CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, maio 28, 2019

POESIA DE JORNAL

Nonato Pinheiro
Os jornais e revistas de anteontem e de ontem, em Manaus e pelo país afora, publicavam poemas, fossem de poetas versados ou de seus leitores, principiantes nesta arte. Aproveitavam os dias comemorativos para abrir as páginas às composições poéticas. A prosa igualmente recebia acolhida, livre de espaço ou de linhas ou, como hoje se marca, do número de caracteres. Era uma fartura. Ainda aproveitei. 
Então, todos liam, pois esses periódicos consistiam na nossa comunicação mais breve rivalizando com o rádio. Os tempos mudaram, todavia, e com qual velocidade. De tal sorte que os jornais foram restringindo tanto as páginas e os espaços, que a Poesia sumiu delas, assim perdeu seu encanto.
Rastreando como de hábito os jornais de antanho, deparei com tantos e tão diversos poemas; recolhi-os esperando publicá-los, para lembrar os autores e as circulações. Ainda não consegui.
Nesta segunda-feira, no entanto, revirando meu baú de flashbacks, localizei essa curiosidade, aqui postada. O autor, saudoso padre Nonato Pinheiro, compôs o mesmo poema em dois idiomas, e os fez circular em O Jornal, de 22 de setembro de 1963.

Recorte do jornal indicado

Qual no albor da manhã a aurora purpurina,
— Antítese feliz da espessa escuridão! —
O idioma de Flaubert dá-nos a condição

De limpidez igual à d’água cristalina! 
Percebo que em francês a ideia se ilumina
E brilha com esplendor, qual fúlgido clarão:
É o idioma da clareza e a língua do salão,
Que herdou com altivez a glória da latina! 

Português e francês, línguas que falo e leio,
Encontraram-se em mim, quando era inda criança,
Qual Negro e Solimões, beijando-se no seio... 

Mas os rios, por fim, se unem sem tardança,
E as línguas, ao invés, partiram-me no meio:
Coração pro Brasil, cabeça para a França!...


Texto em francês na edição citada

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