CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, junho 06, 2019

J. MARINHO, O COLECIONADOR


Em outubro próximo, o Clube Filatélico do Amazonas (CFA) completa 50 anos.

Marinho, Jornal do Commercio, 1971
Nesta semana, no entanto, perdeu um membro expressivo de seu elenco: Joaquim Marinho, possuidor de uma supina coleção de selos. E de tantas outras inusitadas peças.
Marinho desaparece (morto domingo,2) quando a Filatelia atravessa um momento extremamente sensível, basta se observar o desmonte que se processa na estrutura dos Correios, acossado pelo avanço tecnológico. Já não se escrevem cartas ou telegramas; não se envia cartão postal ou cartão natalino; portanto, os selos e outros materiais afins começam a ser dispensados. Desse modo, a filatelia deve se transformar em peça de museu, perdendo entre outras regalias seu valor monetário.

O chefe do Poder Executivo nacional já sinalizou para o encerramento do Correio estatal. Pode-se cogitar que o novo proprietário, o poder privado, conceba uma maneira de soerguer o colecionismo dos selos postais.
Carta circulada 

No início dos anos 1980 tornei-me um filatelista, frequentado as reuniões clubistas na sede dos Correios, então situada na rua Marechal Deodoro com a Teodoreto Souto, cujo prédio ainda pode contar sobre a fundação do CFA. Lembrando que este imóvel sofreu violento incêndio em março de 1982, todavia, foi devidamente recuperado.

Nessa ocasião, encontrei o Joaquim Marinho, que disputava com o falecido presidente do CFA, Nelson Porto, a honra do pódio da filatelia amazonense. Cada qual possuía uma invejável coleção. Os neófitos ficavam encantados com a descrição das peças; a visão das cartas recebidas; com os catálogos de selos e de leilões. Do Marinho, curti bastante o livro que ele produziu contando sobre o selo, exemplar único, emitido por Luís Gálvez R. de Arias (1864-1935) na proclamação da República do Acre em 1899, mais conhecido por “imperador do Acre”. Outras raridades também foram mostradas em livro.
Cartão Postal, igreja N Senhor do Bonfim - Salvador BA
Ao lado dessa atividade, vieram os cinemas no centro, homenageando artistas do cinema nacional e, obviamente, globais. Eram salas pequenas, seguindo a tendência da época, agora dispondo de melhor refrigeração e de recursos de imagem e áudio. Como vieram, se foram. Dessa feita, contaminados pelos cinemas de shopping.

Marinho, então, cuidou da radiofonia, atuando na rádio do grupo TV Amazonas. Recordo que o programa rolava na manhã de domingo, e para alcançar o estúdio havia a necessidade de vencer uma escada em espiral. Diante dos microfones, Marinho se impunha com aquele vozeirão e muita informação. Em vários domingos estive com ele, ocasião em que recordava o trabalho literário do padre-poeta L. Ruas e deixava livros deste para o sorteio com seus ouvintes.
Os males da idade foram ganhando corpo, dominando o corpanzil do eminente empreendedor, aquele que não observava o momento para vazar seu comentário crítico mordaz.

Hora de descansar, amigo Marinho. Sua tenacidade vai inspirar aos raros sobreviventes do Clube, os quais prometem realizar uma mostra digna de seu trabalho. Até a eternidade!

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