Padre-poeta L. Ruas |
O falecido padre-poeta Luiz Augusto de Lima Ruas, que assinava seus trabalhos literários como L. Ruas, escreveu para todos os jornais de Manaus, existentes entre 1950-90. Ao rascunhar uma biografia deste poeta, acabei por olvidar do jornal A Gazeta, ou não tive acuidade para alcançar o período preciso.
Dias desses, no
entanto, fui agraciado com páginas do autor de Aparição do Clown, nesse extinto matutino. Creio que ele o fez na temporada
de setembro e outubro de 1963. Naquela circunstância ocorriam as eleições
municipais, e um dos candidatos a vereador era o professor Orígenes Martins,
diretor do colégio Christus.
L. Ruas, amigo e eleitor do Orígenes, escreveu em
sua coluna Ronda dos Fatos o seguinte
panegírico, que vai lincado de A Gazeta
(edição de 23 setembro 1963). Serve ainda como pequena autobiografia. As eleições ocorriam dia 4 de outubro, e acredito
que o professor não foi bem-sucedido na política. Quanto ao colégio e outros
empreendimentos, são outras histórias...
Recorte do artigo de L. Ruas - jornal A Gazeta, 1963 |
Creio chegada
a hora de cerrar fileira em torno da candidatura do meu amigo o Professor Orígenes
Martins. Venho, por isso, trazer publicamente minha contribuição de amigo e de
eleitor à sua campanha que é minha também. Gostaria de fazer uma exposição de
motivos que me levam a adotar a sua candidatura e, para isso, deveria abordar dois
aspectos distintos do meu candidato à Câmara
Municipal: o primeiro, seria de caráter pessoal, focalizando o amigo; o segundo,
seria de caráter público, focalizando o candidato. Ora, acontece que não serei
capaz de realizar tal análise e separar dóis aspectos que, para mim, estão intimamente
ligados e se confundem. Tentarei, portanto, fazer tal apresentação (se é que ela
se faz necessária) dizendo do candidato o que eu sei do amigo.
1942 foi outro
ano que ficou definitivamente fixado em nossa lembrança é em nossa vida. A partir
de junho desse ano começamos a nos preparar para o exame de admissão que nos
abriria as portas do Seminário São José que seria reaberto por D. João da Matta
Amaral no ano seguinte como de fato o foi. No dia 19 de março de 1943 já éramos
seminaristas e assistimos a reabertura do Seminário, solenidade que ficou marcada
em nossas almas por um daqueles discursos incandescentes de D. João da Matta: “Se
o Seminário de Manaus fechar de novo suas portas, eu irei como Agar para o
deserto para não ver a morte do meu primogênito."
Em 1945,
D. João da Matta inaugurava o primeiro pavilhão do novo Seminário na rua Emílio
Moreira. Estávamos no terceiro ano do ginásio. Em 1948 concluímos o sexto ano.
Éramos a primeira turma que seguíamos para o Seminário Maior.
Fizemos
uma festa de conclusão de curso e foi nosso paraninfo o inesquecível Adriano
Jorge que aí pronunciou seu “canto de cisne”, pois, dois dias depois, faleceu. Na
véspera de sua morte o Orígenes foi à casa dele pedir o discurso. Ele ia passar
a limpo. Depois nos entregaria...
A partir da esq. padres Ruas, Jorge Normando e Juarez Maia; desembargador André Araújo e professor Orígenes Martins, no Seminário São José, ano 1962 |
Seguimos
os cinco para Fortaleza. Cursamos Filosofia. No início do curso de Teologia ficamos
reduzidos a quatro: Origenes deixava o Seminário. Foi uma surpresa e não teríamos
aceito conformados se não soubéssemos se tratar de uma orientação segura e sincera
como era a do Pe. Jorge Soares – um grande sujeito! A diferença de caminhos nos
separou um pouco. Mas só fisicamente. A amizade era a mesma. Orígenes ingressou
na Faculdade de Filosofia. Foi militante da JUC [Juventude Universitária
Católica]. E conseguiu ser seu presidente. Tornou-se um líder estudantil.
Em 1952,
eu segui para o Rio de Janeiro, a fim de concluir o curso de Teologia. Em janeiro
de 1953 encontrei-me em São Paulo, no convento dos dominicanos onde fazia o noviciado
um dos cinco, hoje, Frei Francisco Maria de Araújo, Prior do Convento das
Perdizes que, recentemente, nos hospedou a mim e ao Orígenes. Foi um dos bons
encontros da minha vida. Três caminhos diversos ligados pela amizade de vinte
anos.
Àquela
data, 1953, Orígenes viera de Fortaleza, por terra, ao lado do Roberto Carvalho
Rocha, fundador do Instituto Christus de Fortaleza. Orígenes foi cofundador e o
plano era fazer uma rede de institutos no Norte e Nordeste: pedagogia moderna e
cristã.
Em 1954
nos encontramos, de novo, em Manaus. Eu estava concluindo o quarto ano de teologia
e o Orígenes chegava de Fortaleza, para fundar o Instituto Çhristus do Amazonas.
Idealismo! Largou uma porção de coisas boas lá em Fortaleza e veio pra cá. Cara
e coragem. E só! Em agosto lhe nascia o primeiro filho, o Júnior. Em outubro,
eu fui ordenado padre por D. Alberto Ramos. Como preparação para a abertura do
Christus foi realizado um curso de Pedagogia. Finalidade: seleção de professores.
E em fevereiro do outro ano, 1955, Manaus ganhava mais um colégio.
Depois
tem sido muita luta. Quase sozinho, sem recursos, conservando ainda muito idealismo
apesar das horas de desânimo diante das dificuldades que se amontoam, recomeçando
sempre, Orígenes continua seu trabalho. Novo ainda, apenas, com um pouco mais
de um lustro o Christus é, hoje, um dos colégios mais conceituados de Manaus. E
indiscutivelmente Orígenes é um dos melhores professores de Manaus. Que o digam
seus alunos do Instituto de Educação e da Faculdade de Fi1osofia. (De passagem,
aos meus ex-a1unos do sempre lembrado IEA: o Professor Orígenes é o nosso candidato!).
Nós que o conhecemos de perto, podemos dizer sem medo: é mesmo um professor por
vocação assim como é um pai por vocação.
Mas nós não
estamos lutando, unicamente, no desejo de uma vitória. Estamos lutando porque
acreditamos na capacidade, na honestidade, na sinceridade do nosso candidato e
de sua campanha. Não estamos acometidos pelo desespero da vitória. Não queremos
uma vitória a qualquer preço. Queremos a vitória do Professor Orígenes pelo seu
verdadeiro preço: o de um sufrágio consciente e democrático. Esta é a nossa luta.
Este o nosso candidato. O meu candidato.
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