Nonato Pinheiro |
Os jornais e revistas de anteontem e de ontem, em Manaus e
pelo país afora, publicavam poemas, fossem de poetas versados ou de seus
leitores, principiantes nesta arte. Aproveitavam os dias comemorativos para
abrir as páginas às composições poéticas. A prosa igualmente recebia acolhida, livre
de espaço ou de linhas ou, como hoje se marca, do número de caracteres. Era uma
fartura. Ainda aproveitei.
Então, todos liam, pois esses periódicos consistiam na nossa
comunicação mais breve rivalizando com o rádio. Os tempos mudaram, todavia, e
com qual velocidade. De tal sorte que os jornais foram restringindo tanto as
páginas e os espaços, que a Poesia sumiu delas, assim perdeu seu encanto.
Rastreando como de hábito os jornais de antanho,
deparei com tantos e tão diversos poemas; recolhi-os esperando publicá-los, para
lembrar os autores e as circulações. Ainda não consegui.
Nesta segunda-feira, no entanto, revirando meu baú de flashbacks,
localizei essa curiosidade, aqui postada. O autor, saudoso padre Nonato
Pinheiro, compôs o mesmo poema em dois idiomas, e os fez circular em O Jornal, de 22 de setembro de 1963.
Recorte do jornal indicado |
Qual no albor da manhã a aurora purpurina,— Antítese feliz da espessa escuridão! —O idioma de Flaubert dá-nos a condição
De limpidez igual à d’água cristalina!
Percebo que em francês a ideia se ilumina
E brilha com esplendor, qual fúlgido clarão:
É o idioma da clareza e a língua do salão,
Que herdou com altivez a glória da latina!
Português e francês, línguas que falo e leio,
Encontraram-se em mim, quando era inda criança,
Qual Negro e Solimões, beijando-se no seio...
Mas os rios, por fim, se unem sem tardança,
E as línguas, ao invés, partiram-me no meio:
Coração pro Brasil, cabeça para a França!...
Texto em francês na edição citada |
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