Correios, acossado
pelo avanço tecnológico. Já não se escrevem cartas ou telegramas; não se envia
cartão postal ou cartão natalino; portanto, os selos e outros materiais afins começam
a ser dispensados. Desse modo, a filatelia deve se transformar em peça de museu,
perdendo entre outras regalias seu valor monetário.
O chefe do
Poder Executivo nacional já sinalizou para o encerramento do Correio estatal. Pode-se
cogitar que o novo proprietário, o poder privado, conceba uma maneira de
soerguer o colecionismo dos selos postais.
Carta circulada |
No início dos
anos 1980 tornei-me um filatelista, frequentado as reuniões clubistas na sede
dos Correios, então situada na rua Marechal Deodoro com a Teodoreto Souto, cujo
prédio ainda pode contar sobre a fundação do CFA. Lembrando que este imóvel sofreu
violento incêndio em março de 1982, todavia, foi devidamente recuperado.
Nessa ocasião,
encontrei o Joaquim Marinho, que disputava com o falecido presidente do CFA, Nelson
Porto, a honra do pódio da filatelia amazonense. Cada qual possuía uma invejável
coleção. Os neófitos ficavam encantados com a descrição das peças; a visão das
cartas recebidas; com os catálogos de selos e de leilões. Do Marinho, curti
bastante o livro que ele produziu contando sobre o selo,
exemplar único, emitido por Luís Gálvez R. de Arias (1864-1935) na proclamação da República do Acre em 1899, mais
conhecido por “imperador do Acre”. Outras raridades também foram mostradas em
livro.
Cartão Postal, igreja N Senhor do Bonfim - Salvador BA |
Ao lado dessa
atividade, vieram os cinemas no centro, homenageando artistas do cinema nacional
e, obviamente, globais. Eram salas pequenas, seguindo a tendência da época,
agora dispondo de melhor refrigeração e de recursos de imagem e áudio. Como vieram,
se foram. Dessa feita, contaminados pelos cinemas de shopping.
Marinho,
então, cuidou da radiofonia, atuando na rádio do grupo TV Amazonas. Recordo que
o programa rolava na manhã de domingo, e para alcançar o estúdio havia a necessidade
de vencer uma escada em espiral. Diante dos microfones, Marinho se impunha com
aquele vozeirão e muita informação. Em vários domingos estive com ele, ocasião
em que recordava o trabalho literário do padre-poeta L. Ruas e deixava livros deste
para o sorteio com seus ouvintes.
Os males da
idade foram ganhando corpo, dominando o corpanzil do eminente empreendedor, aquele
que não observava o momento para vazar seu comentário crítico mordaz.
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